Análise Tática: As magias de Tom Brady e Aaron Rodgers

[dropcap size=big]O[/dropcap] cotidiano nos faz perder a percepção de belos momentos, isso é fato. Não notamos que na frente dos nossos olhos acontecem fatos históricos, coisas simples do dia a dia são feitas automaticamente e pessoas que gostamos não tem o devido valor devido a correria do dia-a-dia.

Só entendemos ou damos valor muito tempo depois, e ficamos com aquele amargo na boca de quem poderia ter aproveitado melhor o momento.

No futebol americano não é diferente. Muitas vezes a história está acontecendo e não percebemos, preferindo sempre estar atrás da novidade, do próximo lance, etc. Mas quando algo ou alguém que gostamos muito sai de cena, sentimos.

Tive essa experiência pouco mais de três anos atrás, quando Peyton Manning se aposentou. Claro que era a hora e ele deixar a carreira logo após vencer um Super Bowl pelo meu time do coração foi muito legal. Mas eu era tão acostumado a vê-lo todo domingo, seja por Colts ou Broncos, que no primeiro ano foi como se tivesse perdido um amigo. Faltava alguém de voz esganiçada gritando “Omaha”, gesticulando como um louco na linha de scrimmage e queimando defesas domingo após domingo. Faltava um Manning x Brady, toda rivalidade e discussão de quem era melhor.

[dropcap size=big]N[/dropcap]este domingo, pela semana 9 da NFL, teremos New England Patriots x Green Bay Packers. Mais que isso, teremos Tom Brady contra Aaron Rodgers. O segundo e talvez o último. Brady se aproxima do fim da carreira, com já 41 anos e os times jogam em conferências diferentes, o que diminui o número de confrontos.

Pois bem, sabem os momentos que deixamos passar sem notar? Não deixe nesse domingo. Tratam-se de dois quarterbacks que estão no topo da posição em todos os tempos (não vou ranquear, pois acho muito subjetivo) e são sensacionais. Muitas vezes esquecemos disso, pensando em jogadores muito menos relevantes. Neste domingo a noite meu conselho é: apenas relaxe e aprecie sem moderação.

Pra situar melhor de como são dois jogadores sensacionais, separei algumas jogadas desta temporada para mostrar na análise tática habitual.

Uma coisa que torna os dois tão mágicos é a capacidade que ambos tem de manipular o oponente. O futebol americano nada mais que um grande jogo de enganação:eu faço você acreditar que vou fazer X e na hora faço Y, facilitando minha vida e complicando a sua. E o mais importante, Brady e Rodgers fazem essa manipulação e sua leitura com extrema velocidade e simplicidade.

Um pouco da maestria de Aaron Rodgers

Começamos com Rodgers, enfrentando os Redskins. Os Packers estão numa formação empty (sem ninguém no backfield junto de Rodgers). São dois wide receivers em cada lado, com o tight end também na direita.

Os Redskins mostram um cover 4, com os dois cornerbacks preocupados com o fundo do campo nas laterais e os safeties com o meio, além de cuidarem do espaço mais curto nas costas dos linebackers (a post zone). Green Bay roda um conceito espelhado de rotas, com as duplas de wide receivers de ambos os lados executando as mesmas rotas.

Logo que a jogada começa, Rodgers olha para o slot da direita, que corre uma rota flat; o safety entende ter identificado o conceito com o recebedor mais aberto correndo uma rota slant e com isso avança para post zone.

Com isso, ele seria efetivo contra a slant e ainda poderia ajudar contra a flat. O problema é que Rodgers apenas o fez morder a isca e em vez de uma slant, Geronimo Allison está correndo uma sluggo. Essa rota começa como uma slant e se transforma numa go, em direção ao fundo do campo.



“STEELERS"
Rodgers nem pensa duas vezes, mandando a bola para um touchdown longo. Parece fácil? Peça para Case Keenum executar e verá que não é não.

Brady também faz parecer simples. Essa é a virtude dos grandes gênios.

Já na red zone contra os Colts, o time coloca três recebedores na direita e apenas uma na esquerda, com o running back James White no backfield também a esquerda de seu quarterback.

