Vale a pena aliviar faltas no Futebol Americano Nacional em prol do espetáculo e menor duração das partidas?

Após os representantes da comissão de arbitragem da Federação Gaúcha de Futebol Americano (FGFA) se pronunciarem a respeito dos incidentes que envolveram a partida de abertura da Semana 6 do Campeonato Gaúcho, entre Porto Alegre Bulls e Porto Alegre Pumpkins, dirigentes, jogadores, comissões técnicas e árbitros no Rio Grande do Sul abriam um debate para reavaliar o excesso de faltas e condutas antidesportivas nas partidas, que influem diretamente na duração dos jogos e diminui a intensidade do espetáculo.

Confira a nota oficial sobre o posicionamento dos árbitros no jogo entre Bulls vs. Pumpkins

As opiniões divergiam entre os apoiadores da aplicação rígida das regras, junto com punições aos jogadores, técnicos e torcidas que infligiam os códigos de conduta e regulamentos do Livro de Regras – que segue o sistema adotado pela USA Football/NCAA – contra os que pediam um abrandamento do lançamento do pano amarelo para administrar melhor o tempo de duração dos duelos.

O Pro Football realizou um levantamento sobre o número de faltas aplicadas por cada uma das dez equipes que disputam a oitava edição do certame estadual. Confira abaixo quais são os times mais faltosos e quais são os fair plays.

As faltas dividas jogo-a-jogo

Faltas1

Vale ressaltar que a média de duração de um jogo no Brasil é de pouco mais de três horas e trinta minutos. Normalmente os jogos são iniciados às 14h e encerrados próximo das 18h. As três horas e trinta minutos não são uma duração tão diferente assim em comparação às da NFL – três horas – e, sobretudo, às do College Football (lembrando que a base do livro de regras do Futebol Americano Nacional é o livro de regras do nível universitário dos Estados Unidos). Em realidade, são constantes as partidas do College que ultrapassam quatro horas nos Estados Unidos.

Em comparação, portanto, não estamos diante de uma problemática na qual os jogos nacionais estão demorando muito mais do que o comum para uma partida do esporte.

Regra é regra

Ao debater sobre o tema no grupo da Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA), jogadores e dirigentes de diversas equipes no Brasil também divergiram sobre a situação que se encontra o futebol americano praticado no País. Alguns sugeriram a flexibilização das regras, o que descaracterizaria a essência do esporte.

Com o crescimento exponencial da pratica desportiva em todo o território nacional – fomentação de campeonatos organizados, aumento do número de jogos na temporada regular, a busca pela vitória a qualquer custo e a intensa criação de novas equipes – as comissões técnicas e os jogadores mais experientes estão pouco aptos a passar os fundamentos, técnicas e disciplina que o futebol americano requer. Falta tempo para ensinar aos novatos! A cultura brasileira da “catimba” e do “ganhar no grito” vindas do futebol da bola redonda, chegou em parte aos gramados do gridiron, infelizmente. Não são todos, claro: mas existe um pouco essa cultura.

O grande problema é que muitas das regras do Futebol são aplicadas de maneira subjetiva. O quão forte foi um desarme (tackle, em inglês) para se marcar falta no futebol? É algo subjetivo que varia de árbitro para árbitro. Um facemask no futebol americano é marcado de maneira objetiva; Se puxou a grade é falta e não tem como, tem que ser marcado. Discutivelmente, a única falta com teor mais subjetivo do gridiron é a interferência no passe.

Por isso, “aliviar” nas faltas é algo que não faz muito sentido quando estamos diante de uma interpretação objetiva e binária na maior parte dos casos. Ou é falta ou não é.

A idade de iniciação

Outro ponto a ser analisado é a idade de entrada do novato aos times. No cenário brasileiro, em média, os prospectos entram tardiamente, com cerca de 20 anos de idade e sem (ou pouco) conhecimento do sistema de regras e conduta aplicadas no futebol americano. Por óbvio, isso é diferente do que acontece com os países onde o esporte há mais tempo está solidificado, como Estados Unidos, Canadá, México e Japão onde as crianças de até dez anos são iniciadas a bola oval. Com a escassez de clínicas para difundir as informações a respeito do jogo, o alto número de penalidades dentro de campo é vista como natural, tanto que se foi comentada a criação de um “Futebol Americano Brasileiro”. Soa um tanto quanto absurdo.

Jogadores e dirigentes, que em detrimento da duração do espetáculo, pedem o alívio do pano amarelo. Será que este é o caminho que o futebol americano no Brasil deve seguir? Vamos ser mais rígidos com a disciplina, ou vamos fingir que jogamos algo parecido com o que ocorre nos Estados Unidos? Copiamos aqui a declaração da Comissão de Arbitragem. É, acima de tudo, também, a opinião editorial deste site – e a que no longo prazo será a plausível para um crescimento do esporte no Brasil.

Outrossim, a Comissão de Arbitragem repudia as declarações de integrantes de equipes, veiculadas pela imprensa e pelas mídias sociais, no sentido de que seria da arbitragem a responsabilidade pelo alto número de faltas assinaladas. Entendemos que, em nome do crescimento do Futebol Americano no Estado e no Brasil, não é possível que se siga com o pensamento nefasto de que, uma vez identificada ofensa à regra, estaria errado o aplicador da pena, e não o ofensor.

Não podemos nos esquecer que o primeiro contato do brasileiro do esporte costuma ser por meio da televisão com a versão americana – ou melhor, com a única versão plausível de gridiron. Só depois esse fã casual acaba conhecendo o esporte aqui praticado e começa a ter vontade de assistir aos jogos aqui praticados. Se estes tiverem regras muito diferentes daquelas americanas, base do esporte, será que vai dar certo? Pois é.

Quer uma oportunidade para assinar nosso site? Aproveita, R$ 9,90/mês no plano mensal, cancele quando quiser! Clique aqui para assinar!
“odds