Tony DiRienzo: o brasileiro bicampeão do College e Draftado pelos Chargers em 1976

Acima a história recontada em 2019, pelo o que eu me lembrava dela, em vídeo. Abaixo, o texto original de 2016.

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Uma das coisas mais legais da internet é que ela é um poço sem fim de informação, praticamente como se estivéssemos perseguindo um coelho branco. Pois bem, meu coelho branco nesses dias era sobre essa história do “primeiro brasileiro” a ter algum sucesso ou algo do gênero no Futebol Americano. Os nomes você já conhece – Damian Vaughn, Cairo Santos, Maikon Bonani e Breno Giacomini – todos que, de “alguma forma” podem ter relações com o Brasil, seja sendo filho de brasileiros, nascendo aqui e indo para os EUA quando criança ou qualquer coisa do gênero. Pois bem: todas as histórias datam pelo menos da década de 1990.

Mas aquilo não era o suficiente para mim. Na minha concepção, mesmo o Brasil sendo um país teoricamente do resto do mundo até a abertura comercial ao início da década de 1990, haveria de ter algum brasileiro anterior aos que hoje todos conhecemos. De uma forma ou de outra, sempre houve jovens brasileiros fazendo intercâmbio pelo mundo. Isso acontece em nosso país desde antes que ele se torna de fato um Estado soberano – a Inconfidência Mineira, por exemplo, foi alimentada ideologicamente por jovens que iam estudar na Europa. Ok. E por que não um brasileiro que foi estudar nos Estados Unidos e acabou virando jogador de futebol americano?

Houve alguns (muitos) alarmes falsos, sobretudo de homônimos. Até que eu encontrei, ironia do destino, um cara que tem o mesmo nome que eu. Ou quase. E o mais irônico: ele tem quase o mesmo sobrenome de André Rienzo, um dos brasileiros que teve passarem na Major League Baseball.

Mas como um brasileiro foi jogar futebol americano na década de 1970?!

Estava pesquisando para outra matéria, aqui para o Pro Football, no acervo da Folha de São Paulo. Trabalho bastante exaustivo e manual mesmo. De repente me veio o click de ir na mais antiga menção ao futebol americano. Pela lógica, seria virtualmente impossível que houvesse um skill player – ou seja, um wide receiver, um running back – brasileiro nos EUA. Teria de ser um kicker. Mais um pouco de pesquisa me levo finalmente ao meu santo graal.

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A primeira coisa, então, que encontrei sobre Antonio Hélio DiRienzo – cujo nome foi “trocado” nos Estados Unidos para Tony DiRienzo e o nome do meio, omitido – foi uma matéria na Folha de São Paulo, datada de 17 de fevereiro de 1975. Dali, ampliei a pesquisa. Mas por que demoramos tanto para descobrir essa história? Bom, os três países que mais receberam italianos foram os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina. Naturalmente, achar um brasileiro com sobrenome italiano e  “Tony” de apelido seria muito mais difícil do que um sobrenome português. Talvez este seja o principal motivo pelo qual a história de DiRienzo ficou tantos anos sem ser contada.

Decidi ir mais longe. Eu já sabia que Tony esteve nos Estados Unidos, mas queria saber como ele foi parar lá. Para tanto, procurei

Feito isto, precisava saber como DiRienzo chegara no futebol americano. A fonte, agora, era a revista The Rotarian, revista essa que era interna aos associados do Rotary Club.

O Rotary é uma organização com “franquias” em vários países. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos, a bem da verdade, cujo escopo é filantrópico. Um dos programas mais bem sucedidos da Rotary International é justamente o intercâmbio. “É uma oportunidade para os jovens estudarem no exterior, onde podem passar de algumas semanas a um ano inteiro como estudantes internacionais recebidos pelos Rotary Clubs locais”, relata o site da entidade.

DiRienzo chegou com 17 anos aos Estados Unidos ao início da década de 1970 como um desses jovens em intercâmbio de um ano. Antonio, ou melhor, Tony, teve primeiros meses bastante difíceis – falava muito pouco inglês. Mas acabou tendo a sorte de encontrar uma família que lhe acolheu praticamente como um filho, os Adkins. DiRienzo foi o primeiro brasileiro a ser recebido em Ardmore, Oklahoma, pelo Rotary local. “Nós achamos que era um bom momento para receber um jovem depois de só ter recebido meninas”, disse ao The Rotarian de janeiro de 1977 o patriarca da família Adkins. “O currículo de Tony mostrava que ele estava interessado em esportes, ele tinha sido capitão no time de futebol no Brasil… Graças a isso o clube achou que ele seria o mais apto”.

