Brock Osweiler escolheu os Texans por orgulho, não só por dinheiro

Nesta abertura de Mercado Livre da NFL, Brock Osweiler se tornou o mais novo – e potencial titular – quarterback do Houston Texans. Osweiler, com a aposentadoria de Peyton Manning, se postaria como o “herdeiro” do trono do camisa 18 no Colorado: afinal de contas, além dele, o único quarterback do elenco era o calouro Trevor Siemian. Bom, o produto de Northwestern agora é o último dos moicanos, dado que Brock escolheu mudar de divisão e de time. A escolha de Osweiler surpreendeu a muitos: como um quarterback pode querer sair de uma situação tão confortável como aquela, com a defesa que os Broncos têm, para se aventurar num outro time? Justamente por isso. Pela essência da posição. Por ser quarterback.

Quarterback não é um bicho fácil de entender. É uma espécie diferente dentro da espécie humana. Eles apanham e seguem em frente. Eles não fazem pontos – passam para quem faz ponto. Mas mesmo assim são os mais amados, os mais bem pagos. Eles não querem vida fácil: os dados sempre estão na mesa e um quarterback só terá um legado se tiver algo a provar. Se carregar o time nas costas, não se for carregado. A princípio, podemos não concordar: mas de forma alguma podemos julgá-lo.

Foi por dinheiro?

Uma das séries mais influentes dos últimos tempos, House of Cards, tem em seu personagem principal um homem um tanto inescrupuloso. Calma, não vou dar spoilers: apenas uma frase, da primeira temporada, explica bastante o pensamento de Frank Underwood e, de certa forma, a de Osweiler também. “Que desperdício de talento. Ele escolheu dinheiro ao invés de poder – nesta cidade, um erro que quase todos cometem. Dinheiro é aquela McMansão em Sarasota que começa a cair depois de 10 anos. Poder é um antigo prédio de pedra e que permanece de pé por séculos. Eu não consigo respeitar alguém que não vê a diferença”.

Ué, mas ele não vai ganhar mais dinheiro em Houston? Em tese. Veja, o contrato de Denver daria 15 milhões por ano (3 anos, 45 milhões) a Osweiler – e depois muito provavelmente, aos 28 anos, ele teria um outro contrato ainda mais lucrativo (ou mesmo uma franchise tag). O contrato de Houston dá 4 anos (72 milhões). Não importa só dinheiro: ele dá um ano a mais, essencial para um quarterback que ainda não construiu esse prédio de rochas. A carreira de Brock se resume a aprender com Peyton Manning e alguns sólidos jogos na temporada passada. Se ele atravessar um furacão em Denver, durante uma temporada regular, isso vai pesar muito mais e o resto desse contrato vai pro espaço. Porque ele não “teria” esse direito, ao ter uma defesa tão boa lhe carregando.

Confira aqui a cobertura completa do Mercado Livre 2016 da NFL

Veja, este é o grande ponto. Não é a quantidade de dinheiro que os Texans vão lhe dar. É a chance de ter mais “espaço para dores de crescimento” em Houston. É a chance de ter um ano a mais para construir esse prédio. Claro, o dinheiro ajuda: numa liga onde do dia para a noite você pode se machucar e perder seu emprego, conta bastante ter algo na conta bancária. Mas, sinceramente, vejo além disso.

Por que foi por orgulho então?

Durante a faculdade tive que parar de brincar de quarterback de um time de flag football, porque no campus não havia nenhuma equipe – embora hoje existam cada vez mais, vale ressaltar. Pois bem: como sempre amei esportes, queria continuar jogando algo, sempre fui competitivo. A coisa que acabei fazendo melhor foi ser goleiro de handebol. E, aos poucos, eu percebi que de alguma forma aquilo me ajudaria a entender os quarterbacks. Goleiro de handebol não faz mais do que a obrigação quando não toma frango – o mesmo pode ser dito de um quarterback quando não erra com pick six. Os dois tem que ter memória curta: quando um quarterback é interceptado, ele tem que esquecer daquilo logo na sequência. Mais ou menos como quando eu tomava um dos 25 gols por partida.

De toda forma, o grande ponto é que, de modo diferente aos jogadores de linha, apenas um goleiro pode ficar por vez no campo. Apenas um quarterback, diferentemente de linha ofensiva, de cornerback e os escambau, pode ficar no campo. O outro fica na reserva, fazendo scout, tentando ajudar o técnico. Quando estava ao final da faculdade, passei por alguns momentos de desmotivação e perdi a titularidade em alguns jogos. Fui para o banco da mesma forma que Osweiler foi no final da temporada 2015. E eu não fiquei nada feliz. Por dentro, estava corroído por não poder estar em quadra – na minha cabeça, o time estaria melhor comigo.

Na cabeça de Osweiler, provavelmente o mesmo passava. Peyton Manning não estava tendo o melhor dos anos, convenhamos. E quarterbacks gostam do holofote. Não é nada fácil ir para o banco daquela forma, não é nada fácil ser “mais um” nas coletivas do Super Bowl quando por noites você sonhou em ser o cara. Tá, você me diz, “mas agora é a vez dele em Denver, por que ele saiu?”. Será mesmo? Ou será que ele continuaria convivendo com o fantasma “é a defesa que carrega esse time nas costas”? Para um jogador com o ego tão ferido como Brock Osweiler em 2015, faz sentido ele tentar a vida em outro time.

Porque no outro time ele pode ser o que um quarterback geralmente é: o cara. Não mais um, não o “game manager” no ataque com viés terrestre de Gary Kubiak. Mais do que ganhar mais dinheiro, Osweiler vai para Houston porque quer estabelecer seu próprio legado na NFL. Porque quer sair das sombras da defesa de Wade Phillips ou dos anos de reserva de Peyton Manning. Concordo? Não, não concordo muito. Mas entendo. E sinceramente, não podemos julgá-lo.

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