Dropback, 2004: Após recusar os Chargers, Eli Manning é trocado para os Giants

O Draft de 2004 sem dúvida foi especial. Em primeiro lugar, porque a classe de quarterbacks daquele ano certamente foi a melhor dos últimos tempos, tendo trazido para a NFL nomes como Eli Manning, Philip Rivers, Ben Roethlisberger ou mesmo Matt Schaub, que teve lá seus momentos de destaque com os Texans há algumas temporadas. Na verdade, muitos especialistas discutem se esta classe não é de fato a melhor de toda a história da liga, afinal não é sempre que três franchise quarterbacks saem juntos no recrutamento.

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Mas não para por aí. Além de todo esse talento na posição mais importante do jogo, um outro fato torna o Draft de 2004 inesquecível: o imbróglio envolvendo Eli Manning e o San Diego Chargers e a sua subsequente troca para o New York Giants. A indisposição do quarterback em atuar pelo time da Califórnia rende polêmicas até hoje, mesmo tendo se passado mais de 12 anos do acontecimento, e sempre volta à pauta quando as duas franquias se enfrentam.

Neste texto vamos relembrar um pouco mais sobre o que ocorreu na noite de 24 de abril de 2004, data da primeira rodada do Draft daquele ano. Contudo, nosso ponto de partida deve ser alguns dias antes.

A recusa de Manning

Após um decepcionante record de 4-12 em 2003, o San Diego Chargers “ganhou” o direito de ficar com a primeira escolha geral do Draft seguinte. Embora tivesse Drew Brees no elenco – o jovem, uma futura estrela do futebol americano, ainda não havia se firmado e nem passado segurança na NFL -, a equipe estava procurando outro quarterback. O foco era em Philip Rivers e principalmente em Eli Manning, visto como o melhor prospecto disponível daquele ano.

Porém, o interesse não era recíproco. No dia 21 de abril, Tom Condon, agente de Eli, informou aos Chargers que seu cliente não desejava jogar pelo time e além disso pediu para que ele não fosse draftado com a primeira escolha geral. No dia seguinte ao informe de Condon, o general manager de San Diego, A. J. Smith, tornou a conversa pública, criando uma situação desconfortável tanto para a franquia quanto para o atleta.


Até hoje não sabemos ao certo o motivo para Eli não querer jogar por San Diego, pois sempre que perguntado sobre o assunto o quarterback se esquiva de responder. Em 2013, por conta de um confronto entre Giants e Chargers, Manning novamente foi indagado sobre o porquê de ter preterido a equipe da Califórnia e a resposta foi simplesmente: “Eu acho que esqueci. Eu não consigo me lembrar, já faz dez anos. Isso saiu da minha mente”.

Uma das teorias mais aceitas para a recusa de Eli tem um pouco a ver com a carreira de seu pai. Archie Manning nunca conseguiu jogar por uma equipe competitiva da NFL, tendo atuado quase sempre em times bastante desorganizados e fracos, sendo esta uma das principais razões apontadas para ele não ter repetido profissionalmente o sucesso obtido no College Football. Para se ter uma ideia, Archie nunca teve uma temporada com mais vitórias do que derrotas (mesmo tendo sido uma estrela em Ole Miss durante sua carreira universitária). No final da década de 1990 e começo dos anos 2000, San Diego vivia um momento conturbado com instabilidade administrativa e uma longa sequência de temporadas ruins (o time ficou sem um record positivo de 1995 a 2003). Talvez o medo de ter um destino parecido com o de seu pai tenha assustado Eli e feito com que ele recusasse os Chargers. É, embora especulação, a teoria mais aceita para a recusa de Eli.

Em uma entrevista recente, Archie não deu muitos detalhes novos do caso, contudo explicou que a decisão partiu de Eli e de Condon. O ex-quarterback afirmou que apenas foi consultado, porém não teve um papel tão grande: “Muitas pessoas pensam que eu orquestrei, mas não fiz isso. Eu não digo aos meus filhos o que fazer ou como tomar decisões”.

A troca

Ignorando o pedido de Eli e seu agente, os Chargers draftaram o jovem ex-Ole Miss. O resultado disso foram vaias quando a escolha foi anunciada e algumas fotos constrangedoras do quarterback posando com a camisa da franquia com uma expressão decepcionada no rosto.


