Afinal, por que o Draft é tão importante?

O mês de março e o mês de abril tornaram-se os meses em que mais se fala de Draft. Drafts Simulados para lá, scouts amadores para cá e muito texto tentando avaliar jogadores que ainda não jogaram um snap sequer na NFL. Futuros calouros são avaliados de todas as maneiras possíveis e dissecados pela grande maioria dos escritores esportivos. Esta atenção e esforço empregados são únicos e muitos leitores acabam ficando em dúvida: afinal, por que o Draft é tão importante? Por que tanto material sendo produzido e tantas pessoas opinando?

Apesar do Draft ser discutido apenas nesses meses pela maioria dos jornalistas, os times se preparam durante o ano inteiro para o período. Eles contratam olheiros que acompanham um grupo de universidades e reportam suas observações para outros olheiros que controlam a região – como se fossem supervisores. O general manager está em constante contato com os líderes das regiões. Os draft boards começam a ser montados com 200-300 jogadores e vão sendo reduzidos até ficar com 75-150 – depende muito da estratégia de cada franquia. Este processo de redução começa com o Combine e é perto deste período que os técnicos começam a se envolver no processo. Claro que o rito altera-se dentro das 32 diretorias, mas a intenção ainda permanece a mesma.

Confira mais sobre a cobertura do Draft de 2016.

Obviamente este trabalho extenso existe por um único motivo: é pelo Draft que se constrói o futuro. Nesta imensa loteria, acertar uma escolha de quarta, quinta ou sexta rodada pode fazer muita diferença no longo prazo – Richard Sherman na quinta rodada e Tom Brady na sexta são dois dos exemplos mais notórios. A Free Agency serve para cobrir buracos; o Draft serve para acumular talentos. Entender isso é essencial para entender o que significa o evento todo e o porquê da intensa cobertura. Você está olhando para o futuro da NFL.

A maioria das pessoas que emitem opiniões e fazem simulações partem de uma lógica muito simplista neste momento: se a posição X é a maior necessidade do momento, a franquia vai escolher o melhor jogador da posição X. Existem vários front offices que cometem este erro (e, coincidentemente, todo ano eles possuem escolhas altas), mas as franquias bem estabelecidas e vencedoras  seguem o caminho mais óbvio: escolher o jogador ranqueado mais alto em seu draft board – que foi montado considerando talento, posição, problemas e muitos outros fatores. E esta deveria ser a cobrança de todos os torcedores. Quer um exemplo? Com Victor Cruz sendo seu principal recebedor, poucos imaginariam que Odell Beckham Jr. seria escolhido pelo New York Giants. Na visão da diretoria de Nova York, contudo, Odell era um talento tão bom para o final das 10 primeiras escolhas do Draft que eles simplesmente não poderiam deixar passar. Mesmo que não fosse uma necessidade imediata do elenco. Deu certo? Acho que sim.

Escolher por necessidade quase sempre tem o mesmo resultado. Pergunte a Andy Reid e ao Draft do Philadelphia Eagles de 2011.

Lockout, perigo da NFL ter que encurtar o seu calendário e até mesmo a temporada não sair do papel. A intertemporada de 2011 foi extremamente conturbada devido às negociações entre a associação de atletas e a liga. O novo acordo entre as duas partes parecia ser difícil de sair, porém acabou dando certo. Só que uma coisa teve que ser alterada: o Draft foi antes da Free Agency. Foi a única vez na história recente que isso ocorreu e equipes desesperadas por uma campanha boa acabaram jogando no lixo seus draft boards e escolhendo essencialmente por necessidade. Em particular, Andy Reid cometeu este equívoco e o resultado foi desastroso.

Dos 11 selecionados pela equipe, apenas Jason Kelce, center escolhido na sexta rodada, vingou. Ele e Julian Vandervelde foram os únicos sobreviventes de um reach atrás do outro. Jaiquawn Jarrett, por exemplo, era esperado para sair na quarta ou quinta rodada e foi escolhido na segunda – tudo devido ao time não ter um safety de qualidade em campo. Quando se escolhe um jogador fora de seu range cria-se expectativas demasiadas e perde-se o valor das escolhas – e isto, normalmente, ocorre porque uma franquia quer forçar uma escolha. É preciso ser inteligente, como Ron Wolf e Ted Thompson (general managers de Green Bay nas últimas duas décadas e meia).

O importante do Draft é somar talentos, mesmo que seja com a intenção de lucrar posteriormente.

“O meu time está no modo vencedor, o quarterback está para se aposentar. A prioridade deve ser escolher alguém por necessidade!” Esta seria uma linha de raciocínio lógico… caso você só se importe com o próximo ano. Todos os general managers deveriam pensar no longo termo e, obviamente, sempre se manter ao seu board que demorou tanto tempo para montar. E não existe exemplo melhor do que o Green Bay Packers para provar que esta é a melhor estratégia a se adotar. Claro: às vezes esses general managers estão com a corda no pescoço e acabam draftando por necessidade, porque se essa necessidade não for corretamente preenchida eles serão mandados embora. Num mundo ideal, contudo – especialmente no primeiro e no segundo ano de “contrato” desse dado general manager, o correto é agir como os Packers.

A história que todos lembram é de Aaron Rodgers. Na pós temporada de 2004, o Green Bay Packers perdeu dentro de casa no Wild Card para seu rival de divisão (Minnesota Vikings) e a franquia parecia estar entrando em um modo vencer agora. Brett Favre parecia que jogaria mais dois ou três anos e seria muito bom um novo recebedor (Roddy White, wide receiver, e Heath Miller, tight end, ainda estavam disponíveis) ou quem sabe cobrir o gigantesco buraco na posição de cornerback escolhendo Marlin Jackson, por exemplo. Mesmo com Aaron Rodgers despencando (ele deveria ter sido escolhido já pelo Cleveland Browns no top 3!), não era a necessidade da época. Ted Thompson não se importou: escolheu o produto de Cal e o resto é história.

Para entender o futuro da NFL é preciso entender a capacidade daqueles que entram na liga.

O valor de uma escolha bem feita, embasada e bem pesquisada é fundamental para qualquer futuro. Não dá para ser que nem o Cleveland Browns, que joga todo um trabalho de 100 mil dólares no lixo e confia nos “instintos”. Não dá para não olhar uma posição devido a ela não ter urgência por reforços. É preciso avaliar o mérito do jogador e não, somente, o mérito do seu roster. É totalmente natural (e estratégico) colocar peso nas posições, assim garante-se que todos os elementos essenciais estão na conta.

Quando você sentar na sua cadeira para ver o Draft na quinta-feira, dia 28 de abril, lembre-se: você está vendo a história. Você está vendo a construção do futuro de sua franquia. O jeito é torcer que quem estiver no comando acabe tomando a escolha certa.

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