Dropback: Com uma audiência de 45 milhões de pessoas, Colts vencem Giants e são campeões da NFL

Nota do Editor: Hoje estreamos uma nova coluna no ProFootball. Como as outras novidades, é mais uma que devemos aos nossos Sócios, cujo engajamento está nos permitindo dedicar ainda mais tempo ao site e a vocês. Se você quer saber mais e saber como pode nos ajudar para lhe dar ainda mais conteúdo de qualidade sobre futebol americano, confira aqui no link todos os detalhes (além das metas os leitores-socios podem ter muitos outros benefícios).

Esta, em específico, é a Dropback, que focará em textos históricos. Como você pode perceber, ela é altamente inspirada na coluna Na Garagem, do site Grande Prêmio. O objetivo é ter um título no presente, como se estivéssemos cobrindo o evento agora – e o corpo do texto será focado em contar o que aconteceu e a repercussão do evento. Para cuidar desta coluna, teremos um redator “residente” para ela. Gabriel Moralez, conosco desde 2014, é graduado em História pela UNICAMP e terá toda capacidade do mundo em aliar pesquisa histórica com futebol americano. Para começar os trabalhos, não poderíamos começar com outro texto senão aquele que conta a história do paradigma do futebol americano profissional. Depois desse jogo, nada mais foi igual no cenário esportivo americano. A NFL começaria uma escalada para se tornar, de modo definitivo, a liga esportiva preferida dos americanos.

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No dia 29 de dezembro de 1958, o jornalista Gene Ward, do New York Daily News, escreveu as seguintes palavras a respeito de um jogo que havia ocorrido na véspera:

Nos anos que estão por vir, quando os filhos dos nossos filhos estiverem ouvindo histórias sobre futebol americano, eles conhecerão sobre a melhor partida já jogada (the greatest game ever played) – aquela entre Giants e Colts na final da NFL de 1958.” (tradução livre)

Ward estava maravilhado com o que viu no Yankee Stadium no dia anterior, assim como as 64,185 pessoas presentes no estádio e os 45 milhões de telespectadores que acompanharam o duelo pela televisão. E não era para menos. É verdade que Baltimore (os Colts ainda não tinham se mudado para Indianapolis) e New York cometeram vários erros, mas mesmo assim fizeram uma partida memorável, cheia de viradas, lances empolgantes e, acima de tudo, emoção. No final, com uma reação heroica nos minutos derradeiros, os Colts conquistaram o primeiro título da sua história com um triunfo por 23-17 na prorrogação – e fizeram isso liderados por Johnny Unitas, um dos maiores quarterbacks de todos os tempos.

A “profecia” citada no início deste texto acabou se mostrando correta, contudo a importância do jogo acabou sendo muito maior do que Ward ou qualquer um da época poderia imaginar. Além das futuras lendas presentes dentro de campo e do seu desfecho épico, o confronto entre Colts e Giants é famoso por ter mudado para sempre o destino da NFL e do futebol americano como um todo. Resumindo, a final do campeonato de 1958 é considerada a grande responsável pela popularização do esporte nos Estados Unidos, que naquele momento estavam mais interessados no beisebol.

“The greatest game ever played”

Antes de mais nada, é importante relembrarmos os principais acontecimentos da partida, pois ela não recebeu o nome de “the greatest game ever played” à toa.

O primeiro quarto do duelo foi marcado pelos vários erros cometidos por ambas as equipes. New York decidiu começar o jogo com o seu quarterback reserva, Don Heinrich, para tentar surpreender o adversário. A estratégia não deu certo: nas duas campanhas em que ficou em campo, Heinrich sofreu um fumble e não conseguiu fazer o ataque funcionar. Baltimore, por sua vez, foi ainda pior com dois turnovers de Unitas (um fumble e uma interceptação) e um field goal bloqueado nos seus três drives iniciais. A única pontuação do período foi um chute de 36 jardas de Pat Summerall, kicker dos Giants.

No segundo quarto, porém, o ataque dos Colts acordou. Após recuperar um fumble sofrido por Frank Gifford na linha de 20 jardas do campo de New York, o time anotou seu primeiro touchdown do dia em uma corrida de duas jardas de Alan Ameche. Na sequência, Baltimore ampliou sua vantagem. Unitas concluiu uma campanha de 87 jardas e 14 jogadas com um passe de 15 jardas para o wide receiver Raymond Berry – isso depois da equipe recuperar outro fumble de Gifford. Final da primeira etapa: Colts vencendo por 14 a 3.

Mas as maiores emoções ficaram reservadas mesmo para a volta do intervalo. Na metade do terceiro quarto, Baltimore teve uma grande oportunidade de abrir 21 a 3 e praticamente liquidar o confronto, porém falhou. Arriscando uma quarta para o gol na linha de uma jarda dos Giants, a equipe não conseguiu entrar na end zone e se viu obrigada a devolver a bola ao adversário. O ponto chave da jogada foi um erro cometido por Ameche: ao receber a bola de Unitas, o fullback deveria ter tentado um passe na direção de Jim Mutscheller, contudo ele entendeu a chamada de maneira errada e saiu correndo. O resultado foi uma perda de quatro jardas.

A coluna “Dropback” é uma das metas que já foi batida no nosso programa de Sócios e Benefícios para os leitores. Ainda há muitas outras metas a serem batidas! Quer nos ajudar a produzir ainda mais conteúdo para você? Saiba mais clicando aqui.

