Draft 2016: possíveis “busts” da primeira rodada

Para quem vem acompanhando nossa cobertura do draft 2016, já está clara a dificuldade de prever como será a carreira de cada jogador selecionado. Ainda que as equipes tenham acesso a todos os jogos dos atletas no futebol universitário, muitas vezes é difícil saber como as características dos jogadores se transportarão para o jogo mais físico e rápido da NFL. Além disso, os prospectos são submetidos a testes físicos, de raciocínio e a entrevistas, que permitem às equipes acesso a mais aspectos específicos de cada jogador. Apesar disso, seguimos vendo anualmente diversas escolhas que se mostram falhas, com a seleção de jogadores que acabam não “vingando” na NFL. Veja aqui alguns dos maiores fracassos recentes em escolhas de primeira rodada.

Tão ruim quanto, as equipes deixam de selecionar atletas que podem mudar o destino de uma franquia. Só como exemplo, imagine se o Cleveland Browns, nos últimos anos, em vez de selecionar Trent Richardson, Barkevious Mingo, Justin Gilbert e Johnny Manziel, contasse hoje com Luke Kuechly, Sheldon Richardson, Odell Beckham Jr. e Derek Carr, todos jogadores escolhidos após a respectiva seleção dos Browns. Dá pra ver que, possivelmente, a equipe de Cleveland estaria em uma situação bem diferente da atual. É claro que analisar retrospectivamente é fácil. Não havia garantia que Kuechly, Richardson, Beckham e Carr seriam escolhas bem-sucedidas. Apesar disso, existem alguns sinais que, quando observados nos jogadores, sugerem um risco maior de fracasso na seleção.

Acompanhe mais da nossa cobertura do Draft de 2016.

Observando estas e outras características, podemos perceber alguns prospectos no draft de 2016 com risco considerável de se tornarem “busts“. Discutiremos a seguir alguns destes nomes, abordando as razões para este risco.  Certamente, quanto maior o investimento, maior o risco. Desta forma, optamos por ressaltar jogadores que provavelmente serão selecionados na primeira rodada do draft, ou seja, jogadores que, caso se demonstrem “busts“, trarão graves consequências para suas equipes. Vamos então a eles.

Carson Wentz – Quarterback – North Dakota State

Carson Wentz possui várias das características mais cobiçadas pelas equipes da NFL em um quarterback. Wentz é alto (1,95m), tem potência no braço e agilidade, tanto dentro do pocket quanto correndo com a bola. Muito provavelmente será selecionado pelo Philadelphia Eagles com a segunda escolha geral do draft 2016. Então, por que Wentz está nesta lista?

Porque, apesar das características já citadas, Wentz demonstra oscilação importante na precisão dos passes, principalmente nos intermediários (10 a 20 jardas). Além disso, o quarterback mostra uma tendência em se manter apenas na primeira leitura, com dificuldades na progressão entre os vários recebedores. Finalmente, Wentz frequentemente se atrapalha com o posicionamento dos pés no pocket, o que o leva a muitas vezes flutuar a bola em passes longos.

Estes problemas do jogo de Wentz muitas vezes acabaram sendo “disfarçados” pela superioridade técnica de sua universidade perante as demais equipes da segunda divisão do college football (FCS). NDSU é a atual pentacampeã da FCS. Desta forma, Wentz sempre foi pouco pressionado, e contou com recebedores superiores aos oponentes, encobrindo eventuais falhas de precisão nos passes. Finalmente, é importante ressaltar a pouca experiência do jogador. Carson Wentz só se tornou titular no seu terceiro ano na universidade, tendo ainda perdido partidas por contusão. Assim, as equipes da NFL têm uma amostra relativamente pequena para avaliar o quarterback.

Wentz é um quarterback de grande potencial, mas a equipe que decidir selecioná-lo deve ter uma coisa em mente: está escolhendo seu  do futuro, ou está escolhendo alguém que se “parece” muito com um quarterback (alto, ágil e com braço potente)?

Jack Conklin – Offensive Tackle – Michigan State

Conklin vem subindo nas projeções dos especialistas, que consideram que o tackle deve ser selecionado perto do top 10 da primeira rodada do draft. Esta ascensão, já na fase final do processo que antecede o draft, faz de Jack Conklin uma das “cinderelas” da classe de 2016 (termo usado para descrever jogadores com histórias improváveis). Isto se deve ao fato de Conklin não ter recebido ofertas de bolsas de estudo das universidades, entrando na equipe de Michigan State como walk on. A partir daí, tornou-se titular na principal posição da linha ofensiva (left tackle), chegando a ser escolhido o melhor do país na última temporada.

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Apesar disso, há motivos para preocupação quanto ao futuro de Jack Conklin na NFL. Seu principal atributo na proteção do quarterback é a força, conseguindo com as mãos e o peso do corpo, impedir o avanço dos jogadores defensivos. Quando deparado com defensores muito atléticos e velozes, Conklin tende a se complicar.  Isto acontece pela lentidão dos movimentos dos pés do jogador, que não se adapta à velocidade do seu adversário. Desta forma, a não ser que apresente melhora neste aspecto do seu jogo, é provável que Jack Conklin não consiga se manter como left tackle na NFL por muito tempo. O jogador dessa posição precisa proteger o lado cego do quarterback, e em geral enfrenta os melhores pass rushers da defesa adversária.

A equipe que por acaso venha a escolher Conklin esperando que ele ocupe o lado esquerdo da linha ofensiva rapidamente deve se decepcionar. Mais do que isso, o predomínio da força em detrimento da técnica e velocidade presente em seu jogo, pode fazer com que o futuro de Jack Conklin na NFL esteja como guard, e não como tackle. E ainda que os guards sejam fundamentais para a boa performance da linha ofensiva, provavelmente não é esse o destino que a equipe que selecionar Conklin (particularmente no top 10) esperará do jogador.

