Análise tática: Como o calouro Evan Engram pode diminuir o número de interceptações de Eli Manning

Durante os dias (semanas, meses…) que antecedem o draft da NFL, todos tentamos adivinhar quem serão os escolhidos pelas equipes nos três dias decisivos. Ao estudar as necessidades de cada time, vamos montando nossos mock drafts, nos colocando no lugar dos General Managers. Claro que é um esforço divertido mas, na vida real, não temos muito como saber quais são os reais planos de cada equipe. Até porque, além das necessidades mais claras, muitas vezes as equipes se utilizam das escolhas no draft para buscar algo novo: alguma ferramenta que (em teoria) não se encaixa bem no todo mas que pode ser a peça definitiva na montagem de um time campeão.

Agora que o draft já passou há mais de um mês, os calouros não-draftados já assinaram seus contratos e, além disso, boa parte dos times já tiveram seu “mini camp de calouros” (período do primeiro contato dos jogadores que estão chegando à NFL com seus técnicos), podemos começar a tentar decifrar algumas escolhas que causaram estranheza. Na primeira rodada do draft, poucas escolhas chamaram mais à atenção do que a seleção de Evan Engram pelo New York Giants (na vigésima terceira posição). Além de dúvidas quanto ao valor de Engram naquele ponto do round – ele era cotado como segunda rodada e atrás de David Njoku como segundo tight end – muitos questionamentos têm sido feitos quanto à adequação do jogador à equipe, principalmente considerando as outras necessidades do time.

Hoje o Pro Football traz uma visão geral sobre o lugar de Evan Engram no elenco dos Giants. Para isso, vamos discutir algumas questões sobre estratégia ofensiva da equipe e sobre as características do jogador. Dentro do processo, talvez cheguemos a alguma conclusão sobre o motivo dos Giants terem “aberto mão” de suprir determinadas necessidades no draft.

Vamos lá então…

Evan Engram, Recebedor de Slot

“Ele é tight end, seu burro!”

Esta frase não está correta. Ao menos a parte da posição de Evan Engram. O novo jogador do New York Giants é oficialmente listado como tight end, mas tudo em sua carreira universitária sugere algo diferente. Com 1,90m de estatura, 106 kg de peso e dotado de grande velocidade (4,42s no tiro de 40 jardas no combine), Engram tem pouca estrutura física para atuar como um tight end de linha, com grandes responsabilidades de bloqueio. Sua velocidade o faz um bom prospecto para jogar como tight endflex“, capaz de se alinhar no slot e na extremidade do campo (basicamente um recebedor “fortinho”).

Em Nova York, no entanto, o slot deve ser o local preferencial de alinhamento de Engram. Como veremos mais à frente, o uso de Evan Engram como recebedor de slot torna possível aquele que parece ser o plano ofensivo dos Giants para 2017. O que ainda é incerto é se Engram será capaz de executar todas as rotas esperadas de um recebedor. Mas isso só a temporada dirá…

Giants: elenco e “necessidades”

Quando falamos sobre a equipe do New York Giants, vale lembrar que estamos falando de um time que foi longe na temporada 2016 da NFL. Com mais uma vaga nos playoffs, os Giants se mantêm como uma franquia sempre presente entre o grupo dos principais favoritos a chegar perto do Super Bowl. Muito disso se deve ao forte ataque aéreo da equipe, liderado pelo veterano quarterback Eli Manning. Com recebedores de qualidade como Odell Beckham Jr e Sterling Shepard, Manning se utiliza de passes rápidos para distribuir bem a bola.

Em 2016, no entanto, outro fator dificultou um melhor desempenho do ataque dos Giants. A linha ofensiva fraca muitas vezes deixou Eli Manning em apuros e, além disso, contribuiu para resultados ruins no jogo terrestre, mesmo com a boa temporada do running back calouro Paul Perkins. Já desde o final da temporada passada parecia claro que reforçar a linha ofensiva seria o passo mais importante para o ataque dos Giants.

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Depois da free agency essa impressão se reforçou ainda mais. A equipe trouxe o veterano wide receiver Brandon Marshall e o H-back (híbrido de full back e tight end) Rhett Ellison, aumentando o número de opções no jogo aéreo. A linha ofensiva, no entanto, seguia contando com Ereck Flowers e DJ Fluker como tackles.  Será que a primeira rodada do draft traria o reforço necessário para a linha ofensiva?

