Mais além de Aguayo: relembre outros kickers escolhidos em primeira ou segunda rodada no Draft

Você já pôde conhecer Roberto Aguayo, o ex-kicker de Florida State, no profético artigo de Gabriel Moralez, aqui no ProFootball. O Draft veio e Aguayo foi selecionado na segunda rodada pelo Tampa Bay Buccaneers, uma das escolhas mais contestadas de todo o recrutamento em 2016.

Mas quem é esse cara? Como um kicker, posição a qual geralmente é contratada como undrafted free agent, pode ser escolhido na segunda rodada? Mais: Como os Buccaneers se deram ao luxo de “trocar para cima” por Roberto?

O jovem kicker nunca conheceu a devastante sensação de errar um extra point ou um field goal de menos de 40 jardas, e esse tipo de precisão é extremamente valiosa com o aumento da distância dos extra points, implementado pela NFL em 2015. Mas valiosa o suficiente para que um time gaste uma escolha de segunda rodada em um kicker? Esse foi o motivo de toda a controvérsia gerada pela escolha. Afinal de contas, a grande maioria dos jogadores da posição são selecionados nas rodadas finais, ou nem mesmo são selecionados e acabam assinando com seus times como undrafted free agents (free agent não selecionado no Draft).

Ainda é muito cedo para sabermos se sua escolha foi boa ou não, mas nada nos impede de conjecturar, e a história está aí para nos ajudar nesse exercício. O Draft de 2016 não foi o primeiro em que um kicker foi selecionado nas duas primeiras rodadas. Na verdade, isso já aconteceu em 10 outras ocasiões.

Que tal relembrar as carreiras dos que já se aposentaram e ver como tem sido a dos dois que ainda estão em atividade?

1966 – Charlie Gogolak

O polonês Charlie Gogolak é o irmão mais novo do lendário kicker Pete Gogolak. Pete é considerado o responsável por revolucionar os chutes no futebol americano, ao chutar a bola com o peito do pé, ao invés do bico do chuteira, como era feito anteriormente. Seu estilo, baseado no futebol europeu, passou a ser chamado de soccer style e acabou se tornando a norma entre os kickers americanos.

Mas Pete não foi o único membro da família Gogolak a fazer história. Charlie é, até hoje, o kicker selecionado mais cedo em um Draft da NFL. Ele foi escolhido com a sexta escolha da primeira rodada do Draft de 1966, pelo Washington Redskins. Comparada a isso, a polêmica escolha de Aguayo parece até conservadora.

Charlie atuou por três anos em Washington, se transferindo depois para o New England Patriots, time que defendeu por outras três temporadas, se aposentando em 1972. Encerrou a carreira com um aproveitamento de 56% em field goals, com um total de 52, e mais 114 extra points.

1968 – Jerry DePoyster

DePoyster jogou pela Universidade de Wyoming, onde se tornou o primeiro kicker da história do College Football a acertar três chutes de mais de 50 jardas na mesma partida. Na NFL, entretanto, ele não encontrou o mesmo sucesso. Escolhido pelos Lions na segunda rodada do Draft, DePoyster ficou apenas um ano em Detroit, acertando apenas três field goals de 15 tentados. Em 1971, após dois anos afastado do esporte, assinou com o Oakland Raiders, mas não chegou a tentar ao menos um field goal pelo time da California. Atuou também como punter e possui como único record em sua carreira o de punt mais curto da história da NFL, um chute errado de apenas 11 jardas que foi retornado para touchdown.

1972 – Chester Marcol

O segundo polonês a aparecer nessa lista, Czeslaw Boleslaw “Chester” Marcol foi escolhido pelo Green Bay Packers na segunda rodada do Draft. Marcol teve um primeiro ano incrível na NFL, liderando a liga em pontos marcados (128) e sendo escolhido Calouro do Ano e All-Pro kicker. Ele jogou por 9 temporadas em Green Bay, anotando 120 field goals e 156 extra points nesse período. Em 1980, Marcol foi cortado pelos Packers, mas continuou vivendo em Green Bay. Quando o Houston Oilers foi à cidade enfrentar os Packers, o kicker de Houston foi impedido de participar da partida em cima da hora. Os Oilers então assinaram com Marcol, que jogou a partida sem nunca ter ao menos treinado com seus novos companheiros de time. Ele continuou na equipe pelo restante da temporada, mas não disputou mais nenhuma partida.

Seu lance mais emblemático aconteceu em setembro de 1980, em uma partida contra o Chicago Bears. Com o jogo empatado em 6 a 6 na prorrogação, Marcol se preparou para chutar o field goal que poderia decidir o jogo. O chute, no entanto, foi bloqueado pelos especialistas de Chicago e caiu diretamente nas mãos de Marcol, que rapidamente decidiu correr com a bola. Ele acabou marcando o touchdown da vitória dos Packers naquela jogada.

1976 – Chris Bahr

Chris Bahr era bom chutando bolas, fossem elas redondas ou ovais. Ele foi selecionado na segunda rodada do Draft de 1976 pelo Cincinnati Bengals, mas um ano antes havia sido selecionado na primeira rodada da North American Soccer League, pelo Philadelphia Atoms, e foi escolhido o calouro do ano pela NASL, além de convocado para defender a seleção norte americana. Entretanto, o amor pelo futebol americano foi maior. Bahr atuou por quatro temporadas em Cincinnati, se transferindo depois para os Raiders, onde jogou por nove temporadas. Em 1989, Bahr disputou sua última temporada, jogando pelo San Diego Chargers. Bahr conquistou dois Super Bowls pelos Raiders, e se manteve como o maior pontuador da história da franquia até 2007, quando foi superado por um jogador que também faz parte desta lista.

