Análise tática: Hue Jackson está fazendo muita falta aos Bengals?

I miss the hell out of him.” No maior estilo Victor e Léo, Marvin Lewis deixou claro em sua entrevista o quanto Hue Jackson faz falta para ele. E não só para ele, e sim para o Cincinnati Bengals inteiro – principalmente quando o assunto é Andy Dalton.

O recorde 2-4 não é a toa. Os Bengals o construíram durante toda a intertemporada, com decisões meio difíceis de se entender e com o seu coordenador ofensivo saindo e indo para a franquia irmã destruída. Jackson, até aqui, está tendo um pouco de dificuldades com algumas decisões (como tentar uma quarta descida com o punter posicionado de tight end?), mas é inegável o seu talento em extrair o máximo de seus quarterbacks – tanto é que Cody Kessler está superando as expectativas dentro de campo.

A saída de Jackson não foi a única coisa que impactou o ataque dos Bengals. Mohamed Sanu foi para Atlanta jogar com Julio Jones e Marvin Jones resolveu virar uma máquina de recepções em Detroit. Para Cincinnati sobrou Brandon LaFell (!) e o calouro Tyler Boyd – e todos sabemos que calouros dificilmente contribuem significativamente na posição de wide receiver. Na linha ofensiva, a transição natural de Cedric Ogbuehi ocorreu e ele não vem sendo o elo mais fraco de uma unidade que caiu muito de produção. Por fim, a lesão de Tyler Eifert prejudicou ainda mais a franquia, com Tyler Kroft não conseguindo nem bloquear nem receber a bola.

A pressão na linha ofensiva e a mudança no playcall

Que Dalton está regredindo não há dúvidas. Ele tem somente seis touchdowns no ano (está caminhando para a sua pior temporada da carreira) e já foi sackado absurdas 19 vezes – para se ter uma ideia, ano passado ele foi sackado 20 vezes em 13 jogos! Não há espaço no pocket provocado por três coisas: falta de playmakers, jogo terrestre ineficiente e playcall equivocado. Isso põe pressão em um jogo aéreo deficiente e em uma linha ofensiva que vai perdendo a confiança própria, como neste lance:

View post on imgur.com

Cedric Thornton coloca Kevin Zeitler nos patins e o domina completamente, jogando o right guard no chão e executando um sack fácil. Normalmente você espera que um jogador como Aaron Donald possa fazer isso contigo, mas Thornton? Ele é um run stuffer e possui apenas cinco sacks em seis temporadas na NFL – nem perto de ser um exímio pass rusher.

Na NFL, três elementos fazem com que uma linha ofensiva seja bem sucedida: confiança, entrosamento e talento. É uma posição extremamente difícil, pois você precisa ter a sintonia do seu companheiro ao lado para saber o momento de ajudar e o momento de trocar de jogadores – principalmente na hora do jogo corrido. E, claramente, o primeiro elemento é o que mais falta aqui – visto que só mudou o right tackle comparado ao ano passado. E uma das principais causas para esta perda de confiança e a morte do jogo terrestre (Jeremy Hill possui apenas 271 jardas terrestres e Giovanni Bernard 167) é o playcall duvidoso de Ken Zampese – que era o técnico dos quarterbacks.

View post on imgur.com

Nesta jogada os Bengals estão com uma linha desbalanceada. Tyler Kroft é o left tackle e ele vai precisar bloquear Demarcus Lawrence. Se o objetivo era chamar uma corrida, o natural seria correr pelo lado mais forte, que vai possuir os dois tackles, correto? Não para Zampese. A linha vai ter que executar um inside zone blocking e Kroft é destruído por Lawrence. O right guard precisa ajudar e a jogada acaba com uma perda de uma jarda. É uma chamada extremamente controversa e que explica o porquê de tantas dificuldades. Outra deficiência do playcall também ocorre nas terceiras descidas.

View post on imgur.com

Como em uma jogada que só um jogador passa da linha da primeira descida. Note que o pocket é facilmente destruído pelo pass rusher do New England Patriots e Dalton precisa se deslocar e procurar alguém além da linha de primeira descida – o que não há em campo. Zampese vai fazendo um trabalho muito pouco criativo, o que era o forte de Hue Jackson no ano passado.

Falta de playmakers e a Green-dependência

Qual foi a tática usada por Cincinnati para minimizar os erros de Dalton e maximizar as chances de Playoffs? Passes com boa distância (ele teve uma média de 8,4 jardas por passe no ano passado) e muitos playmakers em campo. Depois do bom desempenho de Dalton, a diretoria resolveu que poderia diminuir a influência de outros playmakers e fez com que voltasse um defeito deste ataque: a Green-dependência.

Ano passado A.J. Green teve o segundo menor número de bolas vindo em sua direção em uma temporada: 132 vezes, o que representa cerca de 30% dos passes que Dalton deu. Neste ano, apesar de ainda cerca de 30% dos passes que Dalton deu foram na direção de Green, o wide receiver foi o alvo em 62 oportunidades – ele está no ritmo para conseguir 160 targets no ano. Dalton está passando mais por causa do jogo terrestre e do estilo mais West Coast Offense, logo o ataque depende cada vez mais da produção de A.J. Green – ainda mais sem playmakers de qualidade parecida com a do ano passado. O resultado é que até mesmo Dalton comete erros crassos, como nesta jogada contra os Cowboys:

View post on imgur.com

A jogada é um dois níveis no meio do campo, o que pode bater tanto cover 2 quanto a cover 3 – que é a cobertura de Dallas na jogada. Ela explora o fato da defesa estar em zona (o que era esperado): se é cover 2, Green vai rasgar no meio dos safeties no meio do campo na post e vai ter chances de ficar livre. Se é cover 3 (como neste caso), a pressão vai ficar em cima de Byron Jones: se ele cobrir Green na slot, o wide receiver correndo a in vai ficar livre. Caso ele não fique tão distante, ele será queimado por Green. Como Jones é extremamente atlético (basta lembrar de seu Combine), ele toma a decisão certa em ficar no fundo do campo e cobrir a slot, pois sabe da dependência de Dalton.

Na hora do passe, o wide receiver está ficando totalmente livre a frente da linha de primeira descida. O pior ainda: ele vai ter espaço para correr mais umas 20 jardas com a bola na mão. Só que a falta de confiança em seus alvos faz com que o passe vá para Green (afinal ele é o porto seguro em campo) e o safety faz o trabalho correto para quebrar o passe e terminar a jogada.

Qual a solução para este ano?

O ano não está fácil e as perspectivas de melhora são baixas. Não dá para mudar o playcall ou o estilo ofensivo de uma hora para outra. É preciso equilibrar a balança novamente, colocar a bola na mão de seus running backs e explorar a força de Cincinnati em correr com a bola – sem chamar uma linha desbalanceada e correr atrás do tight end, obviamente.

Só a volta de Tyler Eifert não fará este time voltar a jogar bem – nem ir para os Playoffs. É preciso mudar a postura dentro de campo, distribuir melhor o jogo e tirar a dependência das jardas das costas de Green – o que causa muitas falhas em terceiras descidas. Hue Jackson está fazendo muita falta assim como Sanu e Jones. Se Zampese não conseguir suprir esta falta até o fim do ano, pode ter certeza que seu emprego estará ameaçado. E nada melhor começar a mudança contra o próprio Jackson e os Browns.

Comentários? Feedback? Siga-nos no twitter em @profootballbr e curta-nos no Facebook.

Quer uma oportunidade para assinar nosso site? Aproveita, R$ 9,90/mês no plano mensal, cancele quando quiser! Clique aqui para assinar!
“odds