Qual o futuro de Wilkerson e Fitzpatrick com os Jets?

Relacionamentos são perfeitas analogias para os esportes, sobretudo para o futebol americano. A lei do ex sempre está presente, a relação do ex-amor e da nova paixão e tantos outros exemplos que o Antony Curti adora explorar. Só que enquanto os relacionamentos dão as melhores analogias, o futebol bretão traz os melhores contra exemplos possíveis para o futebol americano – e isso torna-se essencial para entender todo o mecanismo da intertemporada.

O futebol é extremamente desorganizado no que se diz respeito as contratações e folhas salariais. Contratos obscuros que precisam de vazamentos para serem expostos, teto salarial inexistente que desequilibra o esporte a nível local e mundial e até mesmo falta de pagamento de salários, que são coibidos pelo fair play financeiro europeu e falsamente coibidos por um fair play financeiro brasileiro feito para inglês ver.

Sem nenhuma regulação nas contratações e salários (o que prejudica o mercado, basta olhar o exemplo da NFL), quando um jogador começa a se destacar, cartolas começam a fazer leilões com partes do passe (fatiando os direitos do atleta) e aumentam o salário de acordo com a concorrência. Sendo assim, grandes times são montados e o desequilíbrio aparece naturalmente. Como já deu para ver, na NFL é totalmente diferente. O teto salarial é rígido e passá-lo pode render severas punições por parte da liga. Logo, é preciso saber investir de maneira adequada em cada posição e jogador. Renovações precisam ser muito bem pensadas, principalmente com relação à posição que o dinheiro está sendo investido e qual a projeção do futuro para o jogador.

Como já deu para ver, grandes estrelas que nascem do Draft costumam dar muitos problemas para renovar. Nenhuma equipe consegue alocar três salários de alto nível (os chamados salários de quarterbacks) sem comprometer todo o plantel e enfraquecer-se consideravelmente. Este é um efeito colateral de draftar bem: muitas vezes é preciso deixar sua estrela em ascensão um pouco insatisfeita.

Desde 2014, o New York Jets vem sofrendo constantemente com este problema. A equipe sabe que precisa alocar um espaço no salary cap para Muhammad (Mo) Wilkerson. Ele terminou os quatro anos do contrato de calouro, teve a opção do quinto ano exercida e agora teve a non-exclusive franchise tag aplicada – ele ainda não a assinou. Desde 2014, as negociações pela renovação de seu contrato estão sendo feitas. Desde 2014 elas não saíram muito do lugar.

Para piorar a situação, os Jets tiveram uma grata surpresa ano passado com Ryan Fitzpatrick. O produto de Harvard teve a melhor temporada da carreira, bateu o recorde de touchdowns lançados (31) da história da franquia e lançou 3905 jardas. Bons números, que o colocaram no top 10 em touchdowns lançados e no top 15 de jardas aéreas. Além disso, Fitzpatrick conquistou todo o vestiário e tornou-se um líder nato, liderando um ataque que vinha sofrendo com a falta de qualidade faz tempo.

O problema neste caso é que a dura renovação com os dois não se dá pelo fato do dono não querer gastar todo o salary cap em 2016 para economizar uma grana. Considerando a non-exclusive franchise tag de Wilkerson e a assinatura de contrato dos calouros, haverá pouco menos de quatro milhões de dólares disponíveis no cap para esta temporada.

O motivo desta dificuldade enorme reside no dinheiro mal alocado, principalmente na secundária. Com Dee Milliner (que está ganhando pouco mais de quatro milhões neste ano, um impacto considerável) quase se confirmando como um gigante bust, os Jets tiveram que buscar na Free Agency seus titulares – e isto sai caro. O impacto de Buster Skrine de 7,8 milhões de dólares nem fica tão pesado perto do de Darrelle Revis: 17 milhões em 2016, um salário de quarterback. O pior é que Revis vem caindo de produção (já que a idade chega para todos) e não era mais uma ilha completa no final do ano passado, dificultando a justificativa de receber tanto dinheiro assim – não se engane, ele ainda é um grande jogador, só não joga mais no nível de antigamente. Some isso aos dois wide receivers titulares terem um impacto de pouco mais de 16 milhões no cap e fica fácil entender o porquê de tanta dificuldade assim para alocar contratos. A situação não está nada fácil e muito provavelmente a franquia vai ter que escolher. A grande questão é: qual dos dois deveria ficar no time? Tem como alocar todo mundo?

