O Dilema de Jabrill Peppers: Quando se joga em muitas posições e não se joga em nenhuma realmente bem

Quem acompanhou a temporada de 2016 do College Football – mais especificamente Michigan Wolverines – certamente noticiou a presença de um fenômeno chamado Jabrill Peppers. A propósito, pouco menos de um ano atrás o jogador era tido como nome certo entre as quinze escolhas do Draft de 2017. Agora, mesmo escolhido jogador defensivo do ano da conferência Big Ten e quinto mais votado para o Heisman Trophy – lembrando que a princípio é um jogador defensivo – o produto dos Wolverines tem levantado dúvidas se deve ou não ser escolhido na primeira rodada.

Sem nenhuma lesão grave, problema extra-campo ou algo do gênero, por que raios Peppers teve seu draft stock diminuído mesmo jogando tão bem?

As origens

Natural de Nova Jersey, Peppers teve uma infância um pouco complicada, com o pai preso e seu irmão falecendo ainda antes de ir para o high school. Durante o colegial, foi um verdadeiro fenômeno: mesmo tendo jogado por duas escolas diferentes, foi campeão estadual nos quatro anos em que esteve em campo, tendo jogado tanto como running back, como também como cornerback. Em sua última temporada antes do College foi escolhido jogador defensivo do ano. Paralelamente, teve uma boa carreira no atletismo, especializando-se nos 100 e 200 metros rasos.

Tamanho sucesso e versatilidade fizeram com que muitas universidades se interessassem pelo jogador, já que foi considerado um talento cinco estrelas pelo site de recrutamento Rivals.com (numa escala de 1 a 5) e o segundo melhor talento geral da classe de 2014 pela ESPN, atrás apenas de Leonard Fournette.

Charles Woodson e Michigan Wolverines

Mesmo bem antes de escolher a Universidade de Michigan, Peppers já era fã declarado do lendário corneback/safety/retornador Charles Woodson. Isso certamente o influenciou na escolha da faculdade pela qual jogaria. Também pode ter influenciado a maneira pela qual jogou em todos esses anos. Em 2014 acabou praticamente não jogando, visto que se lesionou logo no início da temporada – recebendo assim a redshirt (quando o jogador fica um ano sem jogar, apenas “desenvolvendo” e acaba ganhando um ano a mais de elegibilidade universitária).

2015 veio e Jabrill já justificou seu status de estrela, fazendo uma ótima temporada em todos os aspectos – ofensivo, defensivo e time de especialistas, atuando primariamente como defensive back (765 snaps defensivos, 50 ofensivos e 171 como especialista). Foram 5.5 tackles atrás da linha de scrimmage, 10 passes defendidos, 17 punts retornados com média 11.4 jardas, 8 kickoffs retornados com média de 27.9 jardas, além de 8 recepções (79 jardas), 18 corridas (72 jardas) e dois touchdowns ofensivos. Resultado? Calouro do ano da Big Ten, time reserva do ano na Big Ten e do país.

Em 2016, mesmo sendo movido oficialmente para posição de linebacker (devido ao grande número de jogadores de secundária em Michigan), Peppers teve novamente um ano brilhante – e mostrou ainda mais sua enorme versatilidade. Ele jogou em, pasmem, quinze (isso mesmo, QUINZE) posições diferentes ao longo da temporada. No ataque, foram 53 snaps com 27 corridas, 167 jardas e três touchdownsalém de dois passes recebidos. Nos times de especialistas foram 154 snaps, 21 retornos de punt para 310 jardas (1 touchdown) e 10 kickoffs retornados para 260 jardas. Enfim, defensivamente, foram 726 jogadas, 16 tackles atrás da linha de scrimmage, 4 sacks, 1 interceptação e 1 fumble forçado.

O desempenho absurdo rendeu várias premiações, como linebacker do ano, jogador defensivo do ano, jogador de times de especialistas do ano, jogador mais versátil do ano, jogador de maior impacto defensivo e nomeação All-American (além de diversos prêmios da Big Ten). Para coroar, foi o quinto jogador mais votado para o prêmio individual máximo do College Football: o Heisman Trophy.

