“Sala de Guerra”: o centro nervoso de cada equipe no draft

Nos meses que antecedem o draft, as equipes da NFL se reúnem para estudar os jogadores universitários que se candidatam a entrar na liga profissional. Este processo envolve análise do filme dos jogos, testes físicos e mentais, além de entrevistas. Basicamente, as equipes esmiúçam todos os aspectos da vida e da carreira universitária dos jogadores, buscando o maior preparo possível para os dias do draft, que podem em questão de horas mudar o destino das franquias.

Durante esse período de preparação, as equipes, com auxílio de seus olheiros, que passam todo o ano analisando o futebol americano universitário, montam sua tabela de jogadores. Esta tabela dá notas aos jogadores e os classifica em ordem, de acordo principalmente com sua qualidade, mas levando em conta também as necessidades do time, com relação a posições. Na maior parte das vezes, é a tabela (chamada de “big board”) que direciona (ou deveria direcionar) as escolhas da equipe. Como veremos, franquias que fogem de seus big boards tendem ao insucesso no draft.

No dia em que se inicia o draft, forma-se a chamada “war room” (sala de guerra), composta pelas pessoas que têm poder de decisão dentro das equipes, e que vão determinar quem serão os jogadores selecionados. O nome deriva da sala homônima da Casa Branca na qual o presidente e equipe se reúnem na tomada de decisões militares. Cada equipe tem sua própria estrutura, mas em geral os componentes desta sala incluem o dono do time, o general manager (GM), o técnico principal e, às vezes, o “olheiro” principal. Os demais olheiros, médicos, preparadores físicos e os responsáveis pela parte financeira normalmente permanecem próximos para eventuais consultas durante o draft. Além disso, é claro que a tabela de jogadores tem papel importante dentro da local onde as decisões são tomadas.

CLIQUE AQUI E CONFIRA NOSSA COBERTURA COMPLETA DO DRAFT 2016

Ainda que a descrição deste processo pareça bem organizada, muitas vezes o caos acaba tomando conta, principalmente quando a responsabilidade das decisões não está bem definida. Dentro de cada equipe da NFL, há uma hierarquia de comando, na qual o técnico principal e o GM têm papéis diferentes, mas complementares na escolha de jogadores. Apesar disso, é importante que uma pessoa detenha o poder final de decisão, e que isto esteja claro para os outros componentes da sala. Na maior parte das vezes, o GM detém esta palavra final, mas em alguns casos é o técnico que determina a escolha dos jogadores. Qualquer que seja a hierarquia, é fundamental que esta seja cumprida no momento das seleções. A seguir, lembraremos alguns episódios em que interferências no processo levaram a escolhas erradas e comprometeram o futuro das equipes que as fizeram.

Quando não haver um “cacique” compromete a franquia

Matt Millen foi GM dos Lions de 2001 a 2008 e, durante a após este período, foi ridicularizado por suas escolhas no draft, particularmente pelo fato de ter selecionado wide receivers na primeira rodada por três anos seguidos entre 2003 e 2005. Pior, os três em questão se mostraram, de uma maneira ou de outra, como busts/”farsas” (Charles Rogers, Roy Williams e Mike Williams). Anos mais tarde, participando do programa A Football Life, da NFL Network, Millen admitiu as falhas, afirmando que o pior que fez como GM foi não tomar as próprias decisões, ouvindo demais técnicos e olheiros, e se afastando de sua tabela. Especificamente em 2005, a equipe estava pronta para selecionar o defensive end DeMarcus Ware, quando auxiliares ofensivos começaram a insistir pela escolha de Mike Williams. Millen cedeu a estes apelos, o que talvez tenha, no fim das costas, selado seu destino negativo como GM dos Lions.

[the_ad id=”1532″]

Outro episódio marcante aconteceu mais recentemente, mas não se relaciona com interferência do técnico da equipe, e sim do dono. Em 2014, Jimmy Haslam, dono do Cleveland Browns, praticamente obrigou o GM Ray Farmer a selecionar o quarterback Johnny Manziel, inclusive cedendo escolhas extras para subir na primeira rodada do draft. Não é nem necessário dizer o fracasso que foi, até o momento, a escolha de Manziel, tanto dentro quanto fora de campo. É claro que, neste caso, o “culpado” não pagou a conta – como obviamente aconteceria se o caso for do dono do time interferindo. Quem saiu perdendo foi Farmer, demitido após a temporada de 2015. Para alterar a trajetória recente dos Browns, talvez um dos pontos chave seja reduzir ao mínimo a influência de Haslam nas decisões. Aparentemente, com a montagem da nova equipe de dirigentes do time (Sashi Brown e Paul DePodesta), este é justamente um dos objetivos. Resta saber como o estilo analítico de Brown e DePodesta combinará com o tradicionalismo do novo técnico, Hue Jackson. O histórico recente do Cleveland Browns sugere que nada é garantido.

Finalmente, é impossível não recordar toda a trajetória de Chip Kelly como técnico do Philadelphia Eagles. Desde que assumiu a posição, Kelly entrou numa disputa de poder com Howie Roseman, principal dirigente da equipe, buscando mais autonomia nas decisões, particularmente quanto à seleção de jogadores no draft. A cada ano, Kelly foi conseguindo afastar Roseman mais e mais do processo. Relacionado a isso ou não, as seleções dos Eagles tiveram resultados progressivamente piores conforme o poder de Chip Kelly aumentou. Nos três anos em que Kelly liderou a equipe, só Lane Johnson e Jordan Matthews se tornaram jogadores importantes para a equipe (lembrando que Johnson já cumpriu uma suspensão por doping, e Matthews sofre com os drops). Fato é que, nesta atual intertemporada, o jogo nos Eagles virou, com Roseman reassumindo a posição de responsável final pelas seleções, e Kelly, demitido, tentará obter mais sucesso como técnico dos 49ers.

Vimos aqui alguns exemplos recentes de problemas no equilíbrio entre donos, GMs e técnicos na hora do draft. Apesar disso, diversas equipes têm apresentado sucesso continuado em suas seleções, com bom entendimento entre seus principais técnicos e dirigentes. Não há uma fórmula perfeita, como podemos perceber ao observar as diferentes maneiras em que estas equipes se organizam. Packers e Ravens, por exemplo, têm general managers que detém todo o poder final sobre as decisões (Ted Thompson e Ozzie Newsome, respectivamente). Já os Patriots concentram todo o poder nas mãos do técnico Bill Belichick. Os Seahawks, por sua vez, conseguem dividir o poder de decisão entre o GM John Schneider e o técnico Pete Carroll.

Qualquer que seja a estrutura definida, é fundamental que cada componente da “war room” exerça sua função, com as diferenças inerentes à cada posição. É natural que os técnicos busquem reforços imediatos para a equipe, enquanto os GMs pensem mais a longo prazo, levando em consideração também as limitações de teto salarial. Com uma sala equilibrada, é certamente mais fácil obter sucesso na “guerra” do draft.

Quer uma oportunidade para assinar nosso site? Aproveita, R$ 9,90/mês no plano mensal, cancele quando quiser! Clique aqui para assinar!
“odds