Mulheres já tomam posições nas transmissões locais de futebol americano nacional

Igualdade de gênero é um assunto que está muito em pauta ultimamente. O que é bacana por um lado, já que as barreiras do sexo são quebradas, mas chato por outra, porque isso deveria ser superado há muito tempo. Então fico feliz em escrever esta história, porém, incomodado por ainda ter de lidar com este paradigma.

O futebol americano culturalmente é tratado como um esporte machista. Estamos no século XXI e vemos poucas mulheres entrar neste mundo particular. O bom é que este muro está caindo. O bom é que podemos acompanhar o lado feminino aflorar no gridiron. Nos Estados Unidos há a Legends Football League (LFL) – onde mulheres jogam de forma profissional. Sim, elas são pagas para atuar pelas franquias e a liga é séria, por mais que o apelo sexual faça parte do negócio. Posso dizer isso com sinceridade pois acompanhei o campeonato em temporadas anteriores e tive a oportunidade de entrevistar algumas jogadoras que foram ídolos, bem como a quarterback bicampeã pelo Chicago Bliss, Heather Furr, ou a temperamental linebacker Tessa Barrera, do ex-Los Angeles Temptation.

Olhando agora para o nosso plano. No solo tupiniquim, as coisas estão indo de um modo mais rápido. Apesar do esporte ser praticado aqui no Brasil há cerca de 30 anos, somente nesta década que as gurias entraram de vez no futebol americano. Pelo menos fomos mais rápidos que os yankees. Times de flag surgem, a nossa seleção feminina faz bonito nos campeonatos mundiais, outras se arriscam no full pads/tackle, e algumas, já estão tomando conta do microfone para comentar. E é aí que eu quero chegar: no ‘fora de campo’.

Um fato especial ocorreu no Rio Grande do Sul no final de semana retrasado. A estudante de jornalismo Janaína Wille comentou pela Rádio da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) a rodada dupla, da abertura da Copa RS.

O evento inédito gaúcho – talvez o primeiro no País inteiro, pois não encontrei outro caso – rolou ao vivo pela Rádio Universidade em banda AM. O Pro Football conversou com Janaína para saber como foi a experiência de comentar os jogos, principalmente, os do Santa Maria Soldiers.

“Bom, foi bastante desafiador. Foi a primeira experiência nesse sentido que eu tive. Eu já havia participado das transmissões da Rádio Universidade como repórter de campo, na Liga Nacional. Na Copa RS, a gente decidiu cobrir as partidas com uma equipe diferente, então o pessoal confiou em mim para ser a comentarista. Esse ano de 2016 está sendo maravilhoso, porque tive a oportunidade de acompanhar de perto o futebol americano do Rio Grande do Sul, cobri o Gigante Bowl, que foi um evento sensacional para todos os amantes da modalidade, e agora o ápice, no qual pude comentar uma partida na Rádio. É a realização de um sonho. Acompanho o esporte desde 2011 e confesso que não imaginava que um dia pudesse vivenciar esse mundo de perto. Muito gratificante poder fazer parte ao menos um pouquinho do crescimento do futebol americano no estado”, contou.

2011 pelo menos é uma pequena amostra que o interesse feminino aumentou nesta atual década. O interessante é que a curiosidade e o acaso também ajuda a ampliar esta parcela entre as mulheres. A não ser que elas sejam parentes ou amigas de jogadores brasileiros, conhecer a NFL é sempre o primeiro passo.

“Então, foi um pouco ao acaso. Ainda na época do finado Orkut, eu participava de algumas comunidades de futebol e o pessoal comentava também sobre a NFL. Então eu passei a acompanhar também, por curiosidade. A partir de então, me apaixonei pelo esporte cada vez mais. Logo vi que esses estereótipos de esporte perigoso, chato ou violento que eram difundidos eram equivocados. O primeiro aspecto que me encantou foi justamente a tática e estratégia, então sempre gostei de estudar sobre isso, fazer estatísticas”, disse.

Aí outro ponto interessante de Janaína. Ela não somente participou como comentarista pela UFSM, a senhorita resolveu levantar dados sobre o jogo! E convenhamos, há pouquíssimas pessoas que fazem isso no Brasil.

“Eu fazia de brincadeira [as estatísticas]. Agora na Rádio a gente faz de todos os jogos dos Soldiers, para ter embasamento de falar nas transmissões. Foi aí que comecei a fazer com seriedade. A transmissão na verdade começa bem antes da partida. Não é só chegar lá e comentar. Tem muito estudo antes e as estatísticas são muito importantes para falar com propriedade. As transmissões duram mais de três horas, é importante ter dados para comentar”, falou.

Os preconceitos finalmente caem

Para quem acredita que o futebol americano é um esporte bruto e machista… só tenho a dizer: “que pena”. Janaína é só o começo de um novo mercado que se abre às mulheres brasileiras neste esporte. E o apoio dos parentes e amigos é fundamental para que elas entrem de vez.

“Minha família sempre me apoiou. Eles não acompanham futebol americano. Já tentei apresentar, mas foi em vão. Mas as nossas transmissões eles ouvem seguidamente. Meus pais se preocupam bastante, porque a gente viaja para jogos em todo o Estado. Embora a participação feminina tenha crescido bastante nos últimos anos, o futebol americano ainda é um esporte masculinizado. Os esportes em geral ainda são. Então há essa preocupação por parte deles também”, disse.

Em conversas entre os amigos, Wille já arrisca alguns palpites. “Tenho muitos amigos que acompanham futebol americano e a gente sempre conversa. Fazemos até bolão de palpites. Principalmente na rádio, onde a gente apresenta um programa sobre futebol americano, então o tempo todo estamos trocando ideias. O futebol americano me proporcionou muitos amigos. Tem muitos amigos que não conheciam o futebol americano também e mais recentemente começaram a acompanhar. Gosto de ajudar a explicar o esporte, acho que só assim ele pode se difundir”, finalizou.

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