A ausência de Palmer revelou que os Cardinals são melhores quando correm mais

Comumente grandes times acabam falhando miseravelmente e deixando a todos perguntando o que aconteceu. Seja no futebol brasileiro (com o melhor ataque do mundo que nunca decolou), no futebol mundial (não é Espanha?) e tantos outros esportes. E no futebol americano não é diferente: comumente grandes equipes acabam falhando perante as expectativas alheias, como o “Dream Team” do Philadelphia Eagles de 2011.

O esporte não é uma ciência exata, logo nem sempre dá certo apostar em continuidade do trabalho ou contratar um monte. Temos diversos exemplos que corroboram qualquer tese. O certo, com tantas incertezas, é tentar apostar no que é mais provável estatisticamente e esperar que dê resultado – e não tentar não cair na mediocridade de nunca conseguir chegar lá, como o Cincinnati Bengals de Marvin Lewis ou o próprio Eagles do fim da era Andy Reid. Arizona apostou no mais lógico: continuidade de trabalho e continuar apostando nos talentos de casa. O problema é que a equipe quis apostar em mudanças no setor mais difícil de acertar – e isso está se refletindo neste início de temporada.

O jogo contra San Francisco nos fez relembrar o que tornou este time tão bom

A lesão de Carson Palmer em 2014 tirou os Cardinals da disputa pela divisão e escancarou o que faltava para este time dar um passo maior e tornar-se uma ameaça na Conferência Nacional (NFC): um jogo terrestre de qualidade. Foi este o principal motivo da escolha de David Johnson na terceira rodada do Draft seguinte e o porquê deles terem chego tão longe no ano passado.

A defesa, assim como em 2014, 2015 e neste ano, continua jogando em nível sólido. Não é impressionante contra o jogo terrestre, mas nenhum ataque vai vencer uma partida (quando o ataque está bem) se não lançar a bola. E é este um trunfo dos Cardinals: nesta temporada já são sete interceptações e o top five, pelo segundo ano seguido, em jardas cedidas por jogo. A força da equipe é na secundária, tanto é que o time caiu muito de produção com a lesão de Tyrann Mathieu no ano passado. Aliás, Mathieu está tendo certa dificuldade nesta defesa que exige que ele jogue tanto como Free Safety quanto na slot – devido a lesão de Tyvon Branch. Não está atuando no mesmo nível do ano passado, só que não prejudica o desempenho da unidade defensiva.

O jogo contra San Francisco claramente revelou (para aqueles que ainda não tinham notado) o real problema da franquia: a falta de equilíbrio nas últimas semanas. Bruce Arians foi forçado a mudar a sua abordagem por causa da concussão de Palmer e espera-se que ele tenha enxergado que o problema poderia estar no banco.

Novamente: o entrosamento é extremamente importante na linha ofensiva.

Para quem não acompanha a franquia tão de perto por torcer por outros times ou “por outras divisões” da liga, Arizona teve a quinta melhor linha ofensiva em 2015 protegendo para o passe. Bobby Massie (contestado no início do ano) fez um bico e tentou não comprometer como right tackle (cedeu sete sacks no ano inteiro, mas nenhum na pós-temporada), a franquia ainda contava com o veterano center Lyle Sendlein como titular e o lado esquerdo continuava sendo bem acima da média com Jared Veldheer e Mike Iupati – enquanto aquele não atuou em tão alto nível como em 2014, este vinha de uma temporada horrorosa em San Francisco e recuperou um pouco da boa forma que apresentara no passado. O elo fraco, o quase bust (só é bust depois de três anos, no mínimo) Jonathan Cooper, conseguiu se camuflar entre tantos talentos bem estabelecidos e teve boas atuações – dando uma aliviada na primeira impressão deixada na liga.

Com a derrota acachapante no NFC Championship Game, estava claro o que os Cardinals precisavam fazer: fortalecer os matchups no meio do campo e tentar adicionar ainda mais talentos defensivos – como os Broncos mostraram são as defesas que ganham campeonatos. Só que o front office resolveu mexer no setor mais importante da equipe: a linha ofensiva. E, obviamente, o preço se pagaria no início da temporada de 2016.

