A magia no Salary Cap dos Chiefs

Como uma franquia que há três meses tinha 177 dólares no cap conseguiu renovar com três de suas maiores estrelas?

Renovar com Chris Jones e Travis Kelce, dois dos principais jogadores da equipe, parecia uma tarefa quase impossível para o Kansas City Chiefs, sobretudo após o contrato de 500 milhões de dólares oferecidos a Patrick Mahomes no último dia 06 de julho. Mesmo assim, a franquia deu um jeito de espremer a folha salarial e oferecer extensões multimilionários a ambos: quatro anos e 85 milhões para o defensive lineman, quatro anos e 57 milhões ao tight end.

Como foi possível? Ou melhor, como foi possível sendo que Kansas City era uma das franquias com menos espaço no salary cap, inclusive chegando ao cúmulo de ter 177 dólares livres no dia 30 de março?

Contrato de Mahomes foi fundamental para permanência dos dois

Em primeiro lugar, é preciso dizer que Mahomes, Jones e Kelce foram bastante amigáveis com os Chiefs. O primeiro concordou com uma estrutura contratual na qual ele demorará três temporadas até ter um salário compatível com o seu real valor de mercado, enquanto o segundo aceitou ganhar um pouco menos do que provavelmente ganharia se atingisse o mercado – Jones, como sabemos, havia recebido a franchise tag e seria agente livre em 2021.

De fato, o próprio defensor confirmou que ambos fizeram concessões à franquia: “Pat me mandou uma mensagem [logo após assinar] e disse: ‘Vamos fazer isso acontecer. Eu deixei dinheiro na mesa. Vamos fazer acontecer’”. Enfim, sem essa “boa vontade” seria bem mais difícil para Kansas City mantê-los.

Uma projeção do site Over The Cap colocou o cap hit do defensive lineman respectivamente em 15, 21, 22 e 20 milhões entre 2020 e 2023. São quantias bastante aceitáveis para um pass rusher tão talentoso e importante para o time. Mahomes, por sua vez, terá um cap hit de 5, 24 e 31 milhões entre 2020 e 2022, valores também mega amigáveis para o melhor quarterback da NFL. Seu peso na folha salarial só vai explodir mesmo em 2023 (42 milhões), último ano do contrato de Jones.

O grande pulo do gato dos Chiefs foi encaixar o contrato de Chris Jones nas temporadas em que o vínculo de Mahomes será menos custoso. Até 2023 muita coisa vai acontecer e a tendência é o salary cap ser bem maior do que hoje, apesar da queda imediata de receita causada pela pandemia de Covid-19. Ademais, os jogadores da NFL quase nunca cumprem seus contratos até o fim, então é plausível que Chris Jones nem esteja mais na equipe daqui a quatro anos ou no mínimo tenha seu acordo reestruturado.

Já o acordo de Kelce foi costurado de uma maneira igualmente engenhosa. Kansas City apostou em um contrato “backload”, ou seja, um contrato muito mais pesado nos seus anos finais. O tight end, por exemplo, não terá um centavo a mais em 2020 do que iria receber antes da extensão – ele continuará com um salário de 9,2 milhões.

Na verdade, Kelce receberá apenas 30 milhões nos próximos três anos (9,2 milhões em 2020, 13,2 em 2021 e 7,5 em 2022), uma enorme barganha para a franquia. Seu vínculo só ficará pesado mesmo em 2024 (15 milhões) e 2025 (17 milhões), porém, assim como no caso de Jones, muita coisa vai acontecer até lá. Os Chiefs provavelmente estão apostando no aumento da folha salarial ou mesmo em cortá-lo antes disso.

Enfim, Kansas City fez um grande malabarismo financeiro para acomodar os novos contratos de Mahomes, Jones e Kelce de um jeito que um não onerasse o outro. Os casos do quarterback e do tight end são especialmente notáveis, pois ambos terão um custo-benefício gigantesco em curto prazo.

É uma maneira bastante diferente, por exemplo, de como o Los Angeles Rams lidou com as renovações de suas estrelas: a franquia se asfixiou com vários contratos pesados simultâneos, principalmente os de Jared Goff, Brandin Cooks e Todd Gurley, ao ponto de chegar ao que as pessoas chamam de “salary cap hell”. O general manager Brett Veach parece longe de levar os Chiefs para o mesmo caminho.

Incerteza no salary cap para 2021 é motivo de alerta?

Sinceramente é difícil dizer, pois ninguém sabe como será o impacto financeiro da pandemia na NFL. O próprio Veach admitiu: “Nós certamente teremos alguns obstáculos para superar. Nós não sabemos ainda como o cap será”. Nesse sentido, qualquer extensão contratual carrega uma dose de riscos e preocupações.

Contudo, é importante lembrar que a perda de arrecadação certamente será dividida entre franquias e jogadores. Assim, acreditamos que se o teto salarial encolher, o provável é algum tipo de redução proporcional dos salários – daí, por exemplo, a especulação de um corte de 35% na remuneração dos atletas já em 2020. Caso contrário é difícil imaginar como os times arcarão com os atuais contratos e as futuras renovações sem explodir o limite de gastos.

Seja como for, a projeção pessimista para os Chiefs é de 12 milhões de espaço livre em 2021 baseada no que seria o aumento anual padrão do salary cap. Obviamente esse número não quer dizer muita coisa no contexto especial no qual vivemos, mas tem certa importância porque significa que Kansas City está positivo, ou seja, mesmo que a folha e os salários diminuam, a franquia deve continuar acima do teto por uma simples questão de proporção.

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