Jay Cutler não tem mais desculpas em 2016

Os jogos olímpicos no Brasil, assim como foi a Copa do Mundo em terras brasileiras, foi um sucesso de público e aproximou ainda mais os brasileiros dos esportes. E, assim como foi na Copa, ela serviu para relembrar qual é o elemento mais apaixonante do esporte: a imprevisibilidade. É a incerteza do resultado final que faz com que a paixão fique a tona, seja no boxe ou no salto com vara. E no futebol americano esta imprevisibilidade é ainda mais acentuada, muito devido aos inúmeros fatores que entram em cena: lesões, táticas, emocional, teto salarial e muita coisa mais.


Como qualquer leitor já deve estar cansado de perceber, a imprevisibilidade também se aplica a carreira dos jogadores. A eterna disputa expectativa x realidade é muito presente no esporte, seja durante o Draft ou na Free Agency. Dentro deste universo, é possível classificar os atletas em quatro grandes grupos: os underachiever, os overachiever, aqueles que tem a sua performance igual ao esperado e os Randall Cunningham. As três primeiras categorias são muito simples de entender: quem se desenvolve bem aquém do esperado, bem além do esperado e dentro do esperado. A última categoria é um pouco mais complicada.

Para quem não conhece, Randall Cunningham foi um quarterback dos anos 90 extremamente inovador, criativo, talentoso e… frustrante. Draftado pelo Philadelphia Eagles na segunda rodada do Draft de 1985, Cunningham era um quarterback que adorava correr com a bola e inspirou muitos atletas depois dele. Apesar de não ter sido o primeiro a correr com a bola, foi o mais emblemático e é lembrado até hoje. Era evidente o seu talento imenso, mas Cunningham nunca conseguiu expressá-lo em campo: ele não desenvolveu o máximo do seu jogo. Era sempre uma lesão fora de hora, uma linha ofensiva que era uma peneira ou recebedores horríveis. Cunningham não era um underachiever, pois ele mostrava todo o seu talento. Só lhe faltava consistência (que veio em 1998 quando jogava no Minnesota Vikings) e uma situação perfeita. Esta categoria Randall Cunningham é análoga àquele relacionamento (sempre as melhores analogias) que tem tudo para dar certo, mas sempre encontra uma pedra no meio do caminho que desestabiliza tudo – extremamente frustrante para qualquer um.


E o qual a relação de Cunningham com Jay Cutler? Apesar do estilo dos dois não ser nada parecido, Cutler é o Randall Cunningham do século XXI. Ele é o símbolo do jogador atleticamente talentoso que sempre tem uma lesão fora de hora, tenta fazer demais e erra ou nunca tem a qualidade suficiente ao seu lado. O quarterback do Chicago Bears já mostrou no início da sua carreira que a sua estadia na NFL não seria normal (quando foi trocado por Josh McDaniels do Denver Broncos) e ela sempre foi de altos e baixos. Quer um exemplo? No jogo mais importante de sua carreira, o NFC Championship Game contra o rival Green Bay Packers, Cutler se machucou e deixou o torcedor sofrendo com Caleb Hanie.

A mudança nos últimos anos

Durante boa parte de sua carreira, Cutler teve essas oscilações que sempre o impediram de dar um passo a frente para se tornar um quarterback de elite – criando até mesmo a brincadeira que existe a Cutler’s linequarterbacks acima desta linha são muito bons e abaixo são apenas medianos. Nos últimos anos esta realidade mudou e 2016 tem tudo para ser o ano de estourar de vez. Assim como Cunningham teve um ano inesquecível em sua carreira (em 1998; quando lançou para pouco mais de 3700 jardas e teve 34 touchdowns e somente 10 interceptações), Cutler também poderia ter em um curto período de tempo – muito devido ao trabalho realizado pelo front office para melhorar o talento ao seu redor.

É bem verdade que a saída de Matt Forte (que caiu muito de produção no ano passado) poderia fazer algum efeito no quesito playmakers, mas o ex-Commodores tem mais talento ao seu redor do que nunca antes em sua carreira. Agora não há mais um J’Marcus Webb tentando bloquearend adversário. A linha ofensiva dos Bears melhorou consideravelmente nos últimos dois anos e a chegada do melhor guard do último Draft (desculpe Chip Kelly), Cody Whitehair, deve solidificar de vez o centro da linha – vale lembrar que Kyle Long vem tornando-se um dos melhores linhas jovens da liga. Tudo bem que Charles Leno ainda vai para a sua segunda temporada jogando como tackle e ainda levanta certa suspeita, mas considerando as linhas que Cutler já teve em Chicago para lhe proteger, é um avanço relativo.

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Na parte de playmakers, a situação também está muito melhor. Com a possível estreia de Kevin White fazendo par com Alshon Jeffery, não há quaisquer desculpas de falta de alvos. Tudo bem que a posição de tight end tem uma coleção de nomes e muitas incógnitas (quem vai assumir o papel de alvo principal? Tony Moeaki? Zach Miller?), porém mesmo assim são alvos suficientes para produzir dentro de campo. Até mesmo a defesa dos Bears deve melhorar (segundo ano de sistema, novos jogadores que foram pensados para o 3-4), o que proporciona ainda mais tranquilidade para o trabalho ofensivo ao longo do ano. A maior virtude dos esquemas de Vic Fangio, o coordenador defensivo, reside no front seven – ele vem mostrando isso nesta pré-temporada.

Contando com o elenco mais qualificado da sua carreira ao seu redor, a única desculpa que pode acabar atrasando Cutler seria a saída de Adam Gase e a promoção de Dowell Loggains para coordenador ofensivo. Chicago sabia que Gase sairia logo e Loggains, que era técnico dos quarterbacks, foi preparado para assumir esta função, logo não deve haver um problema tão grande entre ele e Cutler ao longo do ano.

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Não é possível mais dar desculpas: Jay Cutler tem todas as ferramentas para, em 2016, provar de vez que é um quarterback que merece ser citado dentro do top 10 dos melhores da liga. Assim como Cunningham em 1998, ele caiu na situação ideal: não tem um calendário muito forte pela frente (NFC Leste e AFC Sul), possui uma linha ofensiva melhor do que já teve em anos anteriores e seu corpo de playmakers é muito mais do que sólido. Obviamente a imprevisibilidade pode atacar de novo e Cutler ter um ano esquecível, se consolidando de vez na categoria dos jogadores frustrantes. O torcedor de Chicago espera que não. Caso isso ocorra, o risco de corte é imenso.

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