Análise tática: Como os Patriots viraram e fizeram história

25 pontos de diferença e uma virada histórica. O Super Bowl deste ano foi épico e o resultado veio até nos recordes de transmissão. Sim, já falamos bastante, mas um jogo histórico como este merece ser visto uma, duas, três vezes e dissecado – para apreciar o quão único foi o momento.

A coroação de Tom Brady não foi nada fácil e dependeu exclusivamente da inteligência acima da média de Bill Belichick e sua comissão técnica. Como já disse em algum texto perdido, no futebol americano universitário os grandes técnicos são aqueles que possuem grandes esquemas de jogo. Já na NFL a história é um pouco diferente. Aqui os bons técnicos são aqueles que formulam grandes esquemas de jogo: os grandes são aqueles que sabem ajustar o seu plano de jogo durante a partida – e foi assim que começou a virada do New England Patriots.

O estado do primeiro tempo

Para entender como aconteceu a virada, é preciso entender o que acontecia antes disso. Apesar de não ter sido mencionado por nós antes do jogo, a defesa dos Patriots foi formada para evitar corridas pelo meio do campo. Já o ataque dos Falcons foi formado para correr por fora dos tackles, fazendo os linebackers adversários se movimentarem. Foi exatamente assim que a defesa de Bill Belichick foi colocada em cheque durante todo o primeiro tempo.

Some isso aos turnovers (lembre-se que era o forte da defesa adversária) e o buraco está formado. Além disso, o plano de jogo ofensivo de New England não estava dando certo. A ideia era muito boa: a secundária é agressiva, logo rotas rápidas (apostando em Danny Amendola e Julian Edelman) iriam tirar a moral deles – junto com LaGarrette Blount sendo físico no jogo terrestre, os Patriots cansariam o front four de Atlanta. O que deu errado? A pick six de Tom Brady responde:

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A defesa de Atlanta soube misturar muito bem marcações agressivas mano-a-mano com coberturas em zona. Nesta jogada, Edelman (camisa #11) vem para perto da formação, trazendo consigo o cornerback, o que dá a pinta que a marcação será individual. Só que não era bem assim. O cornerback que fica na frente de Edelman está em uma cobertura pattern match (aparentemente), sendo que ele é responsável pelo flat na primeira leitura – não vai ninguém para lá e ele volta a correr atrás de Edelman. Já Robert Alford vai marcar as hashs para impedir qualquer slant e Keanu Neal vira o robber para cobrir Alford. A jogada muito bem desenhada confunde até mesmo Tom Brady e exemplifica o quanto esta defesa estava jogando muito.

O início da virada passou por ajustes

Foi depois do 28 a 3 que Bill Belichick mostrou realmente como a sua comissão técnica consegue ajustes impossíveis de se pensar. Na realidade eles começaram saindo do vestiário, mas foi depois dos 25 pontos de vantagem que New England os demonstrou em campo.

Os Patriots se ajustaram ao redor de duas vantagens que obtiveram pela história da partida: os cornerbacks de Atlanta cansaram e foram menos agressivos no segundo tempo e a explosão ofensiva acabou subindo à cabeça de Kyle Shanahan – vamos falar por partes.

A defesa focou em seu front four

A explosão ofensiva do adversário fez mal para Shanahan durante a partida. Talvez por empolgação, inexperiência ou uma combinação linear das duas, ele simplesmente quis acabar com o jogo o mais rápido possível – grande erro, equivalente no xadrez ao que se chama de “xeque do pastor”. Óbvio que quem joga para não perder vai se complicar, porém é preciso ser esperto quando se enfrenta Bill Belichick. Shanahan resolveu que queria matar o jogo rápido e chamou apenas cinco corridas depois da vantagem de 25 pontos – mesmo correndo tão bem no primeiro tempo.

