Rumo ao sucesso: como Mariota e Winston estão virando os caras do futuro

Tão importante quanto o talento vindo do College, a capacidade de desenvolver os talentos é fundamental para um jogador ter sucesso. O melhor exemplo de todos, até agora, vem sendo Andrew Luck. É inquestionável o seu talento, só que os Colts possuem uma brilhante ideia de não achar linhas ofensivas de qualidade e o resultado é um Luck machucado, acabado e que não consegue ficar em campo.

Tampa Bay e Tennessee começaram a desenvolver Jameis Winston e Marcus Mariota, respectivamente, da maneira mais questionável possível. Técnicos já vencidos, que foram trocados no final do ano, e esquemas ofensivos que deixavam os torcedores pensando: o que ele está fazendo? É mais ou menos a postura que o Los Angeles Rams tomou neste ano – só que a comissão técnica de Jeff Fisher conseguiu fazer com que Jared Goff parecesse um calouro… no ensino médio.

Mesmo assim, as coisas estão dando certo. Grandes flashes quando calouros, os dois técnicos que saíram do lado ofensivo (Mike Murlakey era técnico de tight ends e Dirk Koetter era coordenador ofensivo), extremamente questionados quando contratados, souberam mudar os seus esquemas para esconder defeitos de seus comandados e explorar os pontos fortes dos outros jogadores ofensivos. O resultado? Mariota e Winston cresceram muito no ano e vão mostrando que serão titulares por mais alguns anos na NFL.

O estado deles no início de tudo

Marcus Mariota começou muito bem, Winston começou muito mal. Depois, um caiu vertiginosamente e outro foi subindo cada vez mais. No fim, dois jogadores que tiveram anos cheios de altos e baixos e bastante coisa para trabalhar, principalmente no quesito de trabalhar com uma nova comissão técnica.

Winston ano 1

No antigo The Concussion eu preparei um texto sobre a estreia de Jameis Winston na NFL. Ele não foi ao ar por algum motivo que não lembro, mas o que está fresco na memória é que ela não foi nada bonita. A principal preocupação de quando jogava no College ainda estava lá, sua vontade de lançar em coberturas apertadas demais em passes intermediários com uma mecânica inusitada.

Caso você não saiba, para lançar em coberturas extremamente apertadas é preciso colocar a bola em janelas cada vez menores. E mecânicas inconsistentes tendem a aumentar os erros. Ele não fez a leitura errada da janela, apenas… ERROUUUU. E este foi um problema durante todo o ano e aparecendo até mesmo na estreia contra os Titans:

Havia quatro jogadores na região e mesmo assim ele lançou, dando uma sorte tremenda do passe não ser interceptado. Esta tomada de decisões equivocadas associada ao fato da mecânica ser meio estranha resultaram em 15 interceptações como calouro – nada bom.

Qual foi a tática adotada então pela diretoria? Manter o técnico ofensivo, reforçar uma linha que teve uma das piores combinações de tackles no ano passado e torcer que a evolução natural ocorresse. Com isso, a tática adotada foi trazer J.R. Sweezy para tentar reforçar o interior da linha, apostar na evolução de Donovan Smith e torcer que a volta de Demar Dotson tivesse algum efeito na linha.

Mariota ano 1

Enquanto Winston tinha sérios problemas na linha ofensiva, Mariota tinha sérios problemas em comandar um esquema complexo. Oregon era baseada em placas de sideline, leituras em pacotes pré-snap e sem substituições. Assim como estudar um dia antes da prova no ensino médio dá resultado e na faculdade não, este pacote Spread encaixa facilmente na universidade, só que a NFL é muito mais complexa.

Sabendo desta limitação, a antiga comissão técnica resolveu rechear o playbook com jogadas de option não apenas no jogo terrestre: os passes eram baseados em leituras assim também. É o famoso run-pass option, popularizado por Chip Kelly na partida contra Washington em sua estreia na liga. Neste tipo de jogada, é possível fazer três tipos de leituras (como você já deve imaginar): primeiro nível (linha defensiva), segundo nível (linebacker) e terceiro nível (safety).

Quanto maior o nível, maior a exposição ao quarterback. Por outro lado, menor a efetividade da corrida e mais complexa é a leitura. Os Titans sabiam disso e começaram explorando o conceito ao máximo, fazendo com que Marcus Mariota parecesse o novo Peyton Manning com um DLC de corrida.

Nesta jogada contra os Bucs, Mariota lê Kwon Alexander e, como ele vai combater o jogo terrestre, a conexão é fácil no slant para o touchdown. Só que a NFL não é tão simples assim e as defesas se ajustam, principalmente com a quantidade absurda de dados que eles conseguem coletar. O resultado é que elas começaram a disfarçar marcações por zona e também fazer com que componentes de sua própria defesa lessem os seus companheiros e compensassem as tomadas de decisões deles. 

