Das quatro melhores campanhas da AFC, três delas estão na divisão oeste. Denver Broncos (7-3), Oakland Raiders (7-2) e Kansas City Chiefs (7-2) protagonizam um duelo pelo título da melhor e mais disputada das oito divisões da NFL. E não posso, de forma alguma, fazer pouco caso do San Diego Chargers: apesar do restrospecto de quatro vitórias e seis derrotas, o time poderia ter vencido alguns dos jogos que perdeu – como contra o Indianapolis Colts, Oakland Raiders e New Orleans Saints (sem contar a prorrogação da Semana 1 contra Kansas City).
Dentro deste cenário, a Semana 11 traz contornos de definição para a reta final da temporada regular e a pergunta dos fãs ecoa: afinal, há favorito na AFC West?
Qual a situação atual das equipes?
Essa é a pergunta mais importante de se fazer – e a mais complexa. Entender o histórico recente dos três contenders da divisão (San Diego, peço desculpas antecipadamente, mas por enquanto vamos falar dos seus três rivais) é fundamental para traçar qualquer tipo de panorama sobre a divisão. E se estávamos apostando numa disputa acirrada antes do início da temporada, posso dizer que a expectativa não mudou.
Denver Broncos
O Denver Broncos, atual campeão do Super Bowl, mostrou um relativo declínio em relação ao seu potencial ofensivo – tanto do começo da temporada para este momento, quanto de um ano para o outro. É óbvio, inclusive: quando a equipe perde o cérebro e a experiência de Peyton Manning under center e coloca um quarterback que, para todos os efeitos, era calouro, os adversários vão ter mais facilidade em criar esquemas defensivos para impedir a progressão de Trevor Siemian. Quando falo da diferença em relação ao começo do ano, o jogo corrido sem C.J. Anderson não tem tido o mesmo impacto com Devontae Booker e Kapri Bibbs. Importante ressaltar como os right tackles da equipe, Donald Stephenson e Ty Sambrailo, têm permitido que os pass rushers adversários transformem o signal caller do time em piñata. Nas últimas três partidas, Joey Bosa, Khalil Mack e Cameron Jordan jantaram o quarterback.
A defesa também não é “invencível”, como aparentava ser em 2015. As saídas do defensive tackle Malik Jackson e do linebacker Danny Trevathan estão revelando seu real impacto com muita clareza neste momento da temporada. Na Semana 9, contra o Oakland Raiders, a equipe não conseguiu de maneira alguma impedir o jogo terrestre – sobretudo pelo miolo da defesa, onde as ausências de Trevathan e Jackson são mais sentidas. Um offensive tackle do Oakland Raiders, inclusive, disse que no segundo tempo daquele Sunday Night Football, o time só utilizou duas jogadas terrestres. Usaram, inclusive, a mesma jogadas dez vezes seguidas. Nas palavras do tackle, “eles sabiam o que iríamos fazer, mas não importava.” E foi assim que a linha ofensiva desgastou a defesa terrestre do Denver Broncos para uma vitória crucial há duas semanas.
Em que pese a fenomenal força da linha ofensiva dos Raiders – não é melhor do que a de Dallas, mas está perto dela – eles não foram os únicos que conseguiram correr em cima do Denver Broncos. Carolina Panthers, San Diego Chargers, Houston Texans e Cincinnati Bengals conseguiram todos pelo menos 120 jardas terrestres contra a equipe do Colorado. A melhor marca contra o jogo corrido foi na Semana 4, contra o Tampa Bay Buccaneers, quando limitou os adversários a 74 jardas corridas. Temos, portanto, um time que ainda conta com talentos de elite na defesa – os defensive backs, Von Miller, DeMarcus Ware e Shane Ray seguem como os pilares da equipe em 2016. Só que com menos capacidade de frear as investidas corridas e problemas em criar um momentum ofensivo, podemos colocar que o Denver Broncos está em baixa. A esperança para o torcedor é que a semana de bye apertar alguns parafusos para enfrentar o rival Kansas City Chiefs na Semana 12.
Oakland Raiders
A vitória na vitrine do futebol americano – o Sunday Night Football, o primeiro da franquia em mais de 10 anos – parece ter colocado na cabeça de todos que o Oakland Raiders são uma força legítima a ser batida (demos um spoiler alert na pré-temporada e antes dela).
