Primeira Leitura: A novela da Franchise Tag com Von Miller

Sexta-Feira, 15 de julho, 5 da tarde (horário de Brasília). Eis o prazo para que as equipes que colocaram a franchise tag em seus jogadores tenham assinado um contrato de longo prazo com os atletas. Caso não o façam, esses jogadores estarão sujeitos a apenas um contrato de um ano e voltarão ao mercado no ano que vem – e não podem receber novamente a tag exclusiva. Pior: o contrato não pode ser estendido após todos os jogos da temporada regular da dada franquia já terem acontecido.

O relógio está tickando para algumas franquias e o prazo é definido. Broncos, Bears, Chiefs, Ravens, Jets e Rams têm de se mexer nesta semana para assinar com importantes jogadores de seus elencos. Antes de falarmos de outros como Mo Wilkerson ou Alshon Jeffery, porém, temos que falar do mais importante desses atletas “presos na etiqueta”.

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O Denver Broncos está longe de ter um franchise quarterback em Mark Sanchez. Mas do outro lado da bola tem um franchise defender e um dos melhores atletas da NFL em Von Miller. edge recebeu a tag nesta intertemporada. Com ela, não “chegou” ao mercado e se vê “preso”. Num contexto no qual um joão qualquer de um elenco da NBA está ganhando mais de 100 milhões de dólares garantidos – ao final da coluna falo sobre – é natural que Miller esteja *&%$#@*&*%$ da vida pelo fato de estar nesta situação.

É muito por isso tudo que o jogador mais valioso do Super Bowl 50 – e discutivelmente da pós-temporada do ano passado – disse à ESPN americana que não pretende jogar com contrato da tag. Para você que está confuso sobre isto tudo, recomendo a leitura deste meu texto antes de prosseguir (para entender o que raios é esse negócio de tag). Em resumo, Miller jogaria a temporada de 2016 com um contrato de um ano e 14.129 milhões de dólares.

Mas é aí que reside o problema. Ele disse que não quer jogar com esse contrato e, sinceramente, não dá para julgar. Muito pelo contrário. Só listando jogadores defensivos que ganhariam – sem contar os também tagados – mais do que ele em 2016, temos Calais Campbell (?!) com 15.250 M, Justin Houston com 19,1 M, Darrelle Revis com 17 M, Lawrence Timmons com 15,13 M (??????????!!!!!) e Marcell Dareus com 14,550 M.

A questão também não é só essa. A bomba e o paradigma estourou em Philadelphia com Fletcher Cox e o contrato assinado em 17 de junho. Como estamos falando de um contrato de média/longa duração, o que importa aqui é o dinheiro “médio” do contrato. E o paradigma de Cox – discutivelmente um jogador inferior a Miller, embora seja um grande atleta – foi estabelecido em 17,1 milhões de dólares. No ano passado, Ndamunkong Suh estabeleceu a maior marca de maior média salarial/ano para um não quarterback em 19,06 milhões. Em realidade, é mais ou menos o que foi já meio que acertado entre os Broncos e Miller: um contrato de seis anos, 114 milhões e média de 19.08 (maior do que a de Suh).


Agora chegamos aonde o problema está: o dinheiro garantido. E é aí que o paradigma de Cox aparece novamente para atormentar John Elway e a diretoria do Denver Broncos. Os Eagles concordaram em 63 milhões de dólares em dinheiro garantido para Fletcher – com efeito, os Broncos teriam que pensar em algo assim para Von Miller. Até porque ele fez por merecer.

Leia aqui todos os textos sobre a Franchise Tag em 2016

Miller vem sendo um dos mais consistentes jogadores defensivos desde que entrou na liga em 2011. É um dos quatro jogadores com pelo menos 200 tackles no período. São 50 sacks ao todo e 10 fumbles forçados. E ele quer ser pago por isso – para o azar de Denver, o contrato estoura justamente depois do maior jogo da carreira de Von. Amarrando as pontas então: Miller já disse que não vai jogar com contrato de tag e os Broncos precisam assinar até sexta ou então correm o risco de verem sua grande estrela defensiva “de greve” por 2016.