Enquanto Bobby Massie foi ganhar dinheiro em Chicago (quem pagaria tudo isto por ele?), a franquia resolveu manter D.J. Humphries como right tackle titular. Ninguém esperava que Massie tivesse um ano decente em 2015. Na realidade, ninguém esperava que ele ainda estaria na liga depois do desastroso ano como calouro – para quem não acompanha, ele conseguiu ceder 13,5 sacks e nem LaDainian Tomlinsom conseguiria produzir com ele em campo. O caminho natural era o calouro ganhar a vaga de titular no campo, o que não conseguiu – e deveria acender a luz amarela de preocupação para o ano que se seguia. Lyle Sendlein foi dispensado e no seu lugar entrou o seu reserva A.Q. Shipley. Por fim, Arizona perdeu a paciência com Cooper, o mandou para New England e foi salivando na Free Agency pegar Evan Mathis. Notou o erro?

Com o lado direito totalmente novo, era óbvio que a franquia iria sofrer. De quinta melhor, a linha ofensiva foi para a décima pior da liga protegendo contra o passe. O plano de colocar D.J. Humphries em campo não era ruim, só que era preciso incluí-lo em um ambiente já estável. Não foi isso que aconteceu, D.J. Humphries oscila muito em campo e já cedeu 2,5 sacks. O lado direito não consegue se comunicar, Shipley parece não conseguir ler as blitzes e o ataque aéreo despencou em produção.

O mais incrível é que era esperado que Bruce Arians ajustasse a sua equipe e corresse muito mais com a bola. Era o caminho óbvio. Evan Mathis, que toda a vida foi left guard, está se ajustando com a função de jogar na direita, Shipley era reserva e Humphries é um cara forte e calouro. David Johnson surgiu do nada (e agora é um dos running backs mais fortes em atividade) e Chris Johnson (que começou o ano de 2015 muito bem) estava de volta de contusão – e Andre Ellington também. O problema é que Arians resolveu adotar o estilo Andy Reid e colocar o seu quarterback lançando bolas sem parar atrás de uma linha que não está no seu melhor momento, até o ataque produzir em alto nível.

Tirando o jogo de ontem, os Cardinals correram com a bola em apenas 36,5% das jogadas – vigésima terceira marca da liga. Ano passado o equilíbrio era maior: 44,6% das jogadas eram corridas (décima melhor marca). E não é como se o run blocking tivesse piorado – a unidade está ranqueada na mesma posição como run blocker pelo Football Outsiders. Isso se reflete até nos números de jardas terrestres por jogo: antes da partida contra San Francisco, Arizona havia conquistado 100 jardas por jogo – e ontem foi possível ver o estrago que David Johnson fez.

Claramente Bruce Arians não consegue lidar com o seu ataque aéreo tendo problemas. O duas vezes melhor técnico do ano sempre quer forçar um ritmo aéreo inexistente com Palmer under center (quem vai conseguir lançar com tanta pressão? São 10 sacks no ano) e ele esqueceu que seu signal caller não se chama Tom Brady. Quando está sob tanta pressão, Palmer simplesmente comete turnovers até cansar – foi assim no NFCCG com quatro interceptações e está sendo assim com cinco até o momento. Turnovers, falta de ritmo e inexistência de jogo terrestre acabam em derrotas – parece até Andy Reid na beira do campo.

Qual o caminho para melhorar?

A contusão de Carson Palmer serviu para mostrar o caminho, por mais irônico que seja: equilíbrio ofensivo e bola para correr. Claro que o resultado foi contra um San Francisco desmantelado, que não consegue sobreviver contra a corrida (é uma das piores unidades da liga contra a corrida), mas mesmo assim é o sinal que este time precisa mudar o estilo de jogar – e Arians é quem precisa se ajustar.

Não é como se os Cardinals, de repente, parassem de jogar. Eles ainda possuem muito potencial para ameaçar na NFC: só precisam ser consistentes em campo e seu técnico parar de querer forçar algo inexistente. Ao contrário de todos os times citados no início deste texto, Arizona não sofre do problema de vaidade excessiva no vestiário. E é por isso que eles podem dar a volta por cima e voltar a ser o time a ser batido em 2016.

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