Os Quarterbacks que você deveria valorizar mais

Na NFL, assim como na vida, às vezes as pessoas são super ou subvalorizadas, dependendo de suas características e as daqueles que os cercam. No futebol americano, é frequente que fatores como fama, estilo de jogo, personalidade e, principalmente, resultados da equipe, contribuam para um determinado jogador ser considerado excelente, mediano ou ruim. As vezes, como veremos a seguir, lesões e atitudes extra-campo ajudam para que o público em geral acabe tendo uma percepção negativa de dado jogador.

Nunca isto é mais frequente do que quando estamos falando sobre quarterbacks. Jogadores que atraem sobre si o foco da torcida e da mídia, os quarterbacks tendem a ser muito valorizados quando suas equipes fazem sucesso, quando têm postura de líderes dentro e fora de campo e, é claro, quando fazem grandes jogadas de maneira consistente.

Frequentemente, entretanto, podemos observar quarterbacks que demonstram em seus jogos traços de grande qualidade, mas que não recebem o retorno dessa qualidade na forma de reconhecimento da imprensa e do público em geral. Seja por jogarem em equipes fracas, seja por questões relacionadas a estilo de jogo ou personalidade, estes quarterbacks acabam sendo ultrapassados na hora dos rankings de jogadores e, mais importante, na hora dos contratos, por outros de menor habilidade. Estes últimos muitas vezes são supervalorizados por questões relacionadas à fama e à qualidade de suas equipes, como citamos acima, ou mesmo ainda apenas por ter um tipo físico considerado adequado para a posição (sim, Brock Osweiler, estamos falando de você).


Hoje falaremos sobre dois quarterbacks que, em nossa opinião, pela qualidade apresentada em campo na última temporada, deveriam receber um pouco mais de consideração por parte das equipes, dos torcedores e de todos aqueles que acompanham a NFL: Sam Bradford (Philadelphia Eagles) e Tyrod Taylor (Buffalo Bills). Além dos argumentos que comprovam o bom desempenho destes jogadores, tentaremos entender os motivos para sua subvalorização.

Sam Bradford – marcado por tropeços e “chiliques”

A trajetória de Sam Bradford na NFL não é exatamente linear. Selecionado com a primeira escolha no draft de 2010 pelo St. Louis Rams, Bradford alternou-se entre performances razoáveis e contusões graves ao longo de seu primeiros anos na liga. Após a temporada de 2014, foi trocado para os Eagles, onde esperava-se que, sob o comando do guru ofensivo Chip Kelly, pudesse revitalizar sua carreira. De certa forma, até fazia sentido: Bradford venceu o Heisman quando jogava em Oklahoma – e estava numa spread offense, filosofia similar à utilizada por Kelly como treinador. Mas College é College e NFL é NFL.

A temporada 2015 do Philadelphia Eagles foi muito difícil e uma bagunça como um todo, culminando na demissão de Chip Kelly. Sam Bradford, por sua vez, começou o ano muito mal, talvez “enferrujado” depois de tanto tempo sem jogar devido às contusões. Apressando os passes a qualquer indício de pressão, com número elevado de interceptações e problemas sérios com a movimentação no pocket, tudo sugeria que os Eagles tivessem cometido um erro grave em apostas suas fichas em Bradford como titular.

Essa impressão cassada pelo péssimo início (e não final) de temporada de Sam Bradford acabou por tomar conta do inconsciente coletivo da imprensa e dos torcedores, e “cornetar” o quarterback se tornou passatempo habitual de muitos (particularmente dos torcedores dos Eagles, sempre exigentes e dispostos a uma vaia). Entretanto, como veremos a seguir, Sam Bradford melhorou muito na segunda metade da temporada, mostrando muito daquilo que o fez ser a primeira escolha geral do draft. A defesa de Philadelphia, nem tanto.

Talvez definitivamente se recuperando das lesões no joelho, Sam Bradford começou a mostrar muito mais presença no pocket, lidando melhor com a pressão. Desta forma, voltou a apresentar a precisão nos passes curtos e intermediários que sempre foi seu ponto forte. Seus números, que nunca contam toda a história sozinhos, também melhoraram muito. Mesmo considerando o início de temporada muito ruim, Sam Bradford terminou com mais de 3700 jardas aéreas, 19 touchdowns e 14 interceptações (apenas 4 na segunda metade do ano). Na classificação por notas do site Pro Football Focus, Bradford foi considerado o décimo primeiro melhor quarterback da temporada. Cabe ressaltar ainda as dificuldades de Bradford com o jogo corrido quase inexistente dos Eagles, além do alto número de drops da parte dos recebedores (8% de todos os passes – pior marca da liga). Ao extrair da conta as falhas dos recebedores, a acurácia de Sam Bradford aumenta de 65% para 78% de passes “no alvo”. Convenhamos: ele jogou melhor do que você imaginava. O fato de boa parte dos jogos de primetime dos Eagles ter sido na primeira metade da temporada – com efeito, aqueles mais assistidos pelo público no geral – fez com que as pessoas esquecessem que, de fato, houve melhora.

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Dentro de campo, os Eagles seguem contando com um quarterback que, ainda mais distante das contusões, pode aumentar seu nível de jogo com Doug Pederson (novo treinador de Philadelphia). Se este melhorou o nível de jogo de Alex Smith, consideramos extremamente plausível que o faça com Bradford – jogador que, no papel, tem mais talento que Smith.

