Muito talento puro – mas um grande projeto: conheça o quarterback Paxton Lynch

Nota do autor: todas as jogadas foram retiradas do trabalho excepcional que o draftbreakdown.com realiza. Para fazer este texto foram levados em conta todos os videotapes disponíveis do atleta.

Avaliar um quarterback projeto é um dos serviços mais difíceis e exaustivos para qualquer franquia. Enquanto signal callers “pré-prontos” como Jameis Winston e Andrew Luck tem um jogo bem estabelecido – sobretudo por terem jogado em sistemas parecidos com a filosofia da NFL, os chamados “pro-offense” e você sabe o que está escolhendo, projetos têm muito mais fatores para considerar. Note que ser um quarterback pré-pronto não significa, necessariamente, que ele será uma escolha alta ou dará certo.

Veja mais sobre a nossa cobertura do Draft.

O problema com projetos é que o ego de treinadores e general managers podem acabar estragando muito a avaliação do jogador em si. Como já dito, não basta só talento. Mecânica muito falha, footwork totalmente deficiente, leituras falhas, atitude extra-campo, são muitos fatores que precisam ser projetados em alguém que não está perto de ficar pronto. Muitas vezes um atleta assim não vai conseguir desenvolver seu potencial devido aos pequenos problemas que nunca irá superar. O videotape mostra estes pontos mais deficitários e complicados, porém neste momento entra o ego dos avaliadores. Treinadores acham que podem corrigir tudo, general managers acabam minimizando detalhes e supervalorizando o futuro calouro – e o escolhendo antes da hora. Talento e atleticismo não se ensina, porém só talento não basta.

A história mostra: é muito fácil criar um bust.

Nos últimos anos tivemos vários destes. Jake Locker, Christian Ponder, Ryan Tannehill, E.J. Manuel, Johnny Manziel – não considerava Blaine Gabbert um projeto, mas sim um produto pronto que não tinha como evoluir muito. Todos atletas que, visivelmente, precisavam de muito trabalho antes de brilhar. Em 2011 ainda não escrevia para o site, mas lembro de achar que Locker e Ponder eram bons projetos… para a terceira rodada. Fiquei chocado quando o Tennessee Titans resolveu escolher tão alto alguém que não tinha presença de pocket nenhuma. Já Ponder era muito inconsistente em Florida State. O talento dos dois estava lá, mas era preciso trabalhá-los. Não dava para chegar como salvador da pátria.

O que aconteceu? Busts completos. Muita pressão, ataques sofríveis, técnicos querendo mostrar que podem desenvolver qualquer coisa e acabou não dando certo. Em 2012 não houve uma cobertura completa ainda na época de The Concussion, porém ia um pouco contra a correnteza: achava que Tannehill merecia ser um top 15. O potencial tava lá, parecia ter ética de trabalho e, na situação ideal, poderia tornar-se um bom signal caller. Entrando em sua quinta temporada, ainda falta dar um passo a mais para tornar-se alguém de impacto na liga.

Já em 2013 e 2014 a cobertura do finado The Concussion foi mais intensa e deu para registrar opiniões e sentimentos sobre a classe de calouros. Em 2013, o boato que E.J. Manuel seria escolhido na primeira rodada aumentou consideravelmente e concretizou-se na décima sexta escolha geral. Qual foi nossa avaliação da época?

“O quê? Isso sim que é ter uma escolha controversa. E.J. Manuel tem problemas mais sérios ainda que (Ryan) Nassib e (Geno) Smith. Manuel tem uma mecânica de passe bem estranha e a sua presença de pocket é nula, como dissemos em seu scout. E.J. Manuel chegou em Florida State como uma estrela do high school. E, sinceramente, pouco evoluiu. Foi uma escolha muito acima do valor. Quem foi o scout que indicou ele como o QB #1?”

Já em 2014, a opinião sobre Manziel como projeto também não era das melhores:

“Kyle Shanahan e Johnny Manziel realmente não parecem combinar. Cleveland terá que fazer mágica para essa relação dar certo. Não foi o melhor lugar para Manziel parar.”

Na realidade, se eu fosse um general manager em 2014 não escolheria o produto de Texas A&M em nenhuma rodada – como ficou registrado no Live Blogging da época. A máxima do técnico que acha que pode fazer dar certo e o general manager que não pensa acabou criando dois busts.

