Pittsburgh Steelers defensive coordinator Dick LeBeau watches warm ups before the NFL football game between the Pittsburgh Steelers and the Tampa Bay Buccaneers on Sunday, Sept. 28, 2014 in Pittsburgh. (AP Photo/Gene Puskar)

Blackboard: A defesa 3-4

3-4 ou 4-3: qual o melhor? Qual a diferença do perfil de jogadores, responsabilidades, coberturas e pontos fracos (e fortes)? Apesar da descrição dos sistemas defensivos da NFL ser muito mais simples do que no futebol bretão, entendê-los é uma tarefa mais complicada.

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Continuando a nossa saga para entender o básico dos sistemas defensivos, nesta semana trazemos o que é o 3-4 e como ele é aproveitado. No 3-4 conta-se muito com a criatividade do coordenador defensivo (ou técnico principal). Isto pode ser a chave do sucesso ou o motivo do fracasso geral. Nem sempre muita criatividade dá certo, porém pouca criatividade é quase sempre sinal de falha.

Acompanhe um pouco mais sobre e procure apontar todas as suas semelhanças e diferenças com o 4-3. Só que antes de entrarmos a fundo na tática, vale a pena dar uma olhada na história e entender todo o contexto da formação.

O início do 3-4

Como já relatado, o 4-3 surgiu na NFL e rapidamente foi utilizado, visto que era um esquema essencial para cobrir as corridas e, ao mesmo tempo, fazer boas coberturas no meio do campo. Já o 3-4 teve um início e desenvolvimento completamente diferente ao longo da história.

O 3-4 surgiu no futebol americano universitário, mais especificamente no Oklahoma Sooners comandado por Bud Wilkinson na década de 40. Criado com o intuito de parar running backs fortes e, ao mesmo tempo, dar flexibilidade para a defesa, o 3-4 ficou três décadas no nível universitário até chamar a atenção da NFL – um processo parecido com o que aconteceu com a Read Option.

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A chegada do 3-4 na NFL foi feita por duas equipes e por razões totalmente distintas. O Miami Dolphins, de Don Shula, na década de 70 começou a usar o sistema devido à grande quantidade de contusões sofridas entre os seus defensive ends. Como solução prática, Shula implementou um sistema em que os linhas defensivas não atacavam a linha ofensiva adversária, mas sim abriam espaços para os linebackers atuarem – a base do 3-4 2-gap. E o elemento essencial no esquema era o linebacker Bob Matheson, que foi o motivo do nome “53” defense utilizado pelo time – Matheson usava a #53. Aliás, vale ressaltar que a No-Name Defense (nome que foi cunhado por Tom Landry em uma entrevista), para quem não lembra é a defesa da temporada invicta de 1972, utilizava o 3-4 em situações de passe.

Já o New England Patriots, o segundo time responsável por trazer o esquema – o primeiro em todas as descidas, como defesa-base – e fez do 3-4 a sua base defensiva de maneira pensada. Chuck Fairbanks, que foi o pupilo de Wilkinson em Oklahoma, foi contratado para ser técnico principal da franquia em 1973 e trouxe na mala o playbook de Wilkinson. Aliás, muitos consideram Fairbanks o pai do 3-4 na NFL, apesar dos Dolphins já terem utilizado o esquema em 1972. Como tudo que é novidade e dá certo, o 3-4 foi se disseminando na liga mais rápido que o 4-3.

Por ser um esquema em que pode-se utilizar muita criatividade, não demorou muito para ocorrer interpretações híbridas do 3-4. Bum Philips, no ano seguinte à contratação de Fairbanks, implementou no Houston Oilers um esquema 3-4 que era 1-gap – um embrião do 3-4 under de hoje em dia ou de esquemas ainda mais complexos. Já na década de 80, boa parte das franquias usavam o 3-4, com destaque para a unidade do Oakland Raiders, que venceu o Super Bowl XV, e do Pittsburgh Steelers – pós Steel Curtain. Aliás, Pittsburgh é a franquia que há mais tempo utiliza a formação – desde 1982, após a aposentadoria do Hall of Famer Joe “Mean” Greene e (do quase Hall of Famer) L.C. Greenwood.

A formação rapidamente explodiu na década de 80 por causa de sua flexibilidade, mas começou a cair em desuso durante a década de 90 e, em 2001, apenas os Steelers utilizavam a formação como a sua base defensiva. Foi a partir daí que o 3-4 voltou com força na liga. Aquela defesa de 2001 foi a melhor da NFL, mesmo sem Dick LeBeau, que havia virado técnico principal em Cincinnati.

