Mais além dos Patriots: as trapaças de outras franquias da NFL

Sabe aquela carta “Saída Livre da Prisão” do Banco Imobiliário? Pois bem, existe uma bem clara no discurso argumentativo – seja, pois, uma falácia. É a Reduction ad Hitlerum, que provavelmente você já presenciou uso em algum debate. Funciona mais ou menos da seguinte forma: quanto mais uma discussão se prolongar de modo emotivo, maior é a chance do argumento de comparação com o nazismo ser utilizado para vencer essa discussão – e, por consequência, o ser porque qualquer relação com o regime político nazista é automaticamente condenada.

De modo análogo na NFL, quanto mais longe você for numa discussão com um torcedor dos Patriots, maior é a chance dele usar o argumento “conte os anéis” ou de você usar o argumento “ah, mas ganharam roubado”. Spygate, Deflategate, pense no gate que quiser: sempre tem alguém que rotula os Patriots como trapaceiros, como se todos os outros times da liga fossem santos.

Bom, não é bem assim. Longe de defender os Patriots cegamente – a questão do Spygate não foi das mais belas, ao filmar os sinais dos coordenadores defensivos adversários, por exemplo. Mas existe uma tendência de se achar que só New England teve seus problemas com as regras, políticas e costumes da NFL. Normal: a liga é acompanhada pelos brasileiros, mais de perto, há praticamente dez anos – e nesse período New England esteve no foco desses problemas. Mas há muita coisa além disso.

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Aproveitando que a apelação judicial da NFL em relação à suspensão da punição de 4 jogos dada a Tom Brady será julgada em breve, decidimos falar um pouco sobre o assunto: a questão de “roubar” (entre grandes aspas) e de se comportar além das regras é mais comum do que você imagina. O ponto é que, como os Patriots são um dos times mais bem sucedidos dos últimos tempos, naturalmente os gates da vida vão aparecer mais frequentemente nas discussões de bar. Porém, como você verá abaixo, não são os únicos.

Os 49ers e o Teto Salarial

A primeira temporada da NFL que teve um teto salarial de gastos para as franquias foi a de 1994, coincidentemente o aniversário de diamante da liga, em sua 75ª temporada. Na ocasião, o San Francisco 49ers foi campeão da NFL – pela última vez.

Um dos principais responsáveis pelo fato de San Francisco dar passos para trás nos dez anos seguintes foi o furacão que passou na diretoria do time e, também, a perda de escolhas no Draft. O motivo? A franquia tinha herdado uma folha salarial extremamente inflacionada na segunda metade da década de 1990 e teve dificuldades em se adaptar. Acabou cometendo diversas violações nesse teto salarial – e, como efeito, o presidente do time (Carmen Policy) foi multado em 400 mil dólares, o vice-presidente do time (Dwight Clark, famoso por The Catch em 1981 enquanto jogador) foi multado em 200 mil dólares e a própria franquia foi multada em 300 mil dólares. Além disso, por conta das violações, os 49ers perderam a 5ª escolha geral do Draft de 2001 e a 3ª escolha geral do Draft de 2002.

Os Broncos também têm suas cotas de problemas

Atual campeão da NFL, o Denver Broncos teve alguns problemas com as regras da liga na década de 1990, época dos dois primeiros títulos da franquia. Houve duas violações no teto salarial, extrapolando os valores permitidos: entre 1996, ano em que a equipe teve a melhor campanha da Conferência Americana, e 1998, ano do segundo título dos Broncos e da aposentadoria de John Elway. Como efeito, duas punições foram aplicadas: em 2001 os Broncos foram multados em 968 mil dólares e perderam a escolha de terceira rodada no Draft de 2002. Em 2004, os Broncos foram multados em 950 mil dólares e perderam a escolha de terceira rodada no Draft de 2005.

Além disso, houve infrações individuais: em 1998, dois jogadores de linha ofensiva – dois dos melhores em todos os tempos, aliás, Gary Zimmerman e Mark Schlereth – dos Broncos foram multados por usarem vaselina nos braços. Isso fazia com que ficasse muito mais difícil para os jogadores de linha defensiva passarem por eles os utilizando como “pivôs” – como no swim moveA multa não saiu cara: 5 mil dólares para cada um.