A moral da história é: não se desperdiça escolhas de primeira rodada em quarterbacks projetos. É necessário pensar, e muito. Analisar o videotape, listar defeitos, qualidades, comportamento fora de campo, liderança e tantos outros fatores. Quando a escolha é bem pensada, o projeto tem chances de se tornar alguém na liga – vide Ryan Tannehill. Como o ego dos general managers atrapalham, muitas vezes a visão de fora (de um olheiro amador, por exemplo) dá uma perspectiva melhor ao possível futuro do jogador para os leitores. Nesta classe, o grande projeto é Paxton Lynch e ele deve agitar o meio da primeira rodada.

De primeira é fácil falar: Lynch é um prospecto muito melhor do que Locker, Ponder e Manuel. Só isso já faz com que checá-lo mais de perto valha a pena. Escolhê-lo na primeira rodada não seria um negócio ruim, porém a grande questão é: qual o range que ele merece sair? Supervalorizar alguém na primeira rodada pode ser muito nocivo para a carreira e pode ser um fator na falha de alcançar as expectativas.

Paxton Lynch aparenta ter os elementos necessários para valer um investimento na primeira rodada.

Normalmente espera-se que um projeto tenha pelo menos uma justificativa plausível: sucesso na universidade. Quarterbacks projetos que elevaram o nível de seus companheiros ao redor, conseguiram campanhas únicas na história de seus programas e conquistam vitórias em bowls são mais bem vistos. Lynch se encaixa bem nesse perfil. Tudo bem que Memphis perdeu o seu bowl para Auburn no ano passado (mais disso adiante), porém os Tigers conseguiram um baita upset dentro de casa contra #13 Ole Miss. E neste jogo Lynch carregou a equipe nas costas.

Seria impossível imaginar tal upset sem Lynch em campo pelos Tigers. O quarterback teve um aproveitamento impressionante: 39 passes completos de 53 tentados, 384 jardas aéreas e três touchdowns. Aliás, vale ressaltar que sua proporção touchdown/interceptação foi 28/4 em seu último ano. E os números ainda escondem um pouco do nível do seu jogo. Lynch estava na melhor forma possível e mostrou todas as suas qualidades.

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Este passe ilustra muitas das qualidades do prospecto. Paxton Lynch tem, sem sombras de dúvidas, o braço mais forte de toda a classe. Ele não é um Joe Flacco, obviamente, mas mesmo assim impressiona com a qualidade do braço. Seu footwork é sólido (ainda precisa de trabalho considerável), porém ele possui algo muito difícil de se ensinar: presença de pocket.

Isto é uma realidade para os três melhores signal callers da classe (Goff/Wentz/Lynch): todos possuem uma boa presença de pocket. Lynch, por não ser tão atlético assim, consegue sentir a pressão e manter os olhos na secundária. Além disso, repare bem na jogada de cima em seu trabalho no pocket. Tranquilo, ele não esquece o seu footwork após o play action e demonstra toda a sua força no passe, colocando a bola na única janela possível.

Só que ele não lança uma tight spiral perfeita. Na realidade, isso aparece bastante em seu videotape. O motivo? A mecânica. A mecânica de Paxton Lynch não é tão fluida quanto se deseja e o quarterback acaba sofrendo na finalização dos seus passes. Além do mais, ele segura a bola mais do que se deseja – característica que precisa de correção.

Outra qualidade que realmente chama a atenção é a falta de medo em procurar as janelas de passe realmente pequenas. Outro belo exemplo é este passe para touchdown contra Ole Miss.

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Novamente um trabalho excepcional no play action e um passe forte e muito preciso. Note o quão bem está a marcação do cornerback, porém mesmo assim a bola só pode ser alcançada pelo wide receiver.

Como deu para ver, as três características que mais encantam os olheiros devem ser sua presença de pocket, o braço forte e a capacidade de lançar em pequenas janelas de passe. Estes três elementos são muito mais difíceis de se ensinar do que a mecânica do passe, por exemplo, e mostram o tamanho de seu potencial. Só que não se engane: o produto de Memphis tem um teto altíssimo, mas ele não está nem perto de pronto para jogar. Se for para campo como calouro, as chances de falhar na liga são altas.

Lynch tem muito trabalho pela frente, principalmente com relação à mecânica do seu passe.

Contra Temple, ano passado, Lynch tinha a chance de vencer um adversário de conferência e que estava jogando muito bem defensivamente. Mesmo contando com pouco talento no ataque, era a chance de brilhar e mostrar que poderia entrar na corrida para ser o primeiro draftado da classe. Não foi o que aconteceu. O videotape não mostrou um jogo tão ruim assim do atleta (muitas falhas de seus companheiros foram fundamentais na derrota), conquanto é possível ver a sua dificuldade em se restabelecer após sofrer pressão.

