Crônica: O último dia naquele campo

Gotas de suor nutriram aquele gramado por inúmeras oportunidades. Dizem que o atleta morre duas vezes: quando se aposenta e quando, de fato, deixa nosso mundo. Talvez você não conheça Eric Gallo. Talvez nunca conhecerá. Talvez nunca verá ele jogando na NFL. Ele não se importa.

Gallo é center em Virginia Tech, uma das gratas surpresas do college football nesta temporada. Dentre os centers cotados para serem draftados – numa posição que, por  si, não é nada sexy para os olheiros de NFL [note] Jogar de center na NFL não é nada fácil. Muitos times optam por draftar guards e desenvolvê-los para que, quando houver a experiência necessária para ser o líder da linha, ele assumir a titularidade [/note] – ele passa meio longe de ter uma chance de ouvir seu nome chamado em abril do mês que vem.

A cada tique do relógio, a cada snap, a última gota de suor derramada naquele campo vem chegando. Até por conta disso a foto faz sentido: a relação dele com aquele campo é mais do que seus pés fincando na terra para proteger o quarterback. O futebol americano é cruel nesse sentido: são 130 times no primeiro nível do college. 70 jogadores em cada um. Faça as contas de quantos têm a oportunidade de continuar a carreira. É. Poucos.

Ele, provavelmente, sabe que não poderá. Neste final de semana, teve seu último jogo em casa. Por estar no último ano de elegibilidade (senior), o Senior Day é ainda mais especial. Mesmo para os que forem para a NFL, é o último dia de um grande ciclo. O último dia de ouvir seus amigos torcendo por você.

Virginia Tech tomou a liderança no último quarto contra Pittsburgh. Seis pontos na frente, Pitt ainda tinha chances no final: primeira para goal. Segunda para goal. Terceira, quarta… Nada. Os Hookies seguraram a vitória. Quem maneira de selar uma vitória, um ciclo.

Três anos como titular, após praticamente 18 partidas, Eric Gallo não quis ir embora. Não quis que aquele momento acabasse. Se ele pudesse, tentaria se mesclar, se misturar com a grama e a tinta e ficar ali para sempre. De certa forma, todos nós passamos por isso em nossas vidas também. Quantos de nós não queríamos passar mais tempo na escola? Numa casa? Num dia em especial? Mas o cronômetro é implacável. Gallo queria poder bloquear o tempo como bloqueou tantos defensores em sua vida.

Não pode, a vida segue. E aquele seria seu último dia no campo.

Gostou desta Crônica? Escrevi um livro com várias delas e você pode encontrá-lo na Amazon, Saraiva e na loja de nosso site. É o “Crônicas do Futebol Americano”, com todas que escrevi desde 2014 para contar um outro lado, mais humano e rico, do esporte. 

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“RODAPE"

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