O grande problema de Tennessee ano passado (e foi por isso que eles se desmantelaram ao longo do ano) era que o seu sistema era somente baseado neste tipo de leitura, especialmente de primeiro e segundo níveis. Ataque previsível e defesa fácil de ser explorada.

As mudanças e a evolução

Lembra do exemplo de Andrew Luck sendo jogado aos lobos durante toda a sua carreira? As diretorias de Tennessee e Tampa Bay sabiam que precisavam mudar algo para não desperdiçar os recursos investidos no Draft passado. Tampa Bay apostou no mesmo esquema ofensivo, torcendo por uma evolução natural da linha ofensiva e melhorando a mecânica de seu quarterback durante a intertemporada.

Já Tennessee foi mais drástico – óbvio né, o esquema era muito simples. A contratação de Mike Mularkey ganhou muitas críticas no início do ano, principalmente depois de sua declaração que iria “continuar a usar esquemas de 2001 porque sempre deram certo”. Só que Mularkey pegou uma folha emprestada do playbook de Bill Musgrave e uniu o smash mouth football com um esquema mais moderno (neste caso foi a Spread Offense, ao contrário do que aconteceu em Oakland).

Mariota ano 2

Assim como Oakland, os Titans focaram em construir uma linha ofensiva alta, forte e que não tem que se mexer no espaço e sim abrir espaços nas trincheiras. Para combinar com esta linha mais smash mouth, a troca por DeMarco Murray e a escolha de Derrick Henry na segunda rodada. Combinação perfeita para melhorar ainda mais a evolução de Mariota.

Sai de cena o ataque “oregoano” e entra um smash mouth que cansa a defesa adversária e abre espaços na secundária. A deficiência da bola em profundidade não ser tão rápida é disfarçada e o resultado é visível nos números: 25 touchdowns e oito interceptações no ano. E este espaço não é causado pelo play action constante, e sim por muita movimentação antes do snap e o medo do jogo terrestre adversário.

A própria evolução natural do quarterback fez a diferença: suas leituras estão mais rápidas e ele diminuiu muito as decisões equivocadas ao longo das partidas. O único problema ainda são os fumbles cometidos de um jeito que não dá para entender – já são oito na temporada.

Winston ano 2

Enquanto Marcus Mariota se viu em um ataque completamente distinto, o playbook de Winston não mudou muito. O que mudou foi o foco do ataque, melhorando significativamente o seu desempenho em campo. Com a lesão de Vincent Jackson, o foco do ataque mudou completamente para Mike Evans e o pulo de qualidade do wide receiver fez com que este ataque saísse do limbo completamente.

O início do ano não foi assim. Dirk Koetter ainda estava entendendo o que estava acontecendo, tomando decisões equivocadas e suas chamadas não estavam equilibradas. A bye week foi ideal para o esquema ofensivo mudar completamente para Evans, as rotas intermediárias (o calcanhar de Aquiles de Winston) serem corrigidas e o ataque voltar a funcionar.

As decisões questionáveis ainda estão lá, mas a mecânica um pouco melhor diminuiu muito as imprecisões. Depois da bye, Winston teve apenas quatro interceptações – foram oito nas primeiras cinco partidas da temporada. O que aconteceu foi que o tight end Cameron Brate foi mais envolvido e Mike Evans confirmou-se de vez como o alvo a ser explorado – já são 80 recepções no ano.

Além disso, a linha ofensiva continuou extremamente faltosa, só que o número de sacks diminuiu. A proteção é melhor e Winston começou a explorar mais o pocket, tendo mais tranquilidade para trabalhar nas rotas intermediárias e o resultado foi a campanha positiva até aqui.

Winston e Mariota tornando-se bons quarterbacks só prova um ponto: nada adianta ter um jovem em campo sem um elenco de apoio ao redor

De sacos de pancadas para a disputa pelos Playoffs. Tampa Bay e Tennessee ainda possuem muitos problemas ofensivos, mas os seus quarterbacks estão evoluindo muito, mostrando que o futuro é brilhante. A diretoria das duas franquias apostaram em esquemas fora da caixinha, pensando em explorar a força de todos os envolvidos – e não só do signal caller em questão.

Sim, Mariota e Winston estão saindo da categoria de promessas e virando realidade. Ainda falta muito para se tornarem de elite, só que tudo indica que eles vão chegar lá. A temporada de 2016 mostrou que esquemas velhos podem ser repensados e transformados completamente, inserindo jovens quarterbacks e virando ataques explosivos. O futuro é extremamente promissor para as duas franquias.

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