Seahawks brilharam: Analisando e qualificando as trocas da 1ª rodada do Draft

O Jean Souza já falou aqui sobre a primeira rodada do Draft quanto a seus vencedores, possíveis perdedores e todo o mais. No segundo dia, elegi o Baltimore Ravens como o “vencedor”. Ainda, falamos mais sobre a troca 49ers-Bears em dois textos que você pode clicar mais abaixo.

Falta uma das coisas que julgo mais legais no Draft: analisar as trocas. Aqui, separamos aquelas que, necessariamente, envolvam escolhas da primeira rodada. Portanto, os Seahawks trocando da 34 para a 35 com Jacksonville não entra aqui – ao meu ver, uma troca que foi boa para ambos, aliás.

Sem mais delongas, vamos lá. A análise vai ser quase binária: bom, neutro ou ruim. Estaremos analisando o conjunto da obra. Não só o que o time pagou/recebeu mas como o que o time que subiu na primeira rodada fez com essa escolha que pagou caro. É como alugar um imóvel. Se você toma um empréstimo no banco e aluga um imóvel numa região onde ocorrem assaltos a cada dois dias, é uma decisão AINDA PIOR do que só alugar esse imóvel.

Bears – 49ers
* Chicago manda a 3ª escolha geral, a 67 (terceira rodada), a 111 (quarta rodada) e mais uma terceira rodada de 2018 | Chicago recebe a 2ª escolha geral e escolhe QB Mitchell Trubisky (North Carolina)
* San Francisco manda a 2ª escolha geral 

49ers: Bom
Bears: Ruim

A troca mais importante do dia, sem dúvidas. Se não foi a mais importante – pelo momento do Draft – foi a mais desequilibrada. Chicago tem n! problemas na defesa e, ante um draft defensivo, queimou escolhas no ataque. Ryan Pace, o general manager, colocou seu emprego nas mãos de um quarterback com apenas 13 jogos de titular no College Football – e que só fez snaps em shotgun, não sabe o que é hard count, enfim. No final das contas, para os Bears, saberemos o real valor desta troca apenas em alguns anos. É impossível valorar sem saber o que Trubisky vai virar. Se ele for mais para Mark Sanchez (também teve um ano completo como titular e mais três jogos no ano anterior), aí caiu a casa.

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Para os 49ers, a troca foi maravilhosa. Linda. Épica. John Lynch é general manager só há alguns meses e já merece uma estátua no Levi’s Stadium. Os 49ers não só adquiriram mais escolhas para reforçar um elenco cheio de buracos – como no processo escolheram o jogador (Solomon Thomas, DE, Stanford) que já queriam na #2.

Chiefs-Bills
* Kansas City manda a 27ª escolha geral, a 91 (terceira rodada) e uma primeira rodada de 2018 e escolhe Patrick Mahomes II
* Buffalo manda a 10ª escolha geral 

Bills: Bom
Chiefs: Neutro

Se você for parar para pensar, os Chiefs gastaram mais do que os Bears. Mas a troca é menos problemática porque no conjunto da obra, Kansas City é um time infinitamente menos carente do que Chicago – ainda mais na defesa. Por que Kansas City fez isso? Porque sabe que nos últimos anos, foi tão longe quanto Alex Smith conseguia levar o time. Em compensação, Patrick Mahomes II é o oposto de Alex – ou seja, não tem medo de passar a bola em profundidade quantas vezes for necessário. Julgo que a troca é neutra porque fez sentido. Ao contrário dos Bears, que gastaram 15 milhões garantidos em 2017 por Mike Glennon e ao invés de pegar um diamante cru com teto alto para lapidar (Mahomes/Kizer), escolheram Trubisky (cujo piso de talento é maior e precisa de repetições como titular, mas ficará no banco – Ryan Pace já disse que o titular é Glennon). Então subir para pegar um diamante, tendo um elenco mais redondinho, não é de todo mal não.

