É forte dizer isso, mas racionalmente falando os Jets não deveriam trazer Ryan Fitzpatrick de volta

Com o começo dos training camps se aproximando, a maior dúvida a respeito da posição de quarterback na NFL deve ser respondida em breve: quem estará recebendo snaps de Nick Mangold em 2016? Ryan Fitzpatrick ou Geno Smith?

A negociação entre o New York Jets e Ryan Fitzpatrick, titular da posição na temporada passada, se transformou em uma novela que vem se arrastando desde o começo da offseason. As duas partes não conseguem chegar a um acordo a respeito do valor do jogador. Os Jets estariam dispostos a pagar 24 milhões por 3 anos de contrato. Fitzpatrick se sentiu ofendido pela oferta, que é condizente com o que um quarterback reserva ganharia. O veterano até disse que aceitaria um contrato de apenas um ano, desde que o valor fosse de pelo menos 12 milhões garantidos.

Fitzpatrick está certo em exigir um contrato nestes moldes. Em 2015, ele estabeleceu o recorde da franquia em passes para touchdown, com 31. Com ele em campo, a equipe conquistou 10 vitórias e esteve muito perto de alcançar uma vaga nos playoffs da Conferência Americana, levando o time de New York a sua primeira temporada vitoriosa em 5 anos. Mas, assim como Fitzpatrick está certo em exigir esse contrato, os Jets estão certos em recusá-lo. Para entendermos esta aparente contradição, é preciso primeiro entendermos como foi a temporada de Ryan Fitzpatrick em 2015.

“Um soco do destino”

Em março do ano passado, Geno Smith era o titular da equipe de Todd Bowles. Preocupados com a ausência de um reserva veterano que pudesse segurar o rojão caso a inconsistência de Smith o tornasse inviável para a equipe, os Jets enviaram uma escolha de sexta rodada para o Houston Texans, que havia acabado de assinar com Brian Hoyer, por Ryan Fitzpatrick. E as coisas provavelmente teriam ocorrido desta forma, não fosse por um incidente no vestiário do time no dia 11 de agosto. Após uma discussão a respeito de dinheiro, o linebacker IK Enemkpali acertou um soco na mandíbula de Geno Smith, quebrando-a em dois pontos diferentes. A lesão elevou imediatamente Fitzpatrick à posição de titular, que ele ocuparia pelo restante da temporada.

Os números que enganam

Para muitos fãs casuais da NFL, Ryan Fitzpatrick tem a reputação de ser um jogador inteligente e confiável, mas com habilidades físicas limitadas. Eu não sei de onde vem essa reputação – talvez por ele ter se formado em Harvard e ostentar uma barba imponente – mas ela está muito longe da verdade. Ele tem mostrado nos últimos 11 anos, em 5 times diferentes, que é um jogador inconsistente, propenso a más decisões e que não protege a posse de bola.

Fitzpatrick terminou a temporada passada com 3.905 jardas e 31 touchdowns, mas isso se deveu a três grandes fatores.

O primeiro deles foi o trabalho de um dos melhores grupos de wide receivers da liga, aliado à criatividade de seu coordenador ofensivo, Chan Galley. 23% de seus touchdowns e 26% de suas jardas aéreas vieram de passes lançados a até duas jardas da linha de scrimmage. Apenas Matt Ryan teve uma porcentagem maior de seus touchdowns vindas de passes deste tipo. Em passes intermediários e longos, Fitzpatrick foi terrível. Brandon Marshall e Eric Decker precisavam rotineiramente se esforçar para transformar passes lançados sem nenhuma precisão em recepções. Durante toda sua carreira, Fitzpatrick nunca foi um quarterback reconhecido por sua precisão, e com a gradual diminuição da força de seu braço, sua mecânica de lançamento se tornou alongada e lenta em qualquer passe que precise viajar mais que 10 jardas. Quanto à sua tão propagada inteligência, ela claramente não se manifesta no campo de jogo. Suas más decisões o fazem forçar passes em janelas que seu braço não consegue lançar, e ele encontra muita dificuldade em manipular as defesas adversárias com os olhos, encarando seu alvo enquanto a jogada se desenrola.

E isso nos leva ao segundo fator: sorte. Fitzpatrick lançou 15 interceptações na temporada, a quinta pior marca na liga. E ainda ficou barato (ou não, porque, como veremos adiante, na partida decisiva da Semana 17 contra os Bills isso pesou). O quarterback lançou um total de 30 passes interceptáveis, a segunda maior quantidade da NFL em 2015. Por uma confluência de fatores, que resolvemos chamar aqui de sorte, 15 desses passes não foram interceptados. Mas 100% deles poderiam ter ido parar nas mãos do time advresário, como de fato aconteceu na semana 17. O New York Jets enfrentou o rival Buffalo Bills lutando por uma vaga nos playoffs. Nesta partida, Fitzpatrick lançou três passes interceptáveis e todos os três se converteram em interceptações, que custaram a vitória aos Jets.

O fator seguinte também reflete um pouco de sorte. O New York Jets teve um calendário muito fácil, enfrentando apenas 3 equipes que chegaram aos playoffs. Isso definitivamente ajudou o time a alcançar a marca de 10 vitórias na temporada, que muitos vêm como um ponto positivo na performance de Fitzpatrick. Mas, além do baixo nível de competição, quem de fato venceu essas partidas para os Jets foram sua defesa e seu jogo corrido. Fitzpatrick foi apenas um coadjuvante.

A possível solução

O New York Jets conta hoje com três possíveis quarterbacks titulares. O veterano Geno Smith decepcionou nas oportunidades que teve, mas é o grande favorito a ocupar a posição caso Fitzpatrick não volte, já que os jovens Bryce Petty e Christian Hackenberg não parecem nem um pouco prontos para assumir um ataque no nível profissional. Mas se Geno Smith também não impressiona, por que não trazer Fitzpatrick de volta?

Bom, a resposta pra essa pergunta passa pelo investimento feito e no retorno possível. Geno Smith está no último ano de seu contrato de calouro e recebe bem menos do que os Jets teriam que pagar a Fitzpatrick. E como o time se encontra muito próximo do limite de seu salary cap, a contratação de Fitzpatrick poderia impossibilitar a renovação de outros contratos, em especial o de Muhammad Wilkerson.

Isto até seria um sacrifício aceitável se Ryan Fitzpatrick pudesse ser a peça que faltava para o time alcançar os playoffs, mas este não parece ser o caso. Ainda que os seus wide receivers e seu coordenador ofensivo sejam os mesmos, é pouco provável que sua sorte se mantenha a mesma – o que inevitavelmente aumentaria seu número de interceptações – e o nível dos adversários este ano parece que será bem mais alto. Na verdade, o New York Jets tem a oitava schedule mais difícil na previsão de Gabriel Moralez.

E além disso, Geno Smith ainda tem uma chance – ainda que ínfima – de ser a resposta que o time procura para a posição. O que nós já sabemos que Ryan Fitzpatrick não é. É muito mais interessante para Todd Bowles testar as três jovens opções que tem no elenco e, caso todas fracassem, escolher seu próprio jogador no Draft de 2017.

A reunião com Ryan Fitzpatrick não faz o menor sentido para o New York Jets. E para o quarterback, talvez a melhor opção também seja encerrar as negociações com seu ex-time. Quando a preseason e a temporada regular começarem, e quarterbacks titulares começarem a ser afligidos por lesões, talvez algum time desesperado e com mais espaço no salary cap possa lhe dar o salário e o respeito que ele tanto deseja.

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