Para você que não acompanhou as notícias da NFL em janeiro, os Chargers se mudaram de San Diego para Los Angeles e já jogarão lá em 2017

Para o dono dos Chargers, o amor é ao dinheiro – e que se dane o fã

É nítido que existe um sequestro por parte de Dean Spanos e da organização outrora conhecida como San Diego Chargers. Spanos pressionou a cidade – ou melhor, os contribuintes – a ajudarem na construção de um estádio no sul da Califórnia. Eles votaram e disseram não. Isso não quer dizer que o povo de San Diego não queria os Chargers na cidade. Engana-se quem pensa assim. Só quer dizer que os contribuintes não querem dar dinheiro a um homem cujos ativos valem 2,4 bilhões de dólares. E não há problema nenhum nisso.




Não para mim, mas para Spanos há. Tirando para ele próprio – e mesmo assim, ainda tenho minhas dúvidas – todos perdem com a NFL tendo duas franquias em Los Angeles e nenhuma em San Diego. Primeiro que, por mais que haja proximidade, são mercados consumidores distintos. A própria liga e os outros donos de franquias já disseram, inúmeras vezes, que o ideal seriam quatro mercados consumidores no Estado mais populoso dos EUA (San Diego, Los Angeles, Oakland, San Francisco). Nesta toada, com os Chargers indo para Los Angeles e possivelmente com os Raiders saindo de Oakland para Las Vegas/Sei lá para onde, a tendência é que haja apenas dois mercados (San Francisco/Los Angeles) e o segundo dividido por duas franquias. É óbvio que para a liga e para os demais donos, não é legal.

Spanos e a diretoria dos Chargers tentaram por praticamente duas décadas que houvesse a construção de um novo estádio na região de San Diego. O sinal mais claro de que o Qualcomm Stadium ficara obsoleto é que o último Super Bowl lá jogado fora o XXXVII, em 2003. E San Diego é mais do que uma ótima região para o Super Bowl – vide a quantidade de bowl games que lá são sediados.

Nesses 15 anos, Spanos viu os 49ers com um estádio novo. No outro limite, os Cowboys com o estádio mais impressionante da liga. Viu o seu time ter a melhor campanha da NFL em 2006 e cair ante os Patriots. No ano seguinte, viu praticamente a mesma coisa, com os Patriots novamente tirando os Chargers dos Playoffs. Viu, nesta década, os Broncos vencendo o Super Bowl e a AFC West inteira se reforçando, com San Diego – que está longe de ser o pior time da AFC – ficando em último lugar no oeste da Conferência Americana por dois anos seguidos.

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A última batalha perdida pela ownership foi em novembro, nas eleições americanas. Como expliquei neste texto, além de votar para o Congresso e para presidente, os americanos podem votar em várias outras coisas que são colocadas na cédula. Em Massachusetts, por exemplo, votaram pela legalização da maconha com uso recreativo. E em San Diego, o resultado do sufrágio foi um sonoro NÃO para a criação de taxas cuja destinação eram a de subsidiar um novo estádio. Spanos conseguiu 43% de apoio numa votação na qual precisava de dois terços de votos SIM.

Toda essa tentativa dos Chargers de conseguiu um estádio em San Diego pareceu minguada e, por incrível que pareça, no todo a saída da franquia é pior do que a encomenda. Ao menos num curto prazo. Primeiro, os Chargers vão jogar por dois anos num estádio para apenas 30 mil pessoas. Segundo, duvido muito que quem mora em San Diego (majoritariamente falando) vai ignorar essa facada nas costas. Até porque não é a primeira vez que ela acontece. Os Clippers saíram de San Diego em 1984 e foram bater a bola laranja em Los Angeles.


“RODAPE"

Terceiro porque, por maior que a população de Los Angeles seja, não se compara ao histórico de Nova York. Sim, a Big Apple tem pelo menos dois times de “tudo”: MLB, NHL, NFL e NBA. Mas a maior parte deles está lá há décadas. Não é como se alguns tivessem chegado do nada. Mesmo os Nets, que eram New Jersey e viraram Brooklin, já estavam na região. Os Mets são dos anos 60 – idem para os Jets. O caso de Los Angeles é sui generis.

Os Rams têm história na região, o que ajuda. Mas no caso de um fã jovem até 25 anos, ele sequer lembra que os Rams estiveram um dia lá. No caso dos Chargers, que jogaram sua temporada inaugural em 1960 na cidade dos anjos, tampouco deve haver alguém que lembra. Sim: há pessoas que moravam em Los Angeles que já torciam para os Chargers. Mas no todo, essa identificação era menor do que havia com Rams e Raiders, que lá estiveram até 1995 (no caso do primeiro, lá estão novamente). Dois times teoricamente “novos” e vindo de temporadas com mais derrotas do que vitórias, dividindo mercado com Ducks, Kings, Angels, Dodgers, Clippers, Lakers, USC e UCLA. Este é o panorama em Los Angeles.

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Spanos não está se importando se o fã de San Diego está chateado ou não. A família Spanos é dona dos Chargers desde 1984. O dinheiro veio através da firma de construção civil de Alex Spanos, a A.G. Spanos Companies – especializada em apartamentos e empreendimentos comerciais. Tal qual sua família fez fortuna com a construção civil, Dean quer saber de lucro e o lucro em Los Angeles, no longo prazo, pode ser maior. O novo estádio – City of Champions – terá inúmeras oportunidades de monetização. No final das contas, os fãs não pagaram o sequestro de Spanos e ele arrumou as malas para onde o lucro vai ser maior.

Quem sofre com isso? O próprio fã. Com a divisão de cotas de televisão sendo em partes iguais para as 32 franquias da NFL, é virtualmente impossível que uma franquia dê prejuízo. De toda forma, Spanos lucrará bem menos em ingressos, dada a capacidade menor do StubHub em 2017 e 2018. Spanos deixará de ganhar dinheiro com venda de memorabilia, dado que ainda não há uma fan base forte em LA. Spanos terá que pagar uma gorda taxa de realocação. Quem paga essa conta? O fã. Não espere que os Chargers gastem dinheiro na free agency, porque tio Spanos vai ter que economizar.

Spanos fala em “ser líder da comunidade em Los Angeles”, mas o que ele fez com San Diego é o contrário. É a boa e velha chantagem. Esta, indubitavelmente, é a parte triste da NFL. Não sou cego a ponto de achar que tudo é lindo e perfeito na liga – por mais que o esporte seja o amor da minha vida. Para alguns, como Spanos, não há amor ou lealdade maior do que aquela ao dinheiro. E que se dane o fã. Que pena.

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