O Draft é o momento no qual as franquias da NFL buscam os jovens nomes que serão as estrelas do futuro. Há sempre a expectativa dos destaques do futebol universitário despontarem no nível profissional – há também aqueles que especulam quais serão os busts (fracassos) de cada ano. Por esses e diversos outros motivos, o evento é um dos mais empolgantes da intertemporada.
Uma escolha de primeira rodada – especialmente nas primeiras escolhas – é aquele jogador que tem potencial de entrar na equipe no primeiro snap da temporada e ajudar a equipe desde o começo. Com os anos de experiência, esses nomes se tornarão os destaques das suas respectivas equipes. Escolher os jogadores certos, esperar as rodadas certas para selecionar certos talentos e fazer trocas são virtudes de equipes vencedoras.
Todavia, nem todos os times dispõem dessa capacidade de avaliar talento – em especial os de primeira rodada. O Cleveland Browns, desde 2011, falhou em trazer nomes que pudessem contribuir para a construção de uma equipe vencedora e, em alguns casos, comprometeu a integridade do vestiário da equipe.
A busca pelo signal caller dos sonhos: decisões questionáveis em 2012 e 2014
Há tempos, o Cleveland Browns busca desesperadamente um quarterback para ser o grande nome da equipe. Essa procura incansável rendeu duas escolhas de primeira rodada extremamente questionáveis: a primeira em 2012.
A equipe usou a 22ª escolha do Draft para trazer Brandon Weeden. Essa decisão é questionável por um simples motivo: o jogador já tinha 28 anos de idade e uma carreira profissional no beisebol. Selecionado como arremessador (pitcher) no Draft da MLB em 2002 pelo New York Yankees, Weeden navegou entre major e minor leagues, em equipes como Los Angeles Dodgers, Kansas City Royals e High Desert Mavericks. Em 2006, o jogador deixou o esporte por causa de lesões e estatísticas ruins, em especial a earned run average (ERA), uma média das corridas cedidas pelo arremessador a cada nove entradas.
O signal caller se matriculou em Oklahoma State no ano de 2007, se reencontrando com futebol americano. Em 2010, ele se tornou titular da equipe, e, até 2012, quebrou diversos recordes da universidade, como número de tentativas de passe, jardas e touchdowns. Para ilustrar, na sua última temporada, Weeden passou para 4.328 jardas em apenas 12 jogos.
Uma vez no Cleveland Browns, o quarterback oscilou bons momentos com partidas catastróficas. Logo na sua semana de estreia pela equipe, o jogador lançou quatro interceptações contra o Philadelphia Eagles. Apesar da primeira semana ruim, Weeden quebrou o recorde de calouro do Cleveland Browns em jardas aéreas, com 3.385. Ainda assim, foram poucos touchdowns (14) e muitas interceptações (17).
Em 2013, Brandon Weeden lesionou o polegar na segunda semana e viu Brian Hoyer conquistar espaço na equipe. Durante toda temporada, o quarterback teve que disputar a posição, e mesmo quando saudável, seu status de escolha de primeira rodada não garantiu sua titularidade, tendo que ficar no banco em várias partidas. Ao final da temporada, depois de duas temporadas com a equipe, o jogador foi dispensado.
Objetivamente falando, a carreira de Weeden em Oklahoma State foi positiva. Entretanto, se analisarmos a idade do jogador no momento da sua seleção no Draft de 2012 e o histórico de lesões no baseball e no futebol americano universitário, a decisão se torna questionável. Mais ainda se lembrarmos que boa parte dessas estatísticas se devem à presença de Justin Blackmon, wide receiver de alta produtividade em Oklahoma State e que carregou o time nas costas. A pretensão de ter estabilidade na posição de quarterback por diversas temporadas colide com a seleção de Weeden. O jogador teria que encarar os anos de adaptação ao nível profissional de futebol americano, e, caso isso tomasse mais tempo do que o projetado – o que é perfeitamente natural – a idade do jogador não garantiria uma estabilidade por muitos anos.