Ainda em relação aos Broncos, em novembro de 2010 houve outro problema, bastante semelhante ao Spygate. Josh McDaniels (que, ironicamente, era cria de Bill Belichick antes de ser treinador em Denver) filmou treinos do San Francisco 49ers em Londres quando a equipe jogou por lá em outubro. Assim, tanto McDaniels quanto os Broncos foram multados em 100 mil dólares.

Bola murcha? Que tal bolas aquecidas em oposição aos tijolos gelados do adversário?

Um dos grandes pontos desse texto é provar que ninguém é santo. Não é defender New England, mas contextualizar e provar que outros times cometem infrações semelhantes àquelas reputadas aos Patriots. Além do exemplo do Spygate, que aconteceu em Denver, o episódio das bolas com pressão menor daquela imposta pelas regras também ocorreu de uma maneira parecida, havendo vantagem indevida nas bolas do time da casa.

Em 2014, câmeras de TV mostraram que pessoas na sideline do Minnesota Vikings estavam aquecendo as bolas utilizadas pelo ataque da franquia. A temperatura estava literalmente abaixo de 0: 14º F, equivalente a -10º celsius. Isso, como você pode imaginar, vai contra as regras da NFL. Não houve qualquer punição: apenas um aviso de Dean Blandino, vice-presidente de arbitragem da liga, para que as franquias não fizessem mais isso.

As recompensas de New Orleans

Essa talvez você lembre. De acordo com a investigação empregada pela NFL, foi descoberto que o New Orleans Saints promoveu e escondeu um programa que premiava, em dinheiro, jogadores defensivos que machucassem adversários. O técnico Sean Payton foi suspenso por toda a temporada de 2012, o coordenador defensivo Gregg Williams foi suspenso indefinitivamente e o assistente Joe Vitt foi suspenso por seis jogos.

Além disso, jogadores também sofreram suspensões: Jonathan Vilma perdeu toda uma temporada, Anthony Hargrove pegou gancho de oito jogos, Will Smith quatro e Scott Fujita foi suspenso por três jogos.

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Outras violações menores

Poderíamos ir bem longe aqui listando outras violações das franquias da NFL nos últimos dez anos. Os Giants receberam um memorando da NFL advertindo para que os jogadores do time não fingissem lesões – o que ocorreu na partida de 2011 contra os Rams, com o objetivo de forçar tempo técnico por lesão. Em 2013, Mike Tomlin, técnico do Pittsburgh Steelers, foi multado em 100 mil dólares por estar praticamente dentro do campo e quase colidir com o retornador de Baltimore, Jacoby Jones.

Em 2015, duas violações foram pouco comentadas pelo grande público – muito porque foram por duas equipes que não foram para a pós-temporada. O general manager do Cleveland Browns, Ray Farmer, foi pego usando um celular em múltiplas ocasiões durante a temporada anterior – ele estaria se comunicando com a comissão técnica e jogadores através de SMSs, algo proibido expressamente pela liga.

No mesmo ano, veio à tona de que o Atlanta Falcons estava usando barulho de torcida nas caixas de som do Georgia Dome, fazendo com que o ambiente do estádio ficasse artificialmente inóspito para o adversário durante as temporadas de 2013 e 2014. Farmer foi multado em 250 mil dólares e suspenso por quatro jogos. Os Falcons foram multados em 250 mil dólares e perderam a quinta escolha no Draft de 2016.

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De uma forma ou de outra, boa parte das franquias tenta tirar uma vantagem indevida. E não, não estou fazendo propaganda contra um time ou outro. A prova disso é que até mesmo o time para qual torço, os Bears, já foram acusados de terem esvaziado bolas indevidamente de 1992 a 2006, de acordo com Jeff Blake, que fora quarterback da franquia no período. Ainda, Brian Urlacher admitiu num programa da FOX Sports que havia o costume da equipe ter um jogador que fingiria lesões quando necessário.

“Eu sei que pode ser ilegal, caras, mas coloquem um pouco de spray, um pouco de cola nelas, para garantir que a textura fique um pouco grudenta”. Essa frase é de ninguém menos do que Jerry Rice, um dos melhores (considerado por alguns, o melhor) jogador de todos os tempos e detentor de inúmeros recordes para recebedores da NFL. Não se engane: ninguém é santo. Quando você acusar os Patriots de serem trapaceiros, saiba que sem você saber seu time pode estar fazendo o mesmo.

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