Com o começo do desuso na década de 90, Dick LeBeau começou a revolucionar o 3-4 com a criação do Zone Blitz – que ganhará um capítulo a parte nesta série do Blackboard. Ele consistia, basicamente, em tentar enganar a linha ofensiva adversária diferenciando quem vai atrás do signal caller adversário (também mandando vários blitzes) e colocando os outside linebackers em coberturas de zona – e até mesmo os safeties e tudo mais. LeBeau começou a desenvolver o seu Zone Blitz (que já era utilizado pelos Dolphins de 72) nos Bengals, mas foi quando chegou em Pittsburgh que ele aprimorou ainda mais – em 1992, junto com Bill Cowher. Cowher abraçou tanto a ideia que mesmo com a saída de LeBeau e com Tim Lewis de coordenador defensivo, ele conseguiu a aperfeiçoou, criando a Blitzburgh – que teve 55 sacks na temporada regular. Isso abriu os olhos, novamente, da liga do quão criativo é o 3-4, logo ele voltou a crescer na liga.

Hoje há 16 franquias que usam o 3-4: Arizona Cardinals, Baltimore Ravens, Buffalo Bills, Chicago Bears, Cleveland Browns, Denver Broncos, Green Bay Packers, Houston Texans, Indianapolis Colts, Kansas City Chiefs, New York Jets, Pittsburgh Steelers, San Diego Chargers, San Francisco 49ers, Tennessee Titans e Washington – sendo alguns híbridos e outros mais puros.

Como funciona o 3-4?

Já deu para notar o quanto os sistemas tornaram-se complexos e híbridos com o avanço do jogo aéreo na liga, porém o 3-4 é o sistema que oferece a maior plataforma para se inventar. Sistemas que misturam 1-gap com 2-gap, nose tackles mais leves ou mais pesados e muito mais fizeram com que o sistema puro fosse sumindo aos poucos.

Techniques-Gaps

Antes de começar a explicar, vale ressaltar que durante todo o texto vamos utilizar a denominação de gaps e techniques. Você pode relembrar o que são e na imagem acima há o esquema utilizado ao longo do texto.

O 3-4 mais tradicional de todos é aquele em que os dois defensive ends se alinham na 5-tech e o nose tackle está na 0-tech, com todos sendo responsáveis por dois gaps. Como eles ocupam, normalmente, quatro jogadores da linha (o nose tackle quase sempre recebe um bloqueio duplo) e o pass rusher ocupará o quinto, fica a cargo dos três linebackers restantes brilharem durante a partida parando o jogo terrestre e chegando no quarterback. As variações deste esquema foram o Bear Front (com os defensive ends jogando na 3-tech) e o Hidden Bear (jogando na 4-tech), que visam serem mortais contra corridas pelos A e B gaps.

Este tipo de formação foi caindo em desuso pela necessidade de ter um perfil muito específico para a posição de defensive ends: atletas altos, muito fortes, que não precisam ser tão habilidosos no pass rush. Com a disseminação de atletas mais ágeis na posição de defensive end (devido ao avanço do jogo aéreo no futebol universitário) e ao aumento de nose tackles mais atléticos, o 3-4 2-gap mais clássico foi se transformando e o mais comum de se encontrar é esta formação:

def4 (1)

Neste sistema todos os jogadores de linha defensiva jogam como 2-gap. O nose tackle fica na 0-tech e cuida dos dois A-gaps. Os defensive ends alinham-se na 3-tech e 5-tech. A responsabilidade da linha é controlar a linha ofensiva, abrindo espaços para os linebackers fazerem as jogadas. Neste caso, os dois defensive ends possuem responsabilidades um pouco mais diferentes. Enquanto o defensive tackle na 3-tech é muito mais responsável em parar as corridas, o da 5-tech precisa ser mais prolífico no pass rusher. Note, quem joga na 5-tech precisa ser muito bom também no 2-gap, porém ele está alinhado em frente ao tackle (tanto na esquerda quanto na direita) e precisa ser mais completo.

