É difícil pensar em uma posição que tenha sido tão pouco valorizada nos últimos Drafts quanto a de tight end. Cada vez mais parece que as franquias da NFL estão menos dispostas a selecionar um atleta da posição no primeiro dia de recrutamento. Por exemplo, de 2010 para cá, tivemos apenas três tight ends saindo na primeira rodada, sendo o último deles Eric Ebron, 10ª escolha geral dos Lions em 2014. Se refletirmos, então, na última vez que dois foram escolhidos juntos na primeira rodada lá se vão mais de 10 anos, quando Vernon Davis e Marcedes Lewis foram draftados respectivamente por 49ers e Jaguars em 2006.
Este aparente “desdém”, entretanto, tem tudo para acabar em 2017 por conta de um motivo especial: O’Terrius Jabari Howard, ou simplesmente O.J. Howard. O jovem ex-Alabama é sem dúvida o melhor prospecto da posição dos últimos tempos e, discutivelmente, o jogador ofensivo mais talentoso e com maior “teto” da classe, tanto que está cotado para sair dentro do top 15 ou mesmo top 10 do Draft.
Howard vem sendo frequentemente comparado com alguns dos tight ends de elite da NFL, como Jordan Reed, Greg Olsen e Rob Gronkowski, sobretudo devido às suas características físicas e potencial como arma recebendo passes. O.J., na verdade, é visto como o prospecto da posição mais completo dos últimos anos, ou melhor, o mais completo desde que o próprio Gronkowski se declarou para o Draft de 2010. E sem as lesões que jogaram Gronkowski para a segunda rodada.
Esqueça as estatísticas pobres por Alabama, pois elas não querem dizer nada
A principal “fraqueza”, se é que podemos chamar assim, no currículo de Howard são os seus não expressivos números totais jogando pela Crimson Tide. Em 57 partidas com a universidade, somou apenas 114 recepções, 1,726 jardas e sete touchdowns, estatísticas à primeira vista bastante modestas para alguém considerado uma grande ameaça recebendo passes. Além disso, ele só teve duas performances na carreira para mais de 100 jardas aéreas – diga-se de passagem, as duas finais do College Football diante de Clemson, sendo campeão na primeira e perdendo a segunda.
Contudo, é preciso ir com calma.
Existem algumas explicações para isso. Em primeiro lugar, O.J. não foi sempre titular absoluto: em 2013 e 2014, dividiu snaps com Brian Vogler. Em segundo e mais importante, Alabama não possui um ataque aéreo pirotécnico – BASTANTE longe disso, aliás. A equipe de Nick Saban adora correr com a bola – não por acaso, Derrick Henry ganhou o Troféu Heisman em 2015 -, logo Howard muitas vezes tinha como principal obrigação bloquear ao invés de agarrar passes. É como se, por contexto, Howard tenha mais valor por render num sistema que não propiciava tanto. É o sentido contrário dos quarterbacks de spread offense ou dos próprios running backs de Alabama.
Foi mais uma questão de sistema de jogo do que qualquer outra coisa. Se atuasse em alguma spread offense com um quarterback lançando 40 bolas por jogo, o tight end certamente teria empilhado muito mais jardas e touchdowns.
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O grau de produção de um jogador no College Football, se analisado de maneira isolada, não diz quase nada, seja para o bem ou para o mal. Assim como Jared Goff, por exemplo, não é um gênio por ter lançado 12 mil jardas e quase 100 touchdowns em três temporadas como titular dos Golden Bears, Howard não é um ruim pelos seus números em Alabama.
No final, o que vale mesmo é o vídeo – e é aí que Howard se destaca
O que faz de O.J. um prospecto tão excelente são as qualidades que podemos notar quando assistimos seus vídeos, principalmente os dois Championship Games diante de Clemson. Vamos lá.
Primeiro: Atributos físicos. Howard mede 1,98m de altura e pesa 113kg, valores muito próximos dos desejados para um tight end da NFL – ele talvez só precise de um pouco mais de massa muscular. Deste modo, é bem provável que O.J. não tenha muitos problemas para se adaptar ao nível de exigência física dos profissionais.