Num dia de março de 1971, treinando atletismo no time de sua escola, Tony estava mostrando aos colegas suas habilidades com uma bola de futebol. Vendo a potência em sua perna, alguém sugeriu que ele tentasse entrar no time de futebol americano da escola, como chutador. Ele tentou e já estava acertando chutes de 35 jardas – o que, não se engane, para um garoto de ensino médio é muita coisa. Em seu primeiro jogo, ele chutou um de 42 jardas. E ele era decisivo: teve um chute vencedor de uma partida e empatou outras duas com suas pernas, ao final do tempo regulamentar. Naquele ano, ele foi campeão com a escola de Ardmore.

Aquilo foi o suficiente para que o maior programa universitário do Estado, Oklahoma Sooners, descobrisse seus talentos. DiRienzo recebeu uma oferta de bolsa de estudos. Ao invés de voltar para o Brasil, ele continuou sua estadia com os Adkins e nos Estados Unidos. DiRienzo faria Administração na Universidade de Oklahoma, além de ser seu kicker.

DiRienzo é o primeiro e único brasileiro campeão nacional do College Football – duas vezes

Tony ficou na reserva em seu ano de calouro, mas em seu segundo ano conquistou o público amante dos Sooners. Em seu primeiro chute, 60 jardas. Uma a menos que o record da NCAA na época e o que se mantém até hoje como o field goal mais longo já chutado por um jogador de Oklahoma. Na época, foi também o record da conferência Big 8 (que viraria Big 12 anos depois). Ele também foi All-Big 8, a seleção dos melhores jogadores da Conferência. “Lá as coisas não são fáceis, os treinos são duros e os horários rigidamente divididos entre estudos e treinos”, disse o pai de Tony à Folha em reportagem de 1975.

Um dos diferenciais de DiRienzo era que ele chutava a bola com a “chapa” do pé. Até então, poucos kickers nos Estados Unidos adotavam essa prática – notoriamente Pete Gogolak, por exemplo, campeão invicto da NFL com os Dolphins em 1972. A maioria chutava de “bicuda” (em inglês o termo é straight on), como nesta foto de Mark Moseley. “Não sei como ele chuta a bola, deve ser algo de seus jogadores de futebol em seu país”, disse Jack Baer, técnico de DiRienzo no colegial, ao Oklahoma Daily.

Os maiores feitos de DiRienzo como kicker dos Sooners ainda estavam por vir. Ele ainda detém a quarta melhor porcentagem de field goals acertados na história do programa. Mas, mais do que isso, o grande trunfo de DiRienzo foi o chute da vitória que praticamente garantiu a temporada invicta dos Sooners em 1974.

Nesta temporada, em 2015-2016, a única derrota de Oklahoma na temporada regular foi contra Texas, na Red River Rivalry – anualmente jogada no Cotton Bowl, entre Sooners e Texas Longhorns. Não foi o caso em 1974 com Tony; Seu chute garantiu a vitória de 16-13 naquele ano, o que possibilitou a temporada perfeita de 11-0 (e, consequentemente, o título nacional). “O barulho não me incomodava, mas o silêncio me deixava nervoso”, disse Tony ao The Rotarian.

Não é nenhum absurdo dizer que DiRienzo teve papel decisivo nos dois títulos de Oklahoma: 1974 e 1975. Em ambos, seu treinador era o lendário Barry Switzer, que acabara de assumir o comando do programa. Switzer talvez seja mais conhecido do público por ter vencido o Super Bowl XXX com o Dallas Cowboys – ele, Jimmy Johnson e Pete Carroll são os únicos técnicos campeões no College e na NFL.