Já para os Bills, a troca foi boa porque o time meio que virou terra arrasada na passagem de Rex Ryan. Mudaram para o 3-4, aí voltaram agora para o 4-3 na defesa. Essas coisas deixam cicatrizes. Se não bastasse, perderam Stephon Gilmore para o rival de divisão, Patriots. Quanto mais escolhas – ainda mais ter duas na primeira rodada no ano que vem, melhor. Não é como se os Bills estivessem a uma escolha #10 de serem competitivos: o processo é de reconstrução depois do furacão Ryan.

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Texans-Browns 
* Houston manda a #25 geral e uma escolha de primeira rodada de 2018; Escolhem QB Deshaun Watson
* Cleveland manda a #12 geral

Browns: Bom
Texans: Ruim

Não, você não leu errado: novamente os Browns conseguiram uma escolha de primeira rodada e novamente uma escolha alta via Houston. Anteriormente nesta intertemporada, Cleveland “comprou” uma escolha de segunda rodada de Houston ao absorver o contrato de Brock Osweiler, nosso querido #cosplaydeposte. Agora, conseguiu mais uma escolha no ano que vem para continuar reforçando o time – e, neste caso, uma de primeira rodada. Se você considerar que os Titans vem fortes na AFC South, existe uma chance bem plausível dos Browns terem duas escolhas entre as 20 primeiras do Draft 2018.

Para Houston, que tem uma defesa incrível (o Bonde Watt-Mercilus-Clowney) e nenhuma resposta para a posição de quarterback já há algum tempo – ainda considerando Matt Schaub uma solução e bem naquelas – não havia muito o que ser feito.

Se os Bears não estão a um Mitch Trubisky de serem competitivos, os Texans estão a um quarterback de serem ameaça na Conferência Americana. É só lembrar o jogo de playoff no ano passado contra os Patriots: não fossem as interceptações de Brock Osweiler, talvez houvesse uma chance. Tá, Curti, então por que você está sendo mala e qualificando a troca como ruim? Porque Deshaun Watson tem potencial para ser um novo Vince Young. Ele tem um número alto de interceptações e eu sinceramente não sei como ele vai traduzir as virtudes dele no College para a NFL. Resumindo: uma leitura e sai correndo, coisa que detesto mais do que pagar a fatura do meu cartão de crédito.

Pode dar certo como Young, o calouro ofensivo de 2008, deu para os Titans naquele ano. Mas no médio-longo prazo, o potencial não é bom não.Watson teve dois jogos com três interceptações em partidas contra adversários da ACC (Pittsburgh e Louisville). O que você acha que pode ter acontecido? A probabilidade dos coordenadores defensivos de Pitt e de Louisville terem estudado (ainda mais) Watson e achado falhas em seu jogo (e tem algumas, como ball placement em passes longos) é muito grande. Na NFL, no médio prazo (vide Kaepernick), isso é um problema e tanto. Não te assustaria se eu te dissesse que Colin Kaepernick tinha estatísticas piores contra a NFC West e no segundo tempo das partidas, né? O potencial disso se repetir com Watson no médio prazo – e quanto você escolhe QB na primeira rodada, não pode pensar apenas no curto prazo – me assusta.

Por isso, a qualificação baixa para Houston.

Falcons-Seahawks
Atlanta manda a #31, 95 (terceira rodada) e a 249 (sétima rodada) | Escolhe o DE Takkarist McKinley 
Seattle manda a #26

Seahawks: Bom
Falcons: Bom

Ah vá que Seattle fez trade down na primeira rodada? Que surpresa, só que não.

A troca faz muito sentido para os dois lados. Os Seahawks muito provavelmente não consideravam como algo inteligente arriscar num jogador de linha ofensiva naquele momento – ou tinham Garrett Bolles no topo de seu board e ele foi escolhido por Denver antes. Assim, se nada naquele momento compensa, trocar é melhor. Em realidade, nessa altura do Draft – final da primeira rodada, início da segunda – a diferença de talento entre os jogadores é muito pequena. Fazer o trade down e ter “mais dardos” para jogar no final do recrutamento, ao meu ver, sempre é inteligente.

