O que está acontecendo com os Seahawks?

Normalmente as equipes que possuem sucesso a longo prazo possuem bases, sejam defensivas ou ofensivas. E grande parte passa desapercebida por parte dos fãs. O Brasil de 82 não foi espetacular apenas pela ação de Zico e Sócrates do meio para frente. A saída de bola qualificada de Falcão e Toninho Cerezo fazia toda a diferença. O Brasil de 94 tinha uma base defensiva extremamente sólida, com Taffarel sendo a peça principal – assim como o Brasil de 2002.

A mesma coisa acontece nos esportes americanos e não seria diferente para o Seattle Seahawks. Enquanto a Legion of Boom ganhou notório destaque, o que fazia a diferença mesmo durante os melhores jogos dos Seahawks era a linha ofensiva – e no quesito correr com a bola. Lembre-se que Russell Wilson teve médias de 24,6 e 25,4 passes por jogo durante os dois primeiros anos da carreira. A base ofensiva da equipe (e que ganhava os jogos) sempre foi um jogo terrestre dominante – principalmente pelo miolo da linha. Aliás, foi por enfraquecer o miolo da linha que o segundo Super Bowl não veio.

Hoje Seattle está longe de sua melhor forma e a maior parcela de culpa é por causa da linha ofensiva. Para quem gosta de estatísticas, você irá procurar na box score e não vai ver inúmeros sacks em cima de Wilson. O quarterback sempre foi extremamente elusivo, gosta de segurar a bola na mão e adora buscar as big plays. O problema é o jogo terrestre, principalmente quando J’Marcus Webb é uma opção para ocupar espaços no miolo da linha.

O início dos problemas foi a troca de Max Unger

Mesmo os melhores general managers erram. Os Seahawks foram incríveis nos últimos anos durante o Draft e sempre conseguiram contratações pontuais na Free Agency, só que de vez em quando ocorre um erro nível Indianapolis Colts fazendo uma troca por Trent Richardson.

A “brilhante” ideia de mandar uma escolha de primeira rodada e o center titular Max Unger por Jimmy Graham (e uma escolha de quarta rodada) era um risco tremendo. Além de Graham ter que se encaixar em um esquema totalmente diferente (tendo que bloquear muito mais, o que certamente não é o seu forte), perder o cérebro da linha ofensiva e um dos melhores run blockers da liga não foi uma boa ideia. Se com Marshawn Lynch o plano não estava dando certo (tanto é que ele teve a menor média de jardas por carregada desde que Wilson virou titular), a coisa ficou muito pior com a sua saída e a divisão do backfield entre Christine Michael e Thomas Rawls.

O esquema de Seattle é baseado na Read Option com corrida de inside zone blockingoutside zone blocking. Neste caso, o trabalho do center e dos guards é extremamente importante e a inexperiência acaba com o ataque. Foi assim com Chip Kelly em 2015 nos Eagles e está sendo assim com Seattle em 2016. Negligenciar a linha ofensiva em sistemas dependentes do jogo terrestre não é a melhor tática.

E esta aparente negligência com o miolo da linha se refletiu muito quando Seattle teve que enfrentar dois front fours com defensive tackles talentosos. Aaron Donald (que está atuando em um nível absurdamente alto, diga-se de passagem) dominou a linha de scrimmage e foi o melhor jogador em campo. Esta falta de efetividade também se reflete nas estatísticas: foram apenas 27 jardas totais antes do contato em 21 corridas contra os Rams. Em 13 corridas o contato aconteceu no backfield ou na linha de scrimmage e Thomas Rawls teve -12 jardas antes do contato – algo inimaginável. Os números de Michael foram um pouco melhores por causa das três longas corridas que ele arrancou durante o último período.

Com os Rams e os Dolphins gerando pressão sem blitz (foram 17% e 23% dos dropbacks em cada jogo, respectivamente), ficou muito fácil encaixar a marcação. Wilson não tem um pocket limpo em metade de suas jogadas, principalmente por ele se destruir pelo miolo – novamente. As big plays somem (apenas 5,6 jardas por passe sem blitz) e os pontos no placar também.

Mesmo jogando contra o, discutivelmente, pior ataque da NFL, a vitória não veio. E não virá enquanto o miolo não adquirir mais entrosamento e a qualidade apresentada dentro de campo não melhorar.

Existe solução?

Não sejamos injustos; é necessário elogiar o adversário. Como já dito, a ideia de pegar dois grupos de defensive tackles extremamente talentosos (com o melhor da liga, no 4-3, em campo) vai limitar qualquer adversário. A perspectiva é de melhora, só que o sinal de alerta deve ser acendido. A esperança é que Germain Ifedi consiga se estabelecer melhor como right guard. Ele é o protótipo ideal para a posição e seria importante para dar uma tranquilidade ao trabalho de Justin Britt – que mal consegue fazer a sua parte de tão preocupado que fica com os dois companheiros ao seu lado.

Mesmo assim, vai ser muito difícil voltar a forma de 2014. O talento a frente de Wilson não é o mesmo e o backfield também perdeu qualidade. Só que para Seattle chegar longe vai ser preciso que o jogo terrestre se encaixe. Mais atuações desastrosas como estas das últimas duas semanas vão colocar a disputa pela divisão inalcançável. E ter que cair para disputar o Wild Card nunca é bom, principalmente em uma conferência que todo ano vê surgir uma surpresa agradável.

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