Muito tem sido falado nos últimos dias sobre as semelhanças entre Jared Goff, que pode ser o primeiro quarterback selecionado no Draft desse ano, pelo Cleveland Browns, e Tim Couch, primeira escolha do Draft de 1999, selecionado pelos mesmos Browns. Mas o que existe de verdade nessa comparação?
Naquele ano os Browns retornavam à NFL após três anos de ausência (o antigo time havia se mudado para Maryland e se tornado o Baltimore Ravens) e buscavam um quarterback que representasse todas as aspirações da nova franquia. A solução para essa necessidade parecia estar na Universidade de Kentucky.
Lá, Couch conduzia com muita eficiência a air raid offense do técnico Hal Mumme. Esse ataque é baseado em uma ênfase extrema no jogo aéreo (principalmente passes curtos), usando primordialmente formações com quatro wide receivers, com o quarterback recebendo snaps da posição de shotgun. Sua presença de pocket, leitura de jogo e precisão em passes de curta e média distância faziam dele o jogador ideal para conduzir a air raid offense e seu sucesso nos dois anos em que esteve à frente desse ataque o levou a se tornar o primeiro jogador escolhido do Draft daquele ano.
Mas em Cleveland as coisas não foram tão bem assim. Couch assumiu um ataque desprovido de opções e com uma linha ofensiva inexperiente, o que lhe rendeu 56 sacks em sua primeira temporada. A situação não melhorou muito daí pra frente, mas em 2002, Couch surpreendentemente conseguiu conduzir a nova franquia dos Browns à sua primeira aparição nos playoffs. Infelizmente, o quarterback quebrou a perna no último jogo da temporada regular e quem liderou a equipe em sua única partida de pós-temporada daquele ano foi o reserva Kelly Holcomb, que lançou para mais de 400 jardas na derrota para o Pittsburgh Steelers. Daí em diante, Couch e Holcomb alternaram a titularidade pelos dois anos em que Couch continuou em Cleveland. Com seu ombro em frangalhos devido às constantes pancadas recebidas em seus primeiros anos na liga, Tim Couch nunca mais conseguiu jogar por outra equipe e se aposentou oficialmente em 2007.
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Em 2016, o Cleveland Browns se encontra novamente na posição de escolher o primeiro quarterback de um Draft. Os Browns possuem a segunda escolha geral dessa vez, mas como o Tennessee Titans, dono da primeira escolha, não precisa de um jogador para essa posição tudo indica que a distinção de fato recairá sobre o time de Cleveland. A dúvida é: quem será o quarterback escolhido? No momento, Jared Goff parece ser a opção mais segura.
Goff foi recrutado em 2013 por Sonny Dykes, discípulo de Hal Mumme, para comandar sua air raid offense na California, se tornando o primeiro quarterback calouro a ser titular no primeiro jogo de uma temporada pelos Golden Bears. Goff teve uma ótima temporada inicial, ainda que seu time terminasse a temporada com apenas uma vitória e 11 derrotas. Goff continuou a progredir em suas duas temporadas seguintes, culminando sua carreira universitária com uma atuação espetacular em seu jogo de Bowl em 2015, quando lançou para 467 jardas e seis touchdowns.
Goff tem boas, ainda que não excelentes, características físicas e força no braço. Suas principais qualidades são sua inteligência, movimentação no pocket e capacidade de auto-avaliação, identificando suas fraquezas e trabalhando duro para corrigi-las. Apresenta uma grande facilidade em manter a postura corporal adequada enquanto em movimento e sempre está pronto para fazer o lançamento, mantendo seus olhos na secundária mesmo quando se desloca para os lados. Sua incrível precisão em passes curtos e médios coloca seus recebedores em condições de obter uma boa quantidade de jardas após a recepção. Ele ainda tem muito o que aprender sobre o funcionamento de um ataque da NFL e certamente se beneficiaria se pudesse “segurar a prancheta” por um ano, mas possui o refinamento e a capacidade mental para se tornar o titular como calouro, se necessário.
Apesar de todas as suas qualidades, Goff não é o tipo de jogador capaz de mudar o destino de uma franquia sozinho e a ausência de um bom elenco de suporte pode expor suas fraquezas. A velocidade de seus passes deixa a desejar, o que o leva, eventualmente, a segurar a bola por muito tempo, evitando passes em janelas estreitas e procurando por um jogador mais aberto. Essa característica pode levar a um número maior de sacks sofridos, em uma equipe que não conte com bons recebedores e uma forte linha ofensiva, o que é o caso de Cleveland. Para complicar ainda mais a situação, seu porte físico ainda não é o ideal para um jogador de sua posição, o que pode ocasionar lesões caso Goff receba pancadas freqüentes.
Um time em reconstrução, desprovido de talento e desesperado por um quarterback que lidere uma equipe em tempos difíceis. O começo da carreira de Goff apresentará semelhanças impressionantes com a de Couch, caso ele realmente seja escolhido pelos Browns. Caso isso aconteça, resta torcer para que o resto dela seja bem diferente.
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