Irá o Indianapolis Colts desperdiçar, novamente, seu talento?

“Na era Andrew Luck, gostaríamos de ganhar pelo menos dois títulos,” disse Jim Irsay, dono do Indianapolis Colts. Essa frase foi dita ainda antes da temporada, quando Irsay tentava comparar o que havia sido conquistado com Peyton Manning (duas aparições no Super Bowl e apenas uma vitória), com o que poderia ser feito agora, tendo um dos quarterbacks mais promissores da atualidade. A verdade é que qualquer time que tenha um lider tão jovem e competente teria essas ambições, mas para que os planos saiam do papel e virem realidade é preciso muito mais do que vontade. Nos últimos dias – ou anos, como preferirem – os Colts têm tomado uma série de medidas controvérsias, e que podem selar o futuro da franquia.

A era Manning e Polian

Tudo começou em 1997, quando Irsay, que havia assumido o comando da franquia após o falecimento do seu pai, contratou Bill Polian para ser seu General Manager. O pensamento era de recomeçar com o Draft, tendo a primeira escolha de 1998, e a grande dúvida girava em torno de dois quarterbacksRyan Leaf ou Peyton Manning? “Se você me escolher, prometo que ganharemos um Campeonato. E se você não me escolher, voltarei e acabarei com você,” disse Manning para Polian em sua visita – foi o necessário para que a escolha fosse feita. Esse foi o primeiro grande acerto do General Manager, e muitos outros estavam por vir – como as escolhas de Robert MathisReggie WayneJeff Saturday e Edgerrin James. “Inquestionavelmente um dos melhores avaliadores de talento que a NFL já viu,” disse Irsay sobre a capacidade de Polian para encontrar talento onde ninguém conseguia. Com Manning no comando, os Colts seriam uma força durante mais de uma década, mas perdiam alguns confrontos decisivos nos Playoffs. A defesa era fraca e, para mudar isso, em 2002, Tony Dungy, um dos arquitetos da Tampa 2, que revolucionou esquemas defensivos, foi contratado para o cargo de head coach. Anos depois, no Super Bowl XLI, contra o Chicago Bears, o Indianapolis Colts chegaria ao primeiro título desde 1971 – quando a franquia ainda estava em Baltimore e sob comando do lendário quarterback Johnny Unitas. Era pouco, pois o talento que o time tinha e o comandante dentro de campo – ou The Sheriff – exigiam mais, mas era o que dava. Os fracassos na pós-temporada fizeram com que Manning recebece a alcunha de ‘pipoqueiro’, alguém que sucumbia nos grandes momentos. Na verdade, apesar de ter um time competente montado por Polian, os Colts sempre enfrentaram adversários mais completos do que eles. Peyton pode ter fracassado algumas vezes e jogado mal outras, mas, de maneira alguma, foi o principal culpado pelas quedas.

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Polian sempre combrava demais de todos que o cercavam, e não podia existir outro pensamento a não ser vencer. Outra característica que o diferenciava era o fato de conseguir chamar a culpa para sí. “Eu pensava que era meu trabalho levar as balas ao invés dos jogadores e treinadores,” disse. Ele sempre foi um tremendo trunfo para Indianapolis, tendo ganho o prêmio de melhor executivo do ano por seis vezes. Porém, com a chegada da temporada 2011 (duas vitórias e 14 derrotas) – ano no qual Manning perdeu a temporada inteira por causa de uma lesão no pescoço – a força do então condutor da franquia diminuiu. O homem que, nas palavras de Dungy, mudou completamente a rotina e cultura do Indianapolis Colts acabou demitido. “Bill Polian criou uma cidade que respira futebol,” disse Pete Ward, CEO dos Colts. O futuro da franquia, no entanto, não parecia muito diferente, com as mesmas dúvidas que pairavam sobre os comandantes em 1998 se fazendo presentes em 2012 – após o time, por causa da lesão, dispensar Peyton Manning para seguir novos rumos.

O começo de uma nova era

Com a saída de Polian, Ryan Grigson foi contratado para ser o novo General Manager. Grigson logo de início já implementou mudanças: tirou o então head coach Jim Caldwell – que assumiu após Dungy se aposentar – e trouxe Chuck Pagano para assumir seu cargo, assim como dispensou alguns veteranos, como Dallas Clark. Como dito antes, as decisões eram parecidas com as que tiveram que ser tomadas em 1998. Se antes a dúvida na primeira escolha era entre Manning e Leaf, hoje era entre selecionar Andrew Luck ou Robert Griffin III. A franquia, novamente, acertou ao apostar em Luck. Logo na primeira temporada o quarterback levou um time que havia vencido apenas dois jogos na temporada passada aos Playoffs (com 11 vitórias). Entrando em 2015 como um dos favoritos da AFC para chegar no Super Bowl a equipe, no entanto, fracassou. A temporada de ouro foi jogada no lixo, mas só escancarou problemas que vêm desde quando Grigson e Pagano assumiram. De contratações frustadas a escolhas de Draft desperdiçadas, de desorganização institucional a jogadores machucados. Muitas foram as razões pra esse time ter caído de rendimento, e elas vão muito além do que aconteceu dentro de campo nesta temporada.