Johnny Manziel: dois anos do Draft até sua dispensa
A segunda escolha questionável fica por conta do badalado Johnny Manziel. O motivo dessa escolha ser questionável não se relaciona com a idade do jogador ou seu histórico de lesões, mas pela personalidade que o quarterback carregava consigo. Mais: a dificuldade de adaptação que ele teria do jogo universitário para o profissional. Suas pirotecnias não iriam funcionar contra as defesas mais ágeis e inteligentes da NFL. Isso já era notório naquela época.
Vencedor do Heisman jogando por Texas A&M, Manziel dispunha do talento para ser bem sucedido na NFL. Só que as questões relativas ao seu caráter, sua falta de disciplina profissional e histórias envolvendo abuso de substâncias faziam dele um jogador radioativo para diversas equipes. Para muitos, selecionar Manziel era colocar uma bomba relógio no vestiário. Tudo que cercava o quarterback indicava uma personalidade extremamente difícil de trabalhar, passando a impressão de que tudo girava ao seu redor. Os sinais de dinheiro e a venda de autógrafos na universidade mostrava que o jogador poderia ser mais um problema do que uma solução no nível profissional.
E, como muitos esperavam, o jogador não correspondeu dentro de campo. Somando suas duas temporadas com o Cleveland Browns, foram 1.675 jardas, sete touchdowns e sete interceptações em 15 partidas. Apesar da pouca idade e do potencial de crescimento, as histórias controversas e a personalidade fizeram com que a franquia dispensasse o quarterback de 23 anos, jogando mais uma escolha de primeira rodada pela janela.
O fiasco de Trent Richardson
De todas as escolhas mencionadas neste texto, é difícil condenar o Cleveland Browns por selecionar Trent Richardson com a terceira escolha do Draft de 2012. Considerado por muitos um dos melhores prospectos de running back em anos, o jogador vinha de Alabama com uma reputação estelar: na última temporada como jogador universitário, foram 1.679 jardas – recorde da universidade – e 21 touchdowns, recorde da conferência sudeste (SEC). Não à toa, o jogador foi finalista do troféu Heisman, ficando atrás de Andrew Luck e Robert Griffin III.
Apesar de ter passado por uma cirurgia em março de 2012, era inabalável a reputação do jogador. Tido como uma escolha certa entre as seis primeiras, o jogador fez as malas para Ohio logo na terceira. Outra intervenção cirúrgica acometeu o jovem running back em agosto do mesmo ano, fazendo com que Trent Richardson perdesse toda a pré-temporada.
Recuperado para temporada, os números da sua temporada de calouro foram razoáveis, mas Richardson não foi tão impactante quanto seus jogos em Alabama fizeram analistas e fãs imaginarem. Sua dificuldade em encontrar os espaços criados pela linha ofensiva começaram a aparecer, e já no ano seguinte, após apenas duas semanas da temporada regular, Trent Richardson foi trocado para o Indianapolis Colts.
O baque de um bust selecionado como terceiro prospecto overall foi amenizado por essa troca. Os Colts deram uma escolha de primeira rodada em 2014 para o Cleveland Browns, que, para tristeza do torcedor, a utilizou em ninguém menos que Johnny Manziel.
Depois de duas temporadas dividindo espaço com outros running backs, errando as leituras e sofrendo alguns fumbles em momentos cruciais, Richardson foi dispensado pelos Colts em 2015. O jogador assinou um contrato de dois anos com o Oakland Raiders na intertemporada passada, mas foi dispensado e sequer integrou o elenco final de 53 jogadores.
Trent Richardson era um dos prospectos que não tinham como dar errado mas deram. Essas dificuldades de se adaptar ao nível profissional lembram os torcedores, jornalistas e analistas que quem entra em campo é um indivíduo com questões particulares próprias, e não apenas um prospecto capaz de correr 40 jardas em menos de quatro segundos e meio.