Belichick aproveitou que os Falcons, inexplicavelmente, abandonaram a corrida e apostou em stuntsblitzes e pressão ao máximo. Não havendo jogo terrestre para cansar a defesa patriota e nem para pegá-la de calças curtas com os stunts, a casa caiu para Atlanta. Se os Falcons queriam ser explosivos, eles precisariam aguentar um pass rusher que tinha muita vontade. Além disso, este time soube se aproveitar de cada detalhe da partida, como quando Tevin Coleman saiu machucado e Devonta Freeman teve que bloquear na terceira descida. O que o técnico principal fez? Obviamente mandou um blitz que obrigasse Freeman a pensar quem bloquear – resultando em um fumble custoso de Matt Ryan.

O resultado, além dos 28 a 20, foi que na segunda para 11 depois da recepção absurda de Julio Jones o ataque quis dar uma atenção especial para o lado esquerdo – que Freeman estava posicionado:

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Sem confiar em seu running back no bloqueio, o right tackle tem que ter atenção especial para o #93 Jabaal Sheard, que sai na marcação de Freeman e tira uma leitura de Ryan. Sem o tackle ajudando (e perdido em campo), o stunt (ironicamente) funciona perfeitamente: Trey Flowers (o #98) vai atacar o center Alex Mack, que está limitado por lesão, tendo vantagem e conseguindo um sack primordial. Foi uma jogada construída com o tempo, minando o ataque, jogando na confiança de Kyle Shanahan.

Mesmo não conseguindo parar este ataque de jeito nenhum, Belichick achou uma forma de usar a agressividade adversária ao seu favor e fez o necessário para dar a chance de Tom Brady fazer história.

Somente um jogador na história conseguiria arquitetar esta virada: Tom Brady

De nada adianta a defesa conseguir tais feitos sem o ataque corresponder em campo. O plano de Josh McDaniels para o segundo tempo foi perfeito: abrir as formações, apostar em James White (que poderia ter sido o MVP, de acordo com Brady) para ser o mismatch no campo inteiro e, principalmente, jogar a bola no alvo grande – Malcolm Mitchell:

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Foi nas terceiras descidas que Mitchell apareceu de vez. A aposta em um cara mais físico (contra uma secundária mais baixa) fazendo rotas rápidas pela lateral e aproveitando o melhor de Brady – a sua precisão. Para atacar o cover 1 nada melhor do que rotas rápidas, fugindo do meio de campo ao máximo. Com Mitchell dominando tanto Jalen Collins quanto C.J. Goodwin em momentos críticos da partida:

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Este ataque conseguiu abrir o seu playbook e explorar todas as suas armas. Agora Ricardo Allen (que jogou no meio do campo durante quase toda a partida) tinha que se preocupar com as laterais muito mais – e ele não tem todo este range. O resultado é que, além de abrir espaço para James White, Brady começou a abrir espaço no seam com Martellus Bennett:

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Foi assim que New England chegou ao empate e abriu o campo na prorrogação. O adversário não tinha mais condições emocionais e físicas para aguentar o tranco. O cover 3 foi destruído, com Ricardo Allen perdido em campo e a agressividade defensiva perdida. Era questão de tempo para Tom Brady acabar com o jogo e levantar o caneco.

Este jogo não provou somente o quão brilhante é Tom Brady; Bill Belichick também fez milagre

Contra um ataque hiper talentoso e um esquema defensivo que estava dificultando encaixar seu plano de jogo, Bill Belichick e sua comissão técnica fizeram as mudanças chaves para colocar os Patriots nos eixos com o intuito de buscar o quinto título.

Não foi isso, é claro: Tom Brady jogou muito, soube abraçar as mudanças. Sai os passes pelo meio ou laterais (de cinco a 10 jardas) para Amendola e Edelman e entra as rotas pela lateral de 11 a 20 jardas para Mitchell, com James White participando ativamente e abrindo espaço para todo mundo. Foi reformulando o ataque e reencaixando as peças que os Patriots destruíram todo o esquema tático de Atlanta no final do jogo. Somente esta dupla seria capaz de fazer tal ajuste, em um jogo tão importante, e sair com uma vitória épica como esta. Seja vendo ao vivo ou pela câmera All 22, não tem como não se impressionar com o nível apresentado por New England no último domingo.

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