Namastê, Arian Foster

Eu fui conhecer realmente quem era Arian Foster em 2010. Em 2009, eu ainda não conhecia nada do College Football, e as duas boas atuações nas semanas 16 e 17 daquele calouro dos Texans, que nem mesmo havia sido selecionado no Draft, passaram despercebidas pelo observador casual que eu era então.

Ah, mas em 2010 a coisa foi diferente. Pouco antes de descobrir Arian Foster, eu havia descoberto o fantasy football e acabei tendo a sorte de tê-lo em meu primeiro time virtual. Eu não me lembro, sinceramente, se meu time venceu o campeonato naquele ano – o que provavelmente indica que ele não venceu, vamos combinar – mas me lembro claramente da emoção de torcer toda semana por aquele running back que viria a se tornar o líder em jardas terrestres de toda a NFL na temporada.

Sim, o desconhecido jogador, que havia sido preterido por todos os times da NFL no Draft, conquistou 1616 jardas e 16 touchdowns terrestres, contribuindo também com 66 recepções para 604 jardas e mais dois touchdowns. Eu, assim como a maior parte dos fãs casuais de futebol americano à época, não conseguia entender aquilo. Como diabos os times da NFL deixaram esse cara passar por eles SETE VEZES no Draft?

Fui procurar a resposta para esta pergunta na internet e descobri que, para os fãs do futebol americano universitário, a explosão de Foster na NFL não era algo surpreendente. Como running back no College, em Tennessee, Foster teve momentos brilhantes, chegando até a ser cotado para o Troféu Heisman, dado ao mais extraordinário jogador do universitário. Mas a carreira universitária de Foster, assim como quase tudo a seu respeito, foi bastante atípica. Em 2006, seu segundo ano na universidade, Foster foi preso por conduta desordeira após uma briga envolvendo outros dois companheiros de time. Isto levou vários general managers da NFL a questionarem seu caráter durante o processo do Draft. O detalhe que eles deixaram passar?

Foster estava tentando separar a briga.

O azar também esteve presente dentro de campo. Após cometer fumbles em três momentos-chave de sua carreira – o último deles no Senior Bowl, sob os olhares de todas as 32 franquias – Arian ganhou a reputação de soltar a bola com frequência. Mais uma vez, a verdade era outra. Foster teve apenas cinco fumbles em toda sua prolífica carreira em Tennessee. A NFL esnobou um jogador que Arian Foster nunca foi, isto havia ficado claro para mim.

Meu passo seguinte, foi tentar descobrir quem era, de verdade, Arian Foster. Neste processo, conheci dois lados dele, o pessoal e o profissional, e a soma deles fez de Foster meu jogador preferido em toda a NFL.

Arian Foster fora de campo

Diferente. Único, talvez. Definitivamente interessante. Em um grupo de pessoas definidas pela monotonia e padronização, como o é, em sua maioria, o dos jogadores da NFL, Foster se destacou rapidamente. Um ateu declarado, criado como muçulmano, atuando em um dos estados mais fanaticamente cristãos dos Estados Unidos. O primeiro jogador de futebol americano vegano da história, em um ambiente em que seu valor é medido por sua masculinidade, que é diretamente correspondente, para alguns, à quantidade de carne que você consome. Arian Foster nunca teve medo de ser diferente. Ele também nunca buscou a polêmica. Ele era quem ele era, independente do que os outros fossem pensar.

Foster era um grande atleta, mas ele sempre foi muito mais do que isso. Formado em Filosofia, ele refletia sobre o que fazia dentro e fora de campo e sobre as implicações disto. Você podia concordar ou discordar de suas opniões, mas suas entrevistas eram sempre estimulantes, e você nunca correria o risco de se deparar com um “nós demos 110%”. Ele também fez suas incursões no campo da atuação, em uma participação em um seriado de televisão e, mais notoriamente, interpretando um running back durante o processo do Draft no filme A grande escolha. Tenho certeza que a ironia disto deve ter lhe agradado.

Um apaixonado por literatura, Foster tratava o futebol americano como arte, definindo-o como a busca por qualidade, produção e expressão de significância extraordinária. Como eu disse, atípico.

Arian Foster em campo

Dentro de campo, Arian Foster também era atípico, e se destacava por sua inteligência. Ele era um inconformista por natureza, que irritava seus técnicos ao fazê-los explicar o motivo de suas ordens. E esta curiosidade e irreverência fizeram dele um estudioso do jogo. Poucas vezes o vimos atropelar um defensor e sua (falta de) velocidade nunca o permitiu fugir deles no perímetro do campo. Ao invés disso, Foster os derrotava com sua paciência, visão e cortes laterais. Ele se movia com tamanha leveza que, apesar de seus 101 kg, parecia flutuar enquanto buscava os espaços abertos na defesa. E uma vez que ele os encontrava, sua explosão e equilíbrio faziam o resto. Muitos running backs se destacam por sua visão ou por seus cortes, mas eu nunca vi algum que fosse tão bom em ambas as coisas quanto ele, e era esta combinação que o tornava tão eficiente.

Enquanto muitos jogadores provocam seus adversários ou fazem gestos se vangloriando após anotar um touchdown, Arian fazia uma saudação Hindu, um Namastê representando seu respeito pelo jogo que amava. Como recebedor, Foster executava rotas com precisão e era capaz de localizar a bola como poucos running backs. Me lembro de vê-lo por diversas ocasiões recebendo passes com apenas uma mão e imediatamente empregando sua explosão em direção à end zone adversária.

Não me lembro de um único drop – mas isto pode ser meu lado fã falando mais alto.

Como bloqueador, Foster quebrava um galho. Nunca esteve entre os melhores nesse quesito, mas esta também não era um defeito em seu jogo. Na verdade, Arian Foster tinha apenas uma fraqueza como jogador.

Ele não conseguia estar em campo com a frequência que era esperada de um jogador tão importante para seu time. Durante as oito temporadas de sua carreira profissional, Foster conseguiu disputar todas as 16 partidas em apenas duas delas. Joelho, coxa, peito, coluna, virilha, tendão de Aquiles… É difícil achar uma parte do corpo do jogador que não tenha sofrido com os rigores do esporte. Lesões na NFL, principalmente na posição de running back, são inevitáveis, e quase sempre fruto do azar. O problema é que Foster teve mais azar do que a maioria, e foi isso que o levou a encerrar a carreira aos 30 anos, idade em que muitos outros jogadores ainda são produtivos.

Na nota em que comunicou sua decisão de se aposentar, Foster disse que seu corpo já não conseguia mais suportar o tipo de punição que o jogo exige, mas disse isso sem nenhum tipo de rancor ou arrependimento. Ao invés disto, ele demonstrou extrema gratidão por tudo que o esporte lhe proporcionou e disse estar em paz com sua decisão. Ele encerra dizendo que “este é um jogo lindamente violento, e a mesma razão pela qual eu o amei é o que me faz ter que abandoná-lo”. Palavras de despedida dignas do mais poético running back da NFL.

Namastê, Arian Foster. Serei eternamente grato por tê-lo visto jogar.

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