Crônica, Curti: O operário de Pittsburgh

Deveria escrever mais crônicas, porque elas são o que vale a pena ser dito. Era o expediente de Nelson Rodrigues, o maior do gênero quando o assunto é esporte e um dos grandes do Brasil quando o assunto é teatro.

Como todo prego que se destaca é martelado – algo assim a expressão, confesso que tenho meus momentos de Chapolin nos quais me perco nos ditados – diziam que ele não entendia nada de futebol. Falavam isso porque alguma coisa ha de se criticar e porque ele não versava taticamente sobre o jogo. Suas crônicas, numa época em que os jogos não estavam todos em streamings, links piratas, pay-per-view, premier premium league game pass, eram os olhos do leitor.

Andei relendo algumas. Para me inspirar de alguma forma, pra lembrar do que era realmente importante. Cheguei à conclusão de que ninguém talvez entendesse mais do que ele sobre o esporte. Porque ele percebeu que o esporte é mais do que tática e técnica, mas amor entre as partes. Jogador, time e torcedor.

Não que eu vá abandonar o estudo tático e de estatísticas avançadas. Mas eu abandonei o outro lado. Vinha pintando uma foto preto-e-branca para o leitor. Fria. Sem sal. Com números e sem a paixão que é o combustível de assistir ao jogo.

Segunda de madrugada senti um frio na barriga que fazia um tempo que não sentia. Chicago virou o jogo e Ben Roethlisberger, no alto do que deve ser seu último ano na liga, tinha a bola.

Já vi esse filme várias vezes. A defesa dos Bears estava cansada, desfalcada e fora de casa. Pensei: a experiência de Ben vai contar. Errei. A raça dele foi o que contou mais.

Há muito digo que ele, embora seja certeza de Hall da Fama, não é mais o mesmo e que está entre alguns dos menos produtivos quarterbacks da liga. Mas às vezes coração fala mais do que produção. Raça fala mais do que tática. Foi assim naquela campanha.

Os Bears perderam, a arbitragem da NFL mais uma vez foi uma zona, mas eu dormi estranhamente feliz. Fiquei feliz porque vi algo humano em campo. Roethlisberger tinha todos os motivos do mundo para aposentar e poucos motivos para correr com a bola naquela jogada. Não foi o suficiente para matar o jogo, que acabaria com um chute impossível de Cairo. Mas foi o suficiente para que eu o respeitasse ainda mais depois daquela corrida.

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