Certamente o final de temporada de Bradford dá motivos para otimismo. Fora do campo, por outro lado, as coisas podem ser um pouco diferentes. Sam Bradford, já de contrato renovado (por bons valores – US$ 22 milhões garantidos em 2016), não ficou nada satisfeito com a decisão da equipe de trocar escolhas para subir no draft e selecionar o quarterback Carson Wentz. Ele até poderia não gostar da seleção, afinal, quando uma equipe investe tanto para “draftar” um quarterback, em geral este acaba rapidamente tendo uma chance de jogar. Ainda assim, nada justifica o chilique de Bradford, que declarou que não se apresentaria para os treinamentos, chegando a pedir para ser trocado. Já falamos sobre isso aqui mesmo no Pro Football. Alguns dias depois, talvez percebendo a bobagem, o quarterback voltou atrás e se apresentou à equipe. Veremos ao longo das próximas semanas e meses o quanto estes eventos poderão interferir nas atuações de Sam Bradford pelos Eagles.

Tyrod Taylor – sob o estigma do “quarterback que corre”

Antes de assinar com os Bills, após a temporada 2014, Tyrod Taylor era considerado um quarterback limitado. Em suas primeiras quatro temporadas – como reserva de Joe Flacco no Baltimore Ravens – Taylor, apesar de boas performances em pré-temporada, era visto como um jogador que era melhor correndo do que passando, com baixo potencial de assumir uma posição de titular na NFL. Como veremos aqui, Tyrod Taylor mostrou, na temporada 2015, características que o colocam como um potencial quarterback titular por muitos anos na liga.

Tradicionalmente, quarterbacks que correm com a bola são vistos como jogadores de sucesso apenas pontual na liga. A ideia por trás disso afirma que, quando as defesas se adaptam à habilidade atlética do jogador, suas deficiências no jogo de passes vem à tona. Exemplos recentes incluem Colin Kaepernick e Robert Griffin III (ainda que, no caso deste último, as contusões tenham sido parte importante do problema). Mas este quadro vem mudando.

Não há exemplos melhores desta mudança do que o MVP Cam Newton e Russell Wilson. Newton utiliza sua força como corredor em jogadas desenhadas para ele, enquanto Wilson lança mão de sua capacidade atlética para correr quando a jogada de passe não dá certo. Mais: ambos lideraram a liga em touchdowns lançados de dentro do pocket se considerarmos a Semana 13 até a 17. De qualquer maneira, o diferencial dos dois jogadores é a capacidade de ambos no jogo aéreo, com passes precisos e leituras adequadas. E, pelo que fez em seu primeiro ano como titular do Buffalo Bills, é possível imaginar que Tyrod Taylor possa ser o próximo quarterback capaz de correr a explodir na liga.


Em 2015, Taylor lançou para mais de 3000 jardas, com 20 touchdowns e 6 interceptações, com um ótimo rating de 99. Além disso, correu para mais de 500 jardas e 4 touchdowns. No ranking dos quarterbacks do Pro Football Focus, Taylor foi considerado o oitavo melhor da temporada. Mas, muito além dos números, é possível ver no jogo de Taylor os traços de um quarterback titular. A maneira com a qual o jogador faz suas leituras e progressões no campo, mesmo quando sob pressão. A capacidade de se livrar da pressão com sua habilidade atlética, ganhando mais tempo para o passe ou achando espaço para ganhos correndo com a bola. Finalmente, a precisão nos passes intermediários e longos, principalmente na segunda metade da temporada,  quando o quarterback desenvolveu um ótima “química” com o wide receiver Sammy Watkins. Esses traços, que definem Taylor como um quarterback “de verdade”, que usa a corrida de maneira complementar, mas não como única ferramenta de ataque, fazem a comparação com Cam Newton e Russell Wilson não ser tão despropositada quanto poderia parecer inicialmente.

Existe, entretanto, como com todo jogador com pouco tempo como titular, a possibilidade de que as defesas se adaptem passando a trazer dificuldades para a manutenção do desempenho. Vale lembrar que o coordenador ofensivo dos Bills, Greg Roman, montou um sistema relativamente simples para Tyrod Taylor, utilizando passes intermediários e longos sempre para as laterais do campo, além de muitas run/pass options, que diminuem o número de leituras necessárias em uma mesma jogada. Roman fez algo semelhante quando coordenador ofensivo do San Francisco 49ers, com seu quarterback… Colin Kaepernick. Calma, calma. Não vamos cair na generalização sobre o “quarterback que corre”. Kaepernick sempre teve muitas dificuldades com as leituras, progressões e precisão nos passes, além de contar com linha ofensiva e recebedores de grande qualidade, o que muitas vezes minimizava suas falhas.  Taylor, por sua vez, demonstra a precisão e inteligência necessárias para continuar se adaptando às diferentes estratégias defensivas que possam surgir na próxima temporada.


Durante o período que antecedeu o draft, surgiram rumores indicando que talvez os Bills desejassem selecionar um quarterback para o futuro nas primeiras rodadas. É provável que, em Tyrod Taylor, eles já tenham seu quarterback, não só do futuro, como do presente também.

Hoje aqui estamos apostando em Sam Bradford e Tyrod Taylor como dois jogadores que podem entrar de vez na lista dos bons quarterbacks da NFL. Ainda que nenhum possa ser considerado no mesmo patamar dos melhores da liga, em nossa opinião Eagles e Bills encontram-se em posição melhor que a maioria das equipes com relação à posição de quarterback. E pra você? Quais quarterbacks deveriam ser mais valorizados pelas equipes, imprensa e torcida?

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