Foto do time de Oklahoma Sooners campeão do College Football (pela poll da Associated Press) em 1974, com campanha 11-0. DiRienzo está destacado pela seta amarela, com a camisa 3.
Foto do time de Oklahoma Sooners campeão do College Football (pela poll da Associated Press) em 1974, com campanha 11-0. DiRienzo está destacado pela seta amarela, com a camisa

Tony é o primeiro e único brasileiro já draftado na NFL

Depois de terminar sua elegibilidade nos dois títulos de Oklahoma, DiRienzo teria de escolher se iria se profissionalizar ou não. Ele não esteve num elenco de temporada regular – esse trunfo ainda pertence apenas a Cairo Santos – mas igualou ao feito de Maikon Bonani, estando no elenco de pré-temporada (training camp) do time.

Mas DiRienzo tem algo único na curta, porém cada vez maior, história de brasileiros na NFL. Ele é o único brasileiro draftado por uma franquia da NFL. Nem Bonani e nem Cairo o foram – dado que atualmente são apenas sete rodadas no draft. Em 1976, com regras bem mais restritas de free agency, eram 17 rodadas.

Na oitava rodada e escolha 212 (equivalente hoje, com 32 franquias, ao final da sexta rodada), Tony DiRienzo foi escolhido pelo San Diego Chargers. Como dito, ele até chegou a estar no elenco mais “inflado” de pré-temporada, mas não chegou a estar no time de temporada regular. O kicker austríaco Toni Fritsch era recém chegado do Dallas Cowboys e acabou ficando com a posição.

DiRienzo voltou para Oklahoma depois disso, para terminar seus estudos em Administração. Nos últimos dias, tentamos exaustivamente tentar achar Tony para uma conversa.

Infelizmente isso não foi possível. Primeiro, falamos com um um jornalista americano, Murray Evans, que nos foi bastante educado. Evans havia feito uma matéria com DiRienzo e sua filha, Tai, em 1999. Ela jogava o esporte que seu pai praticava quando criança, o futebol. Murray me disse que não tinha pego nenhum contato de Tony, dado que a entrevista foi feita no campo de treinamento da filha (e obviamente que fazia muito tempo).

O próximo passo foi entrar em contato com o Departamento Atlético da Universidade de Oklahoma. Nos Estados Unidos há um trato muito sério quanto aos antigos alunos, e provavelmente haveria um contato de DiRienzo por lá. Muito gentilmente, eles nos cederam os contatos de Tony (e-mail e telefone). Mais uma vez acabou não dando certo, dado que o e-mail retornou e o telefone, após ligarmos algumas vezes, chamava e ninguém atendia.

Obviamente continuaremos a tentar falar com ele para uma entrevista. Tentar entender o que aconteceu com os Chargers, como foi sua vida depois disso, o porquê dele ter permanecido nos Estados Unidos. Isso tudo faz 40 anos e só hoje estamos desenterrando essa história. Tony tem 61 anos hoje, não tem facebooktwitter e nem nada disso tudo. Não nos procurou para tomar glórias como “o primeiro brasileiro” a fazer sucesso nos Estados Unidos como jogador de futebol americano.

Aliás, isso de primeiro, segundo, terceiro e quarto é apenas um rótulo. O grande ponto, o que realmente importa, são as histórias de superação. Tony não falava inglês de modo prolífico mesmo quando estava já na faculdade e mesmo assim passou por cima de todas as dificuldades – como todos nós temos na vida. Por ironia do destino, seu segundo nome, Hélio, significa Sol em grego. Antônio Hélio viu sua história ir para a noite, para 40 anos depois renascer aqui no Brasil.

É impossível não dizer que ele não foi bem sucedido em suas caminhadas. Por isso, achamos por bem mostrar essa história fantástica de um brasileiro, como eu e você, que foi campeão duas vezes no College e chegou até a ser draftado. Que ele seja o primeiro de muitos. Na verdade, já é.



***

Atualização: Encontramos Tony DiRienzo e fizemos uma entrevista com ele. Você pode ler ela na íntegra clicando aqui ou abaixo:

Não foi possível no início – mas graças à internet, descobrimos o nome de sua filha e entramos em contato com ela pelo Facebook. Acabamos entrando em contato e ligando para ele pelo Skype nos estúdios da Central 3, onde gravávamos nosso podcast em 2016. Gravamos a entrevista com ele – em inglês, já que, depois de tanto tempo nos Estados Unidos, DiRienzo não fala mais português com total fluência – assim, seria mais fácil fazê-la em inglês.