Seu maior diferencial, porém, é o atleticismo. Howard é muito veloz, explosivo, ágil e atlético para alguém do seu tamanho, o que pode representar uma vantagem imensa na hora em que estiver alinhado contra linebackers mais pesados, pois estes simplesmente não conseguirão acompanhá-lo na velocidade. Assim, o jovem ex-Alabama tem potencial para gerar inúmeros duelos favoráveis ao ataque.
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Para ilustrar o que estamos dizendo, basta lembrarmos o que Howard fez no Combine, quando ficou entre os melhores da sua posição em todos os testes que avaliam velocidade, explosão e agilidade: 4,51 segundos no tiro de 40 jardas (2º), 6,85 segundos no exercício dos três cones (1º), 4,16 no “suicídio” de 20 jardas (1º) e 11,46 no 60 jardas (1º).
Segundo: Habilidade como recebedor. Todos sabemos que tight ends precisam conseguir tanto bloquear quanto receber passes, mas, com a NFL cada vez mais centrada no jogo aéreo e com os tight ends tomando o emprego dos full backs, somar jardas aéreas e colocar pontos no placar é a característica fundamental dos tight ends de destaque na liga. Evidentemente, Howard não seria cotado como uma escolha de primeira rodada se não tivesse um potencial imenso nessa área.
Além da velocidade para vencer os defensores adversários, alargar o campo e ameaçar em profundidade, O.J. sabe percorrer rotas muito bem e tem mãos “macias” para segurar a bola. Sua agilidade e bom trabalho de pés lhe permite fazer cortes, seja antes ou depois da recepção, nesse último caso podendo significar algumas jardas extras.

Ademais, com quase dois metros de altura, O.J. é uma opção muito interessante na red zone e pode se tornar um pesadelo para os cornerbacks se for alinhado aberto na lateral do campo – por exemplo, como os Patriots fazem com Gronkowski na beira da end zone, em uma jogada praticamente indefensável por cornerbacks abaixo de 1,80m ou por linebackers ineptos na defesa contra o passe. Como já dissemos, os atributos físicos de Howard permitem que inúmeros duelos favoráveis ao ataque sejam criados e explorados pelos coordenadores ofensivos.
Terceiro: Bloqueios. Howard não tem como maior virtude os bloqueios, embora ele sempre tenha se mostrado competente na tarefa. O jovem precisará aprimorar sua técnica e aprender um pouco mais para lidar com os defensores da NFL, contudo isso não deve ser um problema ou algo que o deixará fora dos gramados no início da carreira, até porque ele possui bastante experiência bloqueando por Alabama. Será uma questão de mera adaptação.
Quer dizer então que O. J. será mesmo o novo Gronkowski?
Bem, infelizmente não temos como responder esta pergunta. Howard parece ter todas as ferramentas físicas e técnicas necessárias para ser um tight end de sucesso na NFL, mas daí cravar que ele se transformará em um jogador do calibre de Gronkowski, Jimmy Graham, Greg Olsen etc. é outra história. O que podemos dizer com uma certa dose de segurança é que O. J. terá a chance de ser titular logo cedo na carreira, independente da franquia que o escolher no Draft. De fato, se for selecionado por times como Browns ou Bills, ele já chegaria talvez com o status de principal recebedor do elenco.
Agora, para finalizar, vamos falar literalmente das comparações com Gronkowski. O estilo de jogo de Howard, em nossa opinião, se assemelha mais ao de Jordan Reed do que ao da estrela dos Patriots e BFF de Tom Brady. Gronk, embora também tenha um dinamismo acima da média, faz mais o tipo “tanque de guerra”, atropelando e bloqueando defensores na base força física. O.J., assim como Reed, é excepcionalmente atlético e dinâmico, lembrando quase um wide receiver com uns 20kg a mais de músculos. Por isso, talvez seja melhor reformular a pergunta acima para “Quer dizer então que O.J. Howard será mesmo o novo Jordan Reed?”.
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