Desistência, crise e planejamento: a situação das equipes sem a bolsa de 20 mil do Torneio Touchdown

Para os novos fãs do futebol americano jogado no Brasil, isso pode até parecer estranho, mas até ano passado existiam dois campeonatos de nível nacional. Os certames chancelados pela Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA) e o gerenciado pela empresa privada que controlava a organização do Torneio Touchdown (TTD) rivalizavam para ter os melhores times sob seus domínios. Porém, por razões extracampo, basicamente no âmbito jurídico, o TTD deixou de existir e os times planejaram a unificação das competições: um marco no País.

Entre as competições, a principal diferença era uma bolsa/bônus de participação. Àqueles que estão acostumados com cifras gigantescas nas competições organizadas nos Estados Unidos, aqui em solo tupiniquim a situação cai drasticamente, contudo, era determinante para pôr as contas em dia aos membros. Até a temporada passada, as 16 equipes participantes do Torneio Touchdown recebiam uma espécie de “incentivo” no valor de R$ 20 mil, mais o pagamento de custos de concretização das partidas, tais como ambulância, árbitros e equipe de publicação do minuto-a-minuto para o site do Torneio Touchdown. Custos estes que poderiam elevar a quantia próxima da casa dos R$ 40 mil por time.

Após a unificação e a extinção do Torneio Touchdown, o grupo dos 16 deixou de contar com esta receita no ano. E aqui entra a questão: como está a situação financeira destes times?

A equipe do Pro Football entrou em contato com alguns dos administradores para aprofundar sobre o tema. Em todos os casos, o cenário mudou; uns nem tanto, mas outros drasticamente. A falta dos R$ 20 mil e mais as bonificações fizeram com que as equipes repensassem financeiramente, ainda mais considerando a situação de crise econômica que assola o Brasil.

O lado extremo



Jaraguá do Sul teve as piores consequências possíveis. A falta do bônus foi um dos motivos que fez com que o clube se retirasse da Superliga Nacional (1ª divisão) neste ano. Além de não haver mais a bolsa anual, Jaraguá viu saídas de patrocinadores, comissão técnica e alguns atletas para outras localidades de Santa Catarina. O campeão do TTD em 2012 tentará se reestabelecer quase do zero a partir da temporada 2017. Antes da Superliga iniciar, os Breakers tinham somente 20 atletas disponíveis no elenco. Uma possível meta é voltar ao campeonato catarinense em 2017. “Ainda sem confirmações, mas é o que queremos. Estamos trabalhando para isso”, disse o diretor Everton Gnewuch.

Outro caso parecido ocorreu no Espírito Santo, mais precisamente com os Cabritos. Com problemas no caixa acumulados de edições anteriores, troca na presidência e resultados que não apareceram em campo, o time alvinegro chegou a ameaçar sua entrada na primeira divisão brasileira, como conta o atual presidente Valter Furtado. “No momento que fui adicionado ao grupo (dos organizadores da Superliga) descobri que nossa resposta sobre a tabela estava com uns 15 dias de atraso e eu tinha que retornar com sim ou não no mesmo dia. Como as reuniões do dia não me resultaram em patrocínio a minha primeira resposta foi em sair do campeonato. Posteriormente a diretoria anterior me passou que existia um patrocinador para a primeira viagem e conversei com alguns presidentes e voltamos ao campeonato”, explicou.

Sem a entrada do bônus, a solução foi dar alguns passos para trás: deixar o pagamento das despesas ao cargo dos atletas. Assim como funcionava no início da década passada, as mensalidades procuravam cobrir os gastos da equipe. “Então eu sempre ‘bato’ na mesma tecla, o problema financeiro é do tamanho que é pelo tempo que tive para tentar conseguir patrocinadores, assumi o time tem um mês mais ou menos. Eu quando assumi já não tinha verba, claro que 20 mil fariam toda a diferença, pois hoje o que me faz falta são 12 mil referentes a duas viagens, uma para o Rio de Janeiro (em Duque de Caxias contra o Vasco da Gama Patriotas ou Botafogo Reptiles) e outra para São Paulo (em Ribeirão Preto, contra o Botafogo Challengers). A nossa situação financeira é crítica, e por isso tive de passar isso para os atletas, eles estão tendo que arcar com os custos de viagens e dos jogos em casa, infelizmente. Para contornar, estou tendo reuniões constantes para tentar viabilizar parcerias para reduzir os custos a cada jogador; e nos jogos em casa estamos negociando com locais que tenham uma boa infraestrutura, mas com preço menor.”

Para outros, a situação não está tão feia assim

Em São Paulo, o presidente do Corinthians Steamrollers, Ricardo Trigo, apresentou um panorama diferente da encontrada em Santa Catarina e no Espírito Santo. A reclamação do dirigente não é sobre a situação financeira da equipe, mas sim a organização e planejamento da Superliga neste ano. “Não é a falta dos 20 mil e sim dos 37. Lógico que 37 mil reais fazem a diferença. Mas não é determinante, dá para tocar. O problema é a zona que é a CBFA. E se pensar que tem de pagar para a CBFA R$ 3 mil…”, explicou. Os R$ 3 mil citados por Trigo são referentes à taxa de inscrição na Superliga. Algo corriqueiro nos campeonatos chancelados pela Confederação Brasileira. Com um patrocinador fixo, a administração dos Steamrollers precisou se reorganizar para suprir a falta dos 37 mil reais por temporada, ainda mais com uma viagem longa a Cuiabá logo no arranque do certame. “Não tivemos de nos desdobrar, mas é lógico que não é legal gastar R$ 40 mil para algo que se já tinha. Mas foi só se programar”, disse.

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De modo geral, foi um baque: a bolsa de 20 mil por ano ajudava algumas equipes. Umas, como Breakers e os Cabritos, acabaram sofrendo um grande baque – mas os times não acabaram. O Corinthians Steamrollers, uma das equipes mais estruturadas do país, se saiu bem da situação. O campeonato nacional agora é unificado, mas existem os ônus para uns e outros. Esperamos, claro, que isso seja passageiro e que no longo prazo, as equipes consigam se manter.

Nota do autor: A reportagem do Pro Football procurou o Juventude e o HP e não houve resposta até o fechamento da matéria.

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