1979 – Russell Erxleben

Possivelmente um dos maiores busts (farsas) da história do Draft, Erxleben (foto abaixo) foi escolhido pelo New Orleans Saints com a 11ª escolha da primeira rodada. O “genial” plano da diretoria de New Orleans era liberar um espaço no plantel tendo um mesmo jogador como punterkicker, prática que já não era mais comum na liga. Contudo, esses planos cairam por terra após as péssimas atuações de Erxleben como kicker custarem vitórias cruciais ao time.

Ele foi vendo seu papel ser gradativamente reduzido, até que em 1982 os Saints escolheram o lendário Morten Andersen, restringindo Erxleben exclusivamente à função de punter. Russell foi dispensado pelo New Orleans Saints em 1984. Ele ainda tentou voltar à liga, quatro anos depois, pelos Lions, mas sua carreira em Detroit se resumiu a um único punt de 52 jardas. No fim das contas, o segundo kicker escolhido mais cedo na história terminou sua carreira com apenas quatro field goals e sete extra points.

Erxleben-1982

1986 – John Lee

O primeiro jogador asiático da NFL foi Min Jong Lee, também conhecido como John Lee. Nascido em Seul, Coreia do Sul, Lee se mudou para a California em 1976 e eventualmente se tornou um dos melhores kickers da história do College, defendendo UCLA.  Lee, no entanto, é mais um talento que não se traduziu para a NFL. Selecionado na segunda rodada do Draft pelo então St. Louis Cardinals, Lee recebeu um contrato que o transformou no jogador mais bem pago da posição na época. O kicker mais preciso da história do futebol americano até então, entretanto, começou a perder vários field goals fáceis entre os profissonais, e a força de seu chute de kickoff se mostrou muito decepcionante.

Ele acertou apenas oito de 13 tentativas, antes de sofrer uma lesão no joelho, sendo dispensado antes do início de sua segunda temporada. Em 1989, os Raiders trouxeram Lee para competir com o já citado Chis Bahr, que já se encontrava em fim de carreira. Lee perdeu dois dos três field goals tentados na preseason e acabou cortado antes de ter a chance de disputar um jogo oficial pelos Raiders, encerrando assim sua curta carreira.

1988 – Chip Lohmiller

Com 204 field goals na carreira, uma média de acertos de 72%, 301 extra points e uma vitória no Super Bowl, a carreira de Lohmiller foi tudo que Washington esperava que fosse quando o escolheu na segunda rodada do Draft de 1988. Lohmiller defendeu a franquia por sete temporadas, liderando a NFL em field goals marcados em duas delas. Após isso, ele teve passagens rápidas por New Orleans e St. Louis antes de se aposentar.

1992 – Jason Hanson

Um mito no futebol americano universitário, Jason Hanson defendeu Washington State e ainda detém vários recordes do College Football, entre eles o de maior número de field goals de mais de 50 jardas (20). Escolhido na segunda rodada pelo Detroit Lions, Hanson viria a ter ainda mais sucesso entre os profissionais. Ele disputou mais jogos pelos Lions do que qualquer outro jogador por qualquer time, sendo o kicker de Detroit por 19 temporadas.

Ele é o maior pontuador da história dos Lions, com 2100 pontos na carreira, além de ser o detentor de quase todos os recordes relativos a chutes da franquia. Foi selecionado duas vezes para o Pro Bowl e se tornou também um mito entre os profissionais. Se aposentou em 2013, nunca tendo defendido outra equipe.

seba

2000 – Sebastian Janikowski

Selecionado com a 17ª escolha da primeira rodada pelo Oakland Raiders, Janikowski (foto acima) é o terceiro polonês de nossa lista. Filho de um jogador de futebol que se mudou para os Estados Unidos buscando ressucitar sua carreira, Sebastian logo seguiu os passos do pai, indo ele também para a terra do Tio Sam. Lá, sua carreira acabou mudando de rumo. Janikowski era tão bom chutando uma bola que acabou recebendo uma bolsa de estudos para jogar por Florida State, como kicker. Lá ele teve a chance de demonstrar a potência de sua perna e vencer, assim como Aguayo, o prêmio Lou Groza dado ao melhor kicker universitário.

Ainda atuando na NFL, Janikowski vem tendo uma carreira excelente. Defendendo apenas o Oakland Raiders nesses 15 anos, ele já é o maior pontuador da história da franquia, dentre vários outros recordes. Mostrando precisão, além da célebre potência, em seus chutes, Janikowski já anotou 385 field goals e 520 extra points.

2005 – Mike Nugent

O atual kicker do Cincinnati Bengals, Nugent se destacou pela primeira vez em Ohio State. Detentor de 22 recordes pelos Buckeyes, Nugent logo atraiu a atenção da NFL. O New York Jets acabou selecionando Nugent com sua escolha de segunda rodada no Draft de 2005. Como os Jets não tinham uma escolha de primeira rodada naquele ano, Nugent foi o primeiro jogador selecionado pelo time no Draft, e não conseguiu cumprir as expectativas depositadas nele. Após 3 temporadas nada empolgantes, Nugent se lesionou na primeira partida da temporada de 2008, sendo substituido por Jay Feely.

E o substituto se saiu tão bem que Nugent acabou nunca mais disputando uma partida pelos Jets. Após isso, Nugent teve passagens relâmpago por Tampa Bay e Arizona antes de se firmar em Cincinnati. Titular nos Bengals desde 2010, Nugent vem tendo uma sólida carreira, ainda que não no nível (ou time) que os Jets esperavam quando o selecionaram.

Com tantos resultados diferentes é impossível tirar da história alguma conclusão a respeito do futuro de Roberto Aguayo na NFL. Mas ela vale como um lembrete de que o Tampa Bay Buccaneers não foi o primeiro time a causar essa controvérsia no Draft – e com certeza não será o último.

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