O conto de fadas de Moritz Böhringer, o alemão que nunca jogou nos EUA e foi draftado

Um jovem de 17 anos, fã de futebol (da bola redonda), está em casa de bobeira vendo vídeos no YouTube quando na barra lateral, entre os vídeos sugeridos, aparece um com os melhores momentos da carreira de Adrian Peterson. O jovem assiste o vídeo e, imediatamente, fica fascinado por aquele novo esporte do qual nada conhecia. Ele procura então um time onde treinar. Encontra um em sua cidade mas, com apenas 7 jogadores treinando, tudo que eles podem fazer é brincar de dar tackles e lançar a bola. Mas o jovem atleta continua tentando e, cinco anos depois, consegue uma vaga para jogar em um time grande, duas vezes campeão do principal torneio de futebol americano de seu país.

Até esse ponto, a história do alemão Moritz Böhringer é muito parecida com a de milhares de brasileiros que agora desbravam o futebol americano em nosso país. O que aconteceu em seguida, no entanto, não encontra paralelos em nenhum outro relato.

O conto de fadas

Após uma espetacular temporada jogando pelo Shwäbisch Hall Unicorns – 59 recepções para 1.232 e 13 touchdowns, em 16 partidas – Böhringer foi descoberto pelo olheiro internacional da NFL, Aden Durde, que o levou para os Estados Unidos. Lá, ele foi convidado a participar do Pro Day de Florida Atlantic, em março de 2016. Seus resultados nos testes físicos foram tão impressionantes que muitos na imprensa americana começaram a chamá-lo de “o Randy Moss alemão” e ele entrou no radar dos times da NFL. Tanto que, no terceiro dia do Draft 2016, Moritz Böhringer foi selecionado pelo Minnesota Vikings, com uma de suas escolhas de sexta rodada. Desta forma, Böhringer se tornou o primeiro jogador selecionado no Draft da NFL sem nunca ter jogado futebol americano nos Estados Unidos. E justamente pelo time pelo qual torcia.

A realidade

As perspectivas para Böhringer na NFL não são das mais animadoras. Pra começar, temos o problema da adaptação a um ataque profissional. Em seu único ano atuando em uma equipe da German Football League (GFL), Böhringer teve contato apenas com um playbook muito limitado, baseado exclusivamente em conceitos das spread offenses. Ou seja, ele aprendeu a executar jogadas por apenas um ano, em uma liga que um olheiro da NFL classificou como sendo “no mesmo nível das universidades do Canadá” – o que, para skill positions, acaba sendo um pesadelo de adaptação. Outro ponto relevante era o nível dos defensores enfrentados por ele. Böhringer era sempre muito maior e mais atlético que seus adversários, e era assim que os vencia. Mas na NFL isso não vai acontecer.

Na verdade, por mais que os números de Böhringer na GFL impressionem, ele nem ao menos foi o recebedor mais prolífico em seu próprio time. O norte-americano Patrick Donahue, que não conseguiu uma chance na NFL ao terminar seu tempo no College, teve 75 recepções, para 1.353 jardas e 17 touchdowns.

Relatos iniciais dos treinamentos do Minnesota Vikings descrevem Böhringer como um atleta dedicado, mas desacostumado aos rigores de uma rotina de treinamentos intensa. Isso era de se esperar, já que sua antiga equipe só realizava treinamentos nos fins de semana. Além disso, o jogador tem tido muita dificuldade com a execução de rotas e com as nuances do ataque.

Seus momentos de destaque vieram nos times especiais, atuando como gunner na equipe de cobertura de punts. E essa é sua única chance de fazer parte dos 53 jogadores que comporão o plantes dos Vikings para a temporada regular. O time de Minnesota já aprendeu a lição com Cordarrelle Patterson: não adianta nada um wide receiver que se destaque atleticamente se ele não souber correr rotas e executar jogadas.

Mas então, por que os Vikings o escolheram?

Bom, em primeiro lugar, é bom lembrar que estamos falando de uma escolha de sexta rodada. Nesse ponto do Draft, a chance de que um time vá selecionar um jogador que ficará pelo menos dois anos no time é muito pequena. Sim, vários jogadores importantes da história da NFL – com destaque para Tom Brady, exemplo que damos texto sim, texto também – foram selecionados da sexta rodada para trás, ou até mesmo nem selecionados. Mas se compararmos a quantidade desses jogadores com aqueles que nunca produziram nada de relevante, veremos que as chances realmente não favorecem esses prospectos. Por isso os times tendem a concentrar suas escolhas dos rounds finais em jogadores que desempenhem uma função específica em seus esquemas ou possam contribuir nos special teams. Böhringer, como já está demonstrando, pode contribuir dessa maneira.

Um outro aspecto importante a levarmos em conta, é o mercadológico. A NFL tem buscado expandir sua influência sobre o mercado europeu, como evidenciado pelos jogos realizados em Londres. Uma forma de atrair consumidores de novos mercados, utilizada com sucesso pela MLB e pela NBA, é trazer jogadores desses mercados para atuar na liga. Se Böhringer conseguir jogar uma partida, pode estar seguro de que muitos na Alemanha vão querer vê-lo jogar. Até quem antes torcia o nariz para esse “esporte violento de americanos”. Essa aposta faz sentido para a NFL, e especialmente para os Vikings, cujo principal jogador foi o responsável por apresentar Moritz Böhringer ao futebol americano. Alguma dúvida de qual será o time da NFL que mais venderá produtos com sua marca na Alemanha caso essa experiência funcione?

Resumindo, boa possibilidade de retorno com baixo risco.

Novos mercados?

E isso nos remete imediatamente ao Brasil. Segundo o jornal inglês “The Independent”, em 2015 o Brasil já possuia o segundo maior número de fãs da NFL fora dos Estados Unidos. E esse público ainda tem muito potencial para crescer. Vindo de encontro a isso, a prática do esporte tem se estruturado cada vez mais, propiciando o surgimento de mais atletas de alto nível.

Ainda é cedo para sonharmos com um atleta de uma equipe brasileira sendo selecionado no Draft da NFL, mas a história de Moritz Böhringer mostra que talvez não estejamos tão longe desse dia.

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