Com a camisa #3, DiRienzo na foto oficial do Oklahoma Sooners de 1974, campeão nacional do College Football.
Com a camisa #3, DiRienzo na foto oficial do Oklahoma Sooners de 1974, campeão nacional do College Football.

Pro Football – Você foi treinado pelo lendário Barry Switzer e ganhou dois títulos nacionais universitários em Oklahoma. Como foi esta experiência como um todo?

Tony DiRienzo – É incrível porque, sendo do Brasil, eu não fazia a menor ideia sobre o quão sério, importante e competitivo é o futebol americano universitário aqui (nos Estados Unidos). No estado de Oklahoma não temos um time profissional de futebol americano, então os Sooners são considerados o “time profissional” daqui. Os torcedores, o estádio, a tradição, a escola, são coisas grandiosas e eu não fazia a menor ideia que seria assim. Vim pra cá como estudante de intercâmbio através do Rotary Club e nunca havia visto um jogo de futebol americano ou sequer uma bola oval. Então, jogando apenas em meu ano final de high school, tive uma performance boa o suficiente para receber uma oferta de bolsa de praticamente todas universidades do país.

Eu queria ir para UCLA, meus pais queriam que eu fosse para Notre Dame, por ser católica, e as pessoas de Oklahoma queriam que eu estudasse em OU, então acabei fazendo isso, mas não fazia ideia do quão grande isso seria. Quanto a jogar com o coach Switzer, ele não foi meu treinador em ano de calouro, que foi Chuck Fairbanks, que nos deixou para treinar o New England Patriots, ou algo assim. Então, o coach Switzer assumiu o cargo e ele tinha mais a característica de “players coach“, ele era muito amigável e se dava muito bem com todos. Ele era um cara que acreditava que a gente poderia fazer qualquer coisa e ganhamos muito. Eu apenas perdi um jogo em toda minha carreira em OU, fomos 37-1 quando eu entrei em campo. Trinta e sete vitórias e apenas uma derrota.

Pro Football – Você foi para os Estados Unidos sem ser fluente em inglês. Como era a comunicação com seus treinadores e saber quando chutar, quando entrar em campo e etc.? Como você conseguiu atingir o que conseguiu e chutar bolas de mais de 60 jardas sob essas circunstâncias?

Tony DiRienzo – Eu falava um pouco de inglês nessa época. O meu período no high school foi o mais complicado. Eu tinha 16 anos de idade, vim em janeiro — verão no Brasil e inverno aqui —, para Oklahoma, sem fazer a menor ideia de onde se localizava, e não falava nada de inglês. A escola tentou me ajudar, me colocando em aulas de espanhol, matemática, geometria, contabilidade, enfim, lidando com números, que são universais.

Então, demorou cerca de dois ou três meses para que eu me acostumasse com o inglês e, certo dia, eu acordei e falava inglês. Portanto, quando a temporada começou em meados de agosto, eu já estava mais familiarizado com inglês. Já o problema que eu tive em OU foi ser o primeiro chutador “soccer style”, estilo de chute com o peito do pé, ao invés de com “dedão”. E todos livros e dados disponíveis na época eram sobre chutes de “bicuda”. Não foi só sorte, eu era um bom jogador de futebol no Brasil, eu tinha provavelmente a perna mais forte de São Paulo, ela sempre foi forte. Tive que aprender a dar mais direção na bola e o resto foi história. A parte mais difícil foi aprender as regras de quando chutar e o quê chutar. No futebol se chuta abaixo da trave, no futebol americano se chuta acima dela, sabe? O mais difícil foi aprender sozinho, porque ninguém fazia as coisas daquele jeito, tive de ser autodidata.

Pro Football – Você teve uma carreira extremamente vitoriosa nos Sooners, sendo campeão nacional por duas vezes. No final das contas, qual é a mais doce lembrança que você tem de seu período jogando em Oklahoma? Seria seu game-winner contra Texas?

Tony DiRienzo – É, o chute contra Texas foi o mais importante, por ter nos mantido invictos e eventualmente ganhado o campeonato nacional. No entanto o que eu tenho mais orgulho é o de 60 jardas por ter sido o primeiro jogador em Oklahoma a acertar um chute dessa distância e não bati o recorde (do College Football) da época por apenas uma jarda.