Já sabemos que não.

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O Plano Ofensivo dos Giants

Então vem a pergunta: que raios os Giants pretendem ao acrescentar mais uma opção de recebedor sem reforçar a linha ofensiva?

É claro que estamos no campo da suposição, mas esta escolha pode significar que a equipe não pretende que os seus bloqueadores precisem segurar os defensores por muito tempo. Com diversas opções de recebedores espalhados pelo campo, todos com qualidade para se livrar da cobertura inicial, o quarterback pode se livrar da bola rapidamente, antes da pressão chegar. Quando se junta isso ao fato de que o quarterback em questão é um jogador experiente como Eli Manning, a conta começa a fechar.

Além disso, sob um ponto de vista filosófico, podemos dizer que os Giants estão adotando a velha estratégia do “se não pode vencê-los, junte-se a eles”. Em um futebol universitário dominado por sistemas ofensivos spread, com recebedores espalhados por toda a extensão do campo, quarterback no shotgun e passes sempre muito rápidos, o desenvolvimento técnico de prospectos de linha ofensiva mudou muito. Os tackles, particularmente, são treinados para terem velocidade nos pés e força para o “punch” inicial (primeiro contato com o defensor). Por outro lado, menos importância é dada para a proteção prolongada do pocket (afinal, a bola vai embora rapidinho…).

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Já há tempos temos falado sobre o impacto desde processo no desempenho dos jogadores de linha em sua chegada à NFL. Um alto número desses atletas acaba tendo dificuldades de adaptação à liga, muitas vezes não conseguindo nem se manter a titularidade em suas equipes. Podemos citar exemplos recentes, como Luke Joeckel, Greg Robinson e, claro, os tackles dos Giants, Fluker e Flowers.

Talvez, para minimizar (ou até mesmo anular) este problema, o técnico Ben McAdoo e seus auxiliares tenham optado por mudar um pouco o foco do sistema ofensivo. Deslocando-se um pouco de sua base (a West Coast Offense) e trazendo para o ataque dos Giants alguns dos conceitos dos sistemas spread, McAdoo pode diminuir não apenas a pressão sobre seus tackles, mas também o número de pancadas em seu já veterano quarterback.

Pode funcionar?

Pior que pode. Com o corpo de recebedores composto por Odell Beckham, Brandon Marshall, Sterling Shepard e Evan Engram, os Giants podem ter sucesso utilizando variações do esquema de rotas four verts (quatro rotas verticais, nas extremidades e no slot). Este esquema (base do sistema Air Raid, uma das variantes mais comuns de spread offense) se beneficia muito da presença de um recebedor de slot forte e veloz, capaz de dominar a rota seam (cortando o meio do campo verticalmente). Aí entra o mais novo New York Giant, Evan Engram.

É claro que, mesmo que nossa hipótese sobre o plano da equipe esteja certa, os Giants não vão virar um time de Air Raid. Com a esperada evolução do running back Paul Perkins em seu segundo ano na liga, além do “velho de guerra” Eli Manning, a base da West Coast Offense deve ser mantida. Aliás, os Giants têm ferramentas propícias à adaptação ao velho esquema criado por Bill Walsh. Sterling Shepard, particularmente, traz características que se adequam bem ao sistema, com movimentos rápidos no meio do tráfego da defesa.

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Além disso, por tabela Engram ajuda bastante como um “cover 2 buster“. Explicamos; Com a fraqueza do jogo terrestre dos Giants, os adversários se davam ao luxo de jogar frequentemente com dois safeties em profundidade. Mais passes, dois safeties olhando para Eli… Mais interceptações. Por tabela, o uso de Engram pode aproveitar os espaços entre os dois safeties e entre marcações em zona pelos linebackers. Isso com certeza deve fazer com que as defesas adversárias fiquem mais honestas, podendo diminuir o número de interceptações de Manning na próxima temporada.

Ainda assim, é possível que os Giants se beneficiem deste novo aspecto do ataque. A equipe, nos últimos dois anos, investiu pesado em reforços, certamente tentando aproveitar as últimas temporadas do veterano Eli Manning. Para não deixar a… digamos… incerta linha ofensiva da equipe estragar os planos, talvez a solução seja mesmo diminuir a responsabilidade dos tackles e guards. Quem sabe já agora nos treinamentos de intertemporada poderemos ver de que forma os Giants vão utilizar suas novas armas ofensivas.

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