Dando um palpite embasado na situação atual e na importância de Miller para o pass rush de Denver – o qual, afinal, foi o eixo motor das vitórias na final da Conferência Americana e no Super Bowl 50 – acredito que deve haver contrato de longo prazo até quinta. O motivo é simples: você vem de um título e já há distrações demais no training camp quando você foi campeão no ano anterior. Mais uma distração como a eventual greve – a qual Miller jura que irá fazer pelo fato da tag ser “um problema” para a liga – seria bem complicado. Ademais, a outra “ponta” do 3-4 dos Broncos (DeMarcus Ware) não tem mais tanta lenha para queimar. Manter Von Miller, o epicentro da defesa do Colorado, é questão de urgência. Num cenário onde os Raiders e os Chiefs querem ameaçar na AFC West, mais urgência ainda.

A ESPN americana reportou ao início desta semana que houve conversas entre os dois lados e o grande ponto de interrogação reside em quanto dinheiro garantido haverá nesse salário e a forma pela qual ele será “injetado” na conta bancária de Miller. Na hora de assinar? Ou diluído ao longo dos anos? É o que os dois lados terão que conversar nos próximos dois dias.

O histórico de greves por conta da Franchise Tag

Von Miller disse nesta semana, como reportei acima, que de forma alguma pretende jogar com o contrato da tag. “Nunca joguei realmente por dinheiro”, disse. “É mais do que isso para mim, é um problema da liga inteira e eu sinto que estou numa situação de ajudar (os jogadores) com isso”, finalizou.

Lendo nas entrelinhas, Miller dá a entender que a franchise tag é um completo absurdo e que ele não se importaria em “ser um mártir” para que a situação mude num próximo acordo coletivo de trabalho (CBA) entre as franquias e o sindicato de jogadores (NFLPA). O grande ponto é que… Bem, isso já aconteceu algumas vezes.

Von Miller não seria o primeiro – e provavelmente não será o último – jogador a “sentar no banco” por conta de rejeitar o contrato de um ano da franchise tag. No ano passado mesmo, tivemos Jason Pierre-Paul. Isso ficou meio “nebuloso” muito porque Jason perdeu dedos da mão num acidente com fogos de artifício e acabou por perder qualquer poder de barganha numa negociação.


E é mais nebuloso na cabeça dos torcedores porque, de fato, o último jogador “saudável” a fazer greve por conta da tag foi o brilhante linha ofensiva Walter Jones (foto abaixo) em 2002 com o Seattle Seahawks. Que tal revermos, além de Jason Pierre-Paul, quem foram esses “mártires” da tag desde que ela foi introduzida em 1993?

2002 – OT – Walter Jones/Seahawks  – Primeira partida na temporada: Semana 3
2000 – DE – Simeon Rice/Cardinals – Primeira partida na temporada: Semana 2
1998 – DT – Dan Williams/Chiefs – Primeira partida na temporada: Não jogou.
1997 – DT – Sean Gilbert/Washington – Primeira partida na temporada: Não jogou.
1995 – OL – Lomas Brown/Lions – Primeira partida na temporada: Semana 2
1993 – OL – Paul Gruber/Buccaneers – Primeira partida na temporada: Semana 8

Notou algo? Nenhum jogador “skill player”, como running backs ou wide receivers. Tampouco um quarterback. Todos jogadores de trincheiras, costumeiramente esquecidos pela torcida e, consequentemente, com menos poder de barganha do que quem “toca na bola” normalmente teria. Miller não seria o primeiro jogador a ter de recorrer ao recurso da “greve” para ter mais barganha, portanto. Resta saber se a situação chega a esse ponto.