Guiados por um Derek Carr compensando os erros defensivos em várias partidas, o triunfo sobre os rivais do Denver Broncos mostrou um lado completamente distinto da expectativa. Foi o jogo terrestre e a linha ofensiva que dominaram e, de soco em soco, de corrida em corrida, nocautearam uma defesa com pedrigree. Isso pintou um cenário: não é só Derek Carr e seus wide receivers; é também o jogo terrestre e a linha ofensiva dominante.
Isso de um lado da bola. Do outro, vemos um front seven subindo de produção, com Khalil Mack ascendendo nas últimas duas partidas. Ao seu lado, o calouro defensive tackle Darius Latham e o linebacker Bruce Irvin também estão encontrando o ritmo, o que levanta a performance defensiva como um todo. Ao contrário do seus rivais lá em Colorado, o Oakland Raiders está num momento de subida. Ainda na onda da vitória maiúscula contra o Denver Broncos, a equipe volta de bye para enfrentar o Houston Texans no México. Oportunidade de ouro para a defesa mostrar que também é protagonista nesse time e afundar Brock Osweiler ainda mais fundo numa má fase que parece não ter fim.
Kansas City Chiefs
Por fim, os líderes de divisão. Se você procura um sistema ofensivo e defensivo eficaz e regular, sua busca acabou. O Kansas City Chiefs funciona quase como máquina dentro da filosofia de Andy Reid. O ataque, apesar de conservador em muitos aspectos, é extremamente eficaz naquilo que propõe. Com talentosos running backs e uma proteção da posse de bola que se destaca, o time anota os pontos que precisa para vencer – e espera a defesa fazer o resto. E bem, a defesa faz o resto. Foi um touchdown defensivo de Eric Berry que mudou a narrativa da partida contra o Carolina Panthers na última semana, pavimentando a décima-sétima vitória nos últimos 19 jogos da temporada regular. Comentar o atual estado do Kansas City Chiefs chega a ser engraçado: ele é estável. Eles estão jogando em alto nível e batendo adversários desde a Semana 7 de 2015, e assim devem se manter. A forma de batê-los é forçando-os a anotar muitos pontos e essa tarefa não é fácil – ainda mais com a volta de Justin Houston esta semana.
O calendário dentro da AFC West
Crucial falarmos do calendário. Com duelos de divisão já à vista para os times da AFC West, vencer os rivais diretos é, por óbvio, fundamental. O Kansas City Chiefs enfrenta o Denver Broncos duas vezes e o Oakland Raiders dentro de sua casa. Os Raiders, por sua vez, enfrentam o Denver Broncos lá em Mile High e o Kansas City Chiefs no Arrowhead Stadium em Missouri. Sei que será repetitivo, mas é pela organização: o Denver Broncos recebe os Raiders e os Chiefs, e visita ainda a equipe do Missouri na Semana 16.
O fato das três equipes se enfrentarem aumentam o fator de imprevisibilidade. Se alguém tem a faca e o queijo para vencer a AFC West é o Kansas City Chiefs. Vencendo as partidas contra os Broncos e batendo o Oakland Raiders em casa, é difícil imaginar que eles perderão as partidas contra adversários fora da própria divisão. É possível, claro, mas as partidas contra os rivais são as mais duras que os campeões do Super Bowl IV irão enfrentar. Além disso, os Chiefs já bateram o Oakland Raiders fora de casa, o que já é uma vantagem por si só numa disputa onde o restrospecto intra-divisional deve ser crucial.
O Denver Broncos recebe seus rivais com sete vitórias em duas das três partidas que faltam. Essa é uma vantagem, visto que os campeões do Super Bowl 50 estão 1-2 na AFC West. Chiefs, por sua vez, está 2-0. O Oakland Raiders está 2-1. A derrota para o San Diego Chargers pode ser o fiel da balança na disputa do Denver Broncos pelo título da sua divisão.
Por fim, o Oakland Raiders. Acredito que a franquia da Califórnia tenha a tarefa mais árdua por uma congruência de fatores – estar com uma derrota dentro da divisão (justamente para o Kansas City Chiefs) e ter que enfrentar os Broncos, Chargers e Chiefs fora de casa. O interessante é que das 7 vitórias dos tricampeões do Super Bowl, 5 vieram longe dos seus domínios, um aproveitamento de 100%.