Fazer barulho na Free Agency nunca foi motivo predominante para um time ser bem sucedido. Olhando especificamente para Indianapolis, não é de hoje que Grigson gasta muito e erra nas contratações. Em 2013, os Colts assinaram com LaRon Landry por 4 anos e $24 milhões, sendo $14 milhões garantidos. No período em Indianapolis, Landry nunca rendeu o esperado, e ainda contou com problemas de punições por uso de substâncias proibidas, sendo liberado em 2015. Outro desastre foi a contratação do wide receiver Darrius Heyward-Bey. Após fracassar em Oakland como escolha de primeira rodada, assinou por 1 ano e $3 milhões e, novamente, falhou. Ainda em 2013, outra contratação frustrada foi a do offensive tackle Gosder Cherilus. Contratado pra ser o right tackle titular, Cherilus assinou contrato de 5 anos e $35 milhões, mas nunca passou de mediocre quando se precisou dele. Mas o pior erro de Grigson veio em uma troca. Nesse mesmo ano de 2013, mandou uma escolha de primeira rodada no Draft pra Cleveland pelo running back Trent Richardson. Richardson provou ser não só uma das piores trocas da NFL, mas um dos piores running backs da liga. Quando alguém erra dessa forma, se espera que essa pessoa aprenda e melhore, mas não foi o caso de Grigson.

2015 chegou, e com ele os erros voltaram. Novamente fazendo barulho na Free Agency, Grigson gastou – e errou. Deu pro veterano wide receiver Andre Johnson um contrato de 3 anos e $21 milhões. Johnson é um dos maiores da história, mas comprovou que seus melhores dias ficaram para trás: acabou a temporada com apenas 41 recepções pra 503 jardas e 4 touchdowns – produção muito inferior do que se esperava dele. Trent Cole, veterano pass rusher que havia sido dispensado do Philadelphia Eagles, assinou por 2 anos e $16 milhões, e falhou na tarefa pela qual se esperava que fosse ajudar: pressionar o quarterback. Teve apenas três sacks em 14 jogos na temporada, mostrando o porquê de Chip Kelly tê-lo liberado. Até aqui, apenas a contratação de Frank Gore parece funcionar: o running back somou 967 jardas terrestres, mas mesmo assim não teve o mesmo impacto que se esperava – muito pelo fato do time como um todo estar sofrendo demais, principalmente na linha ofensiva. O fracasso dentro de campo começou muito antes do time, de fato, entrar no gramado.

A Free Agency serve muito bem pra complementar o time, mas este se monta principalmente pelo Draft e Indianapolis falha nisso também. Olhando apenas a partir de 2013 (desde que Andrew Luck foi escolhido, em 2012), muitas escolhas foram perdidas. Em 2013, a franquia selecionou o defensive end Bjoern Werner na primeira rodada e, ao final de sua terceira temporada, Werner é uma nulidade em campo. A escolha de primeira rodada em 2014 foi desperdiçada na busca por Richardson, como já foi destacado acima. Indo para o Draft deste ano (2015), todo mundo já imaginava a força ofensiva dos Colts, com um grupo de recebedores considerado como um dos melhores – até então, Johnson não era uma decepção; assim como todos imaginavam a fragilidade da defesa e da linha ofensiva. Mas, obviamente, Grigson não olhou para essas necessidades. Escolheu o wide receiver Phillip Dorsett na primeira rodada, e o calouro pouco produziu. Dorsett pode ter muito talento e vir a ser um dos melhores recebedores da NFL, no entanto a sua escolha não se justificava naquele momento. Indianapolis já tinha um par de recebedores jovens e promissores em TY Hilton e Donte Moncrief, além de ter outros buracos a serem preenchidos.