O caso Ryan Fitzpatrick

A formação em Harvard de Fitzpatrick não é por acaso. Ele é um dos jogadores mais inteligentes da liga e este é um dos maiores motivos para ele ainda estar na ativa. Todos sabem das limitações em seu jogo, porém mesmo assim o atleta consegue se manter como um bom reserva/titular mediano. A sua inteligência em campo é visível, porém as suas limitações físicas o impede de decolar – o que era esperado desde o início, visto que ele foi uma simples escolha de sétima rodada.

No ataque de Chan Gailey, que ele já estava acostumado, Fitzpatrick foi muito melhor que em qualquer outro ano, mas seus números não são top 10 – e nem a sua consistência em campo, basta lembrar do jogo contra os Bills. Apesar disso foram números que a franquia não via fazia tempos, o que dá credibilidade às suas atuações e ao seu lado na negociação. Sim, ele falhou no momento decisivo contra os Bills, mas o 10-6 foi muito surpreendente no final da temporada regular e ele é a melhor opção para o ano de 2016.

Naturalmente ele iria querer receber como um titular. Ele seria o cara e nada melhor do que garantir alguns milhões a mais. Além disso, o contrato de Sam Bradford e Robert Griffin III deram muito mais credibilidade ao seu pedido. O produto de Harvard, de acordo com algumas fontes, deve estar pedindo entre 15 e 16 milhões ao ano. Os Jets, pesando que ele tem 33 anos e o último ano pode ter sido um ponto fora da curva, ofereceram entre 7 e 8 milhões e agora aumentaram um pouquinho a proposta – mas bem longe do que o signal caller quer.

Na NFL, respeito é convertido em cifras. Se um time não paga bem, naturalmente o atleta se sente desprestigiado e busca um lugar melhor. No caso de Fitzpatrick, não existe este lugar melhor: é Nova Iorque ou aposentadoria. Ninguém vai pagar melhor e ele sabe disso. A diferença é a sua inteligência: não vale a pena arriscar a sua saúde por um valor abaixo do que acha que merece. Lembre-se, até mesmo Chase Daniel assinou um contrato que pagava sete milhões anuais! Neste caso, os Jets vão ter que aumentar a oferta, mas como? O salary cap está totalmente comprometido e ainda tem o caso de Mo Wilkerson para resolver.

O caso Muhammad Wilkerson

Se com Ryan Fitzpatrick não havia o que ser feito, no caso de Muhammad Wilkerson os Jets acabaram se enterrando devido a tentar economizar no contrato. Como já dissemos, não dá para pagar todo mundo, conquanto é preciso segurar os talentos criados em casa que são os destaques de suas unidades. Wilkerson vem sendo o melhor jogador da defesa há um tempo e faltou sensibilidade em tentar renovar rapidamente e evitar toda esta complicação. Aliás, vale ressaltar que a espera pela renovação acabou deixando as coisas mais caras.

Para quem não conhece o jogo de Wilkerson, basta assistir 10 minutos de algum jogo de New York que você verá ele se destacar facilmente. Selecionado na trigésima escolha geral de 2011, o defensive end encaixou-se perfeitamente no 3-4 de Rex Ryan e logo roubou a cena. Quando Ryan saiu e Todd Bowles foi contratado, o atleta não parou de produzir e terminou o ano com 12 sacks – além de sete passes defendidos e 11 tackles para perdas de jardas. Ele destrói o pocket dos adversários, é muito bom contra a corrida e ainda tem habilidades de pass rusher. Um jogador completo e que qualquer franquia gostaria de contar para montar o resto da defesa ao redor.

