Por favor não futebolize a NFL – não existe isso de apito amigo

Quarta descida na prorrogação e Michigan já tinha feito o field goal antes. Ohio State, caso não tivesse conseguido a marcação de campo – a primeira descida – teria a derrota decretada. A polêmica foi instaurada: a bola em posse de J.T Barrett cruzou a linha de primeira descida ou não?




Se houvesse cobertura do futebol americano universitário por parte da TV aberta brasileira na hora do almoço, essa polêmica duraria dias. Uns falariam de apito amigo em favor de Ohio State, por estar jogando em casa. Outros falariam que a arbitragem prejudicou Michigan de Jim Harbaugh por conta dele buzinar no ouvido do daqueles durante a partida toda. Eu, comentando aquele jogo, optei por focar no jogo. Se Michigan esteve em posição de depender de um erro ou acerto de arbitragem, será que este foi o que definiu a partida?

O time é do mesmo Estado: Detroit Lions, mas agora o representante de Michigan na NFL, digamos. O palco, diferente: o CenturyLink Field. A argumentação de algumas pessoas parece ser a mesma: Seattle só ganha roubado. Ok. Vamos lá;

A princípio, você acha mesmo que algum árbitro vai incorrer no risco de marcar intencionalmente em favor de um time, “porque sim”?  Não. Não rola isso. Sinceramente.

a) Primeiro porque influenciar no resultado de uma partida, em virtude de paga promessa ou recompensa, é crime federal nos Estados Unidos, com pena de reclusão de 5 anos – desde 1964, com o Sports Bribery Act. A letra fria da lei é a seguinte: “quem colocar em efeito ou tentar colocar em efeito (…) qualquer esquema para influenciar o resultado de um certame esportivo por meio de propina/paga promessa, com conhecimento de que o esquema está acontecendo, será multado e/ou recluso por 5 anos.

b) Não, eu não torço para o Seattle Seahawks. E em realidade eu vou falar algo que a torcida vai ficar p da vida comigo. Com todo respeito, mas dentre os 32 times da NFL, você realmente acha que haveria um esquema de corpos diferentes de arbitragem em jogos diferentes para beneficiar uma franquia de um mercado consumidor menor do que Nova York, Boston, Los Angeles e tantos outros “porque sim”? Um mercado que nunca havia chegado ao Super Bowl antes de 2005? Sério mesmo?

Em realidade, sob o ponto de vista lógico-argumentativo, quem tem de fornecer provas da existência de um fato – ou um ato, como aqui é o caso, o de privilegiar time X ou Y – é quem acusa. É deste o ônus da prova. E não há quaisquer provas disso – na verdade, a NFL é uma liga que nunca se viu envolta de escândalo de arbitragem algum.

Ok, Curti, então o que acontece?

Árbitros são humanos. Eles erram. Vale ressaltar algo importante: os 7 árbitros em playoffsão uma espécie de “dream team” em cada jogo. São os melhores da temporada – o departamento de arbitragem da liga dá “notas” para os árbitros da temporada regular. E esse dream team, ao contrário dos 7 de temporada regular, possivelmente são uma combinação que nunca trabalhou junta. Logicamente, isso faz com que haja propensão a mais erros.

Em segundo lugar, o árbitro principal do jogo de hoje entre Detroit e Seattle era Brad Allen, em seu primeiro jogo de pós-temporada. Os eventuais erros que surgiram podem acontecer por inexperiência dele ou por falta de química entre o corpo de arbitragem. Em terceiro lugar, árbitros costumam acertar muito mais do que errar – o livro de regras da NFL tem 400 páginas e o trabalho dos caras não é fácil.

Eu entendo que o torcedor de Detroit eventualmente esteja chateado. Naquele jogo entre Michigan e Ohio State, eu também fiquei por alguns minutos. Porque eu torço para Michigan e estava no ar naquele momento. Poderia ter cometido uma gafe que sempre me incomodou: o argumento do apito amigo ao invés do intracampo.

Com todo respeito ao time dos Lions, mas não foi a arbitragem hoje que lhes impediu de chegar na red zone. A arbitragem não cedeu mais de 150 jardas terrestres para o Thomas Rawls. O Detroit Lions foi uma das histórias mais bonitas da temporada regular, mas os inúmeros problemas do time – falta de pass rush, jogo terrestre inexistente – dificilmente faria com que ele fosse longe neste ano. E isso tudo não é culpa da arbitragem.

Fuja desse argumento raso de programa esportivo que só quer polêmica e audiência enquanto você almoça. A NFL é melhor do que isso.

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