Blackboard: conheça a 46 defense e o legado de Buddy Ryan

Enxergo o costume de ter ídolos muito bom para o amadurecimento de uma pessoa em qualquer área, seja nos esportes ou até mesmo na vida profissional. Gostar de um personagem pelo seu comprometimento, habilidade ou ética faz com que tenhamos mais vontade para aprender sobre o assunto em questão – principalmente quando estamos no começo daquilo ou ainda somos crianças.

Quando comecei a acompanhar o futebol americano em si, algumas figuras foram surgindo como importantes, mas era difícil criar um sentimento de idolatria por tais. Bill Walsh foi brilhante, Dick Vermeil muito criativo e Al Davis foi a frente do seu tempo. Continuando a estudar sobre o jogo, e se apaixonando cada vez mais, não foi tão difícil encontrar um grande ídolo: Buddy Ryan.

Ryan foi um técnico brilhante. A 46 defense não foi o seu maior trunfo, mas sim conseguir se conectar com os seus atletas de uma forma brilhante. Assista o 30 for 30 da ESPN sobre a defesa do Chicago Bears de 85: a relação entre ele e Mike Singletary não parece de técnico e jogador, mas sim de pai e filho.

Ele não era um cara fácil de se lidar. Brigou com Mike Ditka, dizia que ele não sabia nada de defesa, chegou a vias de fato com o coordenador ofensivo Kevin Gilbride (enquanto os dois trabalhavam no Houston Oilers) em um intervalo de jogo porque o ataque não estava correndo o suficiente – e a defesa não parava de voltar ao campo. Um cara intenso, sem papas na língua (criticava até o dono do Philadelphia Eagles quando era técnico principal lá) e competitivo – muito competitivo. Se você quiser acompanhar junto, gravamos um vídeo no Madden para ilustrar o texto. Lembrando que é muito importante saber os conceitos defensivos (como gaps e sistemas defensivos) e ofensivos (como rotas,formações e alguns sistemas ofensivos) que já abordamos ao longo desta coluna.

Um pouco de história

Sua capacidade de comunicação com os seus jogadores fazia com que esta competitividade e intensidade passassem para o campo. A 46 defense não era baseada em parar os adversários, mas sim em marcar pontos! Isto mesmo: Ryan cobrava que sua unidade roubasse a bola dos adversários e marcasse pontos. Como ele uma vez disse: “quarterbacks são pagos mais do que merecem, super valorizados, bastardos pomposos e devem ser punidos.” O ponto da 46 defense era punir os quarterbacks o máximo que desse, para afetar os seus lançamentos e roubar a bola.

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A ideia dela surgiu enquanto Ryan era um técnico de linha defensiva no New York Jets. Durante os treinamentos, começou a perceber como a pressão afetava a mecânica e os lançamentos de Joe Namath, logo começou a pensar em blitzes que afetassem os adversários – e os Jets começaram a utilizar. Quando chegou em 81 nos Bears, Ryan começou a implementar a 46 defense como um subpackage do 4-3 para situações de blitz – principalmente porque a ideia ainda era muito nova.

Ao longo de dois anos ele foi melhorando cada vez mais e quando Neill Armstrong foi demitido, os jogadores da defesa reconheceram o trabalho que estava sendo formado e fizeram um abaixo assinado para o lendário George Halas manter Ryan como coordenador defensivo. Halas concordou e só contratou Mike Ditka se ele mantivesse o coordenador defensivo. E foi a partir daí que a 46 defense foi realmente implementada.

Como funciona a 46 defense

A ideia de Buddy Ryan era simples, mas genial: quero desafiar os quarterbacks adversários a lançar a bola. Só assim ele poderia ser ultra agressivo e tentar punir o signal caller, que é a principal peça de qualquer franquia. E como fazer isso? Oras, enchendo o box e dificultando o trabalho da linha ofensiva. Percebeu o quão diferente era o esquema? São 6 jogadores na linha de scrimmage, sendo que o defensive end está alinhado de frente com o guard e os dois outside linebackers estão ao seu lado.

