4 POR 4: JOGADAS QUE DEFINIRAM AS SEMIFINAIS DE CONFERÊNCIA

Em quatro ocasiões nos jogos do Divisional Round, a decisão tomada de arriscar (ou não) uma quarta descida teve implicação direta

Com o avanço da discussão moderna sobre os efeitos práticos do uso das estatísticas analíticas na liga na última década, nenhum exemplo tem sido um propulsor maior desse debate do que os times arriscarem a conversão em quartas descidas. Ferramentas que calculam fatores como porcentagens de sucesso e probabilidades de vitória tomaram importância cada vez maior, e os times que sabem melhor como interpretar essas informações são os que tem mais sucesso em campo.

Para quem acha que essas estatísticas precisam ter um protagonismo maior nas decisões dos técnicos, e para quem acha que elas não passam de um monte de baboseira de um bando de nerds que nunca pisaram num campo – ou seja, os dois lados do espectro -, o fim de semana foi bastante agitado. Isso porque, nas semifinais de ambas as conferências, houve decisões dos treinadores que agitaram bastante a comunidade que discute NFL. Fãs que preferem uma postura mais conservadora dos times ficaram felizes no sábado; fãs que defendem maior agressividade ficaram felizes no domingo.

No artigo de hoje, vamos fazer uma análise da decisão em 4 dessas jogadas do último fim de semana, sendo que todas elas tiveram implicações notáveis no resultado final das partidas. O foco da análise não está no resultado final, mas sim no processo que levou a ela, como tudo deve ser.

Situação 1: Tennessee Titans 7 @ 0 Baltimore Ravens

Posse: Ravens
Tempo restante: 15:00 no segundo quarto
Jardas para o 1st down: 1
Posição de campo: BAL 45

Esse é provavelmente o mais discutível dentre os 4 membros da lista, considerando que o jogo ainda tinha 45 minutos de disputa e que esse era apenas o segundo drive em que o Baltimore Ravens tinha a bola. Na campanha anterior, os Ravens até tinham movido bem a bola, porém, saíram de campo depois de uma interceptação de Lamar Jackson. Os Titans anotaram um touchdown logo após, mas a desvantagem era de 7 pontos e ainda restavam 3 quartos. Nada de se assustar aqui.

Sabemos que Baltimore é um time que tem uma comissão técnica que aprecia as analíticas. O quarterback sneak, de acordo com vários estudos, é uma jogada que tem uma média de 70% a 90% de sucesso na liga – isso é altíssimo, fala sério; mais importante ainda: os Ravens tiveram 100% de aproveitamento em situações de conversão de 4th & 1.

Como você vai dizer que um time tomou a decisão errada de arriscar a conversão se eles conseguiram prolongar a campanha em todas as vezes? O resultado não foi positivo e, pior ainda, os Titans marcaram um touchdown na jogada seguinte. Mas não seria uma análise correta de futebol americano se estivéssemos considerando o resultado ao invés de considerar o processo. Méritos totais para Tennessee por terem impedido Lamar de conquistar a jarda necessária e, mais ainda, de terem ampliado o placar logo em seguida; de forma alguma isso faz com que a decisão de Baltimore tenha sido errada.

Situação 2: Tennessee Titans 14 @ 6 Baltimore Ravens

Posse: Ravens
Tempo restante: 10:01 no terceiro quarto
Jardas para o 1st down: 1
Posição de campo: TEN 18

Mais na frente no mesmo jogo, os Ravens voltaram a estar perdendo por só uma posse, contudo, o time já havia chutado dois field goals, com uma dessas campanhas terminando dentro da linha de 5 jardas, numa mostra clara de que o ataque não estava em seus melhores dias. Naturalmente, se esperava que alguns ajustes fossem feitos no intervalo de modo que o time pudesse virar à sorte e começar a dominar o jogo, como se esperava antes do início da partida.