Mas a passagem de Manning por San Diego não durou muitos minutos. Um dos times mais interessados nos talentos do jogador era o New York Giants, detentor da 4ª escolha geral do Draft de 2004, o qual inclusive já havia feito sondagens sobre uma possível troca com o intuito de subir para a 1ª posição geral. Ao que parece, a equipe também tinha a preferência de Eli, haja vista seu pai ter declarado anteriormente que na sua opinião os Giants eram o melhor destino para seu filho.

Caso o acordo por Manning não fosse possível, o plano B de New York era selecionar Ben Roethlisberger e isso poderia ter acontecido. Segundo o relato de Ernie Accorsi, general manager da equipe na época, os Giants ficaram com medo de que a troca não pudesse ser concretizada a tempo, pois os Chargers endureceram a negociação. Entretanto, as franquias conseguiram chegar a um acordo.

A ideia inicial de San Diego era trocar Manning por Philip Rivers, Osi Umenyiora e mais algumas picks. New York não aceitou abrir mão de seu defensive end recém chegado ao time, mas de resto cedeu ao pedido, draftando Rivers e fechando o negócio da seguinte maneira:

Os Giants receberam: Eli Manning

Os Chargers receberam: Philip Rivers, uma escolha de 3ª rodada no Draft de 2004 (usada para selecionar o kicker Nate Kaeding) e, por fim, escolhas de 1ª e 5ª rodada em 2005 (a primeira usada no linebacker Shawne Merriman e a segunda trocada com os Buccaneers pelo offensive tackle Roman Oben).

Elway to Manning

Aqui cabe citarmos uma curiosidade. Ernie Accorsi foi uma das pessoas que mais trabalhou pela finalização da troca, pois adorava o potencial de Eli Manning e queria muito ele jogando pelos Giants. O que talvez muitos não se lembrem é que Ernie era o general manager do Baltimore Colts em 1983, quando a franquia se viu envolvida na polêmica com John Elway. O dirigente foi quem tomou a decisão de draftar o jovem de Stanford, o qual havia declarado publicamente não ter interesse em jogar por Baltimore, e depois se viu obrigado a trocá-lo com outra equipe.

É muito interessante pensarmos que dois dos momentos mais importantes da história do Draft tiveram um mesmo personagem em uma posição de destaque. Em 1983, Accorsi estava com o time preterido e em 2004 estava do outro lado. Enfim, se havia alguém com experiência para lidar com aquela situação era ele.

Apenas outro adendo: todos os detalhes daquele Draft de 1983 são contados no sensacional documentário chamado “Elway to Marino”, produzido pela ESPN norte-americana. Uma ótima dica para quem quiser conhecer ainda mais sobre a história da NFL.

A vida pós-troca

Manning tornou-se o titular dos Giants já em 2004 mesmo, ganhando a posição de Kurt Warner na semana 11, contra os Falcons. Desde então, nunca mais saiu do time e acumula 185 partidas consecutivas. Sua carreira em New York é marcada por bons e maus momentos, porém ele venceu dois Super Bowls (XLII e XLVI) e quebrou vários recordes importantes da franquia (vitórias totais, tentativas de passe, passes completos, passes para touchdown e jardas aéreas totais).

Rivers, por sua vez, precisou esperar até 2006 para se tornar o titular da equipe. Ele ainda não conseguiu conquistar o tão sonhado troféu Vince Lombardi, contudo acabou se tornando o franchise quarterback que San Diego tanto buscava, quebrando recordes e levando o time até a final de Conferência de 2007 – se tivesse vencido os Patriots, Rivers encontraria justamente Manning no Super Bowl.

Ademais, os Chargers obtiveram bons resultados dos outros jogadores envolvidos indiretamente no negócio. O kicker Nate Kaeding ficou com a franquia por nove temporadas, sendo eleito para dois Pro Bowls. Já Shawne Merriman ganhou o prêmio de Defensive Rookie of the Year (2005), foi escolhido para três Pro Bowls e ainda liderou a NFL em sacks em 2006.

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