Como tantos times deixaram Dak Prescott cair para a 4ª rodada do Draft?

A escolha número 199ª do Draft de 2000 foi um cara chamado Tom Brady. Fraco demais para ser quarterback no nível profissional segundo o que era dito. Se não fosse a lesão de Drew Bledsoe na segunda semana da temporada de 2001, provavelmente Brady nunca teria aparecido para o mundo. O mesmo, talvez, pode ser dito sobre Dak Prescott: se não fosse Tony Romo machucado, a chance de que ele não pisasse em campo neste ano seria mínima.

Dak Prescott foi escolhido pelo Dallas Cowboys na quarta rodada do Draft deste ano. Outros nomes que estão impressionando bem menos foram escolhidos antes. Christian Hackenberg, pelos Jets, é um exemplo. Cody Kessler, outro. Até mesmo Jacoby Brissett, pelo New England Patriots, veio antes de Dak. Como? O que aconteceu? Como o processo pode ser tão falho?

Acima de tudo, porque o Draft da NFL avalia pessoas. E a avaliação de virtudes e defeitos de uma pessoa é algo subjetivo – ainda mais quando estamos prospectando a adaptação de um jogador para um nível de oponentes que é diferente do que enfrentara até então. Sempre bato nesta tecla. Por mais que seja o mesmo esporte, College Football e NFL têm estilos de jogo diferentes tanto quanto a Serie A do Campeonato Italiano e a Premier League no futebol. Não dá para saber, no fundo, como um jogador se portará vindo de uma para a outra.

Tentando responder à pergunta que entitula este artigo, acho que a resposta não é tão difícil. Dak Prescott sofreu preconceito. Não, antes que você pense que é isso, não é preconceito racial. Falo em relação a alguns dos precedentes ruins no recrutamento. A princípio, Prescott jogou em spread offense em Mississippi State. Quarterbacks que operam nesse sistema costumam ter adaptação mais difícil para o nível profissional, dado que os recebedores estão espalhados no campo e por haver muitos, é mais fácil conectar passes – o que “infla” as estatísticas, sobretudo a porcentagem de passes completos. Marcus Mariota é um exemplo, com adaptação mais difícil no primeiro ano (e olha que ele foi segunda escolha geral).

Segundo, Prescott foi preso por dirigir embriagado em março de 2016 – um mês antes do Draft, portanto. Foi um fato isolado e que para alguns foi lido como “ele não é responsável, quem faz uma coisa desta em meio ao processo de recrutamento?”. Bom, quando você é jovem, esse tipo de coisa acontece. É errado, mas tenho certeza que muitos que me leem já dirigiram após beber uma cerveja ou outra e nem por isso são pessoas ruins ou mau profissionais. Para a NFL, de toda forma, isso foi uma luz vermelha – talvez a que fez com que ele, de modo determinante, saísse do segundo dia do Draft (2ª e 3ª rodada) e caísse para a quarta rodada no terceiro dia de recrutamento.


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Por fim, as comparações. É mais do que natural que os prospectos sejam comparados a outros jogadores que vieram antes dele na NFL. Isso, em realidade, acho que ocorre em muitas profissões. No caso de Prescott, as comparações eram… Bom, eram ruins para ele. A princípio, sua falha de ball placement no College acabou por compará-lo a Tim Tebow – até pela mobilidade e pelo fato de seu head coach no College ter sido coordenador ofensivo de Tebow nos Florida Gators. Em segundo lugar, ele ser “muito paciente” no pocket acabou por aparecer como uma fraqueza – e, com a linha ofensiva dos Cowboys, se tornou uma virtude. A presença de pocket (ou a eventual ausência dela no nível universitário) fez com que comparações com Colin Kaepernick também surgissem – nós mesmos o rotulamos como um “Kaepernick melhorado que podia acabar nos Broncos”.

De toda forma, eu me lembro de comentar na ESPN a última partida de Prescott no College, o Belk Bowl  – no qual ele demonstrou inúmeros traços de liderança e outras intangíveis que são bem quistas no nível profissional. Dak, em realidade, foi o melhor jogador da história dos Bulldogs. Se Mississippi State chegou a ser #1 do ranking inaugural do College Football Playoff, isso se deve a ele. É só ver como o time está sem ele (spoiler alert: tá mal PACAS). Muito por conta de todo esse contexto e desconsiderando as eventuais falhas e a queda vertiginosa das comparações de Dak (Tebow/Kaepernick) eu respondi a um seguidor da forma acima em abril deste ano, antes do Draft.

Não, eu não achava que Prescott era um produto pronto e obviamente eu me impressionei com o desempenho dele até agora. E não, ele não é tão somente produto da linha ofensiva de Dallas. Em realidade, acho que a linha ser boa acabou casando com a questão de Prescott ser paciente no pocket – tal qual uma simbiose, um ajuda o outro, não é uma relação sanguessuga.

O Draft da NFL é um dos processos de seleção mais incertos que devem existir no mercado de trabalho. Tal qual prever terremotos ou outras previsões, há sinais e ruídos. No caso de Dak, os ruídos acabaram falando mais alto do que os sinais positivos. E é por isso que Bears, 49ers, Broncos, Jets e tantos outros times acabaram perdendo um diamante que vem sendo mais brilhante do que aquele bruto de abril.

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