Logo no primeiro drive depois do intervalo, os Ravens andaram 58 jardas em menos de 5 minutos e parecia que o ataque teria maior sucesso no segundo tempo, quando eles novamente tiveram uma 4th & 1 pela frente. Chutar um field goal seria uma decisão péssima, já que a vantagem dos Titans de uma posse se transformaria em… vantagem dos Titans de uma posse. Mais do que isso, Baltimore estava a 18 jardas da end zone.

No primeiro item, acho que é passível de discussão, mas gosto da ideia de arriscar. Nesse, acho que as coisas são mais claras. Seria uma covardia imensa da parte de John Harbaugh se os Ravens tivessem chutado o field goal aqui, já que a situação era extremamente favorável para a conversão e 3 pontos de nada mudariam a história do jogo até então – mais ainda, caso os Titans anotassem um touchdown na campanha seguinte (o que de fato aconteceu), a vantagem dos visitantes se tornaria de duas posses. Novamente: o resultado não foi favorável, mas isso não faz com que a decisão tenha sido errada.

Situação 3: Houston Texans 21 @ 0 Kansas City Chiefs

Posse: Texans
Tempo restante: 10:54 no segundo quarto
Jardas para o 1st down: 1
Posição de campo: KC 13

Você é a zebra num jogo contra um time favorito por ao menos duas posses de bola, mas consegue uma vantagem imensa no placar já no primeiro quarto. Seu ataque está rompendo a defesa adversária em pedacinhos, ao passo que o fortíssimo ataque adversário não consegue produzir até então. Adentra a situação descrita acima, com o time na red zone. Um touchdown eleva a vantagem para 28 (!) pontos, enquanto o field goal deixa em apenas 3 posses de vantagem. Situação óbvia de tentar a conversão, certa?

Bem, entra em cena Bill O’Brien.

O time havia acabado de utilizar seu primeiro timeout, e a decisão era óbvia no 4th down, com os Texans inclusive alinhados para tentar a jogada. Eis que O’Brien pede tempo, muda de ideia e chuta um field goal. 24-0 Texans.

Claro, os problemas maiores não são exatamente a covardia nessa decisão – os Chiefs anotaram 28 pontos só no segundo quarto -, mas dá pra imaginar o quão diferente a partida poderia ter sido não fosse essa decisão terrível. Como dissemos no primeiro item, a chance de conversão é imensa nesse tipo de situação; só que O’Brien declarou após a partida que não possuía uma jogada em que ele estava confortável em chamar naquela situação. Maravilhoso o plano de jogo, não?

Bônus: o fake punt. Eu não sou bom o suficiente pra julgar quando é uma boa ideia chamar um fake punt. Mas eu sei quando não é: quando seu adversário está tentando voltar na partida e você acabou de se acovardar num 4th down; os Chiefs recuperaram a bola no campo de ataque, anotaram outro touchdown rápido e, a partir daquele momento, a partida já estava no controle completo de Kansas City.

Situação 4: Seattle Seahawks 23 @ 28 Green Bay Packers

Posse: Seahawks
Tempo restante: 2:41 no último quarto
Jardas para o 1st down: 11
Posição de campo: SEA 36

A ideia de arriscar uma 4th & 11 é péssima à primeira vista, e a chance de conversão não é das maiores. Bem, ainda é maior do que a chance de vitória se você está perdendo o jogo e não vai mais tocar na bola. Parece uma contradição do princípio de processo sobre resultado que usei nos primeiros itens, mas vamos considerar alguns fatores:

  • Restavam menos de 3 minutos no cronômetro;
  • O quarterback dos Packers é Aaron Rodgers;
  • Sua defesa está longe de ser as melhores

Nem sempre o processo ser bom faz com que o resultado seja bom, mas o processo ser ruim quase que sempre faz do resultado algo ruim. Nos três drives anteriores, Russell Wilson liderou três campanhas para touchdown, efetivamente recolocando os Seahawks na partida. Com o punt, os Packers só precisavam de garantir dois 1st downs pra ganhar o jogo, o que fizeram de forma magistral. Seattle deveria ter arriscado a quarta descida porque daria uma chance maior de vitória para a equipe do que o punt, apesar das chances de conversão não serem das maiores.

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