Análise Tática: Dak Prescott não é só fruto de sua linha e de Zeke

Posso queimar a língua e pode ser que Dak Prescott tenha uma regressão forte para a próxima temporada. Nem ao céu, nem ao inferno: não estou falando que ele é o melhor quarterback da NFL e tampouco que é o melhor entre aqueles draftados desde 2014 – Derek Carr tem um latifúndio em meu coração nesse sentido. O grande ponto é que, por ser um cara menos badalado ao entrar na NFL, Dak Prescott ainda sofre algumas críticas que não vejo fazerem sentido. Se Carson Wentz ou Jared Goff tivessem a temporada que Dak teve no ano passado, será que não estaríamos falando mais sobre o assunto?

Claro: como dito, ele pode apresentar certa regressão em 2017. Seria até o normal, para falar a verdade – quarterbacks com grandes anos como calouros costumam passar pelo chamado “sophomore slump“, termo em inglês que designa a queda de produtividade no segundo ano. Cam Newton passou por isso em 2012 (e de certa forma em 2016, ano posterior à temporada de MVP), Tom Brady também em 2002 – considero 2001 praticamente o ano de calouro de Brady, vide quão cru ele estava em 2000 e 2001 sendo de fato seu primeiro ano como titular. São vários motivos que explicam essa queda de produtividade, mas entre eles certamente está o fato de que os coordenadores defensivos adversários terão uma intertemporada inteira para estudar a fita desse quarterback prodígio. Não era por acaso que os adversários da NFC West foram os primeiros a conseguirem anular a pistolfest de Colin Kaepernick: aqueles eram os que mais devem ter estudado o ex-quarterback dos 49ers.

Feita essa ressalva, vamos ao contexto através da câmera All 22. Ou melhor: vamos mostrar que Dak Prescott não foi apenas produto de sua excelente linha ofensiva ou produto de um jogo terrestre forte. Até aí, Matt Schaub tinha um ótimo jogo corrido em Houston e era interceptado a rodo. O copo muitas vezes estava meio cheio: mas foi ele quem o transbordou. Nesse sentido, o aproveitamento de Dak em play action é um bom argumento. 24% dos passes de Dak Prescott foram em play action – segunda maior marca da NFL. Nestes, obteve 75% de aproveitamento – melhor marca da liga em play action – e o segundo melhor rating dentre os quarterbacks em passes após o fake para o running back.

Aliás, é engraçado como a maior falha no jogo de Prescott como quarterback universitário acabou sendo sua maior virtude como profissional. Quando líder em Mississippi State, o camisa 4 segurava DEMAIS a bola. Com uma linha ofensiva que não era tão eficiente e com os vorazes pass rushers da SEC, fica difícil. Erros naturalmente aconteceriam. Já com a linha de Dallas…

Os gifs são via GamePass, que o Felipe posta na conta dele no Twitter – para quem gosta de análise tática, vira e mexe ele posta várias coisas bacana sobre o assunto. Neste primeiro gif, podemos ver como Dak se posta no pocket fazendo a análise da defesa, sentido o pass rush e, mais importante: fazendo progressão de recebedores.

Acabei de falar sobre o assunto num post de Análise Tática, mas voltemos: Em resumo, cada jogada aérea tem um recebedor principal, um secundário, terciário e assim por diante. Há quarterbacks que conseguem fazer essa progressão e outros que não conseguem. No college, é bem difícil que haja mais do que 10 que efetivamente fazem progressão. Há muitos deles cujos técnicos pedem para que a progressão seja de “metade” do campo, inclusive.

Nesta jogada, Dak encontra um recebedor aberto na quarta leitura – coisa que muitos quarterbacks da NFL não fazem. Claro: a linha ajuda! Mas quem faz a leitura? Quem foi até a quarta progressão? A linha não faz isso sozinho.

O gif na sequência mostra muito sobre a temporada de Prescott. Eu cheguei a mencionar sobre o assunto em algumas partidas que comentei dos Cowboys: não era comum aquilo. É raríssimo ver quarterbacks calouros chegando na linha e mudando a jogada após a leitura pré-snap (o chamado audible). Dak fez isso múltiplas vezes – e se o fez, é porque Jason Garrett, técnico dos Cowboys e ex-quarterback na NFL, confiava no calouro para tanto.

A legenda que o Felipe colocou é auto-explicativa, mas ponto é que Prescott consegue fazer leitura dos safeties e processar o que aconteceu antes daquele ponto. Há um safety de Washington marcando em zona no meio do campo e pelo movimento de quadril dos cornerbacks, tudo indica que eles também marcação em zona – com efeito, uma rota diagonal que passe por essas zonas (a slant) seria a ideal para combater a marcação de Washington. Dak percebeu isso antes da jogada, mudou aquela que foi originalmente chamada pela comissão técnica e a terceira descida longa foi convertida.

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O ano de 2017 é chave para Dak Prescott nesse sentido. Os coordenadores defensivos da NFC East vão contra-atacar. O ataque de Dallas, por tendência, pode ser menos efetivo? Sim, claro, é o retrospecto. Mas, ao mesmo tempo, quem foi campeão em 2013? Russell Wilson, um segundanista.

Em resumo, Dak mostrou pontos importantes e intangíveis que são desejáveis para um quarterback: leitura, postura no pocket e poucos erros. Como o Felipe em um tweet seguinte descreveu, ele não carregou Dallas nas costas: mas cometeu poucos erros. Isso é (muito) importante para um quarterback jovem que está ganhando confiança. O futuro de Prescott ainda é uma incógnita: mas o presente parece promissor.

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