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Pensamento Aleatório da Semana

Uma pergunta e duas afirmações

Que tipo de planejamento está sendo feito nos Rams? Tá certo, eles perderam Janoris Jenkins para os Giants e ficaram meio que de mãos abanando no que tange à secundária. Mas pensa que planejamento esquisito: Trumaine tinha cash de 1,54 milhões no ano passado e agora saltou para 13,95 milhões. 1200% de valorização. Se Los Angeles não assinar um contrato de longa duração com ele, não será aquele desastre, mas é algo que me chamou a atenção.


Para Washington e Kirk Cousins, talvez a franchise tag seja a melhor opção mesmo. Sejamos coerentes: a melhor negociação é aquela na qual os dois lados saem ganhando. Neste caso a tag caiu como uma luva: o valor dela para o jogador (Cousins) é alto – 20 milhões de dólares – e o time pode ver mais uma temporada daquele no comando da unidade ofensiva.

Alshon Jeffery deve jogar a temporada de 2016 com a tag e isso é por um motivo apenas: suas lesões constantes. Jeffery é um jogador pra lá de talentoso e um dos 15 melhores wide receivers da liga. O problema vem sendo ficar saudável. Ele perdeu sete jogos na temporada passada e jogou outros tantos sem estar 100%. Fica difícil ter qualquer poder de barganha com isso – ainda mais porque Kevin White, escolha de primeira rodada dos Bears no ano passado, deve estrear finalmente neste ano.

Hello, Goodbye! O salário garantido na NBA e uma reflexão

Muita gente ficou assustada com a grana que jogadores “medianos” da NBA estão recebendo nesta free agency. Para se ter uma ideia, mais de setenta jogadores receberão mais dinheiro do que Stephen Curry – o MVP da temporada passada – em 2016-2017. Alguns atletas da NFL, não sem motivo, devem ter repensado suas escolhas caso fossem também jogadores de basquete no Ensino Médio.

Mas, sinceramente, é uma questão matemática. Antes da temporada 2016-2017 começa o novo contrato de TV da ESPN/TNT com a NBA – são 24 bilhões de dólares em nove anos.

Os elencos da NBA tem coisa de 14 jogadores para um teto salarial de 90 milhões de dólares – numa média tosca, 6 milhões para cada. Eles jogam 82 partidas numa temporada. 70 mil dólares por jogo.

Os elencos da NFL tem 53 jogadores num teto salarial de 160 milhões. Igualmente numa aritmética tosca (porque obviamente não teríamos todos os jogadores ganhando a mesma coisa em nenhum dos dois caso), 3 milhões por jogador. Mas são apenas 16 jogos de temporada regular. Logo, 188 mil dólares/jogo. Teoricamente, um jogador da NFL ganha, em média, mais do que um de basquete se pensarmos em partidas jogadas.

O que acaba espantando e torna as coisas mais práticas é a questão do dinheiro garantido. Na NFL os contratos não o são “automaticamente” e seria complicado fazer com que as franquias cedessem nesse ponto. As lesões que tiram jogadores de uma temporada são muito mais constantes no futebol americano se compararmos com o basquete ou o beisebol – esporte no qual elas são ainda menos constantes e são 162 jogos numa temporada regular. Isso é algo complicado de discutir e sinceramente não sei nem se vale a pena – a questão do contrato 100% garantido – porque pela própria natureza do esporte, é sonho pensar que as franquias cederiam na NFL.

Agora, um ponto para refletir – sobretudo para aqueles que dizem que os atletas estão ganhando muito: TODOS os donos de franquia, em TODOS os grandes esportes americanos – e isso inclui os comissários, cof cof, Goodell – estão ganhando muito mais do que os atletas e não estão sujeitos a lesões ou às incertezas de performance. Qualquer aumento nos tetos salariais – nas ligas onde ele existe – ainda seria, como o 7 a 1, pouco.

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