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A empolgação e as comparações

A incrível versatilidade do jogador fez com que várias comparações com diversos jogadores surgissem. Primeira e principalmente, uma inevitável comparação com o ídolo maior do jovem talento, Charles Woodson – principalmente por ambos terem a versatilidade defensiva e serem bons retornadores (além de terem jogado em Michigan).

Outros três nomes que estão em alta recentemente e foram alvos de comparações são Deone Bucannon, Mark Barron e Tyrann Mathieu. Em relação ao primeiro, a começar com as características físicas e habilidades semelhantes, sendo ambos leves e não muito altos – e tiveram resultados semelhantes no combine. Em adição, o fato do Arizona Cardinals ter encontrado uma ótima forma de aproveitar o talento do jogador – originalmente safetycomo um híbrido de inside linebacker strong safety, atuando muitas vezes no box (assim como os Rams fazem com Barron). Essa é uma possível alternativa para utilização do prospecto dos Wolverines.

Já a comparação com Mathieu se dá também tanto por características físicas como pela forma que foi explorada a versatilidade do ex-LSU – durante a carreira universitária também foi atuante nos times de especialistas como retornador. Ambos atuaram em uma espécie de híbrido safety-linebacker, sendo que aquele vem se firmando muito bem na NFL. Ah, apenas um detalhe: ambos ficaram em quinto na votação para o Heisman Trophy.

E por que a dúvida?

Você leitor deve estar se perguntando o motivo do “valor” de Peppers ter caído ao longo da temporada. Digamos que existem uma série de motivos que levantam diversas dúvidas a respeito do prospecto: desde atributos puramente físicos até questões táticas do jogo, passando pelo fato de ter mudado de posição ao longo da carreira universitária.

Primeiro: Onde colocá-lo em campo?

O primeiro questionamento – e mais natural de todos – é onde e como utilizar Peppers? Um jogador que foi running backwide receiverquarterback (em formações Wildcat), linebacker, cornerback safety. Apesar de ser declarado oficialmente linebacker, é evidente que ele não possui os atributos físicos típicos de um jogador da posição. Com 1.85m e 93kg, é considerado leve para a posição, podendo ter dificuldades tanto cobrindo como parando corridas de jogadores mais físicos. Além disso, teria uma enorme desvantagem física contra os jogadores de linha ofensiva na NFL. É dado como certo por alguns scouts que ele seria quase que “levantado” pelos guards da NFL. Lembrando sempre: o nível físico de atletas profissionais é bem superior aos do College. O talento é filtrado e os atletas profissionais têm mais tempo para se dedicar ao físico. Se no College ele já teve problemas com isso, a tendência é que piorem.

Assim, a posição “natural” do prospecto (ele mesmo declara isso) seria como safety. Entretanto, há diversas questões que fazem com que seu valor para jogar na posição seja questionado. Primeiramente, o principal ano de sua carreira aqui não foi como safety (ou cornerback), mas como linebacker. Discute-se muito a utilização dele como um safety para jogar no box (assim como Bucannon e Barron)já que mostrou uma enorme capacidade de reação e muito habilidoso nos tackles. Porém, alega-se que teria dificuldade em sair em cobertura, já que sua capacidade de leitura e reação à um passe é um ponto fraco.

Uma boa opção seria usá-lo como deep safety com principal função de cobertura, porém questiona-se sua capacidade e velocidade de leitura ao jogar mais longe do quarterback. Isso é uma diferença chave entre ele e Woodson: este tinha uma capacidade de leitura muito acima da média, conseguindo forçar muitos turnovers, sendo um legítimo playmaker. Uma possível alternativa seria usá-lo no slot e situações de cinco jogadores na secundária, pois aproveitaria sua velocidade/explosão e capacidade de ler corridas/fazer tackles.

Enfim, parece que há técnicos na NFL que pensam em usá-lo como running back. É nítida a habilidade do jogador com a bola nas mãos, e sua explosividade foi uma grande arma para o ataque de Michigan. Além de ser muto rápido, mostrou-se habilidoso o bastante para receber passes, podendo ser uma arma letal.