Do outro lado, Atlanta precisava de um defensive end e, devido a contusão, Takkarist McKinley estava caindo vertiginosamente no Draft. Era o momento de apertar o gatilho e tentar a sorte com ele. McKinley, se saudável, tem potencial para ser um excelente pass rusher de 4-3 (Leo) na defesa de Dan Quinn. Defesa esta que teve que manufaturar pressão com stunts no primeiro tempo do Super Bowl LI – e cansou, tornando-se vulnerável a Tom Brady no segundo tempo. Vic Beasley liderou a NFL no ano passado em sacks com 15,5 – mas ele precisava de ajuda.

Browns-Packers
Cleveland manda a 33 (primeira da segunda rodada) e a 108 (quarta rodada)
Green Bay manda a 29

Packers: Bom
Browns: Bom

Por um lado, os Packers perderam alguns prospectos importantes aqui – sobretudo em termos de pass rush, o que julgo ser uma necessidade no Lambeau Field. Por outro, temos que entender o contexto deste Draft; Ele era rico em secundária e, naquele momento ao ganhar uma escolha no início da primeira rodada e mais uma na quarta, poderiam endereçar secundária/pass rush na 4ª.

Se Green Bay perdeu T.J Watt, ganhou Kevin King na #33 e mais uma escolha de quarta rodada na qual endereçou a posição de outside linebacker com Vince Biegel, companheiro de Watt em Wisconsin. Como secundária foi um problema maior para os Packers no ano passado – e King, na 33, é barganha – a troca fez todo sentido.

Falando em barganha, também o foi para Cleveland. Primeiro porque o time tem munição para gastar com trocas. Segundo porque, depois dos Giants escolhendo Evan Engram, David Njoku estava caindo na primeira rodada – e os Browns precisam de playmakers em seu ataque. Ao mesmo tempo, os Browns deviam estar BEM PREOCUPADOS de Njoku ser escolhido pelos Steelers antes de sua escolha original, a #33. Tendo munição a rodo e garantindo que David fosse para os Browns apenas pagando uma quarta rodada, compensou para Cleveland também.

49ers-Seahawks
San Francisco manda a #34 (terceira escolha da segunda rodada) e a #111 (quarta rodada) | Escolhe Reuben Foster, ILB de Alabama 
Seattle manda a #31 (recém-adquirida via troca acima) 

49ers: Bom
Seahawks: Bom

Os Seahawks fizeram trocas muito interessantes neste Draft. Eles transformaram a escolha #26, no final da primeira rodada, em três escolhas. Na prática, caíram da #26 para a #34 – e não perderam tanto talento nesse processo, como dito acima – e, depois de trocar com os Jaguars, no final das contas ganharam uma escolha de terceira rodada, uma de quarta e uma de sétima.

Por outro lado, os 49ers tinham um cenário extremamente favorável. Lembra da onde veio essa #111? Dos Bears. San Francisco já estava com bônus absurdo. Já tinham escolhido o segundo jogador de seu board na #3. Depois, subiram com essa “gordura” extra para selecionar Foster, que era o terceiro jogador de seu board

Pegar dois dois três melhores jogadores de seu tabelão é algo extremamente raro. Foster estava em queda livre na primeira rodada por conta de problemas extra-campo. Resumindo, potencial de lesões e um chilique no Combine. Mas, no papel e dentro de campo, tem potencial para ser o melhor inside linebacker da classe – indo para um time que perdeu Patrick Willis há pouco tempo por conta de aposentadoria. E fez isso com “gordura” que tinha sobrado da troca com os Bears.

Resumo da ópera: há dois drafts paralelos em 2017. Aquele dos quarterbacks, no qual as franquias se dão ao luxo de “gastar” mais pelo potencial da posição e pelo fato dela ser a mais importante do jogo – e outro, com as demais posições. Mesmo ante esse panorama, considerando o contexto da classe de quarterbacks de 2018 e o mais fraco da de 2017, as trocas para pegar um QB podem dar errado. São arriscadas. Seja com Trubisky, Watson ou Mahomes, é alto risco, alta recompensa. A valoração dessas trocas depende em função de: o quanto falta para seu time ser competitivo? É só um quarterback acima da média?

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