Os Colts estão defendendo em zona e mandam apenas quatro homens atrás de Brady. A grande isca desse conceito está proximidade de rotas de Edelman (slot) e Gronkowski (tight end). Edelman faz a parada de sua rota muito próximo a Gronk, que segue para end zone. Isso é o suficiente para todos linebackers se moverem para direita.

Brady sabia disso desde antes do snap e está claro que ele não quer lançar a bola ali. Quando ele vira o corpo para esquerda já sabe que James White está livre numa rota angle em cima da linha de uma jarda, num passe que vira touchdown.

Outro ponto em que ambos são sensacionais é em colocar a bola em um ponto que somente seu recebedor possa pegar, mesmo contra coberturas boas.

Contra os Texans, logo na primeira semana, os Patriots estão na linha de 21 do campo de ataque e se alinham com dois recebedores abertos em cada lado (formação twins) e o running back James White novamente a esquerda de Brady no backfield.

O detalhe é que o wide receiver mais aberto na esquerda é o tight end Rob Gronkowski, numa clara tentativa de criar um matchup favorável aos Patriots. O linebacker Zach Cunningham é quem alinha em sua marcação e com certeza Brady identifica essa vantagem.



“STEELERS"
Os Texans também estão atentos e logo que Gronk começa a correr uma rota deep, o safety Kareem Jackson fecha para fazer a dobra. Brady sabe que seu tight end é mais rápido que seu marcador inicial e mais forte que o jogador que veio para fazer a dobra.

Porém, ele também sabe que perdeu a bola no ponto futuro, pois Jackson estará lá. Com muita inteligência, ele lança um back shoulder throw, com a bola ficando atrás de Gronkwoski. Com isso, ele explora a maior velocidade em relação a Cunningham para conseguir o movimento para recepção e a força, já que Gronk usa o corpo para proteger a bola de Jackson.

É um passe de alta complexidade, pois exige um tempo muito preciso; quando o recebedor se vira a bola tem que estar chegando. É exatamente isso que acontece, com a bola entre os números de Gronkowski, que ainda cai na end zone para mais um touchdown. Simplesmente sublime.

Por outro ângulo, para melhor visualização do timing e sincronia. Que obra de arte.

Que tal fazer isso com seu time perdendo por sete pontos, dentro dos dois minutos finais? Rodgers mostra como.

Contra os 49ers, os Packers precisam tirar a diferença de um touchdown e estão numa terceira para seis jardas na linha de 16 do campo de ataque e já dentro do two minute warning. O time esta numa formação twins, com o running back no lado direito do quarterback. San Francisco mostra blitz, colocando sete homens na na linha, mas mandando apenas cinco para criar pressão pela direita de Rodgers.

Isso objetiva fazer o quarterback a se mover para o lado oposto e lançar contra seu movimento natural do corpo. Pena para os 49ers é quando se enfrenta alguém do calibre do camisa 12 de Green Bay isso é muito pouco.

Ele percebe rapidamente que o safety da esquerda morde a rota seam do slot Marques Valdez-Scantling, deixando o Davante Adams mano a mano na lateral contra o cornerback Greg Mabin, que está preocupado com a end zone.

Um movimento fingindo parar na linha de first down dá miníma separação para o recebedor e é suficiente; lançando ainda se movendo e sem a base adequada, Rodgers manda uma bola perfeita encobrindo o cornerback para touchdown. Precisão cirúrgica para empatar o jogo e manter seu time vivo.

No detalhe, como ele não chega em nenhum momento a plantar os pés, o que torna muito mais complexo ter precisão.

Eu poderia separar aqui mais 1000 jogadas de cada um deles. Seria tão fácil e prazeroso escrever sobre ambos, sua inteligência e capacidade técnica. Sobre como são vencedores e fabulosos toda semana na NFL. Prefiro deixar apenas uma amostra. Aproveitemos o momento: dois dos maiores quarterbacks de todos os tempos se enfrentam neste domingo. É novamente a história sendo escrito em nossa frente: aprecie o momento, pois sentirá falta depois.

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