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A figura acima mostra melhor o posicionamento defensivo. O nose guard e os defensive tackles ficam em uma formação extremamente parecida com Bear front: o nose guard na 0-tech e um tackle e outro end de frente para os guards, na 3-tech. O right defensive end ficava na 9-tech. O WILL fica no ombro de dentro do tight end (7-tech) e o SAM fica na 9-tech.

Com os A e B gaps todos cobertos, o MIKE se posicionava cerca de 5-6 jardas da linha de scrimmage entre o defensive tackle e o WILL. A ideia desta formação era simples: os jogadores de dentro da linha defensiva eram responsáveis por ocupar o center e os dois guards. Com o 2-gap deles na frente, bloqueios no segundo nível ficavam quase impossíveis de ser realizados, diminuindo o range de opções de corrida. Pelos lados, o defensive end do lado direito e o SAM eram responsáveis por conter as corridas laterais e o WILL era quem evitava corridas de sweeppower – ajudando no B-gap e no C-gap. Apesar de um princípio de 2-gap, os jogadores da linha defensiva precisavam atacar o adversário e destruir o pocket, pois de nada adiantava a formação sem pressão.

Mas por que o nome 46 defense? Simples. O oitavo membro do box era o strong safety, que na época do Chicago Bears era o #46 Doug Plank. Ele era uma peça importante, visto que jogava no weak side, que era mais propenso para receber as corridas – visto que tinha menos jogadores. Com esta máquina de parar o jogo terrestre, os ataques tinham que passar e era neste momento que Ryan mostrava toda a agressividade defensiva: os blitzes eram intermináveis.

Só que não é difícil perceber o problema desta formação: ela seria fraca contra passes rápidos e pelo meio. Neste momento entra o principal ponto defensivo desta tática: o MIKE.

O papel de Mike Singletary

Você notou que esta defesa só estourou em 1985? Isto é devido a falta da principal peça defensiva: Mike Singletary. O MIKE é o coração desta defesa.

Singletary estava em Chicago desde 1981, quando foi draftado na segunda rodada. Só que foi em 1985 que ele teve a melhor temporada da carreira e foi a peça dominante que faltava nesta defesa para decolar. Sua função em campo era dominar o meio de campo: ele deveria dobrar no wide receiver, cobrir o tight end, jogar como safety ou atuar no blitz. Sem um MIKE que domina, a 46 defense não consegue ir para frente.

Aliás, vale aqui ressaltar: sem as peças corretas, a 46 defense não funciona de jeito nenhum. É preciso de uma linha defensiva agressiva, cornerbacks que gostem de jogar no contato e um linebacker muito versátil.

Mandando sete ou até mesmo oito jogadores atrás do adversário, a defesa buscava punir os signal callers e ganhar na intensidade – por isso o lema de marcar pontos defensivos a toda hora.

Em 1986 Ryan foi para os Eagles e implementou a sua defesa e conseguiu os jogadores que formaram a base de uma das melhores defesas da história da NFL: a Gang Green de 1991. Apesar da 46 defense ser um pacote pouco usado hoje em dia (como mostra a imagem abaixo uma adaptação da formação), ela teve um grande impacto na história das formações defensivas ao redor da liga.

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A 46 defense trouxe momentos épicos para a história do esporte, como o Body Bag Game e o Super Bowl XX. Além disso, ela tinha uma identidade própria, uma energia que contagiava todo mundo – até mesmo jogadores do ataque.

O legado de Buddy Ryan na liga foi como ele: único. Sua defesa hoje em dia não é mais tão utilizada não porque o esquema é falho, mas sim porque nenhum elenco conseguiria executá-la da maneira ideal – são tantos elementos que precisam funcionar juntos. Só que mesmo assim, a sua filosofia de intensidade e agressividade foram espalhadas e influenciaram a todos que inventaram esquemas defensivos brilhantes ao longo dos anos 90 e 00.

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