Reggie Ragland – Linebacker – Alabama

Quando falamos de Jack Conklin logo acima, descrevemos um jogador cujos traços talvez não se adaptem à NFL. Agora, com Reggie Ragland, descreveremos um jogador cuja posição talvez não se adapte à NFL. Você pode pensar “Mas ele é um linebacker. Todos os times têm linebackers“. Têm, é claro, mas é possível questionar se há lugar na NFL de hoje para um linebacker que, exclusivamente, combate o jogo terrestre (principalmente na primeira rodada do draft).

Ragland é um ótimo defensor contra o jogo terrestre. Lê os bloqueios com eficiência, chega rápido ao running back e não perde tackles. Por outro lado é pesado (112Kg) e relativamente lento (4,72seg na corrida de 40 jardas), principalmente considerando-se a necessidade dos linebackers participarem da cobertura dos tight ends e recebedores do slot. Em seu último ano na universidade, Ragland passou a ser usado como pass rusher nas terceiras descidas, justamente para sair da função de cobertura. Entretanto, esta não é uma saída viável na NFL, pois sua falta de velocidade o impede de pressionar o quarterback com eficiência entre os profissionais. Outro fator que pode contribuir para a supervalorização de Reggie Ragland é o quanto o jogador se beneficiou por jogar atrás de uma ótima linha defensiva em Alabama, liderada pelas possíveis escolhas de primeira rodada Jarran Reed e A’Shawn Robinson. É bem mais fácil chegar ao running back quando os gaps estão abertos pela linha defensiva.

Não há dúvida quanto ao futuro de Ragland na NFL. Sua capacidade de para o jogo corrido terá muita utilidade para a equipe que o escolher no draft. Entretanto, sua pouca utilidade em terceiras descidas e na cobertura, faz do jogador um candidato a não cumprir o que espera quem selecioná-lo na primeira rodada.

Eli Apple – Cornerback – Ohio State

O jogo aéreo domina a NFL. Não é à toa, portanto, que cada vez mais valor seja dado aos responsáveis por impedir o sucesso do jogo de passes. Mais do que isso, com recebedores e tight ends cada vez mais altos e velozes, seja necessário que a defesa tenha cornerbacks com as mesmas características. Assim, um jogador como Eli Apple torna-se atraente para muitas equipes da NFL. Afinal, Apple tem bom tamanho para a posição (1,85m) e excelente velocidade (4,34seg na corrida de 40 jardas), o que o credencia a ser capaz de correr lado a lado com os recebedores mais rápidos da liga.

Apesar disso, é comum que algumas equipes fiquem tão encantadas com as medidas e testes físicos de um jogador, que esqueçam de observar os fundamentos do mesmo. Eli Apple tem dificuldades em localizar a bola em passes altos, em geral marcando o corpo do recebedor. Essa característica, quando somada à sua tendência de usar demais as mãos desde o início da rota do recebedor, sugere que Apple pode cometer muitas faltas na secundária, dando jardas e descidas gratuitas para a equipe adversária.

Outro fator que pode dificultar a transição de Eli Apple para o jogo profissional é sua pouca experiência na universidade. O cornerback só jogou como titular por dois anos, optando por dispensar seu último ano de elegibilidade e tentar uma vaga na NFL. Junta-se a isso o fato de que Apple só jogou no sistema press man e, por seu estilo físico e dependente da velocidade, pode ter grandes dificuldades para se adaptar a uma defesa por zona. Certamente as equipes que cogitam a seleção de Eli Apple na primeira rodada do draft em 2016 pensam na possibilidade do jogador se tornar um novo Richard Sherman. Apesar disso, é provável que ele esteja mais próximo de Trae Waynes, cornerback selecionado pelo Minnesota Vikings em 2015, também alto e veloz, e que até o momento não conseguiu se firmar na NFL.

Sabemos que é impossível prever com exatidão qual será o futuro dos jogadores selecionados no draft deste ano (ou qualquer ano). Entretanto, quando analisamos cuidadosamente as características dos jogadores acima, cada um deles traz motivos para que tenhamos dúvidas quanto à transição de seu jogo para a NFL. A partir de hoje, esta história será escrita, e veremos quais os times terão acertado e errado em suas seleções.

Robert Nkemdiche – Defensive Tackle – Ole Miss

Considerado um dos maiores prospectos para o Draft 2016 – mas quando a temporada do College Football estava começando. Hoje, quase 10 meses depois, Nkemdiche está em queda livre no recrutamento. Por quê? A resposta é dentro de campo e fora dele.

Dentro, Robert fez grandes partidas contra Alabama. Sobretudo no ano passado – mas depois dessas ele entrou no radar das equipes da SEC de modo definitivo. Os técnicos de linha ofensiva não tiveram dúvida: colocaram double team nele no restante da temporada, com dois bloqueadores constantemente lhe engajando. O resultado? Bom, a expectativa para alguém de seu tamanho e força seria que ele tirasse isso de letra – afinal de contas, é comum que jogadores de elite na linha defensiva tenham que se livrar de dois ou mais bloqueadores designados. Nkemdiche não se enquadrou nessa categoria, visto que teve altos e baixos durante toda a temporada.

Além disso, o defensive tackle tem uma dezena de red flags extra-campo. A principal veio antes do Sugar Bowl, quando o jogador caiu da sacada de seu hotel (uma queda de quatro metros) e quando a polícia chegou ao local lhe flagrou portando maconha. Como todos sabem, jogadores com histórico de drogas são radiativos no Draft. O talento está presente – mas será que vai se desenvolver?

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