O que a maioria das pessoas não sabem é que aquele foi o primeiro chute que eu dei em OU. Eu tinha chutado a distâncias muito grandes nos treinos, mas o time estava preparado para chutar o punt, ou o coordenador ofensivo ou algo do tipo, pelo menos, até que o coach Switzer decidiu que eu deveria tentar o field goal para não dar uma chance de retorno ao outro time. Então, pedimos um tempo e eu fui lá e acertei, mas os outros jogadores não tentavam chutes dessa distância.



Pro Football – Sendo jogador de futebol americano, imaginamos que você era uma figura importante, socialmente falando, em Norman – onde fica a Universidade de Oklahoma. É verdade que você gozou de um certo status de celebridade no campus?

Tony DiRienzo – Bem, eu era um dos jogadores mais populares do time, não pela minha posição. Na época, o kicker não tinha grande importância, até porque nosso time e ataque eram tão bom que eu raramente chutava field goals, era muito mais requisitado para extra points.

Mas os motivos de eu me destacar eram, primeiro, que eu era o primeiro chutador soccer style e o primeiro da história com bolsa completa para ser um especialista. Fui o primeiro com bolsa para ser exclusivamente chutador. Segundo que eu tinha meu sotaque brasileiro, eu tinha cabelo longo e um estilo brasileiro, eu tinha um bom bronzeado sempre, era diferente dos outros garotos. Eu andava pelo campus usando rabo-de-cavalo, enfim, era diferente.

Pro Football – Uma das partes mais interessantes sobre sua história é que você foi o primeiro (e até agora, único) brasileiro a ser draftado pela NFL. Na ocasião, você foi selecionado pelo San Diego Chargers na oitava rodada do draft de 1976. Mas não existem mais tantos dados sobre como foi sua carreira de jogador depois disso. O que acabou acontecendo?

Tony DiRienzo – Bem, jogar no College e profissionalmente são experiências totalmente diferentes. Primeiro porque, como eu disse, em Oklahoma eu só perdi um jogo e San Diego não era um time muito bom. Eu fui de fato selecionado e na época havia 19 rodadas no draft, sendo selecionado na oitava rodada, algo muito raro para kickers. Então, a oitava rodada era uma boa posição para mim.

Quando cheguei em San Diego, sei lá, eu amei a cidade, mas não me dei tão bem quanto eu esperava com os treinadores. Eu fiquei lá por menos de um mês, eu simplesmente não estava com o coração investido na coisa. Então eu simplesmente saí, voltei para Norman e completei meu diploma de administração. Então, nos próximos anos recebi ligações com interesse de vários outros times. Pittsburgh me ligou, Green Bay me ligou. Fui para vários training camps, joguei em partidas de pré-temporada, mas nunca gostei tanto da coisa. Minha esposa estava cansada de tantas viagens e queria se estabelecer de vez em um lugar, talvez até voltar par o Brasil e ajudar o meu pai. Com o tempo fui perdendo o interesse, então simplesmente larguei.

Pro Football – Você chegou a disputar alguma partida de temporada regular ou apenas pré-temporada e training camps?

Tony DiRienzo – Apenas pré-temporada e training camps.

Pro Football – Algo fascinante na sua história reside no anonimato que você tinha no Brasil até recentemente mesmo sendo um pioneiro do esporte para o Brasil, talvez por usar o nome Tony e não Antônio, ainda mais com feitos como um chute de 60 jardas, algo completamente incomum para chutadores universitários…

Tony DiRienzo – Bem, eu também sou o único kicker da história de OU a acertar cinco ou mais chutes para mais de 50 jardas. Eu tive cinco destes. Em um jogo, contra Kansas State, no meu último ano, eu acertei dos chutes para mais de 50. Eu tenho o chute mais longo, que é o de 60, e o terceiro mais longo, para 56 jardas.

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Pro Football – Você inclusive esteve no time All-Big-8, como melhor kicker da conferência, correto?

Tony DiRienzo – Exato.

Pro Football – Como é e foi sua vida pós-futebol americano? Estabelecendo-se em Oklahoma, completando seus diplomas, sua família?

