Verdade inconveniente: Sam Shields, Michael Oher e as concussões

Ninguém vai querer ler este texto, creio eu. Afinal de contas, é um assunto que para muitos pode entrar no espectro “não fale, não pergunte”. É semana de Super Bowl. Alguém, de toda forma, tem de tocar no assunto. Não: falar sobre aqui no Brasil não vai mudar muita coisa nos Estados Unidos. Mas talvez ajude a deixar mais consciente quem pratica o esporte por aqui.




Há quanto tempo você não ouve falar sobre Michael Oher e Sam Shields numa transmissão da NFL? Ambos eram figuras constantes, dado que Oher foi tema de um famoso filme com a Sandra Bullock e Shields era um dos principais nomes da secundária do Green Bay Packers, uma das maiores torcidas do Brasil. Enquanto você leu essas palavras, talvez tenha pensado: é, faz tempo que não lembro deles. Porque faz mesmo.

Oher e Shields sofreram concussões nesta temporada. Não foram liberados pelo protocolo e praticamente não estiveram em campo em 2016. Shields acabou por se machucar na abertura da temporada regular, contra os Jaguars – ele estava engajando num tackle em T.J. Yeldon. Saiu do jogo, ficou de fora dos quatro seguintes e no final das contas foi colocado na injury reserve – foi sua quarta concussão na carreira.

Oher jogou apenas três jogos em 2016 e também foi colocado na reserva dos machucados por conta da inconveniente concussão. Ambos não foram liberados pelo protocolo, como costuma acontecer com outros jogadores após uma ou duas semanas.

Hoje, em janeiro e a sete dias do Super Bowl, nenhum dos dois foi liberado para voltar aos campos. Tem a parte positiva disso – a NFL e os times não estão sendo negligentes – mas claramente a negativa é o que chama a atenção.  O Carolina Panthers, com Oher saudável ou não, deve endereçar a posição de tackle em breve nas futuras intertemporadas – até porque Cam Newton virou uma pinhata no Super Bowl 50 e em toda a temporada 2016. Oher já era carta fora do baralho. De modo infortúnio, a concussão fez com que ele fosse dispensável pelos Panthers. É triste. É a realidade. É praticamente impossível, dado o contexto do esporte com o passe para frente, que as concussões sejam completamente eliminadas.

O caso de Sam Shields é ainda mais preocupante

Shields está fora dos gramados desde setembro, como dito acima. Em seu sétimo ano de NFL, o produto da Universidade de Miami era um membro importante da secundária de Green Bay. Como você percebeu, falei no pretérito. Sam também parece carta fora do baralho em Wisconsin. Neste mês, Mike McCarthy, técnico do time, disse para a imprensa que o cornerback não havia sido liberado no protocolo. E, nesta semana, Shields disse ao repórter Ryan Wood que ainda sofre dores de cabeças ocasionais. Ele ainda quer jogar mas seu futuro, no mínimo, é nebuloso. A tendência é que na próxima intertemporada os Packers sigam em frente sem ele.

Até por conta do extracampo. Sinceramente, como culpar? Explico; Em outubro, já na injury reserve, a polícia encontrou maconha na casa de Shields. No dia 16 de janeiro, enquanto o Green Bay Packers se preparava para enfrentar Atlanta na final da Conferência Nacional, Shields foi indiciado por posse de maconha. Não é por acaso que ele procurou a droga. Não, ele não tem mente fraca nem nada do gênero. A dor de cabeça era crônica naquela altura do campeonato. Shields procurou a maconha por conta de seu efeito analgésico, não por nada recreativo.

Ninguém morre por conta de concussão e uma morte não acontece devido a um lance de futebol americano profissional desde a metade do século passado. As carreiras de Shields e Oher, porém, estão praticamente mortas. Em todo esse contexto de luta da NFL/NCAA contra as concussões, exemplos de jogadores “famosos” que acabam sendo vítimas desse mal pode ser mais uma pontuação e mais um paradigma.

Não reclame que o kickoff foi para a linha de 35 jardas, que o touchback faz com que a bola comece na linha de 25. Não reclame se você vir menos retornos fantásticos ou se no College um jogador for expulso da partida por targeting. São os meios encontrados, são os tributos a serem pagos, para que existam menos casos como os de Oher e Shields. Vai resolver totalmente? Não. Ainda podem ser feitas mais coisas? Sim, embora eu não saiba o quê. Só esperamos que de fato isso seja cada vez mais combatido.




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