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Note na jogada acima a presença de pocket e o footwork bem trabalhado sob pressão. O quarterback não se desespera e continua em suas leituras, porém ele mostra uma de suas maiores deficiências: restabelecer a mecânica e lançar a bola precisamente. Lynch se perde e confia apenas em seu braço. A mecânica não tão fluida tira a sua precisão e o resultado é um passe incompleto que deveria ter sido completo. A sua imprecisão em passes intermediários e longos muito se deve à deficiência no lançamento. Ele tem talento para fazer melhor, porém precisa melhorar a técnica.

Paxton Lynch fez vários jogos impressionantes ano passado e evoluiu demais com relação ao seu ano de sophomore. Só que de todos os jogos, o mais interessante de se ver é contra Auburn – justamente o Birmingham Bowl perdido. Nele é possível ver, novamente, este defeito da imprecisão devido à falta de técnica. Foi um jogo que acendeu uma imensa luz amarela – porque o calendário de Memphis, teoricamente, é contra defesas “fracas” e Auburn , também em tese, era uma defesa da forte Conferência SEC.

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Note como o pocket vai fechando e afetando a mecânica do quarterback. Os pés não estão tão confortáveis com relação às jogadas apresentadas acima e isto aparece no passe lançado. Passe forte em uma minúscula janela – obviamente que qualquer imprecisão pode resultar em uma interceptação. Tudo bem que seu recebedor mais atrapalha do que ajuda, mas o passe não é bom, não é preciso o suficiente. Este é o problema mais grave de Paxton Lynch, porém não é o único; ele precisa evoluir sem a bola oval na mão para poder entrar em campo.

Ele precisa evoluir muito devido ao esquema “pobre” em que atuou na universidade.

Notou algo em comum em todas as jogadas acima? Lynch sempre sai do shotgun. Só que ao contrário de Jared Goff, que operava a Air Raid, o signal caller não ajustava as jogadas na linha de scrimmage e suas leituras eram pacotes. Não há uma progressão fluida, uma leitura da defesa e uma decisão tomada depois do snap.

As jogadas em pacote excessivas acabaram minando o seu desenvolvimento. Ele lançou muitos screen passes, e operou várias vezes o read option. Aqui vale ressaltar: não é porque operou o read option que Paxton Lynch é um scrambler. Nem perto disso. Ele é um pocket passer natural e com pouca habilidade atlética. O read option empregado era para decidir entre entregar a bola para o running back correr ou dar um passe curto – ou senão um pitch para outro jogador. Tudo isto afeta a sua leitura de defesas e a capacidade de tomar uma decisão sábia em campo.

Se você reparar bem, é possível notar que os olhos de Lynch trabalham rapidamente em campo – o que é um bom sinal. As leituras escassas eram muito mais devidas ao esquema tático do que à incapacidade do atleta. Ele precisa aprender a fazer as leituras, no entanto tem capacidade para tal.

O signal caller pode ser bem sucedido, porém precisa de uma boa situação.

Como deu para ver em todo o texto, Paxton Lynch precisa de trabalho para poder entrar em campo e brilhar. Muitos o comparam com Brock Osweiler, porém eu prefiro compará-lo com um projeto de 2014: Derek Carr. Ambos não são tão atléticos e tinham problemas em seu jogo, porém o talento era indiscutível. Lynch merece a primeira rodada principalmente devido a ser um prospecto melhor que Carr: sua presença de pocket é melhor do que a do quarterback do Oakland Raiders saindo da universidade.

Isto significa que o produto de Memphis será bem sucedido? Claro que não. Me surpreendi muito com Derek Carr: não imaginava que ele teria uma evolução tão grande mesmo entrando em uma situação complicada. Com Lynch eu tenho o mesmo sentimento: se for titular desde o primeiro dia vai ser muito fácil falhar. O futuro calouro precisa de tempo no banco para aprender a ler defesas melhor, melhorar a sua mecânica e evoluir um pouco mais como atleta. Ele aparenta ter a ética de trabalho necessária para tornar-se um bom jogador, porém as aparências podem enganar.

No fim, Paxton Lynch deveria ser na parte final da primeira rodada, fora do top 20. No Draft certamente isto não vai ocorrer. Ele deve sair entre a décima quinta e a vigésima quinta escolha e pode ter que disputar a posição de titular desde o primeiro dia – o que não seria tão benéfico assim. O terceiro melhor quarterback da classe tem muito potencial, mas precisa da situação ideal. Caso contrário, as chances de virar um bust serão enormes.

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