Primeira Leitura: A semana 1 da Pré-Temporada e por que você não deve se preocupar se o seu time perdeu ou ganhou

A primeira semana da pré-temporada 2016 está nos livros de história e para muitos, é como se nem tivesse acontecido nada. Naturalmente os Jogos Olímpicos – ainda mais sendo realizados no Brasil – fazem com que o foco fique um tanto quanto mais longe da NFL em agosto.


Para outros, o foco volta a ficar 100% na bola oval. Afinal de contas, são seis meses sem uma partida de futebol americano. E aí que a gente entra em um problema: o placar na pré-temporada. A concepção das pessoas é regida, de modo maniqueísta, entre o ganhar e perder. Ou você vence na vida ou perde. O indicador para tal maniqueísmo se manifestar, nos esportes, é o placar.

Ninguém gosta de perder. Na NFL, então, é pior ainda – afinal de contas o calendário é curto, a liga é equilibrada e há poucas vagas para os Playoffs. Quando há uma derrota o torcedor fica chateado. Mas a derrota ou a vitória, na pré-temporada, não são determinadas pelo escore final. Mesmo assim, muitos ficam bravos com o placar final ou com uma falha grotesca de um dado jogador – de modo errôneo, até porque em muitas ocasiões esse jogador é um undrafted free agent que sequer no elenco de setembro, de temporada regular, estará.

Claro: mesmo a pré-temporada sendo um amontoado de reservas em 80% do tempo em campo, ainda há titulares que jogam uma campanha ou outra. Às vezes, nem isso. Andrew Luck não jogou contra os Bills na semana 1 da pré-temporada de 2016. Drew Brees costuma jogar apenas uma campanha. Outros, que vem de lesões – notoriamente Tony Romo – sequer entram em campo. A limitação de tempo em campo para os titulares é bem parecida com a que ocorre com pitchers no beisebol. Estes podem ficar em campo por no máximo coisa de 100 arremessos/jogo. Na pré-temporada da NFL, a limitação para os titulares gira em 2o snaps por partida – o que dá mais ou menos uma ou duas campanhas.

Os jogos servem apenas para “recriar” um ritmo físico nesses jogadores, e tão somente isso. Como o Futebol Americano é cercado de lesões (o que se explica apenas 16 jogos na temporada regular), nada mais natural que esses jogadores sejam poupados. Mais ainda se forem running backs. Adrian Peterson costumeiramente não joga na pré-temporada – é um risco desnecessário. Não vale a pena que ele seja punido fisicamente antes da maratona física dos 16 jogos da temporada regular.

Ao mesmo tempo, não existe, para a maior parte dos técnicos, o “peso” das derrotas. No final das contas não há nada em jogo. A pré-temporada não vale classificação para playoffs. Assim acontecem jogadas arriscadas, mais idas a quartas descidas e etc. E, ainda, existe o medo de lesão – o que faz com que tackles sejam mais leves entre os titulares.


E pra quê isso vale então? Qual a utilidade? Preparação, como dito acima, é a palavra de ordem. Mais do que para os titulares, a pré-temporada é o palco para quem quer estar no time em setembro. Ao começo dos training camps, cada equipe da NFL conta com 90 jogadores. Este número precisa ser reduzido para 75 no dia 30 de agosto, e 53 no dia 3 de setembro. Desta forma, aproximadamente 40% dos jogadores que hoje integram o plantel de um time estarão desempregados em menos de um mês – sem contar o practice team, claro.

A utilidade e o porquê de se assistir a pré-temporada reside nesse ponto, então. Os calouros, free agents e os jogadores que duelam pela titularidade.

É importante assistir aos calouros porque a pré-temporada é a primeira experiência deles em campo “contra” jogadores profissionais. Por isso é tão importante assistir a esses jogos. Já na primeira partida da pré-temporada, como falaremos mais a seguir, as duas primeiras escolhas do Draft 2016 – Jared Goff e Carson Wentz – tiveram desempenho abaixo do que o esperado. Essa é uma história interessante – os calouros no seu time – e que faz uma partida de pré-temporada valer a pena. Afinal, mesmo que seja amistoso, treino é treino e jogo é jogo.

Ver os free agents (jogadores que não foram draftados ou que estavam desempregados e tiveram uma chance nos training camps) vale a pena porque, como dito acima, o elenco de um time da NFL na sofre diversos cortes até a temporada regular. Aqui é como uma entrevista de emprego. Esses jogadores, então, brigam por uma vaga dentre esses 53. Duelam. Dão o máximo. Foi essa situação que fez com que Victor Cruz surgisse para o mundo, por exemplo. Kurt Warner também virou titular em 1999 na pré-temporada após Trent Green se machucar. Seu desempenho foi o suficiente para que os Rams não contratassem nenhum outro quarterback na época. É possível dizer que sem a pré-temporada talvez nunca teríamos visto o The Greatest Show on Turf.

