Você já deve ter ouvido algumas vezes o clichê “nem sempre o que o jogador faz no college football se traduz para NFL”. Apesar de ser um jargão usado desde os primórdios, muitas equipes ainda caem no conto do vigário e por vezes se apaixonam pelo sucesso universitário. Isso se torna ainda mais problemático quando o escolhido é um quarterback: uma seleção ruim no Draft pode atrasar uma franquia por anos, fazendo com que um bom time não atinja os objetivos e seja obrigado a uma reformulação.
Um erro dos mais comuns é acabar selecionando o jogador por conta da universidade de onde ele vem. Bons treinadores, um time forte ao seu redor e muito hype elevam números e dão chances de quarterbacks limitados parecerem melhores do que são. Quando chegam ao nível profissional, onde todas as equipes têm atletas de elite, o caldo entorna e não conseguem repetir o sucesso. Separei 5 nomes que fizeram sucesso no college football, mas que não tinham bala na agulha para repetir isso na NFL e sumiram.
Nota do redator: Tim Tebow não está aqui citado porque o Curti já o usou como exemplo nesse brilhante texto publicado nesta semana.
Johnny Manziel
Ética de trabalho é fundamental em qualquer posição, mas para quarterback é ainda mais vital: estudar formações e tendências dos oponentes, dominar todo o playbook, controlar o relógio nos ataques de 2 minutos e muito mais fazem com que a dedicação seja constante para a função. Selecionar um conhecido festeiro, que gostava já na universidade de dividir seu tempo entre os agitos nas casas das fraternidades e os treinos, não parecem a decisão mais inteligente.
Vale lembrar que se o Cleveland Browns merecesse um troféu na década passada, seria o de “franquia que tomou decisões estúpidas com maior frequência”. Uma delas foi escolher Johnny Manziel na 22° escolha geral do Draft de 2014, empolgada pelas pirotecnias feitas em Texas A&M nos anos anteriores. Com um sucesso fruto de improviso em campo, o desfecho na NFL era óbvio, mas os Browns ignoraram. Manziel entrou numa onda de festas, drogas e álcool que culminou no seu corte antes da temporada de 2016. Sua carreira na NFL foi finalizada com incríveis 7 touchdowns e 7 interceptações.
Jimmy Clausen
Após fazer sucesso jogando pela tradicional Notre Dame, Clausen foi selecionado na 16° escolha da segunda rodada de 2010 pelo Carolina Panthers, sendo considerado uma barganha. Após liderar um ataque que tinha como destaque o wide receiver Golden Tate, ele viu o hype ao seu redor explodir. O renomado analista de draft Mel Kiper chegou a declarar que se Clausen não fosse um sucesso na liga em oito anos, ele se aposentaria.
Tal qual a dieta na segunda-feira, Kiper segue na ativa. Já o quarterback teve vida curta: quatro anos em Carolina, sem nunca ser o titular, passagens apagadas por Chicago Bears e Baltimore Ravens e saída da NFL em 2015 para nunca mais voltar. Mais uma prova que usar um capacete dourado não transforma ninguém em Joe Montana.
Christian Hackenberg
Lembro bem de parte da imprensa americana falando como se o New York Jets tivesse conseguido um grande valor ao selecionar Christian Hackenberg na 19° escolha do segundo round em 2016. Bastava voltar aos vídeos de seus jogos em Penn State para notar que seu processamento mental era lento para NFL e sua precisão terrível. Esteve no elenco por dois anos e terminou sua carreira sem nenhum passe lançado: isso fala mais sobre a escolha que qualquer coisa que eu possa escrever.
Cristian Ponder
Apenas 23 anos, já com MBA e sendo elogiado pela sua liderança: é tudo que se precisa para se tornar um executivo de sucesso em alguma companhia. Infelizmente, para se tornar quarterback na NFL é preciso também ter braço minimamente capaz de lançar em profundidade, ser bom atleta e ter coragem. Christian Ponder seria um ótimo gerente de projetos, mas no tape de seus tempos de Florida State já dava para perceber que não teria sucesso como profissional.
O desespero por garantir o futuro fez com que o Minnesota Vikings ignorassem os indícios e selecionasse Ponder na 12° escolha geral do Draft de 2011. Após ele roubar a vaga de titular de Donovan McNabb, – que se aposentou após isso – fez alguns jogos medianos, mas nada que justificasse sua escolha. Perdeu a posição já em 2013, jogando ocasionalmente por questões de lesões e em 2014 saiu da franquia sem deixar saudades.
E.J. Manuel
A seca de playoffs fez estragos no Buffalo Bills e um deles foi selecionar E.J. Manuel na 16°escolha do Draft de 2013. Braço forte, liderança, boa ética de trabalho, jogando numa conferência forte e vencendo algumas partidas importante por Florida State: foi suficiente para os Bills esqueceram seus problemas lendo as defesas, seu pânico contra a pressão e as inúmeras decisões ruins tomadas. Já em sua segunda temporada, virou reserva de Kyle Orton e nunca mais recuperou a titularidade. Deixou a NFL em 2019 após passar muito tempo como um reserva que ninguém lembra.