Tony DiRienzo – Tenho duas filhas e um filho, e vamos ao Brasil todo ano para ver minha família. Tenho familiares em São Paulo, Rio, Sorocaba, Mogi das Cruzes, todos irmão e irmãs. O que ocorreu foi que voltei para Norman para poder pegar meu diploma e minha esposa precisava de um novo carro. Então ela foi para uma concessionária, e nessa época eu estava em um training camp. Ela foi para a concessionária, pegou um carro e levou para casa. Quando eu retornei, perguntei se ela havia pago e ela respondeu que não, que eles sabiam quem eu era e quando voltasse do camp iria lá e acertaria tudo.

Então eu disse “isso é muito dinheiro, Carol”, fui na concessionária e disse que não queria aquele carro, queria algo diferente, maior, então eles me ofereceram um emprego. Então perguntei por que deveria vender carros e eles disseram que “tinha um nome forte em Norman, todos te conhecem, você tem uma ótima personalidade, seria fácil, as pessoas gostam de você e estar com você, então poderia fazer muito dinheiro com isso”. Então eu entrei para o ramo. Isso foi em janeiro de 1980 e estou no mercado de carros desde então.

Pro Football – Então, você foi para treinamentos com Pittsburgh, San Diego e Green Bay, correto?

Tony DiRienzo – Bem, fui selecionado por San Diego. Em 1977, treinei com Pittsburgh, em 1978, com New England, e, em 1979, com o Green Bay Packers. Bart Starr era o técnico em Green Bay quando eu estava lá, e é de certo modo interessante que o [Cairo] Santos está jogando por Kansas City porque este era meu time favorito. Eles tinham um kicker chamado Jan Stenerud, da Suécia, o primeiro chutador soccer style a jogar por eles. Ele usava uma camisa vermelha, como eu em OU, e ambos usávamos o número 3. Ele era meu herói.

Então, quando fui para Green Bay, o Bart Starr falou “Tony, venha para o nosso camp, acho que você consegue entrar para o time, te vimos chutar, você está chutando bem, assinaremos um contrato”. Quando cheguei ao camp, o Jan Stenerud estava lá e eu me perguntava o que ele estava fazendo lá, porque achava que ele tinha se aposentado e ele acabou ficando com a vaga ao invés de mim. Apenas porque ele tinha nome, quer dizer, eu era dez anos mais jovem que ele, chutava a bola umas belas 30 jardas mais longe que ele e eu era bem jovem, mas os treinadores decidiram por ele por conta de experiência e todos conhecerem o nome dele. E ninguém conhecia o Tony D — era assim que me chamavam, Tony D.

Pro Football – Para fechar, o futebol americano é um dos esportes que mais cresce no Brasil. Temos o Cairo, cerca de um milhão de pessoas assistiu cada uma das finais de Conferência de 2016. Que mensagem você daria para jogadores brasileiros do esporte e, principalmente, para os fãs, impressionados com a sua história, porque percebe-se que você tem grande paixão pelo país.

Tony DiRienzo – Estou aqui nos Estados Unidos há 40 anos, então sou americano-brasileiro, mas o jogo de futebol americano é interessante porque, no futebol, por exemplo, pode ter um jogador, como um Neymar ou Ronaldo, que em uma jogada individual pode marcar. No futebol americano, todos onze jogadores são necessários para uma jogada funcionar. O que eu amo nesse jogo é esse trabalho em equipe, todos são necessários, especialmente no ataque. Se você erra sua tarefa ou perde um bloqueio, seu running back não vai a lugar nenhum. Se o quarterback lança a bola e o recebedor corre a rota errada, ele não vai pegar a bola.

Então, todos onze jogadores são necessários para a jogada funcionar e é isso que eu amo nele. É todo esse conceito de time. Eu convivi com os mesmos 75 caras por quatro anos em OU e nos tornamos uma família, entre treinadores e jogadores e eles sempre estarão em meu coração. A única questão é que, diferentemente do futebol, é necessário um conjunto de equipamentos muito maior. Mas conforme o povo brasileiro for entrando em contato com ele, vão se apaixonar, porque é muito emocionante. Eu joguei um pouco como wide receiverdefensive back. Eu comecei a malhar por ser um cara menor e para fortalecer minha perna, e no meu ano final em OU eu era um dos jogadores mais fortes do time, mesmo sendo kicker.



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