Versatilidade: o melhor ou o pior dos dois mundos?

Sim, Jabrill Peppers foi o jogador mais dinâmico e versátil do College na última temporada. Todavia, rapidamente podemos listar uma série enorme de jogadores que foram armas polivalentes durante a carreira universitária e não vingaram na NFL. Há casos de sucesso, é verdade, mas muitos deles não foram escolhidos cedo no Draft justamente pela questão de não terem uma posição fixa ou não terem características físicas ideais. Isso porque um jogador leva um tempo para aprender a jogar em uma posição – ainda mais se tratando do jogo em seu mais alto nível – e a transição da NCAA para a NFL é complicada.

O fato é que o jovem de New Jersey nunca teve uma posição fixa na qual apresentou constante aprendizado. Apesar de ser um “faz tudo”, há dúvidas demais para se considerar um talento de primeira rodada para qualquer que seja a intenção de usá-lo. Explicando: não se escolhe um linebacker “pequeno que jogou um ano na posição”, um running back “sem experiência nenhuma” ou um safety “com dificuldade de leitura do quarterback” na primeira (ou até mesmo segunda) rodada do Draft.

Falta produtividade para a primeira rodada

Os números ao longo da carreira universitária impressionam, não? O problema é que para nenhuma posição que se considera utilizá-lo Peppers tem números consistentes. No ataque, foram menos de 150 snaps recebidos, sem ter chegado a 50 corridas ou 250 jardas terrestres. Na defesa, foi muito pouco utilizado como cornerback, sendo que apenas no primeiro ano jogou como safety. Como linebacker foi apenas um ano na carreira, estando longe de ser totalmente dominante, com esquemas adaptados para explorar sua velocidade e minimizar sua falta de força/tamanho. Ademais, escolher um safety que tem apenas uma única interceptação no college parece uma loucura sem tamanho – desde 2002, todos os safeties escolhidos na primeira rodada tinha ao menos quatro interceptações. A opção de slot também parece distante, já que atuou pouquíssimo na posição, e na primeira rodada geralmente se busca um jogador dominante, para ser titular, e não alguém para apenas compor a rotação.

Finalmente, o fato é que Peppers é visto como um grande retornador – tanto é que muitos times evitavam chutar em sua direção para minimizar o risco dos retornos. Mas não há sentido algum selecionar um retornador cedo no Draft, ainda mais com as recentes mudanças de regras na NFL, fazendo com que os retornos se tornem cada vez mais raros na liga – por exemplo, a maioria dos kickers no nível profissional conseguem evitar os retornos kickoff. Pior ainda: ele torna-se um jogador “defensivo” cuja principal virtude é retornar chutes. No final das contas, a forma como foi usado em 2016 acabou derrubando seu draft stock.

Ainda em termos de Draft, a habilidade em retornar, por si, não justifica uma escolha de primeira rodada. Para cada Devin Hester há um Ted Ginn Jr.

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Nem um, nem outro. Para onde vai Jabrill Peppers?

Com a profunda análise feita, vem a questão mais importante: quando e quem escolhe o prospecto de Michigan? Talvez ele seja o mais intrigante talento desse Draft, por ter habilidades e versatilidade incríveis. Primeiramente, acredito que será uma equipe sem necessidades muito grandes, podendo se dar ao luxo de escolher um jogador “cru” para desenvolver. É nítido que ele não está pronto para jogar no próximo nível (a não ser como retornador). Sendo safety a posição mais adequada, é óbvio que falta conhecimento da posição e características de playmaker. Contudo, também é nítida a capacidade atlética do jogador; ou seja, é sim possível e provável que Peppers não seja muito utilizado inicialmente, sendo moldado para o futuro.

A transição para a NFL é complicada, ainda mais se tratando de um jogador inexperiente. Moldar e desenvolvê-lo para um esquema defensivo que explore suas habilidades parece o caminho mais lógico, mas isso faz com que seja uma aposta de prazo mais longo e certo risco, algo que não se procura muito na primeira rodada do Draft. Assim, acredito que uma escolha do meio para o final da segunda ou início de terceira rodada façam mais sentido para o talentoso jogador.

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