Como funciona a Free Agency da NFL

[dropcap size=big]A[/dropcap]lguns conceitos dos esportes americanos são um tanto quanto “alienígenas” para nós brasileiros. Normal: nosso esporte preferido enquanto criança era o futebol, no qual não há limite de gastos e os contratos podem ser quebrados mediante pagamento de multa.

Essa é uma figura que existe nos ordenamentos jurídicos da América Latina e Europa Continental – a cláusula penal. Se você quer romper um contrato, mesmo de viés trabalhista como no caso de um atleta profissional, tá tranquilo: pague os milhões de multa e leve-o para a China.

Bom, não é bem assim que acontece na NFL e nos demais esportes americanos. Lá existe ainda a figura do “passe”, de certa forma. Antes de mais nada, alguns termos referentes à Free Agency.

Existem dois tipos de agentes livres: o irrestrito e o restrito.

O Agente Livre Irrestrito (Unrestricted Free Agent) é aquele cujo contrato expirou e com pelo menos 4 temporadas aferidas. Este pode negociar com qualquer time e não ocorre qualquer tipo de compensação ao antigo time se ele sair. Como você deve imaginar, o Irrestrito é o mais comum de acontecer, dado que são jogadores mais experientes e com mais impacto no mercado.

O Agente Livre Restrito (Restricted Free Agent) é aquele cujo contrato expirou e que possui três ou menos temporadas aferidas. Esse tipo de jogador pode negociar com os demais times da liga – mas o time atual pode tentar igualar a proposta. Caso ele saia, existe uma compensação em função da primeira oferta. Lembrando, se o time original não resolver propor nada ao início (chamado de “tender” no jargão, algo que pode ser traduzido como “intenção”)  aquele se torna um Agente Livre Irrestrito e não existe sequer o “direito” de igualar futuras ofertas. Exemplo: Malcolm Butler na intertemporada de 2017.

Temporada Aferida seria o número de temporadas nas quais um jogador teve ao menos 6 jogos na lista de ativos/inativos de uma franquia, mesmo que esteja na injury reserve ou na PUP (Jogadores Fisicamente Inaptos para Jogo).

Compensação: existem dois tipos de compensação. A primeira ocorre pela NFL a partir da terceira rodada do Draft, são as Escolhas Compensatórias – dadas pela liga em função das perdas gerais do time na intertemporada anterior. O segundo tipo de compensação ocorre para os agentes livres restritos e é dado pelo time para qual esse RFA vai. Um exemplo ocorreu na intertemporada de 2006 entre Bears e Panthers. Ricky Manning Jr. era um RFA e os Panthers colocaram a intenção que teria compensação monetária equivalente a uma escolha de terceira rodada. Pois bem: os Bears ofereceram um contrato de 5 anos e 23 milhões de dólares e os Panthers não quiseram igualar – assim, Carolina recebeu DE CHICAGO uma escolha de terceira rodada (em fruto do caráter “restrito” de agente livre que o cornerback tinha). Abaixo, ficará mais fácil de entender:

RFA ou UFA? 

UFA >>>> Pode negociar com quem quiser > tem que ter 4 temporadas aferidas com o time anterior > time anterior não recebe compensação de nenhum time, mas a NFL pode acabar dando Escolha Compensatória no Draft depois (a partir de 3ª rodada, a fórmula é não sabida).

RFA >>>> Time original de um jogador com três ou menos temporadas aferidas tem que mostrar intenção de novo contrato, se não mostrar, jogador vira UFA > Mostrando a intenção (tender), time original tem o poder de igualar propostas futuras de outras equipes – se for igualada o jogador fica > Se não for igualada, jogador sai e o novo time dá uma escolha de Draft em função do valor da intenção original (tender).

O que você precisa saber para entender de verdade a Free Agency da NFL

Pois bem. Dito tudo isso, agora fica claro que um jogador não pode ter contrato quebrado pelo Yakisoba FC para fazer parte de seu elenco: ele cumpre o contrato até o fim a menos que o time corte esse jogador. Acontece muito porque as equipes da NFL dispõe mais ou menos da mesma grana para gastar: as cotas de TV, por exemplo, são divididas de forma equânime, iguais para as 32 franquias. Seja em Green Bay, com 100 mil habitantes, seja em Nova York com milhões, Packers e Giants receberão a mesma cota.

Quando da introdução da Free Agency na década de 1990, a liga estabeleceu um teto salarial. Isso foi feito para que não acontecesse uma polarização das franquias em função de quanto dinheiro teriam em caixa. O teto salarial para 2018 deve girar em 178 milhões de dólares. Mas, claro, isso não quer dizer que todas as equipes possam/queiram gastar todo esse dinheiro. Se elas quiserem economizar para construir um estádio novo, podem. Se querem economizar para ter mais dinheiro para os técnicos, também. Ou então podem ser elencos jovens que possuem contratos de calouros em posições que geralmente são “caras” nos times com mais veteranos: exemplos não faltam, como os Raiders e os Jaguars. A única exigência é o teto mínimo de gastos – até porque, senão, viraria bagunça.

É bom lembrar, o mercado da NFL é contínuo – ele não “fecha” como no futebol europeu. Caso uma equipe perca todos seus quarterbacks por lesão no meio da temporada, pode resolver contratar algum na Semana 16 sem problemas. Ao mesmo tempo, não adianta nada montar um time apenas se reforçando com veteranos: estes jogadores têm seus vícios de movimentação dentro de campo e deram certo num dado sistema – sem garantia que vão dar certo em outro. Salvo raríssimas exceções, como o Denver Broncos de 2015 ou mesmo os Jaguars da temporada passada, o melhor a ser feito é montar a base de um time por meio do Draft: você consegue moldar os jogadores a seu sistema desde o início. Sobretudo quando falamos em posições importantes.

Claro: há vezes que não tem jeito. O Houston Texans foi atrás de Brock Osweiler em 2016 muito porque é uma equipe sólida na defesa há algum tempo e estava eternamente a um quarterback de causar mais estrago na divisão e na Conferência. Aí faz sentido.

Se seu time não se movimentou muito no mercado, isso pode indicar que ele não tem necessidades. Ou então que ele não vê um salto de qualidade tão grande ao pagar caro por jogadores inflacionados pela lei da oferta e demanda – deve acontecer com os Falcons neste ano, por exemplo. Ou, por fim, porque não tem dinheiro no teto salarial. Esse é o grande ponto. Não existe espaço para a criação de um Barcelona e um Real Madrid na NFL por meio de grana – a potências só são montadas “na raça”, com olheiros brilhantes, técnicos inteligentes e pagando baixo com os contratos fixos do Draft. Richard Sherman na 5ª rodada do Draft, Tom Brady na escolha 199: por vezes esses acertos acontecem e revolucionam uma franquia.

Não veja a Free Agency como a base para a obra de arte. Veja ele como quando você coleciona o Álbum de Figurinhas da Copa. A gente fica na raça tentando completar, mas tem vezes que não tem como e você precisa mandar a carta para a Panini. Ai ela te manda os cromos que faltam e você fica feliz. Um general manager tem que encarar o mercado livre como forma de completar o quebra-cabeça: não de sustentá-lo.

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