Com tantos números bons e saindo do ano de calouro (tendo apenas 26 anos), se esperava que Wilkerson e Chad Wiestling (seu agente) pedissem um contrato com números parecidos ao de J.J. Watt, certo? Nem perto disso. Enquanto Watt ganha cerca de 16.6 milhões por ano, o contrato de Wilkerson deveria se encaixar na faixa de 12 milhões por ano, com cerca de 40% do contrato garantido por lesão. Os Jets, aparentemente, não ofertaram perto disso. Sem uma conversa qualificada, é óbvio que o distanciamento vai aumentar.

Mesmo com Sheldon Richardson e Leonard Williams no elenco, é preciso manter uma rotação no front seven de qualidade e bons jogadores que possam ter impacto em campo. Os Jets sabem, eu sei, você sabe – só o Miami Dolphins parece que não sabe. Para manter isto, é preciso chegar a um acordo com Wilkerson e procurar um contrato de longa duração. O preço da tag é altíssimo (15 milhões de dólares) e a franquia já deveria ter aberto o espaço para garantir que seu front seven ficará junto.

E no final, quem fica?

Não dá para manter os dois no elenco. Na realidade, seria uma loucura completa oferecer um contrato de longa duração para Ryan Fitzpatrick. Independente de sua última temporada, o jogador tem 33 anos e seria uma aposta muito mal planejada em ele ser o cara pelos próximos três ou quatro anos. Quando fala-se em um novo Kurt Warner, as pessoas esquecem que ele mostrava flashes desde o início de sua estadia nos Rams – coisa que Fitzpatrick nunca mostrou.

O ideal seria contar com os dois no próximo ano, mas não vai dar. Fitzpatrick simplesmente não cabe no orçamento ganhando 12 – 15 milhões de dólares. Seria precisa cortar muita gente (como Dee Milliner) e a diretoria não deve estar disposta a perder apostas para reter um cara que é um tampão. Além do mais, existem três quarterbacks relativamente novos no elenco – Geno Smith, Bryce Petty e o recém draftado Christian Hackenberg. É preciso saber se algum deles ainda pode render algo, não dá para manter-se na escuridão por muito mais tempo.

Com relação a Mo Wilkerson, o papo é totalmente diferente. Não se deixa o melhor jogador defensivo do elenco sair de graça, em hipótese nenhuma. Os Jets agiram mal durante toda a negociação e agora é preciso consertar. É totalmente entendível a postura de jogar duro nas negociações, visto que ainda falta os contratos de Richardson e Williams no futuro, conquanto tem uma hora que é preciso reconhecer o erro e pagar o necessário. Ninguém vai aceitar fazer uma troca por um jogador que vai cair no mercado daqui a um ano. Ou renova ou ele vai embora de graça.

O palpite é o mais pessimista para o torcedor dos Jets: o único que vai jogar novamente pela franquia é o linha defensiva produto de Temple. O corte de salário que Fitzpatrick teria que ter é muito alto e vale a pena descobrir se Geno Smith se tornará alguma coisa na liga. Isto significa que Wilkerson vai ficar mais tempo em Nova Iorque? Não. O palpite mais plausível é que ele assinará a tag e sairá como Free Agent no ano que vem, ganhando um contrato monstruoso e redefinindo, novamente, o pagamento dos jogadores de linha – sejam defensive tackles do 4-3 ou defensive ends do 3-4.

Os Jets perderam toda a sua capacidade de negociar com Wilkerson depois de estender esta negociação de contrato por tanto tempo. Será necessário investir pesado, porém isto significa que cortes na secundária vão ser necessários nos anos seguintes – o que parece não estar nos planos. Para montar uma defesa fortíssima, que chegue ao Super Bowl, não é necessário apenas jogadores brilhantes. É preciso economizar, ter atletas com contratos de calouros jogando muito bem. Agora que Nova Iorque tem uma defesa boa (que vai contar com a adição de Darron Lee), vai faltar dinheiro para manter as estrelas. Se em 2016 está difícil, nem queira imaginar daqui a um ou dois anos.

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