Quer outro exemplo? Quando Drew Bledsoe se machucou gravemente na Semana 2 da Temporada 2001, Bill Belichick apostou em Tom Brady – sobretudo porque ele havia demonstrado uma melhora incrível na pré-temporada daquele ano. Por último – mas não menos importante – as batalhas por titularidade. As quatro semanas de amistosos que antecedem a temporada regular são muito importantes para que os técnicos decidam quem será o titular. A definição se dá, principalmente, dependendo do desempenho dos atletas nos treinamentos e nesses jogos. Há diversas brigas por titularidade na NFL neste momento – talvez a mais importante e midiática seja na posição de quarterback no Denver Broncos após a aposentadoria de Peyton Manning e a saída de Brock Osweiler.

Mas, principalmente, meu conselho a você que ficou desesperado com a derrota de seu time na pre-temporada: Calma. É pré-temporada. É tudo diferente. É tudo “sem valer classificação” no final das contas. Se os Panthers perderam para os Ravens, isso não significa que Carolina irá mal na temporada regular, por exemplo. O que você tem que avaliar é se alguns jogadores em específico que deveriam jogar bem – todos listados acima – jogaram. E só. Afinal, em 2008, o Detroit Lions ganhou os quatro amistosos de agosto – e perdeu os 16 da temporada regular.

A volta de Robert Griffin III Terelle Pryor

Quando pensamos em um quarterback que teve um desempenho bom no College Football e que está, na prática, tendo uma segunda chance com o Cleveland Browns, o primeiro nome de uma eventual história da pré-temporada é o de Robert Griffin III, vencedor do Heisman Trophy em 2011 – prêmio anualmente dado ao mais extraordinário jogador universitário.


Griffin III não foi, porém, o melhor em campo na partida da Semana 1 contra o Green Bay Packers, fora de casa, no Lambeau Field. O calouro ofensivo do ano de 2012 lançou uma interceptação tola na end zone, liquidando a chance do time pontuar quando na red zone – e esse é um dos piores erros que um signal caller pode cometer, como falei semana passada. Claro, é só pré-temporada, mas também por isso você não quer erros estúpidos.

O cara da partida não foi Griffin, foi outro jogador com sólida carreira como quarterback no College. Terrelle Pryor jogou na posição em Ohio State e há alguns anos vem tentando uma adaptação para jogar como wide receiver. Agora em Cleveland parece ter uma chance para tanto. Claro: em terra de cego, quem tem olho é rei. Cleveland tem o elenco mais questionável na posição de wide receiver. Ser rei pode ser o caso de Pryor – com o atenuante que ele foi draftado em Oakland, anos atrás por Hue Jackson – e agora ele é o técnico principal dos Browns.

Pryor teve duas recepções no tempo limitado em que ficou em campo, mas uma delas foi para 49 jardas – a mais longa de todos os recebedores de Cleveland ou Green Bay na partida vencida pelos Packers por 17 a 11. Num elenco lotado de inexperiência na posição, Terrelle pode ser o split end de Cleveland na Semana 1. Do outro lado, como flanker, possivelmente a escolha mais alta dentre as quatro empregadas em recebedores pelos Browns neste ano, Corey Coleman.

Pensamento aleatório da semana

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O Melhor da Semana: Los Angeles de volta!

Poderia abrir uma exceção e colocar que a volta do “melhor/pior da semana” foi o melhor da semana – ficou confuso e meio que metalinguístico este parágrafo – já que agora podemos falar de coisas que aconteceram dentro de campo. Mas houve uma notícia ainda mais bacana na última semana.

E, considerando que não há tantas pautas maravilhosas nesta primeira semana de pré-temporada – discutivelmente a única positiva surpresa num mar de jogadores na PUP list foi Dak Prescott, mais sobre ele daqui a pouco – a notícia que julgo ser a melhor da semana também veio de Los Angeles.

No caso, da cidade em si. Mesmo com show da Adele (convenhamos que é bacana, vai) e jogo dos Dodgers no horário, o Memorial Coliseum (foto acima) teve quase 90 mil pessoas para a abertura da pré-temporada e seu primeiro jogo sediado desde o natal de 1994.

Não tenho ideia se isso vai se manter ao longo da temporada regular, ainda mais se os Rams caminharem para os clássicos 7-9 e 8-8 de Jeff Fisher (os quais ele mesmo parece estar de saco cheio). Mas uma coisa tenho certeza: a primeira partida da equipe na temporada regular, contra os Seahawks na Semana 2, terá 90 mil pessoas gritando. Lembrando que os Rams venceram as duas partidas contra Seattle na semana passada.