A influência do San Diego Chargers no desfecho da AFC West é enorme, por sinal. O único rival que já encarou Philip Rivers e companhia foi o Denver Broncos, que venceu uma e perdeu a outra. Os Chargers enfrentam os Raiders em casa na Semana 15 e os Chiefs também no seu estádio na Semana 17. Se bater as duas equipes, os Broncos devem ser os mais beneficiados. Seriam derrotas para ambos os times à sua frente e derrotas estas dentro da divisão. Crucial para o critério de desempate a perfomance do lanterna da divisão – o que não é nenhum demérito, diga-se de passagem. Tirando Dallas Cowboys e New England Patriots, todos seriam lanternas na AFC West.
As outras partidas
Vencer dentro da divisão é importante. É também fundamental bater os adversários fora da própria divisão. E dos calendários remanescentes, é o Oakland Raiders. Derek Carr e companhia ainda enfrentam duas defesas com problemas flagrantes, a do Indianapolis Colts, Carolina Panthers (a secundária, no caso). As partidas contra Buffalo Bills e Houston Texans devem ficar à feição da defesa da equipe, que precisa explorar as dificuldades defensivas para converter em vitórias.
O Denver Broncos é quem vai penar dessas três equipes. Tennessee Titans fora de casa e New England Patriots são partidas duras se o ataque não encontrar seu ritmo. Além destes duelos, a equipe precisa bater o Jacksonville Jaguars na Semana 13 – uma zebra dessas é um escorregão praticamente irrecuperável numa divisão tão dura.
O time do Kansas City Chiefs ainda tem o Atlanta Falcons, Tampa Bay Buccaneers e o Tennessee Titans de fora da AFC West . A partida contra a equipe da Flórida, neste domingo, carrega a expectativa de vitória pela fragilidade defensiva do adversário. Os jogos contra o Tennessee Titans e os Falcons carregam certa imprevisibilidade, seja pela regularidade que os Titans encontraram dos dois lados da bola, seja pelo ano digno de MVP de Matt Ryan.
É possível fazer alguma previsão?
Depois de um texto dessa magnitude, é bem frustrante escrever que é difícil cravar qualquer coisa com convicção. Se quiserem, posso dizer que o Dallas Cowboys ganha a NFC East e o Seattle Seahawks leva a NFC West com bastante convicção, mas a AFC West neste ponto é só especulação.
Apenas para não deixarem os prezados leitores com uma falta de qualquer prognóstico, fiz um estudo (ou aposta, conforme queiram chamar) para tentar ter algum resultado mais concreto. No final das contas, a AFC West acabaria da forma que antecipei nas vésperas da temporada regular.
O Oakland Raiders, batendo os Texans, Bills, Chargers, Colts e vencendo uma das duas partidas divisionais restantes (semanas 15 e 17), ficaria com 12 vitórias. A partida chave é contra o Carolina Panthers no meio do caminho; um triunfo contra o Denver Broncos ou Kansas City Chiefs e a vitória sobre Cam Newton deixaria a divisão bem próxima.
O Kansas City Chiefs, ao meu ver, deve bater o Denver Broncos em casa e perder fora. Seja pelo desgaste físico de jogar em Mile High, seja pela dificuldade em bater uma defesa de alto nível fora de casa. Na melhor situação possível, ele bate o Denver Broncos duas vezes e o Oakland Raiders, o que, considerando vitórias sobre os Buccaneers e Chargers são mais prováveis. Derrotas para o Tennessee Titans e Atlanta Falcons são absolutamente razoáveis. Na melhor das hipóteses, Kansas City Chiefs ficaria também com 13 vitórias (batendo um de Falcons e Titans), mas um retrospecto melhor na divisão. Com expectativas moderadas, 11 vitórias parece um prognóstico realista.
O Denver Broncos tem jogos onde a derrota é um resultado aceitável contra o Kansas City Chiefs fora de casa, New England Patriots. Contra o Tennessee Titans e Oakland Raiders que mora a dúvida. Quatro derrotas nessas partidas e o time termina o ano com nove vitórias e sete derrotas. Vencer os Titans, Raiders e Jaguars são dever de casa se os atuais campeões do Super Bowl pretendem voltar ao topo da divisão.
Assim, fica a minha tentativa de prever o imprevisível:
- Oakland Raiders
- Kansas City Chiefs
- Denver Broncos
- San Diego Chargers
Independentemente do resultado final, é bem possível (mesmo) que as três equipes se classifiquem para a pós-temporada. O que nós, fãs do esporte, podemos fazer é acompanhar o desfecho dessa maravilhosa disputa na divisão mais forte e equilibrada da NFL.
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