Antes de passar para o segundo nível defensivo, vale ressaltar a posição mais importante do 3-4: o nose tackle. Ele tem a dura tarefa de controlar os dois A-gaps e abrir espaço para o MIKE e o WILL fazerem tackles no meio do campo. Talvez seja a função mais exigente do futebol americano. Sem um nose tackle de qualidade não há como ter um 3-4 de qualidade. Só que o nose tackle nem sempre precisa ser um Vince Wilfork: muitos sistemas funcionam excepcionalmente bem com atletas com mais agilidade e que podem contribuir para destruir o pocket pelo meio.

Com relação aos linebackers, são quatro na formação: dois outside e dois inside. O outside linebacker que fica no lado cego do quarterback é o maior responsável por conquistar sacks para a franquia. Ele é o right outside linebacker e é conhecido por Jack, Rush, Predator e outras denominações – dependendo da defesa, mas o mais comum é o Jack. O SAM (que fica no lado do 5-tech defensive end) tem que ser mais completo que o Jack: ele precisa ser bom no pass rusher, mas também saber conter as jogadas terrestres e sair em coberturas – tanto por zona quanto no mano-a-mano. Em blitzes, normalmente é o SAM que vai cobrir o running back ou o flat. Por causa de ser polivalente, muitos sistemas o chamam de Joker – o coringa defensivo.

Pelo meio o inside linebacker alinhado ao lado do SAM é conhecido como MIKE. Assim como no 4-3, o MIKE é o cérebro da defesa: alinha os jogadores, faz chamadas e é responsável por marcar o meio do campo na maioria das jogadas – o melhor exemplo é Ray Lewis. O outro inside linebacker é o WILL. Ele é o mais atlético de todo o grupo: faz marcações por zona, vai em blitzes e tem responsabilidades de ir atrás do running back – Ryan Shazier é o WILL dos Steelers. O MIKE precisa ter bem mais instintos (precisa pensar menos para fazer as jogadas) do que o WILL. Apesar da denominação ser igual, a função deles no jogo terrestre se altera muito com relação ao 4-3. Os linebackers são as estrelas do 3-4 e eles precisam voar em campo para cobrir todos os espaços. Enquanto a linha defensiva faz o trabalho sujo, os linebackers precisam brilhar. Isso é muito diferente do 4-3, formação em que a linha defensiva que vai brilhar e os linebackers vão atacar mais gaps – e sofrer mais bloqueios da linha ofensiva.

Até mesmo a função dos safeties muda bastante. Em um 3-4, os safeties precisam ser bem mais prolíficos no blitz e nem sempre possuem tantas responsabilidades na corrida quanto no 4-3. Além disso, é recomendável que ele seja bom na cobertura mano-a-mano, o que faz com que o sistema continue sendo criativo mesmo em situações de passe – ele vai cobrir um running back ou o jogador no slot, por exemplo. Em sistemas mais híbridos (como 3-4 under, por exemplo), os linebackers e os safeties têm mais responsabilidades nos gaps.

3-4 ou 4-3: qual o melhor?

A maior dúvida de quem acompanha o esporte é: qual o melhor estilo de defesa? A defesa da década passada do Chicago Bears, com Brian Urlacher, jogava no 4-3. O Pittsburgh Steelers utiliza o 3-4 2-gap desde 1982 e sempre teve esquemas defensivos grandiosos. Outras equipes tiveram ótimas defesas com esquemas híbridos – como os Texans e os Ravens.

A melhor defesa é aquela que se encaixa na filosofia dos técnicos e no estilo dos jogadores disponíveis. Elas são bem diferentes no que tange ao pass rush e ao combate ao jogo terrestre, porém com as peças certas todos os esquemas podem dar certo. Na NFL de hoje, o Carolina Panthers usa um 4-3 memorável e não tem problemas com o jogo terrestre. O próprio New England Patriots foi bem sucedido com o 3-4 e agora usa um sistema híbrido mais próximo ao 4-3 – e também teve bons sistemas em todas as formações.

O time mais curioso de hoje é o Oakland Raiders, que usa um híbrido de 4-3 e 3-4 durante as partidas. Em algumas jogadas, a equipe está no 4-3 e em outras no 3-4, com Khalil Mack sendo o linebacker aproveitado para fazer essa transição. Novamente, Jack Del Rio detectou o potencial dos seus jogadores e fez algo único, que extrai o melhor deles.

Na sequência, vamos falar de subpackages e um pouco de formações ofensivas, bem como rotas e coberturas. Além disso, vamos dissecar vários ataques e defesas (como a Run and Shoot já feito) e muito mais.

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