O Pior da Semana: NOBODY EXPECTS THE SPANISH INQUISITION

O sub-título é um tanto quanto obscuro se você nunca viu a famosa esquete do Monty Python, mas resume bem a zona que virou a questão das suspensões na NFL. Ainda nesta semana o João Maurício vai falar sobre o assunto, mas eu queria falar sobre também.

Não existe nenhuma prova concreta de que James Harrison, Clay Matthews, Julius Peppers e Mike Neal tenham feito expediente do doping. As suspeitas existem, claro. E, sim, acho doping uma coisa absurdamente nojenta e suja, mas nem por isso os jogadores podem ser suspensos simplesmente por não colaborarem.

Estamos falando do âmbito “trabalhista” e não do “penal”, mas de toda forma acho que a suspensão tem de ser o último recurso por um comissário. Em tempo, caso você não esteja ambientado com a notícia – ela completa, aqui – os quatro atletas acima estão sendo investigados por uso de PEDs (substâncias proibidas que melhoram a performance) desde que a rede de notícias Al Jazeera fez reportagem sobre o assunto ao final do ano passado.

Desde então, a NFL tentou por sete oportunidades entrevistar os jogadores – todas em vão. Nenhuma multa foi aplicada. A primeira medida disciplinar que veio à cabeça de Roger Goodell, comissário da liga, é suspender os jogadores por não colaborar – o precedente de Tom Brady, novamente.

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Como eu lidaria com a situação se fosse comissário? Primeiro, aplicaria multas aos jogadores por não colaborar, não suspensão – a qual deveria ser a punição ao final da investigação, não no meio dela. De toda sorte, nomearia um árbitro independente para decidir a questão. Goodell insiste em ser protagonista ao invés de colocar a sujeira para baixo do tapete. Não é a decisão correta.

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Duas perguntas e Três afirmações

Como avaliar a pré-temporada, então? Simples: eu procuro os fatos fora da curva. Se um jogador tiver uma performance bizarramente ruim – como Goff ou Wentz – aí é caso para se preocupar. Se ele joga muito bem, como Dak Prescott, aí é algo para se notar também.

Ao mesmo tempo, não podemos queimar a largada com Prescott ou qualquer outra coisa positiva da primeira semana, como o ataque dos Titans – o espaço amostral ainda é muito pequeno. No caso dos Titans, por exemplo, o jogo terrestre funcionou que é uma beleza – mas a defesa contra a corrida de San Diego é provavelmente uma das cinco piores da liga (não a toa precisa desesperadamente de Joey Bosa).

Falando nele, está mais do que na hora de alguém criar juízo em San Diego e acabar com essa picuinha da greve de Bosa. Cedam logo e retirem a offset language, vocês já provaram que são duros na queda em negociação. Daqui pra frente quem mais perde é San Diego, não Joey. O primeiro jogo da pré-temporada, ainda que seja apenas um amistoso, provou como a unidade defensiva dos Chargers é pífia contra o jogo terrestre. No ano passado já foi um desastre e neste ano tende a continuar assim – muito por conta disso a equipe escolheu Bosa, o qual foi bastante eficiente contra a corrida em Ohio State.

Lembra quem “venceu” a pré-temporada no ano passado? Philadelphia Eagles, fazendo no mínimo 36 pontos em cada um dos três primeiros jogos amistosos. Eu avisei (na antiga encarnação desta coluna) o quão temerário era “entregar” o jogo antes da temporada regular. Não é boa ideia. Então olho em qualquer sobreavaliação de ataques ou defesas que em outros momentos da offseason não se mostraram tão bons assim. De maneira análoga, na Fórmula 1 sempre tem uma equipe que voa baixo nos testes de pré-temporada e que não corresponde na “temporada regular”.

A temporada mal começou e os Bills já têm problemas de lesão em todos os cantos. Não, sério: é desesperador e frustrante. Reggie Ragland, inside linebacker que fora escolha de segunda rodada no Draft deste ano, deve perder a temporada toda por conta de lesão no joelho. Outro linebacker, I.K Enemkpali (que você deve se lembrar por ter desferido socos em Geno Smith ano passado quando ainda estava no elenco dos Jets) também perderá a temporada por ligamento anterior cruzado rompido (karma is a bitch). Shaq Lawson, escolha de primeira rodada pelos Bills, deve ficar fora pelo menos mais um mês por conta de lesão no ombro. Não tá fácil a vida de Rex Ryan.

Hello, Goodbye!

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