A carta de um fã dos Cowboys após a aposentadoria de Romo

Eu comecei a torcer para o Dallas Cowboys porque meu único contato com futebol americano era uma bola temática do time que um tio trouxe dos Estados Unidos quando eu era criança. Na época eu não sabia da quantidade de títulos, não sabia do papo de “America’s Team,” e não entendia bem o que estava acontecendo nos jogos.

Minha primeira temporada acompanhando a NFL foi 2006/07. Essa também foi a temporada de Tony Romo na posição de quarterback titular do Cowboys.

Agora, dez anos depois, com a ascensão veloz e merecida de Dak Prescott. Dallas praticamente havia oficializado a saída de Romo do time. Ele está se aposentando para entrar numa carreira como comentarista na televisão. Por mais que eu esteja 100% confiante no futuro do Cowboys e tenha certeza de que Prescott merece a posição titular, a saída de Romo deixa um gosto amargo.

Romo foi meu quarterback. Nossa jornada na NFL começou ao mesmo tempo e ao longo de uma década não teve um jogador que me trouxe tanta felicidade e tanta tristeza. Foram inúmeras partidas comemorando os touchdowns que ele mandava para Terrell Owens, Jason Witten e Dez Bryant, e inúmeras noites frustrado com as interceptações, especialmente quando ele era interceptado e a culpa era do recebedor, que errava a rota ou não segurava a bola.

Eu sabia que toda a mídia e analistas iam cair em cima de Romo, sabia que ninguém ia comentar como daquelas três interceptações, só uma realmente tinha sido um passe ruim. Ser o quarterback do Dallas Cowboys é o emprego mais difícil dos esportes profissionais nos EUA. Nos dias de glória, você é a pessoa mais adorada dos Estados Unidos. Nas derrotas feias, bom, não é difícil imaginar o nível das mensagens que ele recebeu no Twitter.

Romo está fechando seu tempo com o Cowboys com 156 jogos, 2,829 passes completos de 4,335 tentativas (representando 65.3% de precisão) e 248 touchdowns. São ótimos números. Sim, ele tem 117 interceptações e só venceu duas partidas de playoff, mas todo fã de Dallas vai te dizer uma coisa: Romo sempre ficou muito perto de fazer algo histórico.

Romo também foi um guerreiro. Apesar de sua atitude passiva e às vezes calma demais, ele sempre apresentou uma mentalidade forte para voltar para o gramado depois de inúmeras lesões, inclusive quando elas não estavam 100% curadas ainda.

O jogo que melhor representa a carreira de Tony Romo, e os últimos 10 anos dos Cowboys, é a derrota nos playoffs para os Packers na temporada de 2014, quando, na reta final, ele fez um passe maravilhoso para Dez Bryant. Bryant pegou a bola, 100% de controle, dois pés nos chão mas, graças à NFL e suas regras, esse foi um dos quatro passes que Romo não completou na partida. #DezCaughtIt, até o fim da vida.

Esse jogo, essa jogada, representa perfeitamente os últimos 10 anos de Tony Romo. Ele fez tudo certo: 15 passes completos em 19 tentativas, 2 touchdowns e nenhuma interceptação. Mas ainda sim, de alguma maneira, não foi suficiente.

Na história do Dallas Cowboys, apenas dois quarterbacks conseguiram o suficiente – Troy Aikman e Roger Staubach – todos os outros ficaram no “quase”, e destes, nenhum chegou tão perto da glória quanto Romo. Mas como alguém que esteve com Romo desde o dia um, que sofreu com cada interceptação e derrota, que viu cada passe e torceu por cada jarda conquistada, eu posso dizer que pra mim ele foi mais do que suficiente. Romo sempre será meu primeiro jogador favorito de futebol americano, meu primeiro herói da bola oval, a primeira jersey que comprei e usei com orgulho.

Nesses 10 anos eu terminei o ensino médio, comecei e me formei em jornalismo, descobri que meus sonhos profissionais ainda não estão solidificados, perdi contato com dezenas de amigos e, pela primeira vez na vida, ganhei uma família além da família de sangue.

Eu me viciei em futebol americano ao ponto de (e isso é verdade) criar e imprimir próprio Super Trunfo da NFL, com cartas dos 32 times, para jogar com os poucos amigos que também gostavam do esporte. Me afastei da bola oval nos anos onde a vida não deu trégua e retornei com tudo depois.

Quando eu comecei a ver, era inacreditável encontrar outra pessoa que gostasse de futebol americano, a ESPN não tinha hashtags, o principal time da minha cidade – Recife Mariners – jogava na praia em frente à Padaria Boa Viagem e Tony Romo era uma grande interrogação no Dallas Cowboys.

Agora, futebol americano está maior do que nunca aqui, #NFLnaESPN sempre fica em primeiro nos Trending Topics, o Recife Mariners já joga com capacete e ombreiras, e Romo é um dos maiores nomes da história do Dallas Cowboys.

Uma década depois, muita coisa mudou, pra mim, pra NFL, pro Brasil, pros Cowboys, mas meu respeito, admiração e torcida por Tony Romo nunca sumiram.

Obrigado, #9.

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Guilherme Jacobs é redator e repórter da área de eGames do Omelete, um dos principais sites de cultura Pop do Brasil. Além disso, é fã devoto do Dallas Cowboys. 

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