A Autópsia do Desastre: como Atlanta entrou em colapso no segundo tempo?

Chame como quiser. Pipocada. Choke. Colapso. O fato é que o Atlanta Falcons simplesmente implodiu e cedeu a maior virada da história de um Super Bowl. A equipe liderava por 28 a 3 no meio do terceiro quarto e, na sequência, cedeu o empate improvável e a derrota inevitável na sequência.

O que aconteceu? Há alguma forma de explicar?

A parte do ataque

Bom, vamos começar com o que fica mais gritante ao público. No último quarto o ataque de Atlanta teve jogadas incríveis e chegou a se postar em alcance de field goal. Àquela altura do campeonato, um field goal praticamente mataria a partida para os Falcons. Ao invés de jogar de maneira conservadora, correndo com seu monstro de duas cabeças no backfield (Coleman-Freeman), Kyle Shanahan chamou um passe atrás de outro.

Ryan foi para o recuo e… Sack. Atlanta sai do alcance do chute e dos eventuais três pontos. Naquela altura do campeonato, Shanahan poderia ter feito diferente. É difícil saber se ele pensou demais ou se simplesmente fez o que o time havia feito durante toda a temporada. Muitas vezes a decisão mais simples é justamente a mais fácil de executar.

De toda sorte, é importante salientar que há mérito dos Patriots aqui – não de Brady, diretamente, mas da defesa, aquela que tanto falamos que foi a que menos cedeu pontos durante a temporada. Embora a unidade de Matt Patricia tenha cedido 21 pontos (mais a pick six, responsabilidade do ataque) em três quartos, não cedeu mais nenhum enquanto o ataque armava a virada.

A parte da defesa

OK, agora o negócio fica interessante. Sim, a defesa dos Patriots tem sua parcela de crédito na virada, mas é o ataque que coloca pontos no placar. Se a partir da metade do terceiro quarto eles não se mexessem, o destino da partida seria semelhante àquele de várias partidas do Jacksonville Jaguars neste ano. A defesa segura um pouco e só no final Blake Bortles fazia aqueles pontinhos salvadores do fantasy.

Vamos pelo começo; Futebol Americano é um esporte, é uma atividade física. Existem alguns atos dentro deste esporte que causam mais fadiga do que outros. Como muitos perceberam, a defesa de Atlanta marcou os recebedores dos Patriots em cobertura mano-a-mano por quase todo o primeiro tempo. Contra um adversário que possui uma miríade de formações, marcar assim cansa mais. Porque quando você marca individualmente, o defensive back tem que agir como um espelho do recebedor. Imagine; um ato ativo, outro reativo e mais um ativo. Desgasta.

Ao mesmo tempo, a linha defensiva dos Falcons se desgastou ainda mais. Tom Brady teve 62 (!!!!) tentativas de passe. Nelas, Atlanta sabia que não podia mandar muitas blitzes, dadas as leituras pré-snap de Brady. Explica-se: numa blitz, você tem um jogador a menos cobrindo o passe (pelo fato dele estar indo pra cima do quarterback). Disso decorre que você tem que ser eficiente quando a faz – e contra quarterbacks cerebrais como Brady, é algo muito difícil. Os números comprovam: nesta temporada, Brady é o terceiro melhor da NFL em razão TD/INT quando sofre blitz, o quarto melhor em jardas por tentativa e o primeiro em rating.

Sem a ajuda de blitz e dos companheiros de defesa para pressionar Brady, a linha defensiva de Atlanta teve que fazer stunts – algo que cansa mais, fisica e psicologicamente. Resumo da ópera: graças às 62 tentativas de passe e ao fato do ataque não matar o jogo quando deveria, a defesa dos Falcons cansou.

Cansando, não podia fazer os movimentos atléticos (marcação individual e stunts) necessários para conter os Patriots como fizeram no primeiro tempo. Disso decorreu um Brady com mais tempo no pocket, com olho de leão faminto e lasers para todo lado.




Adicionalmente, temos a parte psicológica.

A unidade defensiva de Atlanta era notoriamente inexperiente. Muitos desses jogadores ainda não estavam acostumados com a carga de jogos que enfrentam na NFL. Explica-se; No College Football, em média (contando os bowl games), um jogador entra em 13 partidas. Os calouros e segundanistas dos Falcons ontem estavam em sua 19ª partida da temporada 2016.

Os Falcons têm três calouros que começaram pelo menos 10 jogos na defesa, nenhum outro time teve tantos desde os 49ers de 1981. O líder do pass rush desse time, Vic Beasley, é segundanista. Keanu Neal e Deion Jones, dois dos principais jogadores, são um desses calouros. Ademais, o nickelback (cornerback que marca o slot) Brian Poole, também calouro, foi titular em nove partidas neste ano (e, na prática, é o 12º homem dessa defesa). Imagine uma defesa inexperiente e cansada, implodindo, com Tom Brady en fuego do outro lado. Com Julian Edelman fazendo milagre na recepção. É a receita para o desastre defensivo.

Os Falcons deram o máximo de si e fizeram o plano de jogo perfeito no primeiro tempo. Mas aí acabou a gasolina. Foram marcar em zona no segundo tempo, o pass rush cansou e Brady saiu com o quinto anel. E a maior virada na história do Super Bowl (25 pontos), aconteceu.

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