Analisando tudo isso, não é de se surpreender que o time tenha ido tão mal nesta temporada. O único motivo de terem ido bem e se classificado para os Playoffs nos últimos três anos foi seu quarterback – estar na pior divisão da liga também ajudou bastante. Luck pegou o pior time da NFL, que terminou com duas vitórias e 14 derrotas, e levou a onze vitórias e pós-temporada por três anos consecutivos – seus primeiros na liga. Progrediu ano a ano, tendo uma temporada de MVP em 2014, passando pra 4.761 jardas e 40 touchdowns. Sobreviveu muito tempo com um time mediocre ao seu lado, sendo pressionado jogada após jogada, vendo sua defesa entregar pontos jogo após jogo. Seu desempenho em 2015 foi desastroso, e ele tem grande parcela de culpa nisso, mas não é só culpa dele – e ele é o menor dos problemas do time. Nos poucos jogos em que o quarterback jogou, enfrentou problemas como costelas quebradas e ombro machucado; isso não afeta somente os treinamentos, afeta diretamente seu desempenho nos jogos e até sua mecânica esteve diferente – basta analisar jogos passados. Seus problemas em campo vão muito além de simplesmente estar jogando mal. Carregar o time nas costas parece ter finalmente afetado não só o jogo, mas o corpo de Luck, e não existe jogador no mundo que consiga manter o rendimento e carregar um time ruim – com uma linha ofensiva pior ainda – com esse tipo de lesão.

Seria justa uma segunda chance para Grigson e Pagano?

Ao final da temporada se esperava que ou Grigson ou Pagano fossem demitidos. Os dois tinham problemas entre sí, com o treinador dando entrevistas claramente cutucando as escolhas de Grigson. O General Manager, por sua vez, enfrentava resistência por parte de Irsay, chegando a ser reportada uma discussão calorosa entre os dois no vestiário após uma derrota em casa para o New Orleans Saints. Era clara a tensão entre Grigson e Pagano, e um futuro com ambos parecia improvável – e algo que a torcida dos Colts torcia fervorosamente para que não acontecesse. Era até mais provável que Irsay mandasse ambos embora, justamente pela falta de rendimento tanto fora quanto dentro de campo. O que aconteceu, no entanto, foi o contrario: renovou com Pagano por mais quatro anos e extendeu o contrato de Grigson por outros três (fazendo com que ele fique no comando por mais quatro anos). Além disso, elevou Grigson a um patamar maior do que o de Polian, dizendo, “Ryan Grigson ultrapassou Bill Polian nos seus quatro primeiros anos.” Se renovar com alguém que errou muito mais do que acertou já era questionável, o comparar com um dos melhores da história – e que está imortalizado no Hall da Fama – beira o ridículo. Claro que tem o fato do time ter ganho mais jogos neste período atual se comparado com o mesmo tempo sob o comando de Polian (são 41 vitórias agora contra 32 no passado), mas Polian não só foi um dos melhores, foi quem ergueu a franquia Indianapolis Colts, e tratá-lo assim hoje é um enorme desrespeito.

Ao contrario da era Polian, hoje os Colts parecem querer achar culpados pelos péssimos resultados, mesmo com estes não sendo os grandes responsáveis. Ainda na metade da temporada dispensaram o coordenador ofensivo, Pep Hamilton. Hamilton não fez um excelente trabalho neste ano, mas já havia provado sua capacidade ao comandar um dos melhores ataques de 2014. Ao final da temporada, demitiram também o coordenador defensivo, Greg Manusky. Indianapolis não tem uma boa defesa há anos, mas com certeza não se pode colocar toda essa culpa no coordenador. Não que Manusky seja alguém que tenha imenso crédito ou credibilidade, mas comandar uma defesa sem secundária, com um grupo de linebackers insuficiente e sem nenhuma presença no pass rush não é nada fácil – precisa de talento, sem isso, pouco se pode fazer. Se tem alguma forma de defender a permanencia de Pagano é a vontade dos jogadores. Chuck sempre foi um treinador que se deu bem com seus comandados, e isso pode ter sido fator elemental para sua manutencão – Moncrief, por exemplo, praticamente implorou pela permanência nas redes sociais. Outro motivo levantado é o desempenho – em vitórias, não produtividade – na temporada, contando que utilizaram cinco quarterbacks diferentes. De alguma forma Pagano e Grigson escaparam da degola, sem assumir culpa de nada.

O time de Indianapolis sempre foi ruim, mas isso vinha sendo mascarado pelo talento de Luck. O time de Indianapolis sempre foi mal treinado e preparado, mas isso também vinha sendo mascarado pelo talento de Luck. No entanto, todo talento do mundo não supera tantos problemas dentro de uma instituição. Não são apenas performances ruins neste ano, são decisões tomadas ano após ano, e que agora chegaram pra assombrar a franquia. É a ineficiência de montar um elenco minimamente suficiente pra cercar sua principal estrela. Errar e esperar que um só jogador ganhe jogos pode funcionar por um tempo, e em alguns jogos, mas jamais vai levar o time além; jamais vai ganhar campeonatos. Erros em sequência – e em abundância – vão fazendo com que um time, que tinha tudo pra se transformar em ouro, vire lama e escorra por água a baixo. Erros em sequência – e em abundância – poderão impossibilitar que, na era Luck, o Indianapolis Colts consiga vencer pelo menos dois títulos.

 

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