O lance trouxe New York de volta ao confronto, pois, na campanha seguinte, a franquia percorreu 95 jardas e anotou o touchdown. O destaque foi a jogada maluca de 86 jardas que colocou os Giants na beira da end zone dos Colts. Kyle Rote recebeu um passe longo de Charlie Conerly, avançou pelo território adversário até ser tackleado e sofreu um fumble. Entretanto, Alex Webster, companheiro de Rote, recuperou a bola e correu até a linha de uma jarda de Baltimore – Mel Triplett posteriormente finalizou o drive. No início do último quarto, Gifford redimiu-se dos turnovers cometidos e virou o placar para os Giants com uma recepção de 15 jardas.

Perdendo por 17 a 14, restava aos Colts pontuar. Isso quase aconteceu com o kicker Bert Rechichar, mas ele desperdiçou um chute de 46 jardas. Depois disso, as equipes trocaram alguns punts até os Giants receberem a bola com menos de cinco minutos no relógio. Eles precisavam apenas gastar o cronômetro e assegurar a vitória. O time até fez isso por um tempo, porém, ao enfrentar uma terceira descida para quatro jardas, não conseguiu a conversão após uma decisão polêmica da arbitragem: Gifford recebeu o handoff e correu, caindo próximo da marca necessária, contudo os juízes não assinalaram o first down.

Baltimore teve uma nova chance com cerca de dois minutos no relógio – e não desperdiçou. Em um drive que entrou para a história do futebol americano, Unitas conduziu seu time por 73 jardas até a posição do field goal de empate. O grande destaque foi o wide receiver Berry, responsável por três recepções consecutivas e 62 jardas na campanha. Restando sete segundos para o fim do tempo regulamentar, Steve Myhra igualou o marcador em 17 a 17 com um disparo de 20 jardas e a final da NFL foi para a prorrogação pela primeira vez na história.

Vitória épica e muitos recordes quebrados

Os Giants ganharam o cara ou coroa e tiveram o direito de começar os trabalhos no tempo extra, mas logo em seguida chutaram um punt devido a um three-and-out. Unitas recebeu a bola na linha de 20 do seu campo de defesa e partiu rumo a vitória. Com 13 jogadas, Baltimore marchou as 80 jardas necessárias para entrar na end zone adversária e conquistar o primeiro troféu da sua história. O herói da noite acabou sendo Ameche, que sacramentou o título com uma fácil corrida de uma jarda. Final: Colts 23 – 17 Giants.

Vendo as estatísticas oficiais da partida, podemos notar que Baltimore foi muito mais eficiente no ataque: 27 primeiras descidas e 487 jardas totais contra respectivamente apenas 10 e 288 de New York. Este belo desempenho ofensivo quebrou várias marcas e na época estabeleceu alguns recordes para a final do campeonato, como por exemplo as 349 jardas lançadas por Unitas e as 12 recepções de Raymond Berry – os seis fumbles dos Giants também foram algo inédito.

As lendas do esporte que participaram da partida

Ao todo, 17 futuros membros do Hall da Fama estiveram envolvidos no jogo. Os Giants, por exemplo, possuíam em sua comissão técnica profissionais como Vince Lombardi e Tom Landry, ocupando respectivamente os cargos de coordenador ofensivo e defensivo. Caso você não saiba, Landry depois foi treinador dos Cowboys de 1960 a 1988, tornando-se bicampeão do Super Bowl e um dos técnicos mais vitoriosos de todos os tempos. Já Lombardi simplesmente é a pessoa que empresta o nome ao troféu entregue anualmente ao vencedor do Super Bowl.

Os Colts, por outro lado, tiveram como grande destaque Johnny Unitas. Também conhecido pelo apelido de “Johnny U”, ele foi talvez o maior quarterback da era em “branco e preto” da NFL e até hoje é visto como um dos melhores da história.

O boom de popularidade do futebol americano profissional pós-1958

Existem dois números que ilustram bem o êxito comercial do duelo. O primeiro é a arrecadação total de 698 mil dólares da partida, incluindo receitas de rádio e televisão – um outro recorde da época. O segundo é a audiência televisiva estimada em 45 milhões de pessoas. Em suma, Baltimore Colts e New York Giants foi um estrondoso sucesso em termos financeiros e midiáticos – certamente o maior do football até então.

Esta é razão para muitas pessoas, incluindo o ex-comissário Pete Rozelle, considerarem a final da NFL de 1958 um marco. Depois dela, o futebol americano profissional sofreu um boom de popularidade, crescendo cada vez mais na mídia e no coração dos norte-americanos até superar o beisebol como o esporte preferido do país. Isso se deu da seguinte forma: as redes de televisão passaram a transmitir mais jogos, pois perceberam que poderiam ganhar bastante dinheiro e audiência. Em contrapartida, com a maior exposição, mais pessoas entraram em contato e se apaixonaram pelo esporte.

E foi esse mutualismo entre televisão e público o responsável por transformar a NFL no fenômeno de popularidade que ela é hoje. Claro, é impossível afirmar com certeza absoluta, mas talvez tudo fosse diferente sem as jogadas de Unitas e as 45 milhões de pessoas dispostas à assisti-las.

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