Escolhas defensivas que não tiveram impacto
O Cleveland Browns utilizou escolhas de primeira rodada de 2011, 2013, 2014 em jogadores defensivos. Construir uma defesa sólida com nomes de primeira grandeza podem fazer a diferença entre uma temporada péssima e uma vitoriosa – e foi isso que os Browns buscaram nestes anos, com resultados questionáveis.
O destaque desse grupo de defensores que não impactaram a equipe fica por conta de Barkevious Mingo, outside linebacker de LSU. Selecionado com a sexta escolha do Draft de 2013, o jogador chegou em Ohio para assumir a tarefa de pressionar o quarterback. Apesar de bons números no Combine, o jogador não demonstrava uma técnica de primeira linha ou era forte o suficiente para seu porte físico, em especial que justificasse sua escolha como pass rusher entre as dez primeiras do Draft daquele ano. Em 2014, seu segundo ano na NFL, o linebacker foi titular em 11 partidas, com apenas dois sacks, se destacando mais na sua capacidade de contribuir parando o jogo corrido do que pressionando o backfield adversário.
Em 2015, o jogador começou apenas duas partidas como titular, e foi inclusive improvisado como defensive back em algumas oportunidades. Ainda há quem diga que o jogador irá deslanchar, mas há um ceticismo natural pela produção que ele tem demonstrado, em especial se considerarmos que ele foi a sexta escolha do Draft.
Justin Gilbert foi selecionado em 2014 com a oitava escolha do Draft. Um cornerback com grande potencial atlético, o jogador logo na sua temporada de calouro demonstrou ter talento dentro de campo: permitiu apenas 29 recepções em 48 passes lançados na sua direção, com uma interceptação. A questão que ronda o jogador é fora das quatro linhas. O então head coach do Cleveland Browns, Mike Pettine, disse no Combine de 2015 que a temporada de calouro de Gilbert foi acompanhada de um problema pessoal.
Com nomes na posição como Tramon Williams, K’Waun Williams e Joe Haden, a situação de Gilbert ficou ainda pior em 2015. Durante o training camp, o jovem defensive back não conseguiu parar os recebedores do Buffalo Bills num treino conjunto. Se somarmos a isso uma lesão no quadril que acabou com a pré-temporada do jogador, o cornerback perdeu muito espaço no elenco do Cleveland Browns. Nem com lesões castigando a secundária fez com que Gilbert ganhasse uma oportunidade em campo, relegando a escolha de primeira rodada a meros nove snaps em 2015.
A oitava escolha do Draft de 2014, agora, está relegado ao papel de retornador. Durante a temporada de 2015, especulava-se sobre a possibilidade de ver o jogador testar suas habilidades como o wide receiver. Independentemente do resultado desse experimento, essa limitação do papel de uma escolha tão alta no Draft mostra mais uma vez como a equipe tomou uma decisão questionável.
Outra escolha que não deu retorno foi Phil Taylor, defensive end selecionado em 2011. Em quatro temporadas, o jogador teve dificuldades em se manter saudável, e quando esteve dentro de campo, pouco contribuiu. Apenas para ilustrar, em 44 jogos, o jogador teve apenas sete sacks, e apenas um único fumble forçado, ainda na sua temporada de calouro.
O futuro com Danny Shelton e Cameron Erving?
Em 2015, o Cleveland Browns tiveram duas escolhas de primeira rodada. Além da 12ª escolha pela campanha na temporada de 2014, a franquia conseguiu a 19ª do Buffalo Bills, numa troca que permitiu que a equipe da AFC East selecionasse o wide receiver Sammy Watkins.
Com essas escolhas, a equipe trouxe o defensive tackle Danny Shelton, de Washington e o offensive lineman Cameron Irving, de Florida State. Ambos os jogadores tiveram tempo limitado de jogo, o que é perfeitamente natural para calouros. A partir da temporada de 2016, os selecionados em 2015 terão mais espaço para mostrar se podem se tornar âncoras da reconstrução do Cleveland Browns, ou se integrarão o triste quadro de escolhas de primeira rodada da equipe nas últimas cinco temporadas.
